Camaradas
Inscrito na Constituição como um direito, importante componente da formação integral do indivíduo, a actividade física e o desporto que com Abril se concretizou na consigna “desporto para todos” está hoje cada vez mais distante da realidade.
A direita não gosta do desporto de massas. A actividade física e a prática desportiva transformaram-se num grande negócio. Aí está a sua mercantilização e daí decorre o desprezo pelo movimento associativo popular e pelos clubes, a destruição da componente colectiva e participativa do desporto; e a exacerbação da cultura física, enquanto corolário do individualismo e como mais um mercado em expansão.
Por outro lado, os ritmos de trabalho e a degradação das condições de vida aumentam as dificuldades para a prática desportiva, sobretudo em grupo.
Uma grande parte da actividade desportiva é promovida no nosso Pais pelas associações desportivas e clubes de base local, que no entanto se confrontam com dificuldades ao nível financeiro que a COVID extremou.
O associativismo desportivo e o desporto federado contam com pouco financiamento público e quase exclusivamente das autarquias, mas crescem-lhes os encargos com remunerações de treinadores e outros técnicos, inscrições e seguros dos atletas, custos com as instalações, transportes, exames médicos, entre outros.
Nota particular merece o futebol profissional que se tornou num espectáculo altamente lucrativo que em muito transcende o que se passa em campo.
Com a financeirização das estruturas e transformação dos clubes em empresas, os valores das transmissões televisivas, os patrocínios avultados, o desporto verdadeiramente considerado tem perdido centralidade, dando lugar a um clima de agressividade dentro e fora dos recintos desportivos, alimentado pela comunicação social.
À boleia do combate à violência e criminalidade, estigmatizam-se os grupos de adeptos e criam-se medidas como o “cartão do adepto”, um verdadeiro cadastro de adeptos.
Na Alta Competição é com dificuldade que os atletas olímpicos e paralímpicos competem. Sem apoios, pagando do próprio bolso a representação de Portugal no exterior, só sentem a intervenção dos governantes quando se trata de festejar as conquistas e resultados.
A Educação Física, como primeiro contacto dos alunos com a prática desportiva e como componente do desenvolvimento harmonioso dos jovens, de promoção de hábitos saudáveis, mas também veículo de inclusão, de valorização dos ideais democráticos e de formação de carácter, choca com entendimentos que relegam a disciplina de educação física para segundo plano.
O PCP teve aqui um importante papel a repor a contabilização da nota na disciplina da Educação Física para a médica de conclusão do Ensino secundário e de acesso ao Ensino Superior.
Mas a desvalorização não deixa de se comprovar na degradação dos pavilhões e equipamentos desportivos das escolas e na substituição de componentes lectivas por Actividades Extra Curriculares. Tudo isto desemboca numa premeditada agonia do Desporto Escolar.
O Estado subalterniza o desporto e demite-se das suas responsabilidades.
A fusão do Instituto Português do Desporto com o Instituto Português da Juventude, é um exemplo disso.
A política de sucessivos governos não aposta na promoção da integração, através do desporto adaptado;
No combate às discriminações e exclusão social através do desporto;
Na superação das desigualdades entre sexos, onde há tanto a fazer;
Na política de saúde física e mental, como instrumento de prevenção daquelas que são chamadas “doenças do nosso tempo”.
É por isso imprescindível integrar na luta pela democracia avançada que defendemos, a luta pelo desporto enquanto direito de todos.
Isso passa por uma intervenção do Estado na garantia de condições materiais, ao nível dos equipamentos e infra-estruturas públicas.
Passa por uma concepção de formação integral que tem na Escola reflexo, com investimento no desenvolvimento motor e no Desporto Escolar.
Passa pela valorização e apoio ao movimento associativo. Em particular no momento difícil que atravessa.
Passa pelo financiamento às várias modalidades e pela superação da lógica de canalização de fundos para os grandes eventos internacionais.
Camaradas,
Para o PCP o desporto não é uma questão de segunda, é uma questão fundamental para o país, para o seu avanço e para a melhoria da vida dos trabalhadores. Por isso reafirmamos também o nosso compromisso junto de atletas, profissionais, clubes, de continuar a lutar e intervir para que o Direito ao Desporto e o desporto para todos seja uma realidade.
Viva o XXI Congresso
Viva a JCP
Viva o PCP