Intervenção de Jorge Cordeiro, Membro da Comissão Política e do Secretariado do Comité Central do PCP, XXII Congresso do PCP

As condições em que lutamos. Características da ofensiva e da luta ideológica

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Abordar a luta que travamos suscitando as condições em que ela se realiza pode soar a justificação. Assim não é. Ter presente essas condições, o quadro em que se desenvolve, a correlação de forças que a envolve, a expressão dos meios para condicionar a nossa acção, a identificação de quem a ela se opõe são pressupostos essenciais para enfrentar obstáculos, superar dificuldades, garantir acerto na resposta do Partido.

As condições de luta e a influência do PCP não são separáveis das relações de produção social dominantes, da correlação de forças de classe em presença. É a partir destas condições que o Partido tem de afirmar a sua acção, resistir à ofensiva política e ideológica a que é sujeito, dirigir um processo de luta que contribua para o acumular de forças que garanta a afirmação das suas propostas e projecto.

Não há que iludir o essencial. A luta que travamos é expressão de um confronto de classe que permanece e se prolonga, que coloca em oposição interesses antagónicos, que expõe esse embate insanável entre as forças que visam perpetuar o sistema de exploração e quem, como o PCP, o quer superar. É da nossa luta, da nossa experiência e da nossa história que cada direito, seja de maior alcance seja mais circunscrito, tem de ser conquistado pela luta. Nada é dado pelo capital. Muito menos quando o que está em causa é o seu poder e dominação. A intensa ofensiva contra o PCP, é tão só expressão de sermos a força que pela sua acção e objectivos pode comprometer esses interesses. É isso que não toleram, nem perdoam. Não é engano, é a vida: o PCP é e continuará a ser o alvo principal dessa ofensiva e o depositário desse ódio de classe, porque somos o que somos e não o deixaremos de ser, porque somos portadores da verdadeira alternativa e porque reafirmamos a cada dia um programa e projecto que com orgulho assumimos.

Uma realidade que condiciona mas não é obstáculo intransponível. É verdade que ao capital não faltam meios e poder. Mas não é menos verdade que o PCP pode contar objectivamente com essa força imensa que reside nos trabalhadores e no povo a partir da identificação dos seus interesses.

Camaradas,

Compreender as condições de luta é condição para melhor intervir. Fazê-lo não é dissimular dificuldades próprias. Não desvalorizamos a necessidade de identificar insuficiências, avaliar o que se pode e deve aperfeiçoar. Mas seria um erro, perder de vista que nas condições concretas em que intervimos há factores objectivos e subjectivos que a condicionam. Seria um erro observar a evolução da influência do Partido, nas suas diversas expressões, apenas pela visão unilateral e exclusiva da nossa intervenção, isolada da acção de outros com quem nos confrontamos, iludindo que ela é parte indissociável de um embate político e de classe mais vasto, não circunscrito a um período temporal. Erro, porque despreza factores que não podem ser desprezados e porque carreia para a nossa acção responsabilidades que lhe não cabem. E, sobretudo, porque não contribui para uma avaliação lúcida da situação e para mobilizar energia militante para enfrentar batalhas presentes e futuras.

A influência do partido é um todo – política, ideológica, social e eleitoral. Expressa-se, mais ou menos, de acordo com as condições objectivas e subjectivas de cada momento. Não é mensurável pela estrita observação de uma das suas expressões. A expressão eleitoral é uma dessas expressões, talvez a mais notória, não subestimável, mas não seguramente a mais determinante. É na batalha pela construção da influência geral do Partido, da sua dimensão social e do que dela decorra para o plano da consciência e adesão políticas que se decide do papel e acção a que é chamado a assumir.

A influência do Partido não é separável dessa intervenção que reúne objectivos imediatos de luta e afirmação do projecto de emancipação e transformação social. Mas uma influência que também não é separável da situação de avanço ou refluxo do processo político; das alterações na composição e estrutura social; dos meios de dominação ideológica que moldam consciências e posicionamentos. Uma influência condicionada pela ofensiva ideológica que enfrentamos. Essa ofensiva que, nas diversas expressões que comporta, assume hoje novas formas.

É verdade que a ofensiva contra o Partido não é de hoje, que sempre houve e haverá. Mas, sem menosprezo por outras expressões de condicionamento ideológico de períodos anteriores, desvalorizar hoje a sua intensidade só serve para descurar o Partido, absolver o fel anti-comunista que preenche o espaço mediático. Fazê-lo seria ignorar o enorme desenvolvimento dos instrumentos de dominação . Seria ignorar a massificação da informação dos meios de propagação da falsificação, da deturpação, da mentira.

Seria ignorar essa imensa concentração de centros de produção ideológica que invadem todos os planos da vida em sociedade à escala nacional e mundial.

Correndo o risco que as simplificações comportam, talvez se possa afirmar que antes a produção da ideologia burguesa saía das elites para as massas, hoje invade as massas pelo arsenal de meios de que passou a dispor e fazer uso.

Esta ofensiva que tem como alvo privilegiado o PCP. Ofensiva que se caracteriza pela mobilização de meios a que recorre, pela persistência e intensidade que assume, pelas continuadas campanhas em que se suporta, num processo que não pode ser visto ou avaliado isoladamente pelo que cada uma dessas campanhas significa e as consequências que provoca, mas sim, pelo que no seu conjunto acrescenta, estratifica e consolida de elementos preconceituosos e de obstáculos à mensagem e à acção do Partido.

Um preconceito que o capital anula para dificultar a aceitação do que o PCP afirma e propõe, pela barreira artificial que cria mesmo quando não se dá conta dela, e que conduz a que se avalie o Partido, não pelo que propõe e representa, mas sujeito ao crivo do preconceito que cria desconfiança nessa relação

É neste quadro que o Partido tem de resistir à intensa ofensiva política e ideológica a que é sujeito, e dirigir um processo de luta que contribua para o acumular de forças que projectem e afirmem as suas propostas e o seu projecto.

É essa luta que prossegue e em que estamos empenhados. Tempos marcados pela deturpação ideológica da realidade de acordo com os interesses dominantes, vivendo da promoção do que é imediato e parcelar procurando instituir uma forma de agir que dispensa a reflexão, atrela a acção de cada um ao sabor de interesses, não sendo os seus, se lhes apresentam como tal. Teia onde o individualismo exacerbado, o cultivo da inveja, do egoísmo e da competição no relacionamento social esmagam o que é interesse comum e colectivo.

Um quadro em que a resposta a essa deturpação tem, sem prejuízo do campo especifico da luta ideológica, na prática e no contacto com a realidade e o concreto, a condição principal para lhe dar combate.

Dificuldade não é sinonimo de impossibilidade. Não se olhe apenas para a ofensiva do capital, a sua intensidade, com a percepção de avalanche que parece tudo soterrar. É assim, mas não é tudo. Entre o querer e o poder, há essa arreliador pormenor, a luta dos trabalhadores e do PCP. Olhe-se, como é dever de uma força revolucionária, para o outro lado dessa realidade em movimento: ou seja, olhe-se pelo lado da força da resistência, da mobilização de forças combativas e da corajosa atitude de não soçobrar ao poder dominante. Razões que explicam que apesar dessa desproporção de meios e de forças em confronto, dessa ambicionada agenda de décadas do grande capital para concluir o projecto contra-revolucionário, é a luta dos trabalhadores e do povo e a intervenção do PCP que tem impedido a concretização plena desse propósito antidemocrático.

Tempos de resistência que globalmente são já expressão de imposição de revezes a projectos e ambições reaccionárias e, sobretudo, desse acumular de forças que a luta e a acção concreta hão-de impor para abrir horizontes mais favoráveis. Essa soma de vontades que resultarão do processo de tomada de consciência, a partir de cada um, quanto à condição concreta da sua vida, do sentido de pertença de classe que o seu envolvimento na luta a partir dos seus interesses e direitos, proporcionará.

Vencendo, a partir da materialidade da vida e dos problemas que ela evidencia e no exercício de afirmação dos seus direitos – ao trabalho, ao salário, à saúde, à habitação, à reforma, ao ensino e a tudo o mais que uma sociedade justa deve assegurar – a resposta ao que os factores de subjectividade impostos pela ideologia dominante procuram inculcar para iludir as causas e raiz profunda das desigualdades e injustiças.

Não há conjunturas imutáveis. O fatalismo não é conceito que encaixe em quem sabe, como nós comunistas, que a vida move-se, a realidade altera-se sob essa força material que brota do ideal que abraçamos. Hoje e no futuro, como sempre, será o papel das massas e da sua luta a trilhar caminhos de progresso tão mais determinantes quanto percorridos por uma força de vanguarda com objectivos claros e programa de transformação social assumido.

Esse caminho de progresso e de futuro para o nosso País que todos os dias percorremos com a nossa intervenção e a nossa luta, essa luta feita de coerência, de convicção, de determinação e de coragem. Essa convicção e coragem de quem sabe que, por mais exigentes que sejam os tempos que vivemos e enfrentamos, os objetivos, ideal e projecto que prosseguimos hão-de de vencer.

Viva o XXII Congresso!
Viva o PCP!

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