Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-Geral do PCP, VII Assembleia da Organização Regional de Beja do PCP

Beja: PCP defende as aspirações dos trabalhadores e das populações

Beja: PCP defende as aspirações dos trabalhadores e das populações

As saudações mais cordiais a todos os delegados e convidados presentes nesta VII Assembleia da Organização Regional de Beja do nosso Partido.  

Vieram aqui os principais problemas e bloqueios que se colocam ao desenvolvimento desta Região, mas acima de tudo um programa de trabalho e propostas com medidas, com soluções e com orientações que, se fossem concretizadas por um poder vinculado aos interesses do povo e ao desenvolvimento do país, conduziriam à resolução de muitos dos mais graves problemas que este distrito enfrenta. 

As propostas do PCP para o distrito de Beja, inscritas na Resolução Política da nossa Assembleia, são a prova de que esta Região não está condenada ao atraso e ao declínio económico e social, que há saída para os problemas da desertificação, da regressão económica e demográfica e para garantir trabalho e condições de vida dignas para o nosso povo.

Propostas que, inseridas numa política nacional anti-monopolista e anti-latifundista de ruptura com as políticas de direita, promoveriam uma real alteração no sentido do progresso e do bem-estar das populações deste distrito.
 
Propostas para o desenvolvimento da agricultura e da agro-indústria que têm um importante papel a desempenhar para o progresso desta região, com a criação de riqueza, de emprego e contribuindo para garantir a soberania alimentar do país. Desenvolvimento e progresso assentes numa nova política agrícola que necessariamente ponha fim à cultura do subsídio sem produção, assegure apoios efectivos prioritariamente à defesa e alargamento da produção nacional, à satisfação das necessidades do mercado interno, aos pequenos e médios agricultores e que abra caminho a uma nova Reforma Agrária que liquide a propriedade latifundiária e entregue a terra a quem a trabalhe, a pequenos agricultores e rendeiros, a cooperativas de trabalhadores rurais ou a outras forma de exploração da terra por trabalhadores.

Propostas que asseguram apoios efectivos prioritariamente dirigidos à defesa e alargamento da produção nacional, à satisfação das necessidades do mercado interno, aos pequenos e médios agricultores.

Propostas para o integral aproveitamento do empreendimento do Alqueva com a urgente elaboração de um Plano Estratégico e um conjunto de outras medidas visando o seu aproveitamento a favor das populações, nomeadamente a criação de um banco de terras do Estado que permita o acesso à terra regada aos jovens agricultores, aos trabalhadores e aos pequenos agricultores com terra insuficiente.
 
Propostas para o aproveitamento integral dos nossos recursos naturais, designadamente de minerais de metais básicos, alguns dos quais estão aqui no Alentejo, mal aproveitados e sujeitos à voragem de interesses e negócios obscuros, como são o caso da Somincor e das Pirites Alentejanas e que, com o seu aproveitamento integrado, poderiam dar suporte a uma estratégica de desenvolvimento económico, capaz de abastecer um diversificado conjunto de indústrias transformadoras, desde logo metalurgias, nomeadamente do cobre, mas também com o desenvolvimento de modernos sectores, como é o caso das energias renováveis que aqui, neste distrito, se afirmam graças ao empenhamento e dinamismo do poder local.

Propostas para fazer avançar infra-estruturas e serviços fundamentais à promoção do desenvolvimento regional, seja nos domínios da rede viária principal e complementar, na ferrovia convencional, na gestão aeroportuária, na rede de distribuição do gás natural, na valorização do ensino, nomeadamente do ensino superior politécnico, na rede de cuidados de saúde com o melhoramento da resposta hospitalar, mas também dos centros de saúde, serviços de urgência e emergência médica, entre outras.

Propostas inseparáveis de uma política de valorização do trabalho e dos trabalhadores, da melhoria dos salários das reformas e pensões, do direito ao trabalho com direitos e do combate à precariedade.

Propostas de um Partido profundamente identificado com as mais genuínas aspirações dos trabalhadores e das populações, conhecedor profundo dos seus problemas e que está aqui firme e determinado para fazer avançar a roda do progresso desta região, que não se resigna e não renuncia a tomar nas suas mãos, com iniciativa e com proposta, o desbravar do caminho do melhoramento das condições de vida do povo deste distrito de Beja.

Depois de semanas de encenadas divergências, dramatismo e calculados desencontros, PS e PSD concertaram-se, como era previsível, para viabilizar o Orçamento de Estado para o próximo ano. Era essa a vontade dos mandates, a vontade do grande capital económico e financeiro e assim foi cumprida.

Não se trata de mais um Orçamento, aquele que esta semana PS e PSD ajustaram viabilizar na Assembleia da República. Trata-se de um Orçamento peculiar que, seguindo as mesmas orientações de fundo, eleva para um patamar superior de violência, nunca antes utilizado, o ataque aos interesses dos trabalhadores e das grandes massas populares, às suas condições de vida e de trabalho, ao mesmo tempo que toma a premeditada e perversa opção de expor o país aos perigos de uma nova recessão económica e ao aumento ainda mais dramático do desemprego, com uma nova vaga de destruição da nossa capacidade produtiva.

Um Orçamento que se enquadra nesse programa mais vasto de retrocesso social e de declínio nacional que está inscrito no chamado PEC que PS e PSD acordaram aplicar até 2013, sob a batuta da União Europeia e a cumplicidade de Cavaco Silva.

São vastas e drásticas as medidas que este Orçamento contém e que o transformam num opressivo instrumento de extorsão dos trabalhadores e do povo e que, inevitavelmente, conduzirá a uma acelerada degradação das suas condições de vida.
Um Orçamento que atinge duramente os rendimentos do trabalho, todas as reformas e pensões, sem excepção, mesmos as mais baixas, mas também os rendimentos das camadas intermédias da população portuguesa.

Que ataca com uma ferocidade inaudita os trabalhadores da Administração Central, Local e do Sector Empresarial do Estado, mas que abrangerá todos os outros trabalhadores com o aumento dos impostos e dos preços e promovendo uma redução acentuada do poder compra das grandes massas populares.

Que atinge de forma cega as camadas da população mais desprotegidas e mais carenciadas, nomeadamente os desempregados, os beneficiários do Rendimento Social de Inserção, os mais idosos, os doentes, as crianças e os excluídos.

Que aprofunda a injustiça fiscal existente com o aumento do IRS e do IVA, que fragiliza o sistema de protecção social, debilita a resposta dos serviços públicos de saúde e educação.

Que impõe novos cortes no abono de família, nas comparticipações nos medicamentos, do conjunto das prestações sociais.

Um Orçamento que mostra quanta falsidade se esconde por detrás do discurso da defesa do Estado Social do PS e quanta hipocrisia política se encobre no seu confronto com o PSD em nome da defesa desse dito Estado. Basta ver os cortes de cerca de três mil milhões de euros nos seus sectores fundamentais em relação a 2010: na Educação, incluindo o Ensino Superior 1254 milhões de euros de redução; nas transferências para a Segurança Social menos 984 milhões e no Serviço Nacional de Saúde 600 milhões. Cortes que se alargam a outras funções sociais, incluindo nas prestações destinadas ao combate às situações de pobreza, num momento em que o INE anuncia que 21,4% da população portuguesa vive, ou melhor, vivia em privação material.  

Um Orçamento que acrescentará ainda mais crise à crise existente, pondo em causa a sobrevivência de milhares de micro, pequenas e médias empresas, designadamente as que trabalham para o mercado interno, com a penalização do consumo popular, a quebra brutal do investimento público que este Orçamento propõe, nomeadamente de 20% do PIDDAC e as novas restrições nas transferências para as autarquias que terão inevitavelmente reflexos em novos atrasos no andamento das obras necessárias, como aqui se denunciou, ao desenvolvimento desta região. 

Dissemos ainda há pouco tempo aqui, neste distrito, em Serpa, numa iniciativa da nossa Campanha “Portugal a Produzir” que as declarações e a exacerbada conflitualidade que transparecia do confronto público entre Passos Coelho e de José Sócrates sobre a viabilização do Orçamento, o alarido e as ameaças de demissão de uns e abertura de crise política de outros, não eram para ser levadas muito a sério.

Sem por em causa que o PSD, perante a perspectiva cada vez mais evidente do descrédito, isolamento e fracasso de mais um governo do PS que fez a política que o PSD não desdenharia fazer, passou a agir com o estrito objectivo eleitoralista. O espectáculo a que temos assistido nestes últimos tempos não pode ser desligado da operação mais geral de chantagem sobre os portugueses para impor a inevitabilidade da aprovação deste Orçamento de ruína das massas e do país, em nome de pretenso interesse nacional. De facto, nem as declarações nem as suas propaladas diferenças programáticas e de projecto que se esforçavam por aparentar, diferentes na base de coisa pouca, podiam ser levadas a sério, como acabou por se confirmar com a sua convergência naquilo que é fundamental neste Orçamento e que conduziu à sua aprovação.
Agora que assentou o pó de tanto espalhafato e se esbateram mais um pouco as cortinas de fumo que lançaram para olhos do povo é fácil ver que pouco ou nada de essencial os dividia.
Nas grandes medidas de expropriação das massas trabalhadoras e que são a essência deste Orçamento nunca estiveram divididos. Não os dividiu o corte dos salários, com o qual sempre estiveram de acordo, nem tão pouco o congelamento e a redução do poder de compra de todas as reformas, apesar da brutal injustiça de tal medida. Não era também o estrangulamento dos serviços públicos que ambos apoiavam que punha em casa a viabilização do Orçamento. Tão pouco estavam divididos, antes afinados, nos cortes do abono de família, do subsídio de desemprego e das prestações sociais. Em relação ao aumento do IVA rapidamente acertaram o passo para o taxar a 23%. Tão pouco acabaram divididos em relação ao aumento dos impostos sobre os rendimentos do trabalho que continuam a crescer, enquanto a receita proveniente do IRC baixa, apesar do aumento dos lucros dos grandes grupos económicos.
Acordo e firme acordo estabeleceram na manutenção dos benefícios à banca e aos grandes grupos económicos, às privatizações de empresas e serviços públicos, fonte de lucro fácil para os grandes grupos económicos e causa da degradação e destruição dos serviços públicos essenciais. Empolaram muito a escandalosa situação das “Parcerias Publico Privadas”, essa modalidade de privatização e de roubo de recursos públicos, não para pôr em causa esse maná de lucro fácil e sem riscos para o sector financeiro e as grandes construtoras, mas para mais uma vez e na base do que é secundário criar a ilusão de radicais diferenças.
Vimos o PSD de espada em riste a questionar as “parcerias público-privado”. Mas haja memória: vale a pena aqui lembrar o que foi o escândalo nacional da negociação da “parceria” para, por exemplo, a construção da Ponte Vasco da Gama. Só com os Acordos estabelecidos entre o Estado e a Lusoponte, o montante atribuído àquela empresa – citando o relatório de 2001 do Tribunal de Contas – «traduziu-se numa mais-valia para esta» (!), equivalente a 1502 milhões de euros a preços correntes! Mil quinhentos e dois milhões de euros!

Ora aqui está um “contrato PPP”, desses a que o PSD vem agora apontar o dedo acusador. Mas alguém no governo teve que negociar o contrato, aprová-lo e assinar o decreto. Estávamos em Abril de 1994. E quem foi que tratou disso? Nada menos que o Ministro das Obras Públicas, Ferreira do Amaral (que mais tarde se tornou Presidente da Lusoponte!) e o Ministro das Finanças, Eduardo Catroga – o mesmo que era Ministro das Finanças quando se entregou ao Grupo Mello a gestão do Hospital Amadora/Sintra, em cima das eleições de Outubro de 1995! Aí está a obra do que foi o “negociador-chefe” do PSD que agora vem atacar as “parcerias público-privado”.
 
Este é bem um exemplo, outros haveria, que põem a descoberto a política na hipocrisia e das diferenças faz-de-conta entre PS e PSD.

Agem despudoradamente, uns e outros, na certeza de que a memória dos homens é fraca e que basta mudar de líder para passar uma esponja por cima das responsabilidades destes dois partidos que, com o auxílio do CDS, conduziram o país à situação em que se encontra, para retomar com a mesma desfaçatez de sempre as mesmas políticas que antes criticavam, por vezes, sem as vestes do disfarce e continuarem o caminho que serve os grandes senhores do dinheiro, mas que arruína o país.

Anuncia o PSD a possibilidade de de uma Moção de Censura ao Governo lá mais para a frente, censura que é preciso lembrar, o PSD não viabilizou quando o PCP teve essa iniciativa na Assembleia da República.

Vamos ver se concretiza o anúncio. Mas se o fizer não se pode por de fora! Tem responsabilidades no passado recente e agora pelo que acordou com o Governo no PEC e no Orçamento de Estado.

Por nós tão culpado é aquele que vai “roubar as uvas” como o cúmplice que lhe dá apoio. Alturas houve em que foi o PSD a “roubar as uvas” e o PS quem ficou de guarda.    

É destas artes de ilusionismo político que se alimenta o rotativismo político empobrecedor entre irmãos siameses que alimenta esta espécie de bipartidarismo à portuguesa, entre PS e PSD e que está levar o país ao fundo. Um bipartidarismo que suporta esse mal chamado bloco central de interesses e dos negócios, que é promove a política de direita e bem de direita, do pataca a mim, pataca a ti, do vou agora eu, depois vais tu na roda do poder e das sinecuras das fidelidades partidárias e empresarias, públicas e privadas. Exemplos de dissimulação e de descaramento político que assumem foros de escândalo como aquele que o país assiste, entre o incrédulo e a indignação, com a decisão da PT de antecipar para 2010 o pagamento de dividendos aos seus accionistas, garantindo assim uma “poupança” fiscal de 260 milhões de euros, por comparação com o pagamento dos mesmos dividendos em 2011.

Uma insolente fuga aos impostos! 260 milhões que significam o valor dos cortes que o Governo propõe no Orçamento ao abono de família! E não sabemos o que mais criticar, se a desfaçatez dos responsáveis da PT, alguns dos que andam por aí a pregar os cortes nos salários, pensões e apoios sociais e a clamar alto e bom som apelos patrióticos em defesa do Orçamento e do combate ao défice, ou a hipocrisia do Governo, de Sócrates e Teixeira dos Santos, que se esqueceram de avisar a tempo os responsáveis da PT para impedir essa inqualificável decisão!

Nunca se esquecem de malhar em quem trabalha! Desta vez não vimos também o patrão do BES a vestir a capa do patriota impoluto, tal como o fizera à frente da delegação de banqueiros a pugnar pela aprovação do Orçamento do Estado, contra a entrega de 71 milhões de dividendos ao seu banco, sem pagamento de impostos!

O seu patriotismo só vem ao de cima quando se trata de pôr o povo a pagar! Como depois de casa roubada trancas à porta, o Governo manifestou-se na passada 4ª feira contra a distribuição dos dividendos, um dia após a decisão ter sido tomada pelo Conselho de Administração da PT!!!

O Governo não tem vergonha nem desculpa! Há muito sabia que iam ser distribuídos dividendos. Desde a venda da Vivo à Telefónica, que a PT anunciou uma distribuição extraordinária de dividendos!

O Governo tinha todos os meios para se opor: através da golden share (acções com direitos especiais) e da CGD, accionista de referência com 8% do capital! Acresce a informação pública de Henrique Granadeiro (Presidente não executivo da PT) ter referido na dita reunião do Conselho de Administração, “que a politica de remuneração dos accionistas estava conversada com a golden share, ou seja, o Governo” (Público, 5NOV10).

Falam de coragem, mas quando se trata de enfrentar a santa aliança dos banqueiros e dos grandes interesses, enrolam o fio e lá se vai a farronca!

O PCP manifesta o seu mais veemente repúdio por tais factos, que sendo em qualquer altura escabrosos, o são muito mais quando se acaba de aprovar um Orçamento de Estado de pesados sacrifícios para a generalidade dos portugueses. E exige a rápida reversão da decisão de distribuição extraordinária de dividendos – não deve haver sequer distribuição, nem em 2010 nem em 2011 - e o completo esclarecimento das responsabilidades políticas por tais decisões e cumplicidades.

Nesse sentido, chamaremos à Assembleia da República para a urgente realização de uma Audição Parlamentar, os responsáveis da PT, o Presidente da CGD e o Ministro Teixeira dos Santos.

Mas há uma lição que se pode tirar desde já! Este é bem o exemplo da falsidade de um governo e da sua preocupação com a equidade nos sacrifícios. Dizem e disso fazem grande alarde que o seu Orçamento põe a pagar de igual forma os rendimentos do trabalho e do capital.

Acenaram com o anúncio de um imposto sobre a banca, mas a verdade é que até hoje não nos conseguem dizer que esforço é esse. Em relação ao que o povo deve pagar é tudo antecipadamente quantificado, cêntimo a cêntimo, em relação ao capital fica lá mais para a frente e para ver depois. Mas cada vez é mais evidente que nem a crise é para todos, nem é para todos a pagarem. Esta semana foram publicados os lucros da banca e dos grandes grupos económicos.

É outro escândalo quando se pede ao povo tantos sacrifícios! Os quatro maiores bancos arrecadaram 4,1 milhões de euros por dia nestes primeiros nove meses de 2009; a Brisa 401,7 milhões, mais 282%;  a Galp 266 milhões, quase mais 50%; a PT 5617 milhões, quase 1500% de aumento; a Portucel 154,3 milhões, mais 112%; a Jerónimo Martins 193 milhões, mais 40% e por aí fora!

A previsão no Orçamento é que as receitas do IRC para 2011, desçam 2,7%! É a lógica da política de direita! Tudo pelo capital, nada contra o Capital! Mas, neste assentar do pó após da primeira votação de aprovação do Orçamento, foram apenas precisas uma escassas horas para deitar por terra a mistificação das mistificações que estava na base dos que justificavam a necessidade imperiosa da sua aprovação: a necessidade de “acalmar os mercados” que especulam com a dívida.

Dos que diziam que sem este Orçamento os mercados iriam estrangular o país com taxas de juro leoninas. Que sem a sua aprovação seria a catástrofe! O que é que aconteceu? Orçamento aprovado e no dia seguinte os juros da dívida bateram um recorde histórico.

Tal como afirmámos e só nós afirmámos, não seria pela redução do défice que pararíamos a especulação. Não seria com medidas técnicas, fossem quais fossem, mas com soluções políticas. Não era com mais ou menos um ponto percentual no défice do Orçamento que os mercados, isto é, os mega-bancos, nomeadamente os bancos da Alemanha, da França e da Holanda iriam parar de especular.

A travagem da especulação sobre a dívida pública, com as taxas de juro de agiotagem que estão a ser praticadas exige uma solução política. Uma mudança de orientação do Directório das grandes potências, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu. Não contassem os grandes bancos com a conivência dos governos das grandes potências ou tivesse o Banco Central Europeu outra política e os juros da dívida travariam já e às quatro rodas!

Não se pode admitir que o Banco Central Europeu conceda créditos a 1%, apresentando estes como "garantia" a dívida dos respectivos Estados. E que estes bancos, por sua vez, concedam crédito aos Estados a 4, 5 e 6% e depois se imponham aos trabalhadores e aos povos medidas draconianas de austeridade! Por isso é mais que legitimo resistir à brutal extorsão dos povos e denunciar a farsa do combate ao défice à custa do desenvolvimento do país e das condições de vida do povo. 

Perante a chantagem e as práticas neo-coloniais dos grandes senhores da Europa o que se exige de um Governo e de um Presidente da República é que defendam o interesse nacional e que na União Europeia não se tenha um papel de submissão mas que se diga basta! Basta de espoliação dos povos!

A vida tem vindo a mostrar que as políticas de direita do PS e PSD sozinhos ou concertados entre si ou com o CDS e a colaboração dedicada de Cavaco Silva, não resolvem nenhum dos problemas do país. O fracasso das suas políticas e a dramática situação nacional confirmam a necessidade de uma ruptura e de uma mudança, que concretize uma política patriótica e de esquerda.

O país precisa de inverter a gravíssima situação de crise, de desemprego, de injustiças, de endividamento e dependência externa em que se encontra. O país não pode continuar a hipotecar o seu futuro. O país não pode continuar a adiar a tarefa do crescimento económico, da criação de emprego, da defesa e desenvolvimento da produção nacional.

Portugal pode e deve vencer mas com outra política, uma política ao serviço do povo e do país e não no interesse de meia dúzia de famílias, governantes e grandes grupos económicos.

Realizamos esta nossa Assembleia num momento em que a luta dos trabalhadores se intensifica e, crescentemente, mais largas camadas do povo tomam consciência da importância do protesto e da luta para pôr travão à ofensiva que o Governo do PS, com o apoio do PSD e a conivência do CDS, desenvolve contra as suas condições de vida e os seus direitos sociais essenciais. Ainda ontem os trabalhadores da Administração Pública deram um bom exemplo. Mais 100 mil!

O PCP apela aos trabalhadores e ao povo português para que façam ouvir a sua voz, para que façam sentir a sua força aderindo às lutas que estão em curso, nomeadamente contribuindo para ampliar e dar mais força à exigência de protesto e de mudança que terá na Greve Geral de 24 de Novembro um momento alto de afirmação!

Ao Partido Comunista, ao Partido da classe operária e dos trabalhadores exige-se mais que solidariedade. Exige-se mobilização, participação e organização para que a Greve Geral seja um êxito!

As eleições presidências são neste momento outra importante e prioritária frente do combate que travamos pela ruptura e pela mudança e em defesa dos interesses vitais do nosso povo. Um combate que exige de nós um crescente empenhamento para dar à nossa candidatura, à candidatura de Francisco Lopes a dinâmica, a força, a expressão de massas que a projecte como a candidatura dos que não se rendem, nem capitulam perante os objectivos e a chantagem dos grandes interesses, dos poderosos e do seu projecto de exploração dos trabalhadores e dos povos.

Um combate que se integra e articula com a luta que os trabalhadores e as massas populares desenvolvem contra a ofensiva da política de direita no nosso país e contra os interesses do capitalismo e do imperialismo, que na Europa estão a impor a sua lei!

Vamos ao combate afirmando a distinta natureza da nossa candidatura e denunciando com clareza os projectos dos que têm como principal objectivo perpetuar a política da direita. Desde logo, dando um decidido combate à candidatura de Cavaco Silva e da sua “cooperação estratégica” que incentivou e deu força à mais brutal das ofensivas contra os trabalhadores e os interesses populares e que mais se bateu para promover o “consenso da desgraça e da ruína do país” nestes anos que leva de Presidência da República. Desse candidato que dizia, em 2005, estar destinado a salvar o país, mas que acabado o seu mandato o deixa pior do que o encontrou!

Mas combate e denuncia também das candidaturas que não saem de cima do muro, que ora criticam as consequências da política de direita, ora são o seu amparo.

Portugal pode e deve vencer apoiando esta nossa candidatura, a candidatura de Francisco Lopes, a candidatura dos que não aceitam o Portugal das desigualdades sociais e das injustiças. A candidatura que não desiste de Portugal e que, com toda a determinação e confiança, luta por um Portugal democrático, justo, solidário e desenvolvido. 

Francisco Lopes fará mais que a parte que lhe compete! Nesta batalha preparemo-nos e façamos a nossa parte, a parte do nosso grande colectivo partidário em conjunto com outros democratas e patriotas. A organização do Partido aqui, em Beja, sempre esteve a altura das batalhas eleitorais e, no caso concreto, das presidenciais! Temos confiança que todos juntos saberemos dar a resposta que se impõe aos desafios que temos pela frente! Nesta Assembleia esteve bem presente a necessidade do reforço da organização do Partido e da importância da sua ligação aos trabalhadores, ao povo e à vida.

Temos um valioso património de trabalho e de luta nas empresas e nos movimentos de massas e Programa para abrir o caminho de um Portugal mais desenvolvido e mais justo. Temos vindo a desenvolver uma intensa acção política como testemunham a nossa acção nas instituições nacionais e europeias, mas também no plano da intervenção no Poder Local e, como se verifica agora com a grande acção centrada na campanha Portugal a Produzir, apontando ao país o caminho da alternativa. Temos avançado e vamos avançar no reforço geral do Partido. Vieram aqui as nossas insuficiências e o que muito há a fazer para o Partido cumprir melhor o seu objectivo de defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo, nomeadamente ao nível da estruturação da organização e dos fundos.

É um fazer e refazer permanente no quadro do Partido que temos, do Partido que somos à luz do Programa que temos e dos Estatutos que aceitamos!  Mas veio aqui também o que de muito positivo estamos a fazer. Continuamos a recrutar e a crescer. Tivemos 225 novos recrutamentos. Estamos a dar uma atenção às organizações de base e essa é uma linha de trabalho muito justa e necessária e como afirma a nossa Resolução política não se pode perder, corrigindo o que há a corrigir, envolvendo mais e mais militantes não só na discussão mas nas responsabilidades e nas tarefas! Temos trabalhado enfrentando campanhas persistentes que visam o nosso enfraquecimento, mas somos um Partido que não deixa derrotar nem abater e, por isso, se lança com toda a determinação para a concretizando a acção «Avante! Por um PCP mais forte». Tomando medidas dirigidas à responsabilização de mais quadros, em particular jovens, de reforço da organização e intervenção do Partido junto dos trabalhadores, nas empresas e locais de trabalho, nos campos.

Medidas de estímulo ao funcionamento efectivo das organizações e no crescimento do volume de receitas das quotizações dos militantes. Medidas que não podem descurar a necessária atenção à estruturação da organização partidária, visando o reforço do trabalho de direcção e a formação de colectivos partidários a todos os níveis, com uma mais elevada participação dos militantes na vida do partido e na intervenção na sociedade. Trabalhando para termos um Partido que faça da organização partidária um instrumento fundamental para a acção, com o envolvimento o empenhamento de mais militantes e mais militância o que exige a ligação do reforço orgânico à iniciativa política e à acção de massas, associando a organização do Partido à intervenção quotidiana e à luta de todos os dias. 

Um Partido que continua a celebrar e a reconhecer a Revolução de Outubro, a primeira revolução socialista vitoriosa que neste dia se comemora, como fonte de inspiração revolucionária. Essa Revolução que marcou com profundíssimos sulcos o século XX e o inicio de uma nova época histórica, a época da passagem do capitalismo ao socialismo e cuja importância não pode ser posta em causa, nem por erros, nem por derrotas. A realidade hoje assim o comprova!

É necessário um PCP mais forte e é possível um PCP mais forte. Com a vossa participação e empenho vamos, mais uma vez, consegui-lo!