Intervenção de

Aumento do número de funcionários públicos - Intervenção de Bernardino Soares na AR (Comissão Permanente)

Debate com vista ao esclarecimento integral do aumento do número de funcionários públicos no 1.º trimestre de 2006

Sr. Presidente,
Sr. Ministro de Estado e das Finanças,

Numa coisa não entramos com o Governo e com o PSD: no campeonato de quem reduz mais o número de funcionários públicos. Já percebemos que o objectivo do Governo é esse e que quando o PSD se queixa é porque considera que o Governo não reduziu o suficiente o número de funcionários públicos.

Ao que o Governo responde: «Não, reduzimos e vamos reduzir ainda mais!» Pois para esse campeonato escusam de contar com o PCP,  porque o que está a ser demonstrado por este tipo de intervenções do Sr. Ministro, do PSD e também do CDS-PP — honra lhe seja feita — é que não há nenhuma preocupação com a reorganização da Administração Pública. O objectivo não é retirar de onde há a mais para pôr onde há a menos, o objectivo é reduzir, e ponto final! Esse é o objectivo do Governo, e por isso também não quis discutir na Assembleia da República o diploma que consubstanciava as decisões do famoso PRACE, se recusou a esse contraditório, que certamente seria muito importante para clarificar essa questão.

Mas, Sr. Ministro, quero dizer-lhe que, apesar do que afirmou, pareceu-me que reconhece haver hoje mais contratados a termo, em avença e à tarefa, do que no mês homólogo do ano passado. Isto quer dizer que, tanto quanto percebi da intervenção do Sr. Ministro de Estado e das Finanças, mesmo que a despesa não tenha aumentado ao mesmo nível, o que o Governo está a fazer é a substituir trabalhadores que têm vínculo à função pública por trabalhadores com contratos precários e que, como o Sr. Ministro sabe, na maior parte dos casos não são contratados para acudir a funções transitórias mas, sim, para acudir a funções permanentes. E a única coisa que não é permanente é o vínculo que o Estado lhes dá para desempenhar essas funções.

Esse é o caminho que está a ser feito, ou seja, precarizar a situação desses trabalhadores, que vêm acorrer a certas necessidades, e, mesmo assim, reduzir o total do número de funcionários públicos em vez de reorientar a sua dimensão conforme as necessidades de cada Ministério e de cada serviço.

Finalmente, Sr. Ministro, penso que não vai escusar-se a responder à questão, também hoje noticiada mas que muitas vezes tem sido debatida e perguntada em requerimentos deste grupo parlamentar, sobre o custo dos estudos, dos pareceres e das consultorias. É que o Governo, que tal como os anteriores — verdade seja dita — tanto fala na necessidade de conter a despesa pública e de aproveitar os recursos da Administração Pública (que são demais, segundo o PS, o PSD e o CDS-PP), nesta matéria já não se preocupa com isso: em vez de utilizar as capacidades dos serviços públicos, o que faz é contratar a privados aquilo que poderia ser feito pela Administração Pública, pagando chorudas quantias, e não se preocupando, nesse caso, com o défice ou com as contas públicas.

Por isso, Sr. Ministro, gostaria de saber se confirma ou não que os estudos, os pareceres e as consultorias vão aumentar em cerca de 80%, conforme foi hoje noticiado. E, se não é assim, demonstre-nos como é.

 

 

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