Não fosse a questão séria, e poderia sugerir que os governos da política de direita, no que respeita à Ciência e ensino superior, padecem de um distúrbio emocional digno de figurar em qualquer publicação da imprensa cor-de-rosa. Nas últimas décadas diversos foram os porta-vozes destes governos, ou dos seus partidos, a proclamar estes assuntos como primeira prioridade, obsessão e mesmo paixão. É caso para dizer que quem conta com amigos (ou mesmo apaixonados) como estes não carece de inimigos.
Entretanto o sector do desenvolvimento científico, e da formação superior, padece dos mesmos problemas, que figuraram em diagnósticos anteriores, mas agravados pelo tempo, e pelo estrago que entretanto foram cavando. Desactivam-se, por inanição, desinvestimento e despovoação, os Laboratórios do Estado. Deslocam-se recursos públicos de unidades de investigação, integradas em universidades e institutos politécnicos, para outras que residem num limbo, que desresponsabiliza as instituições públicas do cumprimento de estatutos de contratação dignos para os seus trabalhadores, e permite a descarada apropriação do resultado do seu trabalho por interesses privados. Mantém-se a esmagadora maioria dos investigadores científicos sob vínculo precário por vezes por dezenas de anos, fazendo muitas vezes depender a continuação do seu contrato ao sucesso da sua própria procura de financiamento. A falta de pudor chega ao ponto de se poder ouvir ministros afirmar que esta é a forma de incentivar estes trabalhadores a manterem-se produtivos e actualizados.
Mantém-se a FCT, a agência estatal de financiamento para a investigação de desenvolvimento, a funcionar sem qualquer rumo ou réstia de plano de desenvolvimento estratégico nacional. Mantendo, em exclusivo, o modelo de financiamento competitivo, com projectos de cada vez menor duração e volume de financiamento, a FCT comporta-se mais como simples balcão da sua congénere da UE, servindo de intermediário dos programas por aquela promovidos, do que como unidade do estado português ao serviço dos interesses nacionais.
No ensino superior, a realidade é marcada pela continuada falta de investimento, que mantém as suas instituições em perpétuo sobressalto financeiro, incapazes de manter (quanto mais investir) no seu património material e humano, cobrando desproporcionadas propinas para os seus alunos, para os quais não tem instalações suficientes de leccionação, para quem dispõe uma infraestrutura mais do que insuficiente de cantinas, não obstante os preços praticados, com um serviço de acção social de apoio que não é digno desse nome. O sub-financiamento e os constrangimentos processuais de contratação conduziram à actual situação de dramática diminuição e envelhecimento do corpo docente, que nos próximos anos poderá colocar em risco o funcionamento de muitos cursos. Sub-financiamento que incentiva o recurso à contratação de docentes a tempo parcial, e contrato precário, que em número crescente e a troco de umas centenas de euros, vai suprindo as necessidades, ao mesmo tempo que se evita contratações de docentes de carreira e se desvaloriza o estatuto da profissão. A acentuada perda do valor dos salários docentes, que no essencial se mantêm nos níveis de 2008, assim como o completo bloqueio da progressão profissional, o aumento das suas cargas lectivas e burocráticas assim como a degradação das condições de trabalho completam este quadro nada optimista.
Na realidade, os traços gerais neste sector, são no essencial os mesmos da política geral de submissão nacional aos interesses e desígnios externos que apontamos à política de direita levada a cabo no nosso país. Pela importância que o ensino superior e investigação científica têm para a valorização da economia e seu carácter imprescindível para a viabilização de qualquer projecto patriótico, mas também porque objectivamente tais políticas são antagónicas aos interesses dos trabalhadores deste sector, importa fazer um real esforço, (apesar das idiossincrasias desta classe profissional), para que, também aqui, se fazer sentir a movimentação sindical, fazer mais presente a voz do Partido e suas propostas, e, ousadamente, partir para o reforço da nossa organização.