Depois de vários meses de trabalho, a comissão nomeada pela Administração Bush para averiguar os falhanços dos serviços secretos acerca das "armas de destruição maciça" iraquianas produziu um daqueles documentos que se limitam a acrescentar perguntas às questões para que as respostas são de completa evidência.
O The New York Times entende que "a verdade completa será trabalho para os historiadores", não deixando porém de salientar que o destino de todos os envolvidos está longe de ser o mesmo.
Na verdade, com todas as suas insuficiências, as centenas de páginas do relatório da comissão presidida pelo juiz Laurence Silberman torna claro um pormenor frequentemente descurado não corresponde inteiramente à verdade que a CIA e as outras agências norte-americanas se tenham estrondosamente enganado sobre a situação militar do regime de Saddam Hussein.
O que sucedeu, isso sim, é que, ao longo de meses, foram sendo sucessivamente afastados todos os responsáveis dos serviços secretos que levantavam dúvidas sobre a verosimilhança das indicações sobre armas químicas e nucleares e apontavam a fraca credibilidade de muitas fontes, em especial as da oposição iraquiana, ela própria interessada em dar pretextos à intervenção norte-americana.
A questão essencial que o relatório Silberman vem levantar foi já repetidamente ventilada nos Estados Unidos e ao nível do próprio Senado: a gestão dos serviços de informações pela Administração Bush acabou por gerar uma perigosa situação em que aqueles acabam, no interesse da sua própria sobrevivência, a fornecer não a informação que têm, mas aquela que sabem que interessa à política oficial.
A questão da credibilidade acaba assim por não ser uma questão de eficiência ou competência, mas um complicado imbróglio de jogos políticos onde se torna impossível distinguir a realidade.
E a verdade é que, pese o responsável da CIA antes da agressão ao Iraque, Goerge Tenet, ter sido substituído, é discutível que ele tenha feito mais que proporcionar a Bush, Cheney, Rumsfeld, etc., exactamente aquilo que eles queriam ouvir. E aí, tudo está na mesma.