Governo mentiu aos portugueses para tentar justificar opção de privatização da TAP
O Estado nunca esteve, e não está, impedido pela União Europeia de capitalizar a TAP. A confirmação – que comprova que o Governo português invocou um falso pretexto para justificar a opção de privatização da TAP - surge da resposta da Comissão Europeia a uma pergunta de João Ferreira, deputado do PCP no PE à CE sobre os casos de capitalização de companhias aéreas públicas, por parte do accionista (Estado), desde o ano 2000 na União Europeia, pergunta em que solicitou informações sobre quais as companhias, Estados-Membros e montantes envolvidos nesses casos.
Em resposta, a Comissão afirmou ter avaliado nos últimos 15 anos 11 casos de capitalização de companhias aéreas públicas, pelos respectivos Estados, no quadro das regras em matéria de auxílios estatais. Referiu ainda que três desses casos estão actualmente pendentes, disponibilizando também a informação solicitada pelo deputado comunista sobre os Estados-Membros, as companhias e os montantes envolvidos nos casos já encerrados, onde não consta qualquer menção à TAP nem a capitalizações feitas à empresa pelo Estado Português.
Para os deputados do PCP no PE, a conclusão que se retira desta resposta é que 10 Estados-Membros da UE capitalizaram as suas companhias aéreas nos últimos 15 anos, num total de ajudas que ascende aos dois mil cento e dezanove milhões de euros.
O Estado português invocou a ilegalidade de uma possível ajuda de estado à TAP para justificar, administrativamente, a sua opção política de privatização da empresa. Ora, o artigo 108 do TFUE prevê a aplicação de auxílios estatais em circunstâncias excepcionais, tal como se verificaram nos últimos 15 anos relativamente a auxílios estatais a companhias aéreas de 10 Estados-Membros, alguns deles com grandes semelhanças ao caso português. Ou seja, e independentemente da legitimidade da Comissão para “permitir” ou “impedir” auxílios estatais a sectores estratégicos essenciais para a defesa da economia e soberania nacionais – legitimidade que como é sabido o PCP contesta – o que sobressai desta resposta da Comissão Europeia é que o Governo português nunca esteve interessado em auxiliar a TAP, uma opção só justificada com uma decisão tomada previamente: entregar a companhia aérea de bandeira portuguesa aos privados, nomeadamente ao capital estrangeiro.
Pergunta com pedido de resposta escrita E-010863/2014 à Comissão
Artigo 130.º do Regimento
João Ferreira (GUE/NGL)
Assunto: Capitalização de empresas públicas do sector da aviação
Solicito à Comissão Europeia que me informe sobre quantos casos de capitalização de companhias aéreas públicas, por parte do despectivo acionista (Estado), tiveram lugar desde o ano 2000 na União Europeia.
- Quais as companhias e os Estados-Membros em causa?
- Quais os montantes envolvidos?
Resposta dada por Margethe Vestager em nome da Comissão
Desde 2000, a Comissão avaliou 11 casos de capitalização de companhias aéreas públicas, pelo Estado, no quadro das regras em matéria de auxílios estatais. Três desses casos estão atualmente pendentes. O quadro em anexo mostra os Estados-Membros, as companhias e os montantes envolvidos nos casos já encerrados.
Annex to PQ E-010863/2014
Member State | Company | Amount of capitalisation by the State |
---|---|---|
Italy | Alitalia | up to EUR 766 million |
Cyprus | Cyprus Airways | CYP 9.8 million (c. EUR 17 million) |
Austria | Austrian Airlines | EUR 500 million |
Hungary | Malév | HUF 40.1 billion (c. EUR 145 million) |
Malta | Air Malta | EUR 130 million |
Czech Republic | Czech Airlines | CZK 2.5 billion (c. EUR 100 million) |
Spain | Spanair | EUR 20.5 million |
Latvia | AirBaltic | LVL 57.6 million (c. EUR 81.5 million) |
Slovenia | Adria Airways | EUR 65.2 million |
Poland | LOT Polish Airlines | PLN 804.3 million (c. EUR 200 million) |
Cyprus | Cyprus Airways | EUR 94.3 million |