Intervenção de António Filipe na Assembleia de República

Condenação da política de austeridade

Sr. Presidente,
Terei, então, de formular a minha questão, mas não queria deixar de dizer que se o Sr. Deputado Sérgio Sousa Pinto nos quisesse dissociar das perguntas da direita até poderia responder separadamente. Mas essa é uma questão que os Srs. Deputados resolverão.
Sr. Deputado Sérgio Sousa Pinto, de facto, procurei encontrar um fio condutor na sua intervenção ou alguns elementos relevantes de conteúdo, extraindo algum gongorismo da forma como interveio aqui.
Gostaria de salientar dois pontos, em que convergimos, relativamente à sua posição. Um deles, quando manifesta respeito pela opção soberana que o povo grego teve, independentemente de concordar ou discordar da posição que o atual Governo grego leva às instituições europeias, para manifestar respeito por essa opção e pelo seu direito de defender os interesses que considera serem os interesses do povo grego, independentemente daquela que seja a posição dos outros Estados europeus. Nós convergimos no respeito que é devido à vontade desse povo e do seu novo Governo.
Também convergimos relativamente às críticas que aqui fez à posição manifestada pelo Governo português neste processo e à forma seguidista com que defendeu uma posição de rejeição de qualquer proposta que vá para além do seguidismo acéfalo em relação àquelas que têm sido as orientações impostas pela União Europeia nestes últimos anos.
Mas, Sr. Deputado, da sua intervenção ficámos com um problema, que é o de saber qual é, afinal, a posição do Partido Socialista em relação a questões centrais. A verdade é que nesse Conselho Europeu estiveram governantes socialistas. Houve alguma diferença de posição desses governantes socialistas, designadamente do Primeiro-Ministro italiano ou do Presidente francês, relativamente à posição, que o Sr. Deputado aqui critica, e bem, de outros líderes europeus, designadamente do Governo português? Encontrou uma diferenciação? Sr. Deputado, se ela existe, não foi visível. No comunicado saído da reunião do Eurogrupo não foi visível que tivesse havido uma dissociação.
O Sr. Deputado fala aqui da questão da ideia europeia, que veio aqui defender, tendo terminado a sua intervenção com uma firme afirmação de apoio à ideia europeia. Sr. Deputado, essa ideia europeia é a que tem presidido aos destinos da União Europeia nos últimos anos? O Sr. Deputado acha que a forma como foi construída a moeda única está de acordo com a sua ideia europeia? Provavelmente, sim, porque o Tratado da União Europeia foi subscrito e defendido, intransigentemente, por uma maioria de governantes socialistas e sociais-democratas. Portanto, é essa a vossa ideia europeia? Era bom que houvesse uma clarificação sobre isso, Sr. Deputado.
É que não é minimamente coerente lamentar a forma como as instituições europeias têm conduzido este processo de integração europeia e, ao mesmo tempo, ir dizer que se defende intransigentemente a União Europeia com tudo o que ela comporta, Sr. Deputado.
Há aqui uma enorme contradição que os senhores têm de resolver. Gostaria que a sua intervenção pudesse contribuir para isso.

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