Intervenção de Bruno Dias na Assembleia de República, Debate na generalidade do Orçamento do Estado 2022

Sobre as opções de política fiscal e de investimento público do Governo PS

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Senhor Ministro das Finanças,

Sobre este orçamento, já tivemos oportunidade de alertar para problemas incontornáveis que o país enfrenta e que o Governo optou por deixar sem resposta – colocando acima de tudo a “trajetória do défice” e os indicadores que contam, não para os trabalhadores portugueses, mas para a Comissão Europeia.

Já ontem o Senhor Primeiro-Ministro veio desenterrar a doutrina cavaquista do “pelotão da frente”. Ficámos esclarecidos sobre o que o país pode esperar com esta maioria absoluta.

Mas há duas questões concretas que trazemos ao Senhor Ministro, sobre o investimento público e sobre a política fiscal.

Por um lado, a importância crucial do investimento público de qualidade, promovendo o investimento privado, assegurando a incorporação nacional – temos esta discussão há muitos anos, não adianta repetir argumentos.

O Governo, ao longo dos anos, e cada vez mais, relega a base do investimento público para os fundos comunitários – e neste caso agora para o plano de recuperação e resiliência.

Ora, a ideia do PRR como “boia de salvação” é um logro! O PRR é a antecipação de receitas futuras que o país vai perder mais adiante!

O Senhor Ministro está convencido que este nível de financiamento público, a níveis de indigência no financiamento nacional, é a resposta de que o país precisa para fazer face às necessidades atuais?

Por outro lado, a questão sobre as opções de política fiscal.

Senhor Ministro: o anúncio do fim do PEC neste orçamento não é, convenhamos, grande novidade – pela simples razão de que, para as micro, pequenas e médias empresas (onde o problema verdadeiramente era sentido), o PEC já tinha sido eliminado, com a proposta e luta de muitos anos do PCP.

Mas quanto aos lucros dos grandes grupos económicos, em particular nos sectores onde andaram a amassar lucros aos milhões com os sacrifícios das pessoas – que balanço faz da opção de deixar intocadas essas vantagens escandalosas?

Não só com as práticas especulativas no aproveitamento da guerra e das sanções, como é o caso das petrolíferas, mas também com os que ganharam com a crise pandémica, como as seguradoras?!

Em vez de lançar reflexões teóricas inconsequentes, não deviam antes seguir as propostas concretas que o PCP já adiantou (e que o Governo ignorou em Outubro) sobre a taxação destes lucros?

Ou aqui as receitas do Estado – e a justiça fiscal! – já não são preocupação?

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