Os analistas económicos mais sorumbáticos que desculpem, sejam condescendentes os teóricos mais rigorosos - mas a situação é de uma irresistível ironia.
Conforme toda a gente sabe, o petróleo está em alta. Fruto destes mistérios semióticos que leva tão fóssil produto a ter estados de espírito, está mesmo prestes a passar um «limite psicológico». Nestes tempos de liberalismo, a psicologia petrolífera mede-se em dólares e a altura em que começará a dar gritos e a ter comportamentos incoerentes afere-se em 50 dólares o barril.
Mas, como sempre acontece nestes desvarios psicóticos, o grave é que os especialistas nunca conseguem explicar muito bem o que se passa. A genial Administração Bush desencadeia uma guerra no Iraque por causa do petróleo - e tudo o que consegue é agravar a crise do petróleo. A eleição na Venezuela era gravíssima por causa do petróleo, a maioria do povo vota Chávez - o petróleo baixa, para tranquilidade geral.
Mas temos também o problema do aço. Em produto de tanta robustez, as coisas também andam agitadas, com os preços numa sarabanda.
Mas a tal ironia advém do facto de que, segundo as gazetas especializadas, o verdadeiro elemento perturbador de tudo isto, do petróleo, do aço, dos seus preços, é, imagine-se - a China. E que subversivas coisas fazem os chineses?
Invadem o Iraque? Ameaçam a Síria? Apoiam Sharon? Ocupam o Haiti? Não. Da forma mais comercial possível, vão ao mercado - e compram. Petróleo e aço. A ironia vem depois: o mercado entra em crise...