Lado a lado com a comoção e os movimentos de solidariedade desencadeados por todo o País, a tragédia do Sueste asiático tinha de, coerentemente com o panorama do ano findo, merecer das instituições governamentais um entremez inconcebível. Proporcionado desta feita pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que ainda não tinha dado assinalável contributo ao pandemónio santanista.
O embaixador Lima Pimentel, ao dizer, enquanto lia as gazetas e via a televisão, que ainda é necessário avaliar «a extensão de toda a tragédia» e a «necessidade de praticar medidas de um determinado nível», está a comportar-se efectivamente como um diplomata. Com a inabalável lógica desse mundo de embaixadas e chancelarias funcionando sobre si próprio e de smoking engomado, o que quis dizer foi mais ou menos «que diabo acha que eu vou para lá fazer?»...
Talvez não fosse mesmo oportuno, numa situação aparentemente complexa (ainda faltava avaliar a «extensão»...) ir maçar as autoridades locais por causa de uns turistas portugueses... Tais problemas são deixados a uma espécie de proletariado diplomático, constituído por serviços consulares, delegações comerciais, ONG, associações e, quando os interesses e o poderio determinam, uma qualquer expedita força armada.
Sucede que, em rigor e justiça, deveria ter acrescentado que, nas Necessidades, para essas necessidades, em Banguecoque, temos lá a cozinheira.