Afirmam os Estatutos que os símbolos do Partido são uma bandeira, onde consta uma «estrela vermelha de cinco pontas, símbolo do internacionalismo proletário», bem como «duas fitas com as cores nacionais: uma verde, outra vermelha», e um hino, que tem como título «A Internacional». Estes artigos, que surgem mesmo no final dos Estatutos, são demonstração de como, mesmo nas normas de funcionamento do Partido, as dimensões patriótica e internacionalista estão presentes em simultâneo e de forma complementar.
A dimensão patriótica do PCP não é confundível com qualquer noção de nacionalismo. Porque se integra na sua concepção e projecto de esquerda, porque não confronta nem desafia outros países ou pátrias, porque coloca o marco nacional de luta, desenvolva-se ela onde se desenvolver, como o elemento unificador de um objectivo comum que os trabalhadores de todos os países prosseguem.
Basta olhar para as comemorações dinamizadas pelo Partido em torno do Quinto Centenário do Nascimento de Luís de Camões, que decorrerão até ao final de 2025. Camões, poeta de dimensão universal, autor de uma obra de grande cultura humanista, literariamente rica e criadora, por isso não só é património da pátria, mas o seu conhecimento é um direito do povo. Como este entendimento contrasta com as tentativas nacionalistas, elitistas, colonialistas e reaccionárias de apropriação da sua figura e da sua obra.
Não há, ao contrário do que alguns insistem em afirmar, qualquer antagonismo entre patriotismo e internacionalismo. Cada vitória e cada conquista do proletariado de um país, ou mesmo de um povo frente ao imperialismo, são importantes contributos para a vitória da classe operária também aqui em Portugal. Fortalecem, nesta fase histórica, a nossa capacidade de resistência contra o inimigo. Da mesma forma, a luta pelos direitos dos trabalhadores e do povo português, pela soberania nacional, tendo sempre presente a realidade económica, social e cultural do País, é uma componente essencial da nossa luta pela transformação da sociedade. Por isso, quando lutamos, seja para aumentar salários e pensões, seja para defender serviços e empresas públicas, seja para rejeitar as ingerências e a submissão do nosso País aos interesses do imperialismo, estamos a dar o maior contributo possível pelo fim da exploração do homem pelo homem. O nosso Partido tem aliás um vasto património que demonstra isso mesmo, cujo mais flagrante exemplo talvez sejam os oito pontos do Programa da Revolução Democrática e Nacional e todo o processo da Revolução de Abril.
De igual modo, quando 33 mil trabalhadores da Boeing nos Estados Unidos conquistam várias vitórias laborais depois de quase dois meses de luta, quando o povo palestino resiste à guerra genocida de Israel, quando Cuba socialista persiste na construção soberana do seu caminho mesmo perante o bloqueio comercial, financeiro e económico dos EUA, e tantas outras lutas que em todo o planeta confrontam o capitalismo, o colonialismo e o imperialismo, cada uma delas é um exemplo que nos anima e dá confiança para as que travamos aqui.
As Teses ao Congresso abordam em vários momentos a interligação da questão nacional com a questão de classe, a identificação do quadro nacional como campo determinante de luta e «o exercício da soberania nacional como condição para a defesa e conquista de direitos, para promover o desenvolvimento económico e social, para o avanço de processos de transformação».
E a verdade é que a conjugação de patriotismo e internacionalismo aparece logo de forma clara no Manifesto do Partido Comunista. Marx e Engels explicam nesse texto fundador como «a luta do proletariado contra a burguesia começa por ser uma luta nacional», como «o proletariado de cada um dos países tem naturalmente de começar por resolver os problemas com a sua própria burguesia», como «a unidade de acção [...] é uma das primeiras condições» da libertação da classe operária, e como «à medida que é suprimida a exploração de um indivíduo por outro, é suprimida a exploração de uma nação por outra».
Portanto, porque é patriótico e internacionalista, mantém-se plenamente actual esse lema que entusiasma os proletários de todos os países: uni-vos!