Camaradas,
A luta dos trabalhadores e do povo e a acção determinada do nosso Partido foram imprescindíveis na derrota do governo PSD/CDS, abrindo portas à nova fase da vida política nacional que repôs e avançou nos direitos e rendimentos, desmontando e derrotando os anseios daqueles que queriam perpetuar a política de desastre e afundamento nacional. Derrotamos também aquela velha e repetida concepção de que as eleições legislativas eram eleições para primeiro ministro e que o PCP não contava para nada.
Com a luta dos trabalhadores e do povo e a acção determinada do PCP, derrotamos ainda a tese daqueles que defendiam que só empobrecendo o povo é que o País recuperaria e se desenvolveria. Hoje comprova-se que, se avançamos, foi porque (e quando) se devolveram salários e pensões e se restituíram direitos, provando que o país só está melhor quando os trabalhadores e o povo estiverem melhor.
Foi igualmente com a luta dos trabalhadores e do povo e a acção determinada do PCP, que impusemos avanços, mesmo quando o PS e o seu governo minoritário não queriam que se fosse tão longe. Foi assim com a reposição das 35 horas, com o aumento extraordinário de pensões ou com a gratuitidade dos manuais escolares para todos os alunos da escolaridade obrigatória.
São avanços importantes, que valorizamos porque sabemos o quanto custaram a alcançar e tudo faremos para aproveitar todas as oportunidades de concretizar novos avanços. Mas são limitados e insuficientes porque não resolvem os problemas estruturais do país e não são suficientes para romper com os constrangimentos externos e internos a que o governo minoritário do PS insiste em nos manter amarrados.
Nós sabemos, e tudo faremos para que ninguém se esqueça, que o PS com as mãos livres é um partido com um compromisso reforçado com a política de direita. Por isso, apoiar ou votar no PS é dar força à política de direita e adiar a resolução dos problemas nacionais. Os avanços alcançados na nova fase da vida política nacional só foram possíveis porque o PS não tinha os votos e os deputados necessários para sozinho impor a política que ao longo de quatro décadas fez, sozinho ou com o PSD e o CDS.
Sempre que se tratou de dar passos em favor dos trabalhadores e do povo, o PCP foi decisivo com a sua iniciativa, proposta, determinação e luta.
A opção pela defesa do interesse nacional exige a ruptura com a política de direita, objectivo que o PS se recusa a concretizar.
Está na hora de romper com o desastroso caminho que tornou Portugal um País mais injusto, mais dependente, menos democrático, com os serviços públicos debilitados, com a sistemática alienação dos seus sectores estratégicos, dos seus recursos, da sua capacidade produtiva, da sua soberania.
A luta pela concretização de uma política patriótica e de esquerda e de um governo que a realize é a questão central e decisiva para dar resposta aos problemas nacionais e elevar as condições de vida e de trabalho do povo português.
Mas esta política, que a Conferência está a evidenciar e detalhar, precisa ganhar forma e força. Precisa ser edificada e construída a partir da acção determinada e incessante de todas as forças – políticas e sociais –, de todos os homens e mulheres que, identificados com os valores de Abril, não se resignam nem aceitam que Portugal adie a resolução dos seus problemas estruturantes enquanto o grande capital absorve as suas riquezas e potencialidades.
Um caminho possível com o envolvimento decisivo da classe operária e dos trabalhadores, e a participação massiva de todas as classes, camadas e sectores antimonopolistas, de todos os atingidos pela política de direita, dos que estão verdadeira e genuinamente interessados em inverter o rumo na política nacional.
Um caminho que, apontando a alternativa patriótica e de esquerda como parte integrante da luta pela Democracia Avançada, se constrói passo a passo, em torno de objectivos concretos, por reivindicações laborais, sociais, económicas e políticas, com acções de maior ou menor dimensão, aprofundando a consciência social e política das massas, ao mesmo tempo que contribuem para o determinante alargamento da exigência de outro rumo que rompa com a exploração e o empobrecimento.
É por aqui, pela convergência de todos os atingidos pela política de direita, de todos os democratas e patriotas. É pela luta de todos os que aspiram a um Portugal desenvolvido e soberano, de todos os que estão séria e convictamente empenhados numa mudança que assuma como matriz de desenvolvimento a Constituição e os Valores de Abril que lhe são inerentes, que nós caminhamos e alargamos a frente social de luta, conscientes da complexidade do processo e dos obstáculos que enfrentará.
Caminhamos empenhados na luta que una e faça convergir forças e vontades de democratas e patriotas que estejam seria e convictamente empenhados na alternativa, com respeito pelas naturais diferenças, superando preconceitos, ambições hegemónicas e recusando marginalizações, prosseguindo e aprofundado este caminho conscientes das dificuldades e convictos de que é possível travar o declínio nacional e assegurar o desenvolvimento e o progresso.
Caminhamos afirmando que é no PCP que está a sólida garantia de construção de um caminho alternativo, capaz de dar solução aos problemas do País, porque o PCP tem um compromisso com os trabalhadores e o povo. É esse compromisso no quadro do seu próprio Projecto que norteia a sua intervenção, não desperdiçando nenhuma oportunidade de dar resposta aos direitos, interesses e aspirações do povo, combinando a intervenção por objectivos imediatos com a luta pela alternativa política.
É para um projecto alternativo, para a alternativa patriótica e de esquerda, que mobilizamos energias, fazendo confluir vontades e acção, fazendo convergir todos aqueles que aspiram a um Portugal soberano e desenvolvido. Projecto alternativo cuja concretização é inseparável da luta dos trabalhadores e do povo e do reforço do PCP.
Sim, é com o PCP mais forte que temos mais força para construir a alternativa patriótica e de esquerda. Um partido mais forte e influente, com mais militantes responsabilizados e integrados em organismos, com maior intervenção, particularmente junto dos trabalhadores e da classe operária, como estamos a procurar fazer com a acção de contacto com 5000 trabalhadores, falando-lhes do PCP e do seu projecto e convidando-os a serem parte dele. É com o reforço orgânico que impulsionamos igualmente o reforço da nossa influência social, política e eleitoral.
É com esta profunda ligação aos trabalhadores e ao povo resistimos, lutamos e avançamos, honrando a nossa História e o nosso projecto, deixando claro que a alternativa patriótica e de esquerda não se faz só com o PCP, mas também não será possível sem ou contra o PCP.
Sabemos que muitos dirão que não é possível e outros acharão que estamos a querer ir longe de mais.
Sabemos igualmente que outros procurarão simplificar a situação a uma superficial e oportunista discussão sobre participar ou não participar no governo.
Nós, os comunistas portugueses, confiantes e empenhados, lutamos pela política patriótica e de esquerda, com um governo que lhe dê corpo. Um governo para servir os trabalhadores e o povo, cuja viabilidade e apoio político e institucional está nas mãos do povo português alcançar com a sua atitude, a sua vontade, a sua luta e o seu voto.