Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral, Inauguração do Mural Colectivo de Azulejos «Cumprir»

«Abril vive em cada traço de cada azulejo que compõe este mural»

Uma grande saudação a todos os presentes, que hoje participam na inauguração desta obra colectiva que o PCP oferece a todos os que vivem, trabalham e visitam a cidade de Lisboa.

Abril vive, Abril é mais futuro e essa realidade esteve e está presente nas nossas comemorações dos seus 50 anos, Abril vive em cada traço de cada azulejo que compõe este mural.

Este é um projecto que honra a Revolução.

Sob o lema “Cumprir”, este é um projecto que ousa exactamente isso, fazer cumprir Abril, cumprir e fazer cumprir a  Constituição da República Portuguesa.

Essa Constituição que esteve presente em cada uma das oficinas que construíram este mural.

Esteve presente através da sua distribuição integral, mas também de elementos gráficos com conteúdos programáticos para quem quisesse utilizar.

Mas essa Constituição esteve também presente no processo de construção colectiva deste projecto. 

E este é um dos grandes contributos deste mural para confirmar a validade de uma Constituição, também ela construída a pulso, feita de múltiplas vontades, com uma massa imensa  a tomar nas suas mãos o seu destino e a firmá-lo na lei fundamental do país.

Podemos dizer que a Constituição de 2 de Abril de 1976 foi a aplicação institucional de múltiplos mosaicos moldados e pintados a partir da luta dos trabalhadores e do povo, mosaicos que ergueram os alicerces do caminho que Abril abriu.

E assim estamos nós, a prosseguir a luta dando seguimento e afirmando os valores de Abril e esse legado de gerações e gerações.

Assim estamos todos, pessoas de várias origens, de várias idades, de várias ocupações, a manusearem, a folhearem, a lerem, a viverem e a pintarem a lei fundamental do nosso País. 

Essa lei que urge estar presente na vida de todos nós.

Para este projecto, não pedimos currículo a ninguém, o cartão ou simpatias partidárias, todos os que vieram, sabiam ao que vinham e foram, e são bem-vindos. 

Foi assim como o podem testemunhar as centenas de participantes das oficinas realizadas em espaços tão distintos como a Festa do Avante!, galerias, escolas artísticas, colectividades ou associações.

Se houve pessoas que pela primeira vez na vida entraram num centro de trabalho do Partido também é verdade que o Partido foi ter com as pessoas. 

Foi aos bairros onde moram, às associações onde se organizam, às escolas onde estudam.

Artistas reputados, outros que o serão um dia e muitos que apenas quiseram contribuir e participar, juntaram-se num mesmo espaço criativo, um espaço de comunhão para todas as idades.

São todos construtores desta obra, 924 pessoas juntas, todas elas protagonistas e tratadas por igual e sem azulejos de eleição. 

Aqui estamos todos ao mesmo  nível.

O azulejo do Vhils está ao mesmo nível do azulejo do morador do bairro PER 11.

O azulejo do aluno da Escola Artística António Arroio está ao mesmo nível do azulejo do membro da Casa da Juventude da Azambuja.

O azulejo do membro da Associação Cultural Moinho da Juventude está ao mesmo nível do azulejo do visitante do Museu Nacional do Azulejo.

Todos são bem vindos, todos são fundamentais e muito nos honram com a sua participação.

Uma obra colectiva que, tal como é prática no PCP, não anula o indivíduo.

Não só não anula, como o eleva a um patamar de sujeito político e social transformador.

E foi por isso que tudo fizemos para que cada azulejo aqui exposto pudesse ser identificado com o seu autor, como podem verificar no sítio da iniciativa.  

Esta é uma iniciativa profundamente política que presta homenagem a Abril mas é também uma grande iniciativa da cultura e do património, que poderia ter optado por diversos formatos, mas que optou por um de uma riqueza e de um valor incalculáveis que é o azulejo tradicional. 

Esse azulejo que compõe a paisagem de norte a sul do País, ocupando um lugar de relevo não só no Património Histórico e Artístico do nosso país, mas também no Património da Humanidade, destacando-se pela qualidade e pela quantidade dos temas, estilos, materiais, técnicas e usos.

Este mural é também um contributo para esse património e um exemplo do que é a nossa visão para a Cultura, para a Democracia, para o País.

Um projecto ao qual aderiram crianças, mulheres, homens, jovens e mais velhos; alunos e professores; artistas; operários e intelectuais; trabalhadores e reformados, que sabiam ao que vinham, qual era o propósito. 

Todos por Abril, todos por esse Abril que saiu à rua no passado 25 de Abril, que continuou no 1.º de Maio, que está vivo todos os dias e que continua a ser objectivo político do povo, dos trabalhadores e da juventude.

A arte e a cultura agregam, unem vontades e juntam disponibilidades. 

A arte e a cultura, a partir das suas particulares expressões, são expressão de liberdade e democracia.

É essa exigência de democracia política, económica, social e cultural, que se expressa neste mural.

Num momento em que se procura afirmar uma política ao serviço dos interesses dos que dominavam no tempo do fascismo, numa altura em que se apoiam e se dá espaço a forças e concepções reaccionárias e fascistas, cada um destes azulejos é um factor individual de resistência e este mural é uma afirmação colectiva pela defesa e para que se cumpram os direitos inscritos na Constituição, pela concretização dos valores de Abril no futuro de Portugal.

E o processo contra-revolucionário está em curso, e de forma acelerada, e são precisas forças para resistir e para retomar o caminho do qual nunca deveríamos ter saído, o caminho que está expresso em cada linha, silhueta, desenho ou pintura do mural que aqui hoje inauguramos.

Aqui está a exigência da liberdade, aqui estão os cravos, os capitães, os trabalhadores, a foice e o martelo, mas também estão as inquietações e preocupações, mas também a resistência, a igualdade, as massas e a sua luta; aqui estão os salários e pensões, aqui está o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, o acesso à habitação, aqui estão os direitos das crianças, aqui está, de forma particular, a cultura, aqui está a esperança, aqui está a Paz, aqui está Abril, a criatividade e alegria.

Tudo o que não encontra reflexo na proposta de Orçamento do Estado entregue há dias pelo Governo. Uma proposta que aprofunda o rumo que tem vindo a ser seguido, de manutenção de baixos salários, baixas pensões, barreiras e dificuldades no acesso à habitação, ao SNS, à Escola Pública, às creches, à cultura, desinvestimento nos serviços públicos, benefício aos grupos económicos à medida que concentram cada vez mais riqueza e que vão aumentando as injustiças e as desigualdades.

Em suma, a proposta de Orçamento que foi apresentada prossegue o rumo da política de direita que nos continua a afastar de Abril, que tem de ser travado e invertido, incutindo esperança e a ideia de que um outro rumo não só é urgente como possível.

Foram mais de 1500 pessoas que deram a sua criatividade, a sua ideia, o seu traço e pintura a este projecto. 

Gente muito diversa que aqui em Lisboa e no Porto disse sim à política, que é o mesmo que dizer, disse sim à participação e disse sim, sim a Abril. 

"É muita palavra, de muita gente", como tão bem disse Ismael, o ladrilhador que aqui esteve com o Miguel Januário a colocar cada um dos 924 azulejos.

Inauguramos hoje uma obra em que cerca de mil pessoas podem e devem dizer que também é sua. 

Uma obra na rua, numa rua onde a arte e a intervenção assumem e têm de assumir cada vez mais um papel determinante. 

A rua não precisa de mais publicidade, nem muito menos de mais lixo, a rua precisa de iniciativa, a rua não pode ser um local para dormir, a rua é, isso sim, um espaço democrático de participação política popular nas mais diversas expressões que ela possa assumir.  

É com esse propósito que oferecemos esta obra à cidade, para que ao povo ela passe a pertencer.

Uma obra que, na forma como foi concebida, como foi construída e como é a partir de agora exposta, fala mais que mil palavras que se possam dizer sobre o nosso Programa, o nosso projecto, a democracia, desde logo cultural, como a entendemos e que ambicionamos para o nosso País.

Por fim, mas não menos importante, destacar que este é um projecto que é em si mesmo um acto de generosidade.

Generosidade do Miguel Januário, que fez deste projecto artístico um espaço com as condições para que não apenas ele, mas muitos outros criassem.

Generosidade do Partido que, toma a iniciativa e promove a participação na construção, assumindo que a obra pertença à cidade e seja apropriada e vivida pelo povo.

Generosidade dos artistas, que quiseram partilhar connosco a celebração de Abril.

Generosidade de todas as instituições, que sem hesitações abriram as portas para nos receber.

Generosidade de todos os que ofereceram o seu tempo para participar.

Que esta generosidade prossiga e perdure por muito tempo.

Que este mural seja um exemplo do que pode ser feito, de todo o potencial que existe.

Não ficamos à espera, vamos unir, mobilizar e lutar com um grande objectivo: cumprir a Constituição e os direitos que inscreve, concretizar o projecto que consagra, afirmar os valores de Abril no futuro de Portugal.

Não fiquemos à espera.

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