Catorze dias seguidos
Vítor Dias, Avante!, 21.02.2002
Não vale a pena fingirmos que não sabemos o que realmente
sabemos, isto é, como tem sido manifestamente diminuta, objectivamente
discriminatória e globalmente incaracterística, embora
com graduações diferentes, a cobertura das actividades
do PCP e da CDU, em todo o período de pré-campanha,
em boa parte dos órgãos de comunicação
social.
Dito isto, diga-se logo de seguida que seria mais prudente e proveitoso
que os que se considerem visados, antes de se eriçarem ,
se dispusessem a uma avaliação serena das evidências
que suportam a nossa anterior afirmação, e que se
podem resumir no facto de que, nestes politicamente cruciais primeiros
vinte dias de Fevereiro, as notícias em alguns diários
de "referência" sobre actividades do PCP e intervenções
do seu Secretário-geral terem sido em número muito
inferior ao de certos artigos de opinião publicados em Janeiro
a contestar a orientação do PCP.
E que só depois desta avaliação, tirassem
as suas conclusões, nem que sejam as do costume: a de que
está tudo bem assim, que o pluralismo informativo sobre a
vida política vive hoje um dos seus momentos mais fulgurantes
e que, em matéria de coberturas jornalísticas de pré-campanha,
reina a maior das equidades, a mais imaculada das isenções
e não há nem parentes ricos nem parentes pobres.
Quem talvez tenha alguma dificuldade em sustentar semelhante visão
das coisas será certamente a SIC que acaba de conseguir uma
proeza (que o profissional muito qualificado e pessoa de grande
correcção que é o editor de política
nacional da SIC não se ofenda com o que vem a seguir) que
parece extraída dos sinistros tempos da RTP dirigida por
Proença de Carvalho.
Essa proeza consistiu em ter conseguido, de 4 a 18 de Fevereiro,
ou seja durante catorze dias seguidos, não ter dado no seu
"Jornal da Noite" uma única notícia sobre
qualquer actividade do PCP e da CDU ou qualquer intervenção
de Carlos Carvalhas, que como se sabe não tem estado nem
de férias nem doente, antes tem tido uma intensa agenda de
actividades e compromissos.
Quem nos lê não precisa certamente que este facto
brutal seja servido com mais molho de adjectivos, significados e
consequências.
Mas talvez outros, de outros quadrantes, que tanto escrevem sobre
a "qualidade da democracia" e sobre o malfadado "poder
dos partidos", queiram agora, a partir deste facto brutal,
escrever qualquer coisinha sobre esta doença contra a democracia
e sobre o real e incomparável poder dos "media"
na política nacional.
Enquanto isso, o mais prudente e avisado é que os comunistas
e todos os que confiam no PCP percebam como a parada está
alta e como temos de chegar de viva voz e em contacto directo àqueles
que tudo vão decidir em 17 de Março.
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