Intervenção de Miguel Tiago na Assembleia de República

O cancelamento, pela leiloeira Christie’s, da venda de 85 obras de Miró que foram propriedade do Banco Português de Negócios (BPN)

Sr.ª Presidente,
Srs. Deputados,
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia,
Os 2 minutos de que disponho para formular um pedido de esclarecimento serão curtos, tendo em conta a dimensão deste roubo que foi preparado e concretizado, de forma ilegal e sorrateiramente, pelo próprio Governo, à margem da lei e, sobretudo, também em grande secretismo.
Ficou, entretanto, a descoberto o conjunto dos procedimentos ilegais que o Governo tentou promover para conseguir tirar do País, ilicitamente, um conjunto de obras que constituem património nacional, à luz da Lei de Bases do Património Cultural.
A Sr.ª Deputada referiu o conjunto das ilegalidades cometidas. Da parte do PCP, gostava também de lhe dar nota de que apresentaremos, hoje mesmo, na Assembleia da República, um projeto de resolução no sentido do resgate imediato para território nacional destas obras, tendo agora em conta, inclusivamente, o conjunto de revelações que a própria DGPC permitiu serem hoje conhecidas, e em que denuncia que não só deu parecer negativo para a saída das obras, como deu, claramente, instruções à Parvalorem de como realizar o procedimento para expedição e exportação. E esse procedimento não só não foi cumprido, como a Parvalorem se recusou a cumprir a lei, nomeadamente dando nota da localização exata das obras, porque já as tinha mandado para fora ilicitamente. E, então, preferiu ficar calada, ao invés de reconhecer que já tinha cometido a ilegalidade.
Sr.ª Deputada, porque não basta sanar a perda de que o País foi alvo por força deste roubo, preparado sorrateiramente, mas porque é preciso também apurar as responsabilidades, o PCP apresentará requerimentos para que seja ouvido, em comissão parlamentar, o Sr. Secretário de Estado da Cultura, bem como a Sr.ª Ministra de Estado e das Finanças, que é a responsável direta pela empresa de capitais públicos Parvalorem, que é o veículo financeiro através do qual foi realizado este assalto ao património cultural português.
Este é um caso paradigmático do comportamento deste Governo, é um caso ilustrativo do comportamento que este Governo tem, como comissão liquidatária e que, a pretexto da divida, liquida os serviços públicos liquida os direitos dos portugueses, liquida as empresas públicas e liquida também o património cultural. E por ser um caso paradigmático, acrescenta-se ao conjunto de casos que tornam cada vez mais urgente pôr fim a este Governo, pôr fim às suas políticas, criar espaço para a construção de uma alternativa e, também por essa via, resgatar esses direitos e salvaguardar o património cultural.

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