Poderia fazer esta intervenção em torno da ofensiva ideológica, desde o anti-comunismo ao deslace deliberado da consciência de classe, passando pela promoção do individualismo egoísta pelos oligopólios da desinformação e do entretenimento.
Poderia referir que o terreno onde comunicamos não é neutro, e que não depende apenas de nós a forma como a nossa mensagem é apreendida, mas que também decorre de uma teia de valores e preconceitos, que deturpam o que o Partido diz, propõe e se propõe transformar.
Poderia argumentar que uma coisa é o que precisamos de avançar na propaganda: responsabilização de quadros, resposta pronta, meios preparados em cada momento, imaginação e ousadia; e que outra coisa é atribuirmos a uma suposta ineficácia de comunicação do Partido o que, na realidade, resulta da ofensiva contra nós.
Poderia falar da necessidade de repormos rapidamente a nossa propaganda de rua porque isso permite a cada trabalhador não se sentir só ou largado à sua sorte, porque sabe que o Partido mora ao lado, um Partido vivo e actuante.
Poderia falar da urgência audaz de estarmos na rua, com confiança, porque a confiança não é apenas proclamatória, é contagiante para nós e para os outros. Não nos basta ter razão, precisamos mesmo de levá-la a toda a parte, visível e orgulhosamente, com som, bandeiras e cor, volume.
Poderia, mas não o vou fazer. Gostaria antes de falar-vos de outra coisa.
Quando discutimos a propaganda, as expectativas de rasgos brilhantes e soluções milagrosas estão na cabeça de muitos de nós. Esperamos encontrar no cartaz, no lema, no vídeo, a resposta para todo o ódio de classe contra o Trabalho, o Partido e o progresso.
Camaradas, quero dizer-vos que nós temos essa solução brilhante: é a nossa organização – o colectivo e cada num nesse colectivo, cada um de vós. Cada vez que esclarecemos um colega de trabalho ou um vizinho, estamos a melhorar a nossa comunicação, estamos a fazer do nosso prestígio pessoal um folheto do mais eficaz, ao falar do preço da botija de gás ou do horário desumano e extraordinário para fazer batatas fritas fazemos esse conhecimento e possibilidade de transformação prevalecer sobre a dúvida e o preconceito, estamos já a despertar consciências. A Acção Nacional mostra-nos isso: contacto concreto, reivindicação concreta, transformação que concretiza.
O trabalho de informação e propaganda é tanto mais eficaz quanto for tarefa de todos, e não apenas responsabilidade central ou do camarada que vai ocasional e raramente à televisão.
Poderá perguntar-se: temos uma ofensiva tão intensa e não há novidade na resposta? Na verdade, temos circunstâncias intensa, mas velhas, que serão passado, o novo somos nós e a transformação da realidade que será futuro.
A solução a inventar não está no folheto com a cor certa, (e nós precisamos mesmo de fazer bons folhetos!), está na possibilidade de transformar cada folheto numa conversa, num ganhar disponibilidade para ouvir, discutir, conhecer e reconhecer. E isso não é delegável, isso é prática de organização, isso é cada um de nós.
Nós não precisamos de fazer o tipo de comunicação que o capital quer que façamos, nós precisamos de fazer o que só nós podemos e sabemos fazer, porque só nós estamos e queremos transformar nos locais onde se cria a riqueza.
Precisamos de agir sem hesitações ou sobranceria, olhos nos olhos – mobilizar a acção colectiva, presencial, fraterna e solidária.
Nós não precisamos da roupa, o vocabulário ou retórica que o capital determinou serem o arquétipo do político desempoeirado e contemporâneo, nós precisamos é que as 334 trabalhadoras da ESIPE que assinaram o Abaixo-Assinado sintam que esta tribuna é sua. Não serão algoritmos nem televisões a contar-lhes que a história a elas pertence, que são elas que a fazem.
Precisamos de projectar a confiança materializada em acção, o optimismo que não é mero desejo, é realidade concreta de todos os dias do movimento de massas em pequenas e grandes expressões, é certeza histórica.
Precisamos de ter torrentes de histórias e elementos visuais pelas contas pessoais e das organizações nas redes digitais, por toda a parte, e também de forma dirigida.
Precisamos da energia, inteligência, rasgo, criatividade, sentido de humor e militância que estão em cada um de vós, e que são potenciadas na acção colectiva.
Camaradas, nós somos mesmo capazes; confiando neste povo corajoso, com demonstrações históricas de bravura, na defesa da pátria, na resistência antifascista, na mais bela Revolução e todos os dias.
É este povo que precisa da nossa acção diária perseverante, paciente e urgente, fazendo acontecer história, em todo o lado. Fazendo de cada comunista, comunicação e acção transformadora e emancipadora.
Camaradas,
Nós somos o PCP, orgulhosamente.
Viva XXII Congresso do PCP!
Viva a JCP!
Viva o PCP!