Este relatório vem confirmar a concepção de cultura vigente na União Europeia; uma visão instrumental da cultura, considerando-a ao serviço da política externa, através do conceito de "diplomacia cultural". Ou seja, entendendo a cultura como uma espécie de guarda avançada "para promover e difundir no mundo os interesses da União Europeia e dos seus Estados-Membros" (ponto 22 do relatório) e (veja-se até onde vai esta visão) para promover o "comércio internacional" (ponto 23 do relatório). Quantas vezes não é isto sinónimo de políticas e de práticas que anulam ou desrespeitam a identidade e as culturas de cada país?
O relatório tem ainda subjacente uma falácia, que surge de repetidamente no discurso da UE sobre cultura: a da existência de uma identidade e cultura europeias únicas, ainda por cima assentes em valores como a "liberdade", a "democracia", a "tolerância", a "solidariedade".
A cultura, como todos os fenómenos históricos, não é feita de uma qualquer identidade homogénea e comum. Pelo contrário, é expressão de antagonismos, de conflitos e de contextos de dominação cultural. A "cultura europeia" é devedora, como bem sabemos, de muitas culturas de diversos lugares do mundo (como por exemplo as dos povos sujeitos ao colonialismo europeu).
Estamos perante um relatório que desvirtua e instrumentaliza a noção de cultura.