Apresentação dos cabeças de lista à Câmara e Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira

Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP 

(Extracto)

Ao apresentarmos os cabeças de lista da CDU às próximas eleições autárquicas, o camarada Carlos Coutinho à Câmara e a nossa amiga Isabel Brigham à Assembleia Municipal, os quais particularmente saúdo e faço votos de bom trabalho, gostaria também de lhes dizer que a importante batalha eleitoral que temos pela frente e que no concelho de Vila Franca de Xira assumirá particular relevância é uma batalha de todos nós e não apenas dos candidatos e que, estou certo, os eleitos da CDU vão poder contar com o empenhamento de todos os activistas da CDU na concretização dos nossos objectivos eleitorais.

 

Oito anos de maioria PS, no concelho de Vila Franca de Xira, são já tempo suficiente para verificar e reflectir, sobre as diferenças de projecto e de gestão, tendo como referência o trabalho realizado pela CDU e avaliar os resultados e reais vantagens para as populações e o concelho de uma gestão que, afinal, agravou muitos dos problemas que anunciou iria resolver.

Oito anos depois é visível o contraste entre o que era uma gestão que procurava a participação e o envolvimento das populações e do movimento associativo, o contributo dos eleitos das outras forças políticas na definição das políticas municipais e a gestão arrogante e prepotente do PS que omite e fecha ao círculo estrito dos seus amigos a informação importante sobre a vida do concelho.

Oito anos depois é possível verificar que as promessas de requalificação urbana e de desenvolvimento que o PS anunciou, se traduziram num crescimento desordenado da construção a reboque do projecto de especulação imobiliária e do negócio, com novas e brutais cargas sobre o território, sem a consideração das necessárias infra-estruturas e com um impacto muito negativo na qualidade de vida das populações.

Oito anos perdidos na afirmação e valorização da cultura, de completa negligência e esquecimento da cultura de raiz e participação popular, num concelho que sempre foi uma referência incontornável na região de Lisboa.

 

Oito anos de expectativas, nunca concretizadas, de desenvolvimento económico do concelho e que hoje enfrenta, em resultado das políticas de direita dos últimos governos, cada vez mais dificuldades em criar e fixar emprego.

Está hoje muito claro quanto falsa e descabida era a acusação do PS quando nos imputava a responsabilidade pelas dificuldades da economia do concelho.

A verdade é que foram as políticas neoliberais e as políticas de completo abandono dos sectores produtivos, na concretização das quais os governos do PS têm muitas responsabilidades que conduziram à difícil situação de desemprego que atravessamos.

Uma situação que continua a degradar-se com novos despedimentos e encerramentos de empresas, como foi o agora recente encerramento do sector de produção da empresa Henkel e que se acentuará se não houver uma urgente inflexão nas políticas económicas.

Não deixa de ser preocupante, que o PS que agora apresentou o seu programa de governo, este aponte um vazio de medidas concretas na resposta à imperiosa necessidade de defesa dos sectores produtivos nacionais e, particularmente, nada diga sobre orientações concretas em relação à superação da grave situação que enfrentam os sectores tradicionais da nossa economia.

É com sincera inquietação que verificamos o enorme desprezo com que se trata a defesa da nossa capacidade produtiva e económica instalada e se passou a valorizar em exclusivo a componente da criação das 200 novas empresas que o anunciado choque tecnológico tem de ciência certa já garantidas. Naturalmente que o PCP valoriza todo o esforço para a criação e desenvolvimento de novas empresas tecnologicamente mais evoluídas, o que é necessário, como defendemos no nosso programa, reforçar e muito o nosso investimento em ciência e tecnologia. Não aceitamos e pensamos que é um profundo erro que o país pagará caro o abandono à sua sorte do que hoje temos e que garante milhares e milhares de empregos, sectores da nossa economia que precisamos de defender e fazer evoluir no sentido da sua modernização.

Há, hoje, uma preocupante tendência para considerar a defesa dos nossos sectores produtivos como uma batalha perdida. E está claramente em curso na sociedade portuguesa a partir de sectores ligados aos grandes meios económicos, interessados em canalizar para os seus negócios especulativos ou de lucro fácil e rápido, o grosso dos meios financeiros dos orçamentos comunitário e nacional uma forte campanha ideológica que visa desvalorizar os esforços, como os que o PCP faz, na defesa da nossa economia nacional e de sectores, como, por exemplo, do têxtil e vestuário e cuja campanha em sua defesa recentemente lançamos com a exigência do accionamento das cláusulas de salvaguarda. E que, diga-se de passagem, está a dar já alguns frutos como é visível, pelos menos no que ao têxtil diz respeito quando a União Europeia já admite considerar o impacto das importações da Ásia para a comunidade se estas ultrapassarem os dez por cento.

Tendência que se expressam também no plano político. Não apenas na direita ou no PS, mas também no Bloco, que num desmedido esforço para parecer moderno nos ataca com insinuações de conotação passadista e de proteccionismo serôdio pelo esforço que desenvolvemos na defesa do sectores produtivos nacionais. Como se não fosse importante para a defesa dos interesses nacionais ganhar espaço, não só para impedir rupturas sociais abruptas como as que se adivinham nalguns sectores e de consequências sociais calamitosas, ou para dar tempo, mantendo o emprego, os necessários processos de modernização que urgem apoiar, bem como a concretização, noutros casos e em certas regiões à criação e consolidação de alternativas que sustentem um modo de vida às suas populações.

Posições que revelam também a hipocrisia das suas preocupações sociais. A mesma hipocrisia com que se apresentam como campeões na palavra da unidade das forças de esquerda e do combate à direita, mas na realidade a pensar nos seus próprios e egoístas interesses partidários.

E já que falamos em hipocrisia, continuamos infelizmente a assistir ao julgamento de mulheres acusadas pela prática de aborto, como é o caso agora no Tribunal de Setúbal e como parece evidente pelo que aconteceu esta semana na Assembleia da República vamos continuar a assistir por mais tempo, ao degradante espectáculo da exposição aviltante na praça pública da vida privada e íntima das mulheres.

O debate parlamentar de 20 de Abril, confirma que o PS se recusa a assumir a decisão política de mudar a Lei do aborto na Assembleia da República e a sua opção, que o Bloco acompanha, vai pela convocação de um referendo é uma clara cedência aos partidos da direita que nem a lei, nem a vontade dos eleitores o obrigaria.

Da nossa parte participaremos activamente neste debate de 20 de Abril, com o nosso projecto-lei, afirmando a legitimidade da Assembleia da República para fazer aprovar uma Lei de despenalização do aborto.

Oito anos passados, é hora das populações do concelho de Vila Franca reflectirem sobre a importância e a necessidade de promover uma viragem na vida do seu concelho, apoiando e reforçando a única alternativa credível – a CDU - capaz de responder com trabalho, dedicação e competência aos reais problemas e às exigência do desenvolvimento.

Temos um passado de realização nas autarquias e um projecto alternativo de esquerda no poder local que não deixam dúvidas quanto ao sentido e rumo da nossa intervenção na defesa do interesse público e das populações.

Vamos para esta batalha que aqui iniciamos com a confiança que nos dão também os bons resultados eleitorais obtidos pela CDU nas últimas eleições e dispostos a travar de igual para igual esta decisiva batalha para o desenvolvimento do concelho de Vila Franca de Xira.

Vamos para esta batalha certos de que ninguém perde, nem ninguém ganha batalhas antes de as travar.

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