Camaradas,
Venho de Peniche, sou operária conserveira na ESIP, a maior empresa do sector no país. Aqui no congresso somos duas delegadas de lá, eu e a Mariana.
Certamente que o meu trabalho e o das minhas companheiras – somos na esmagadora maioria mulheres -, algumas vezes vos acompanha à mesa numa refeição com sardinhas, cavalas ou outros peixes de conserva. Se vos dá gosto comer quer dizer que o nosso trabalho é bom e vale a pena, temos a certeza que sim, e isso orgulha-nos.
Somos cerca de 800 a trabalhar por turnos, muitas há anos sucessivos com vínculo a empresas de trabalho temporário. Ainda agora obtivemos uma grande vitória com a integração de 60 companheiras na ESIP e a administração já admitiu que no início do ano fará contrato com outras tantas. A luta vale a pena.
Trabalho na ESIP há 34 anos, 40 horas por semana. Trabalho ao ritmo que as máquinas mandam, estou sujeita a temperaturas elevadas e a humidade e a condensação é tanta que, por vezes, parece que no chove em cima.
Camaradas,
somos todas corridas a 820€ por mês, o Salário Mínimo Nacional. Ao fim de 34 anos de trabalho, outras há mais do que isso, recebemos o salário mínimo nacional.
Há dias ficámos a saber que o director em 2023 recebia – fora alcavalas-, 15 salários e meio por cada um dos nossos. Recebe mais de 13 mil euros por mês. Temos de trabalhar quase ano e meio para levar para casa o que o sr. Director leva num mês.
É esta empresa que têm recusado negociar o contrato colectivo de trabalho e quer impor alterações ao horário de trabalho em troca do justo aumento de salário.
É esta mesma empresa que não investe nas condições de trabalho.
É esta mesma empresa que, conhecendo a reivindicação do SINTAB para que os trabalhadores do sector das conservas tenham direito ao gozo do dia 15 de Novembro - Dia Nacional das Conservas -, este ano afixou um papel dizer que podíamos tirar uma hora. Entre nós sentimos isso como uma ofensa.
Bom, camaradas, eu vim aqui para dizer duas coisas.
A primeira, é que lá na empresa há organização sindical, eu soudirigentes do SINTAB, sindicato de classe da CGTP-IN, com os trabalhadores discutimos e organizamos a luta. No próximo dia 20 vamos para a greve, por melhores salários, pela defesa da contratação colectiva, por melhores condições de trabalho. Vamos prosseguir a luta porque é esse o caminho.
A segunda, é que dentro da empresa, e lá à porta, já recolhemos 334 assinaturas de apoio à iniciativa do Partido por melhores salários e pensões. Ali com a Mariana até faziam fila para assinar, tivemos pena de não tirar uma fotografia que ficava bem no Avante!.
Lá na fábrica bem sabemos o que significaria se a proposta do Partido de aumento do salário mínimo nacional para mil euros já em janeiro fosse aprovada. Para nós era bem bom e, ainda assim, o senhor director ficava a ganhar 13 salários dos nossos.
Eles que não digam que não podem que é mentira. Digam a verdade, não querem. Não querem, mas os trabalhadores com o seu Partido vão à luta e havemos de os ir buscar.
Viva o XXII Congresso!
Viva o PCP!