A presidência alemã do Conselho, que agora se inicia, tem um programa que é claro quanto ao que a Alemanha espera de um processo de integração do qual é a primeira e principal beneficiária.
O mais significativo acontecimento desta presidência será provavelmente a aprovação do denominado Plano de Recuperação e do Quadro Financeiro Plurianual, o orçamento da UE até 2027.
Quanto ao primeiro, do qual a Alemanha receberá em subvenções sensivelmente o dobro de Portugal, este instrumento é claramente insuficiente face às necessidades de investimento existentes.
Aliás é significativo que o governo alemão tenha mobilizado para intervir no seu país muito mais do que aquilo que propôs para o fundo de recuperação, para acorrer à situação de 27 Estados-Membros.
Quanto ao orçamento, perspetiva-se que fique comprometida a necessidade de crescimento das verbas destinadas à coesão económica e social.
O alargamento e aprofundamento do mercado único, num quadro de agravamento das desigualdades entre Estados, criará as condições para uma ainda maior concentração de capital à escala europeia.
A chamada reindustrialização e relocalização das cadeias de valor não pode ser feita em função do interesse exclusivo das principais potências europeias - pelo contrário, tem de ter em conta sobretudo os interesses e necessidades dos países, como Portugal, mais afetados pela desindustrialização.