Intervenção de João Oliveira na Assembleia de República

Balanço da evolução da situação económica do País

Sr. Presidente,
Sr. Deputado Nuno Magalhães,
De facto, entre a declaração de propaganda eleitoral que fez com esta declaração política e aquela que já tínhamos ouvido por parte do PSD a única conclusão que se pode retirar é que o CDS está mais adiantado que o PSD na preparação da campanha eleitoral, porque, de facto, o Sr. Deputado procurou ir atalhando já alguns contra-argumentos, que era perfeitamente natural que viessem a debate, que já foram utilizados aqui na declaração política anterior do Sr. Deputado Luís Menezes, e que têm a ver com o confronto que é preciso fazer entre as afirmações que a maioria aqui faz e a realidade que o País vive, porque há muita coisa, Sr. Deputado Nuno Magalhães, em que a bota não bate com a perdigota.
Portanto, percebe-se que o Sr. Deputado sobre o aumento da dívida nada tenha dito, que sobre o desemprego tenha repetido o que já ouvimos a outros responsáveis governamentais e da maioria, escondendo a utilização de mais de 190 000 desempregados para instrumentalizar estatísticas através de estágios e de programas de formação, e que sobre a emigração o Sr. Deputado tenha sacudido a água do capote, como se o Governo nada tivesse a ver com a verdadeira sangria de jovens e trabalhadores qualificados a que assistimos nos últimos três anos e como se não tivesse havido, inclusivamente, um Secretário de Estado a assumir a emigração como política oficial do Governo e a convidar os jovens a saírem do País.
De facto, o Sr. Deputado passou por cima de tudo aquilo que tem de ver com a violação de compromissos que o próprio CDS assumia na campanha eleitoral de há três anos, porque, obviamente, agora querem fugir deles como o Diabo foge da cruz.
Mas, Sr. Deputado, há dois elementos relativamente aos quais ainda gostava de o ouvir em concreto, antes de passar ao capítulo das contradições, que têm a ver com as referências que o Sr. Deputado fez à evolução das exportações e da balança corrente e à competitividade.
O Sr. Deputado disse que as exportações estão a melhorar e que a nossa balança corrente está a melhorar. Quero perguntar-lhe, Sr. Deputado, se já leu a página 11 do relatório apresentado pelo Governo, que o senhor sustenta, que refere que a balança corrente vai voltar a ser negativa com as importações a aumentarem mais do que as exportações.
Portanto, gostava de saber se o Sr. Deputado já leu esta página do Orçamento retificativo e o que tem a dizer sobre isto, porque, pelos vistos, o Sr. Deputado tem uma perspetiva contraditória em relação à que o Governo apresenta, porque já nem o Governo tem coragem de continuar a esconder essa evolução, exatamente ao contrário daquela que tinha anunciado relativamente à balança corrente.
Sobre a competitividade, queria perguntar-lhe se leu ou não a entrevista do presidente do Fórum Mundial, que organiza aquele estudo sobre a competitividade, onde é dito que o fator que mais contribuiu para a alteração da posição de Portugal nesse ranking da competitividade foi a evolução dos salários e a flexibilidade laboral…
Sr. Deputado, pergunto-lhe se, na perspetiva do CDS, a competitividade deve ser um objetivo sacrossanto e garantido à custa de obrigar os trabalhadores a trabalharem por um prato de lentilhas. Gostava de saber se é essa a perspetiva do CDS.
Para terminar, Sr. Deputado Nuno Magalhães, pergunto-lhe: onde é que anda o partido do contribuinte, que não fala do aumento dos impostos nos últimos três anos? Onde é que anda o partido dos reformados, que não fala no saque das pensões e das reformas dos pensionistas, no corte das pensões de sobrevivência, que atinge milhares de reformados e que o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional?
Queria saber onde é que está o partido da lavoura, que, neste momento, está a liquidar a Casa do Douro ou que, por exemplo, assobia para o lado perante a perspetiva do fim das quotas leiteiras com prejuízo para os nossos agricultores e com prejuízo para a riqueza nacional.
Onde é que está o CDS que era o partido do contribuinte, o partido da lavoura, o partido dos reformados e que, ao longo destes três anos, não fez outa coisa se não atingir, precisamente, aqueles que dizia defender?

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