Intervenção de Paulo Sá na Assembleia de República

Apesar da austeridade imposta pelo programa de ajustamento económico e financeiro, este constitui um meio para a recuperação das contas públicas com vista ao futuro do País

Sr.ª Presidente,
Sr. Deputado Paulo Batista Santos,
Começou a sua intervenção falando do Estado tentacular, do ser omnipresente que impediu o desenvolvimento de uma sociedade livre, e a seguir defendeu a criação de uma sociedade forte e moderna.
Vamos traduzir isto por miúdos: o que o Sr. Deputado defendeu aqui foi o desmantelamento do Estado. O Sr. Deputado defendeu aqui o ataque à escola pública, ao Serviço Nacional de Saúde, aos serviços públicos em geral e o desmantelamento do setor empresarial do Estado. O Sr. Deputado defendeu aqui a redução do Estado à mínima expressão, e fá-lo não porque isso sirva Portugal e os interesses dos portugueses mas, sim, porque serve os interesses dos grandes grupos económicos e da banca.
O Sr. Deputado disse aqui que não há uma «árvore das patacas». Engana-se, Sr. Deputado, há uma «árvore das patacas», que apenas funciona para os grandes económicos e financeiros, e essa «árvore das patacas» chama-se, exatamente, desmantelamento do Estado. É essa «árvore das patacas» que os senhores se empenham, com grande fervor e zelo, em abanar para que caia dinheiro para os grandes grupos económicos e financeiros.
Falou também o Sr. Deputado, na sua intervenção, nas graves dificuldades económicas e financeiras e na difícil situação que o País atravessa, defendendo que a única política seria aquilo a que chamamos, e justamente, o pacto de agressão. O que significa esta política do pacto de agressão para Portugal? Significa austeridade, um aumento brutal de desempego, um aumento brutal da carga fiscal, os cortes nos apoios sociais e nos serviços públicos, significa recessão, falência e encerramento de micro e pequenas empresas. Enfim, significa o desastre económico e social.
Dizia o Sr. Deputado que há um futuro a conquistar. Concordamos que há um futuro a conquistar, mas este futuro não é, com certeza, com a política da troica e com o pacto de agressão, porque essa política que os senhores defendem e estão a aplicar só levará ao desastre e ao afundamento nacional. Há um futuro a conquistar, sim senhor, e os portugueses poderão olhar para um futuro com confiança, mas será através de uma política alternativa, patriótica e de esquerda, que inverta o rumo a que os senhores têm levado este País. Essa política poderá colocar Portugal no rumo do desenvolvimento económico, do progresso social; essa política, sim, permitirá aos portugueses olhar com confiança para o futuro e dizer «há um futuro a conquistar».
Sr. Deputado, quero colocar-lhe uma questão. O Sr. Deputado sabe muito bem, como sabemos todos e como sabem os portugueses, que daqui a uns meses o Governo terá de vir reconhecer que o défice orçamental derrapou, que a dívida pública aumentou, que será necessário aplicar mais um pacote de austeridade, que será preciso sacrificar mais os portugueses para corrigir o rumo. Sr. Deputado, gostaria de arriscar uma estimativa de quantos meses serão necessários para o Governo vir dizer aqui que, afinal, não resultaram, não chegaram as medidas e que é preciso mais um pacote de austeridade, que é preciso impor mais sacrifícios aos portugueses? Deixo-lhe o desafio de fazer aqui uma estimativa.

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