"E agora, pela esquerda" -
Jorge Cordeiro, Avante, 27.12.2001
Sem ponta de originalidade mas recheada dos mesmos e deliberados
equívocos Vital Moreira não resistiu a regressar ao
truque recorrente de procurar encontrar em outros razões
para ilibar as responsabilidades do seu próprio partido.
Para ele, a deliberada orientação que desde a primeira
hora o PS assumiu de manter em linhas essenciais e nas questões
mais estruturantes o que pela mão do PSD havia sido prosseguido
resultaria não da vontade e determinação própria
do PS mas de falta de apoios para seguir noutro sentido. Como a
vida o tem provado o que o PS menos precisa é de ajuda ou
empurrões para se encostar à direita. É para
lá que sem hesitações tem invariavelmente optado
por ir, pelos seus pés e a passo largo.
Não foi por ter sido empurrado que o PS e o seu Governo
optaram em todos os orçamentos por os alinhar por critérios
de convergência com os principais interesses da direita e
do grande capital. Não foi por ter sido empurrado que o PS
privilegiou em muitos e importantes momentos, recordemos apenas
o do aumento das reformas, o estender de mãos ao PP em claro
detrimento das propostas e iniciativas do PCP. Não foi por
ter sido empurrado que o PS uma vez mais optou por uma revisão
constitucional cozinhada e viabilizada à direita. Não
foi por ter sido empurrado que o PS cedendo à pressão
do grande capital financeiro recuou, no que pela acção
e iniciativa do PCP se tinha avançado, em matéria
de política fiscal.
Ao contrário do que algumas almas mais distraídas
recusam ver é que se alguém fez de alguém o
seu inimigo principal, as eleições autárquicas
estão aí para provar que desde a primeira à
última hora o PS privilegiou como objectivo essencial o de
fazer da CDU e das sua autarquias, em contrate com a sua atitude
de disputa à direita, o seu inimigo e alvos principais.
Só por caricatura ou raciocínio tortuoso se pode
pretender atribuir ao PCP a atitude de não contribuir pela
sua iniciativa e apoio para apresentar as propostas e fazer aprovar
o que de positivo poderia ter aprovado. E só por dose maior
de má fé se pode pretender atribuir a outros responsabilidades
que no todo pertencem a si próprios.
Mas já que do balanço final deste ciclo se tem de
concluir, que empurrados ou por passo próprio, há
quem não resista a encostar-se à direita o melhor,
e mais seguro mesmo, é que todos os que aspiram a uma política
de esquerda dêem o seu apoio e o seu voto a quem dá
garantias de seguir firme e sem hesitações pela esquerda.
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