Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, Comício da JCP, no âmbito da 18ª Assembleia da FMJD

Comicio da JCP: O compromisso de continuar e intensificar a luta contra o imperialismo

As mais cordiais saudações, em nome do Partido Comunista Português, a todos os participantes na 18ª Assembleia da Federação Mundial da Juventude Democrática e declarar-vos que é com imensa alegria que participamos neste momento alto da vida de uma organização democrática e unitária, imprescindível na congregação da acção e intervenção das forças de esquerda e progressistas que dão expressão ao movimento anti-imperialista da juventude no plano mundial.

Para nós foi uma honra tornar a receber esta Assembleia no nosso país, tal como o foi quando o fizemos pela primeira vez em 1995. E mais alegria sentimos por estarmos perante a maior Assembleia da Federação dos últimos 20 anos.

Queremos antes de mais aproveitar para saudar vivamente a direcção que agora terminou o seu mandato na FMJD, pelo trabalho desenvolvido, pela capacidade de preservar e reforçar esta estrutura ímpar do movimento juvenil.

Uma saudação muito especial aos camaradas agora eleitos, desejando bom trabalho, boa sorte, e sabendo que podem sempre contar com este partido, o PCP, e a sua organização de juventude, a JCP, para apoiar a Federação Mundial da Juventude Democrata e todo o seu trabalho em prol da melhoria das condições de vida da juventude e dos povos em todos os cantos do mundo e contra a opressão. Um valioso trabalho que foi capaz de relançar e retomar o movimento dos Festivais Mundiais da Juventude e dos Estudantes que desempenha um papel tão importante na mobilização dos jovens para a luta anti-imperialista.

Esta Assembleia e o debate que realizaram e as decisões que tomaram, sendo um momento muito importante para cada uma das 86 delegações participantes e para a luta nos seus respectivos países é-o, também para a luta comum que a juventude trabalhadora e estudantil trava contra o imperialismo, por um mundo de paz, solidariedade e transformação social e revolucionária.

Sabemos que a vossa participação neste importante evento em Portugal é também uma expressão de solidariedade para com as lutas da juventude e do povo português. Entendemos o nosso relacionamento internacional como uma componente estratégica da luta dos trabalhadores portugueses e do trabalho do PCP.

O carácter internacionalista e simultaneamente patriótico do nosso Partido vem da nossa forte ligação aos trabalhadores portugueses e a todos os trabalhadores do mundo que, como nós em Portugal, lutam pelos seus direitos, contra a exploração e contra o sistema capitalista.

Num momento de resistência como o que vivemos, marcado pela correlação de forças negativas que decorre do fim do socialismo como sistema mundial, a existência de uma organização como a FMJD é um aspecto vital da coordenação e solidariedade que temos de ter entre todos aqueles que, como nós, lutam contra o imperialismo.

Nós não esquecemos e sempre valorizaremos o papel positivo e os laços que gerações de jovens lutadores portugueses souberam construir durante décadas de luta e de intervenção conjunta, mesmo nesses tempos difíceis da ditadura fascista, tempos de violência, prisões e tortura que assolaram Portugal durante quase 50 anos.

Apesar dos perigos, as potencialidades que também existem, permitem que esta organização se venha reforçando, reforço este que vem directamente do aumento da capacidade que os jovens e os povos vêm tendo para, em cada um dos seus países, fazer frente às ofensivas em curso.

E nós sabemos pela nossa própria experiência quanto duros são esses combates. Em Portugal vivemos hoje um momento excepcional. Uma situação de grave crise que se arrasta no tempo e de grandes dificuldades para o nosso povo e para a juventude e para as novas gerações, em resultado de uma política de direita e de exploração capitalista sem limites, onde pesa o crescente desemprego, a precariedade do trabalho, degradação dos rendimentos, negação e retirada de direitos laborais para os jovens trabalhadores, confrontados com uma ofensiva sem paralelo nos últimos anos e que acrescentou mais desigualdades e injustiças às injustiças e desigualdades reinantes.

Mas uma situação grave e difícil para os jovens estudantes. Estes vítimas de uma politica que ataca de forma feroz a Escola Pública e o direito à educação com o aumento brutal dos custos do ensino, para o transformar em mais uma área de negócio e de lucro e instrumento de reprodução e manutenção das discriminações sociais e de classe. Depois de Abril é o regresso às concepções elitistas que deixa de fora no acesso a uma formação integral e de qualidade largas massas.

Problemas que se estão ampliar com o programa de ingerência e agressão estrangeira que está em curso em Portugal sob a batuta do FMI e da União Europeia e que transporta não apenas a mais brutal ofensiva contra os direitos dos jovens trabalhadores e estudantes, mas também uma política de severa austeridade para o povo e de abdicação nas tarefas do desenvolvimento que afundam o nosso país.

Por isso estão em marcha grandes lutas dos jovens e do nosso povo. Lutas necessárias para conter e inverter a ofensiva e projectar uma alternativa para construir em Portugal uma sociedade mais justa, mais fraterna e solidária. Hoje mesmo vimos em Lisboa uma grande manifestação dos trabalhadores da Administração Pública, outras estão em curso noutros sectores e empresas.

Também os jovens vão fazer deste mês de Novembro um mês de grandes lutas e de grande mobilização.

Desde logo agindo e mobilizando para o êxito da Greve Geral marcada pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses para o próximo dia 24 de Novembro. Uma Greve Geral onde os jovens trabalhadores têm uma palavra a dizer para fazer valer as suas justas reivindicações, juntamente com todas as outras classes e camadas do nosso povo que estão em luta em defesa dos seus direitos e por uma política alternativa em defesa dos interesses populares.
Uma luta que terá, estamos convictos, a solidariedade e participação de todos os sectores da juventude. Este será, temos a certeza, um momento de afirmação da vontade e da coragem de lutar dos jovens trabalhadores portugueses, superando todos os riscos e perigos, que são reais, com que são confrontados, pela sua situação concreta de precariedade e pelas ameaças e pressões com que são confrontados nos seus locais de trabalho.

Mas este mês de Novembro será também um mês de lutas importantes dos jovens de todos os graus de ensino. Já no próximo dia 22 será a Acção Nacional dos estudantes do ensino básico e secundário e no dia 29 a manifestação nacional dos estudantes do ensino superior.

Lutas indispensáveis que vão contar, estamos certos, com uma forte mobilização e participação da juventude portuguesa. Lutas em que os jovens comunistas se vão empenhar com toda a sua determinação, a sua generosidade combativa e o seu trabalho abnegado para transformar em grandes êxitos da juventude portuguesa, dos trabalhadores e do nosso povo. Á juventude não basta pensar que é a força transformadora do futuro. É convocada para o presente!

Nunca como hoje se tornou necessário agir com tanta urgência para dar força e ampliar o movimento de contestação e protesto contra esta política de exploração e extorsão dos trabalhadores e do povo e contra o programa de agressão estrangeira em Portugal. Por isso, o PCP apela aos jovens que tomem também nas suas mãos a tarefa de derrotar esta política e impedir que o país siga o caminho do abismo.

O cenário internacional é hoje mais complexo e os desenvolvimentos são cada vez mais rápidos, por vezes difíceis de acompanhar dada a sua dinâmica e velocidade dos acontecimentos.

A crise internacional do sistema capitalista, a corrida ao armamento, a emergência de novas potências, a instrumentalização da ONU e do direito internacional, as crescentes disputas e tensões entre potências imperialistas e o enormíssimo sistema de formação e manipulação de opinião que é a comunicação social (designadamente a controlada pelos grandes grupos económicos), fazem com que o mundo em que vivemos seja crescentemente injusto e perigoso, com perigos que podem até pôr em causa a existência da própria humanidade ou uma boa parte dela.

Na verdade o capitalismo está mergulhado numa das mais profundas crises da sua História. As suas contradições e limites históricos são por demais evidentes. Estamos, como previmos há muito, perante um rápido e violento aprofundamento da crise sistémica e estrutural do capitalismo e com ela o aprofundamento do seu carácter explorador, desumano e destruidor. Hoje os trabalhadores e os povos sofrem violentamente as consequências desse aprofundamento da crise. Uma crise que arrasta milhões e milhões de seres humanos para vida dramática. Milhões de homens, mulheres e jovens que sobrevivem na indigência, no seio de gritantes injustiças e desigualdades e que são o mais poderoso libelo acusatório contra um sistema que está a conduzir a Humanidade a um beco sem saída.

Num quadro de evidente declínio das principais potências capitalistas e do agudizar das contradições inter-imperialistas, as classes dominantes lançam-se numa perigosa e criminosa fuga para a frente face ao aprofundamento da crise.

Os perigos de uma resposta de força do sistema são visíveis. A profusão de focos de tensão em todo o Mundo. A guerra imperialista que tem nestes meses últimos o seu expoente máximo no tremendo crime que a NATO, com o beneplácito de um Conselho de Segurança das Nações Unidas ao serviço do imperialismo, cometeu na Líbia. Uma guerra sem vergonha, ditada por interesses económicos.

Simultaneamente o sistema responde à sua crise com uma acelerada concentração e centralização de poder económico e político e com uma ofensiva anti-social sem precedentes na História do pós-guerra, transferindo para os trabalhadores e os povos os resultados de uma crise pela qual não são minimamente responsáveis.

Depois de décadas de importantíssimos avanços na libertação dos povos, no proliferar da educação, da saúde, da cultura e dos direitos democráticos, as jovens gerações de hoje são confrontadas com o negar de todos esses direitos que foram conquistados. A precariedade e o desemprego, a elitização do acesso à educação, a privatização dos serviços e bens mais básicos como a saúde e a água, a ofensiva neo-colonial em África, a tentativa de esmagamento dos processos de emancipação e soberania nacionais, começando com o criminoso bloqueio a Cuba, são ataques que só pela luta podem ser ultrapassados.

O grande capital saqueia tudo o que pode para continuar a garantir os seus lucros e o seu domínio.

Exemplo claro disso é a situação na União Europeia. Olhamos à nossa volta e o que vemos é uma União Europeia em profunda crise e decadência, com a soberania, identidade e riqueza social e cultural dos seus povos esmagadas por um violento processo de acumulação capitalista.

Como previmos estes últimos acontecimentos, nomeadamente a evolução da situação em Itália e na Grécia estão a clarificar quão funda vai a crise do capitalismo e quão grande é a incapacidade dos responsáveis políticos e das instituições do capitalismo em, utilizando os seus dogmas económicos e políticos e sempre ao serviço dos tais “mercados”, sequer esboçar um caminho de saída para a crise.

Olhamos e vemos como o capital e as instituições da União Europeia se lançam num processo de retrocesso social, numa vingança revanchista contra os avanços sociais protagonizados pela luta dos trabalhadores e dos povos da Europa, numa visão repressiva e anti-democrática.

Estão a fazer autênticas experiências de terror social para ver até onde podem ir na regressão social e no esmagamento da independência e soberania dos povos.

Terrorismo social para os trabalhadores, garrote económico e esmagamento de soberania dos povos e países e crescentes injecções de capital roubado aos trabalhadores e aos povos, para entregar à banca.

São os objectivos de domínio e não de coesão económica e social e de solidariedade os que estão a ser concretizados com os seus brutais programas de austeridade, tornados instrumentos de passagem das consequências da crise para as costas dos trabalhadores e dos povos.

É isso que os povos da Europa começam a perceber que o que nos querem impor é nem mais nem menos o exacto contrário do que anunciam. É o espezinhando os direitos e os povos.

Esta é a realidade! A realidade de um capitalismo e de um processo de integração capitalista na Europa em putrefacção, perigoso e em acelerado descontrolo!

Os tempos que aí estão são de grande responsabilidade e as exigências são imensas.

Vivemos ainda um período de resistência e acumulação de forças onde é fundamental não claudicar ou hesitar um segundo que seja. São tempos em que o papel das forças progressistas se assume como fundamental para fazer avançar o motor da História e não permitir que da crise do capitalismo resultem ainda maiores retrocessos para a humanidade.

Tempos em que a unidade na acção, a cooperação e a solidariedade entre todas as forças progressistas assume importância central para o fortalecimento e consolidação da frente anti-imperialista.

Vivemos tempos de intensa luta, de dura mas apaixonante luta, que nos demonstra todos os dias as reais possibilidades de avanços progressistas e mesmo revolucionários.

Todos os dias vemos um crescente número de jovens envolvidos nas lutas, estudantes, jovens trabalhadores, jovens camponeses, jovens em geral. É importante que assim seja cada vez mais. Trazer os jovens para a luta organizada é um imperativo do presente e do futuro da luta.

É a essas lutas que vamos buscar energia, inspiração e confiança. Às nossas lutas e às lutas dos trabalhadores e dos povos que se intensificam.

Lutas dos trabalhadores e dos povos por esse Mundo fora que saudamos calorosamente, assumindo o compromisso de prosseguir e intensificar a nossa própria luta.

Um compromisso que não é de agora, que é assente no nosso ideal e na nossa ideologia,
assente na longa História.

Um compromisso que este Partido Comunista Português nunca abandonou e que nunca pôs de lado, fossem quais fossem as condições ou a dimensão e características dos ataques ou da repressão a que esteve sujeito.

O compromisso de que vos falamos e que aqui hoje vos reiteramos é o de, com todas as nossas forças, continuar e intensificar a luta. Continuar a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores, do nosso povo e da juventude. Intensificar a luta pela paz, contra a guerra e o militarismo. Batalhar incansavelmente e não ceder perante os ataques à democracia e face ao anti-comunismo. Continuar a luta continuando a fazer deste Partido e da sua organização revolucionária da juventude – a JCP – uma poderosa arma, um grande e generoso colectivo de jovens, mulheres e homens, disposto a travar as mais duras batalhas em defesa dos interesses do povo trabalhador e de todas as camadas antimonopolistas duramente atingidas pela exploração e pela opressão capitalistas.

Queremos reafirmar este nosso compromisso aqui e hoje perante camaradas dos mais diversos pontos do Mundo.

A todos queremos confirmar que podem contar com este Partido Comunista Português que comemora este ano os seus 90 anos de existência. Um Partido Comunista, orgulhoso do seu passado, ciente das suas responsabilidades e que se entrega à luta por uma alternativa ao sistema de exploração com todas as suas forças.

Uma alternativa que, na opinião do PCP, passa no imediato pela concretização de uma democracia avançada, elemento e etapa fundamental da construção em Portugal da alternativa de fundo ao capitalismo e à sua crise, o Socialismo!

Sim camaradas! Nunca podemos perder de vista que o nosso objectivo supremo é uma sociedade liberta de exploração do homem pelo homem.

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