Jerónimo de Sousa no Algarve

 

Assembleia de Organização do Algarve
Intervenção de Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Por todo o país, em mais de duas dezenas de manifestações, os trabalhadores, os reformados, os jovens e as mulheres, as mais variadas camadas do nosso povo, expressaram no passado sábado, mais uma vez, o mais vivo repúdio e o mais veemente protesto contra a política de direita do Governo do PS de José Sócrates.
No seguimento da grande jornada de luta que reuniu em Lisboa, numa impressionante manifestação, cerca de cem mil participantes e das importantes lutas reivindicativas dos diversos sectores de actividade, nas quais se destaca a expressiva luta dos trabalhadores da Administração Pública, o protesto geral do passado dia 25 de Novembro trouxe à rua, milhares e milhares de pessoas que engrossam o caudal dos que assumem a exigência de uma mudança de políticas no país.

Esta valorosa luta de resistência é condição fundamental não apenas para conter e limitar a grave ofensiva que, neste último ano e meio, o governo do PS de José Sócrates tem vindo a desencadear contra os direitos e as conquistas sociais dos trabalhadores e do povo, mas também para afirmar uma alternativa que rompa com a sua desastrosa política.
Luta que é necessário prosseguir lá onde os interesses dos trabalhadores e do povo português estejam a ser atingidos pela acção do governo do PS, mas também intensificar convergindo, cooperando e unindo esforços para ampliar a luta, porque esse é o caminho mais seguro e mais certo para garantir a sua eficácia.   
Luta tão mais importante e decisiva quanto se impõe combater e desfazer a falsa imagem e os artifícios da propaganda pró-governamental que apresenta um país resignado à inevitabilidade das políticas neoliberais e de regressão social que os grandes interesses e os poderosos meios ao seu dispor ampliam, com o claro objectivo de pressionar o aprofundamento da grave e preocupante ofensiva que está em curso.

Artifícios como os das sondagens metodicamente construídas para obter resultados que atestem um inequívoco apoio ao governo, num recorrente exercício de relegitimação de uma política que vai contra os verdadeiros interesses dos trabalhadores e do povo e contra as promessas que garantiram ao actual governo do PS a obtenção de uma maioria absoluta nas eleições.

Há dias tomámos conhecimento de mais uma sondagem que garantia uma inequívoca maioria ao actual governo, quando por todo o lado se sente a contestação às suas políticas. Falo da sondagem da Marktest/DN que a partir de um determinado número de resultados brutos de cada partido, faz uma projecção de resultados eleitorais. Não é nosso hábito discutir a validade de tais sondagens, mas que credibilidade pode merecer uma sondagem que em relação ao nosso Partido e independentemente de ela nos ser até favorável, nos põe a descer em relação ao mês anterior, quando sobem os resultados brutos?
Veja-se: em Outubro o PCP teria tido 4,9% de resultados brutos, isto é, daqueles que afirmaram que votariam no nosso Partido se fossem naquele dia as eleições e com tais resultados fizeram uma projecção que garantiria ao nosso Partido 11% dos votos. Este mês, os resultados brutos subiram de 4,9% para 5,4%, mas agora a projecção só nos dá 10% dos votos. Descemos, subindo. E ainda dizem que não há bruxas!   

Não há sondagens que possam diminuir o significado e alcance da luta dos trabalhadores e a amplitude da manifestação do seu descontentamento e protesto em relação a um governo profundamente identificado, pela natureza e conteúdo da sua política, com os principais objectivos do grande capital.

O Governo e os grupos económicos pensavam que através de doses maciças de propaganda e demagogia, mas também através da chantagem e da ameaça, levariam os trabalhadores e o povo português a resignar-se e a abandonar a luta.
Mais uma vez se enganaram com a resposta e a adesão à luta do passado dia 25 de Novembro.
A todos saudamos, dizendo-lhes que podem contar com o Partido Comunista Português na defesa dos seus direitos e das suas causas e mais uma vez daqui apelamos para o seu empenhamento na defesa dos seus interesses colectivos e das conquistas e direitos democráticos que o governo do PS todos os dias põe em causa.

Governo que definiu como principais, quando não únicos adversários os trabalhadores e os seus interesses, os reformados, os pequenos e médios empresários, as mais diversas camadas população como mais uma vez se atesta no Orçamento de Estado aprovado ontem na Assembleia da República.
Mais um Orçamento de Estado de regressão social e de acentuação das desigualdades sociais e regionais e do agravamento do atraso relativo do país face à União Europeia.

Um Orçamento fechado à solução dos verdadeiros problemas dos portugueses e do país que recusa o contributo e as propostas positivas, como as do PCP, apresentadas com objectivo de garantir mais justiça social e uma mais adequada distribuição das receitas do Estado pelo conjunto do território nacional, promovendo um mais equilibrado desenvolvimento do país e o combate às assimetrias regionais.

Mais um Orçamento inflexível no estrito cumprimento das orientações neoliberais e monetaristas que estão subjacentes à aplicação fundamentalista do “Pacto de Estabilidade e Crescimento”, nomeadamente com a imposição da obsessiva ditadura do défice que é pretexto para o mais brutal ataque aos salários, às reformas e às funções sociais do Estado, aos direitos laborais e sociais dos trabalhadores e de outras camadas da população.
Mais um Orçamento que segue o mesmo caminho das opções anti-sociais dos governos do PSD/CDS-PP e de abdicação de uma estratégia de crescimento e desenvolvimento, com um novo e brutal corte do investimento público, num patamar de consequências cada vez mais graves para a vida dos portugueses, para a urgente necessidade da recuperação económica do país.

Com as opções restritivas no plano do investimento público o que vamos continuar a ter é uma situação marcada pela estagnação económica, por um elevado desemprego e uma crescente precariedade das relações laborais e pela continuação da destruição de sectores produtivos.

 

A acção conjugada da forte quebra do investimento público e do investimento privado vai continuar a ter inevitavelmente graves reflexos ao nível da economia nacional, mas também ao nível de cada região e na vida das populações, agravando as dificuldades de desenvolvimento das actividades produtivas, do desenvolvimento dos equipamentos sociais e arrastando mais uma vez, a concretização de importantes infra-estruturas prioritárias para o desenvolvimento do Algarve. Infra-estruturas como aquelas que fazem parte da proposta de Resolução da nossa 6ª Assembleia Regional, sejam as do desenvolvimento e modernização das ligações ferroviárias e rodoviárias, sejam na urgente concretização das barragens e o lançamento de novos investimentos para responder às carências de água da região, o redimensionamento do aeroporto de Faro ou a construção da Ponte Internacional de Alcoutim, entre outras.

O Algarve vai enfrentar o novo ano que aí vem numa posição de mais preocupante fragilidade. Não se trata apenas dos reflexos altamente negativos que vai ter no desenvolvimento regional o brutal corte de cerca de 40% do investimento do PIDDAC para 2007 no Algarve. Mas também em resultado da gestão cada vez mais centralizada dos fundos comunitários, com os cortes generalizados nos Programas Operacionais Regionais e que, no Algarve, significam uma fortíssima diminuição destes fundos no próximo quadro comunitário 2007/2013.

O governo do PS em vez de compensar o Algarve da diminuição dos fundos estruturais em resultado do “efeito estatístico” motivado pelo alargamento da União Europeia, corta de forma brutal o investimento nacional e agora também, com a nova revisão da Lei das Finanças Locais, no investimento municipal.  
Situação que vai agravar as condições de vidas das populações da maioria dos concelhos. Ao contrário do que afirma o governo são a maioria dos municípios que vão ver as suas receitas diminuir, algumas já no imediato, mas a grande maioria de forma drástica quando a Lei entrar em aplicação integral depois de 2009.

Mas este é também um Orçamento ditado pelo objectivo de acelerar a ofensiva global que o governo do PS protagoniza visando a privatização e mercantilização das funções sociais do Estado, na saúde, na educação e na segurança social.
O Primeiro-ministro José Sócrates e o Ministro das Finanças vieram anunciar com grande alardeamento, durante o debate do Orçamento, medidas para por termo aos privilégios fiscais da banca e dos grandes grupos económicos. Medidas que não se enxergam na proposta aprovada do Orçamento.
Na verdade, as propostas penalizadoras dos trabalhadores e do povo estão sempre já estudadas e prontas a aplicar dentro e fora do Orçamento, as prometidas medidas de justiça social e de equidade fiscal que cortem nos verdadeiros privilegiados deste país – os senhores do dinheiro e dos grandes grupos económicos – precisam sempre de tempo e apurada reflexão, num amanhã que nunca chega.
Viram, certamente, anteontem no noticiário da televisão, o Ministro das Finanças, apertado, a confirmar que a taxa efectiva do IRC paga pela banca era apenas de 11,3%, nem metade do que está obrigada em função dos resultados brutos, que seria cerca de 6%. Há quanto tempo se arrasta este escândalo e porque é que não se age e se adiam as medidas necessárias?

Se houvesse efectiva vontade de combater os privilégios dos grandes interesses e não apenas fazer propaganda, nomeadamente os das baixas taxas efectivas de IRC da banca que renderam no presente ano 1 500 milhões de euros não pagos e os benefícios fiscais correspondentes, nem precisavam de estudar muito, aprovavam as nossas propostas de inclusão de uma norma travão para impedir que a banca ou as grandes empresas paguem menos de 20% IRC e aprovavam a reintrodução da tributação de mais-valias bolsistas prevista na Lei.

Mas não, o governo de José Sócrates não só não toma as medidas necessárias para pôr cobro aos privilégios, como reforça em mais 200 milhões de euros a dotação para benefícios fiscais e lhes oferece mais um lucrativo novo pacote de privatizações à custa do património público e de mais diminuição das receitas fiscais.
Não admira que os cinco maiores bancos portugueses tenham lucrado quase 2 000 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. Mais 22,5% do que em 2005.  

Em tempo de Congresso, a direcção e o governo do PS precisavam de dar um ar de esquerda para iludir a sua real política de direita e manter a ilusão de que os sacrifícios são distribuídos equitativamente por todos.
Mas o balanço deste Orçamento mostra exactamente o contrário. São os mesmos de sempre, os trabalhadores e o povo, os condenados a pagar os custos de uma desastrosa política que alimenta e engorda em doses crescentes o lucro do grande capital, acentua a exploração do trabalho assalariado e penaliza as actividades das micro, pequenas e médias empresas da agricultura, das pescas e da indústria.

São os mesmos de sempre a pagar o preço dessa política, a começar pelos trabalhadores da Administração Pública, central e local, vítimas de uma inqualificável campanha do Governo do PS aos quais pelo sétimo ano consecutivo se impõe a diminuição dos salários reais, em cima do ataque às carreiras, ao agravamento das condições de aposentação e do valor das reformas, do aumento dos descontos para a ADSE.
São os mesmos de sempre a arcar com o aumento da carga fiscal, os trabalhadores em geral vítimas da manipulação do índice da inflação para os obrigar a pagar mais IRS e garantir uma política de contenção e diminuição dos salários reais, mas agora também nas reformas acima dos 485 euros e numa parte das pessoas com deficiência.

Situação de agravamento da carga fiscal que se estende também aos milhares de trabalhadores a operar com recibo verde em regime simplificado e que mais não são que trabalhadores precários forçados a trabalhar por conta de outrem.

Dizia José Sócrates que este era um Orçamento de esquerda. Não! Este é mais um Orçamento que a direita e os seus partidos não desdenhariam subscrever e se não o fazem é apenas porque precisam de continuar a alimentar esse ilusório jogo da alternância sem alternativa, que garantem ao PS e ao PSD/CDS-PP a sua perpetuação no poder com as consequências que se conhecem para o país e para a vida dos portugueses.
Mas não é apenas no âmbito do Orçamento que se faz sentir a acção penalizadora do governo e as suas medidas que agravam a vida dos trabalhadores e do povo. A sua acção tem vindo a alargar-se a todos os sectores da vida nacional e assume cada vez mais o carácter de uma ofensiva global contra o projecto e as características fundamentais do regime constitucional de Abril.

São as suas propostas de contra-reforma da Segurança Social, da Administração Pública e na Saúde.
Na Segurança Social, o PS e a sua maioria acabam de aprovar, na generalidade, na Assembleia da República uma proposta de Lei de Bases da Segurança Social restritiva de direitos, que recupera a estrutura da lei de Bagão Félix e que se traduzirá, num futuro próximo, num violento ataque às reformas e às pensões, ao subsídio de desemprego e à generalidade das prestações sociais do sistema de segurança social.
Contra-reforma que corta nas reformas para forçar ao aumento da idade da reforma ou aumento das contribuições dos trabalhadores em alternativa. Uma nova Lei de Bases que confirma todas as nossas preocupações e denúncias.

Com esta proposta de lei de bases o governo do PS e sua maioria têm como objectivo estratégico o enfraquecimento do sistema público reduzido à garantia de “direitos mínimos” transformando o sistema de protecção social, assente no universal direito à segurança social, numa sistema baseado numa concepção caritativa e assistencialista, reduzindo o papel do sistema previdencial e os direitos dos trabalhadores e das suas famílias.
De facto, por muito que afirmem o contrário, a privatização da segurança social continua a ser o eixo central desta proposta do governo PS com a entrega das áreas mais rentáveis aos privados.
Mas grave e preocupante é também o que se passa na área da saúde, para além das medidas contidas no Orçamento e que nos colocou a necessidade de lançarmos uma Campanha Nacional em defesa do Serviço Nacional de Saúde que está neste momento em curso. Na realidade estamos perante uma das mais persistentes ofensivas contra os serviços públicos de saúde dos últimos anos e que vai ter um forte impacto no acesso das populações aos serviços de saúde.  
O conjunto de medidas anunciadas para o sistema de saúde, mostram que estamos perante toda uma operação de privatização dos serviços de saúde em larga escala.
São as parcerias públicas/privadas para a construção de novos hospitais. É o desenvolvimento das Unidades de Saúde Familiar privadas na área dos cuidados de saúde primários. Medidas todas elas com claros propósitos de colocar os recursos públicos e o direito à saúde dos portugueses nas mãos do negócio privado e do lucro.
Propósitos para os quais concorrem também as medidas que criam cada vez mais dificuldades no acesso aos cuidados e serviços de saúde.

Medidas como as do encerramento de hospitais, de Serviços de Atendimento Permanente, de maternidades e de centros de saúde, às quais se soma a recente proposta de reestruturação das urgências hospitalares, sem que se tenha criado uma alternativa credível e que deixa mais de um milhão de portugueses a mais de 60 minutos de uma urgência polivalente.
Mas não são apenas os serviços que ficam mais longe ou perdem qualidade, são também os medicamentos que os portugueses pagam cada vez mais caros. Ainda esta semana se tomou conhecimento que só a parte dos medicamentos para as doenças crónicas que deixaram de ser comparticipados, significaram um acréscimo de mais 8,4 milhões de euros que saíram do bolso dos portugueses.
Medidas para forçar o encaminhamento dos doentes para as clínicas privadas, tal como acontece quando, apesar dos pomposos programas anunciados, se mantém uma escandalosa lista de espera em cirurgia de 230 000 doentes.

Esta semana, o governo veio tornar pública a abertura de mais uma frente no seu programa de contra-reformas, agora visando o mercado de trabalho e a liquidação dos direitos laborais dos trabalhadores com o anúncio do estudo da introdução do conceito de “flexisegurança” nas relações de trabalho.
Prometendo desde já fazer da Presidência Portuguesa da União Europeia no segundo semestre do ano que vem, o momento de arranque da sua nova estratégia que é também a estratégia do grande capital europeu para, dizem, criar mais emprego. Agora é a “flexisegurança” o segredo para criação de emprego. Os adjectivos que eles inventam para vender produto estragado!

Há meia dúzia de anos era a Estratégia de Lisboa, a Europa do pleno emprego, quando antes tinha sido o lançamento e a implementação da União Económica e Monetária e com ela o Euro. Contudo, o desemprego mantém-se a níveis inaceitáveis cá e na Europa.

Anúncio que coincidiu com a tomada de posse, esta semana, da Comissão de Revisão do Código de Trabalho. Percebe-se, porque só agora, depois de quase dois anos de governo, o PS se dá posse à Comissão de Revisão do Código de Trabalho.
Código que o governo prometeu rever para repor direitos laborais retirados pelo governo do PSD/CDS-PP, mas que tem adiado. O que se prepara adivinha-se.

A revisão do Código de Trabalho não é para repor direitos retirados, mas para continuar a liquidação dos direitos laborais dos trabalhadores, como se deduz das palavras do presidente da dita comissão que considera, tal como o Ministro do Emprego e Segurança Social, que a actual Lei que entrou em vigor há três anos é “muito rígida”, precisa, portanto, de ser flexibilizada. Meia palavra basta para bom entendedor! E aí temos, então, o empenhamento do governo no estudo da implementação da “flexisegurança” que,  como todos certamente já perceberam, mais não é que uma proposta de liberalização dos despedimentos, de flexibilização dos horários e da organização do trabalho, a troco, dizem, de uma melhor protecção social, nomeadamente de um melhor subsídio de desemprego.

Há dias o governo acabou de alterar, para pior, a lei actual do subsídio desemprego, retirando direitos particularmente aos jovens. Mas agora vai estudar e não tardará a garantir mais e melhor protecção social, se os trabalhadores aceitarem ser despedidos e trabalharem sem horários.

Na sua acção governativa o governo do PS passa a maior do tempo a liquidar direitos, agora querem liquidar mais e depois vêm dizer que vão compensar para atenuar os prejuízos.

Até aqui a segurança social não tinha dinheiro para garantir a sustentabilidade futura do sistema e das reformas, mas agora até se abre a perspectiva de libertar o patronato das suas obrigações contratuais. O patronato despede como e quem bem entende e a segurança social paga!

O que eles inventam, para destruir direitos, acentuar a exploração dos trabalhadores e encher os bolsos aos mesmos do costume com a total precarização do mercado de trabalho!
Não é por acaso que este governo do PS de José Sócrates não é apenas louvado e incensado pelos mais ilustres dignitários do bloco central dos grandes interesses e pela generalidade da comunicação social que dominam, mas também tem a bênção protectora de Cavaco Silva na Presidência da República e da sua “cooperação estratégica”, essa aliança espúria do PS com a direita do capitalismo liberal.

Aliança que junta e funde no mesmo projecto uma dita “esquerda moderna” de Sócrates com um bizarro “ capitalismo de inclusão” de Cavaco Silva, caritativo e assistêncialista que promete dar com uma mão aos excluídos, o que o governo e a sua política e o grande capital predador lhes retiram com as duas.

Há quinze anos atrás, durante o consulado cavaquista, pretendendo-se privatizar empresas e sectores altamente rentáveis sem resistência dos trabalhadores, Cavaco Silva inventou o “capitalismo popular” distribuindo meia dúzia de acções pelos trabalhadores. É claro que, passados alguns anos, os trabalhadores accionistas passaram a desempregados sem acções ou a reformados à força!

Aliança que, cada vez mais, recorre ao discurso altamente moral e ético da obrigação de todos e da mobilização de todos no combate à pobreza e à exclusão, em cíclicos “roteiros” ou pela constituição de associações empresariais filantrópicas, para conferir uma face humana a uma política e a um projecto que assenta na sistemática redução de direitos, na anulação das realizações do Estado Social e na perpetuação do modelo de desenvolvimento baseado nos baixos salários e escassos direitos laborais e sociais.
Esta é que é a essência da “cooperação estratégica” e do seu “capitalismo de inclusão” que, ao mesmo tempo que ataca os direitos universais de todos os cidadãos, fragiliza ainda mais os excluídos e favorece a crescente concentração da riqueza nas mãos de uma minoria.

Bastaria um olhar à evolução da situação mundial, europeia e nacional para concluir a falácia do projecto neoliberal e do esforço para esconder o seu carácter destruidor em formulações que lhe dêem rosto humano.
Bastaria apenas perguntar, porque é que não apenas permanece, como se aprofunda a exclusão a pobreza em Portugal, na Europa e no mundo, quando nos últimos anos, particularmente nos principais países desenvolvidos, a riqueza produzida não deixa de aumentar, atingindo níveis nunca antes vistos? Como podíamos perguntar porque é que, com tanto anúncio filantrópico, falha o combate à pobreza?

Porque o capitalismo jamais foi ou será de inclusão, porque vive e se alimenta da legião dos baixos salários e das baixas reformas, do trabalho precário e sem direitos, do desemprego e da exploração desenfreada do trabalho que se agravou nos últimos anos com a globalização neoliberal, a flexibilização das relações laborais e o ataque aos direitos sociais na saúde, na educação e na segurança social dos trabalhadores e do povo.
E não se diga que isto são afirmações não provadas. Ainda há dias o Relatório do Desenvolvimento Humano da ONU veio dizer-nos que Portugal regrediu para a posição que ocupava há sete anos. E dados de um relatório recente da própria Comissão Europeia reconheciam que a parte da riqueza destinada aos salários é actualmente a mais baixa de sempre.

 É incontestável que perante a ofensiva que está em curso pela mão do Governo do PS de José Sócrates precisamos de um Partido com mais força e mais influência, que dê resposta a muitos dos problemas regionais e nacionais e conduza a luta em defesa dos interesses do nosso povo, para afirmar a luta por uma alternativa de esquerda e o nosso projecto alternativo.
As batalhas que temos pela frente, tal como muitos camaradas aqui o afirmaram e os documentos dão conta, exigem colocar como questão fundamental e prioritária a necessidade do reforço do nosso Partido, da sua acção, organização e intervenção.
Com a campanha de reforço do Partido que decidimos para o presente ano, novos e muito positivos avanços foram conseguidos no melhoramento do trabalho do Partido e das suas organizações. Mas também, como afirma o relatório de balanço de actividades da nossa VI Assembleia, permanecem muitas insuficiências.
Importantes avanços como os realizados na campanha de contactos com os militantes do Partido, embora muito haja ainda a fazer neste âmbito. No importante recrutamento realizado neste período, particularmente nestes últimos dois anos, com a vinda de mais de 200 novos militantes, mas também todo o trabalho de realização de Assembleias de Organização e particularmente o esforço de ligação das organizações.
A campanha de organização que decidimos está quase a terminar, mas nunca termina o trabalho de permanente reforço do Partido. Esse é um trabalho de todos os dias de fazer e refazer para tornar mais eficaz a nossa intervenção. Este é um trabalho que nunca está feito e por isso é muito justo que os camaradas tenham definido novas linhas de trabalho e novos objectivos para a continuação do reforço do nosso Partido.

Linhas de trabalho que passam por dar mais atenção à estruturação da organização partidária, visando o reforço do trabalho de direcção e a formação de colectivos partidários a todos os níveis com uma mais elevada participação dos militantes na vida do partido e na intervenção na sociedade.
Concretizar linhas de trabalho que tornem o partido mais coeso, mais unido, mais combativo, com mais força e mais audácia na concretização dos nossos objectivos e na defesa dos nossos ideais.

Um Partido que faça da organização partidária um instrumento fundamental para a acção, com o envolvimento e o empenhamento de mais militantes e mais militância o que exige a ligação do reforço orgânico à iniciativa política e à acção de massas, associando a organização do partido à intervenção quotidiana e à luta de todos os dias.
É por isso que, conforme a história do Partido nos ensina, é vital a ligação e discussão dos problemas das diversas camadas da população, dos trabalhadores, dos pequenos e médios empresários, dos agricultores, dos reformados, das mulheres, da juventude e dos deficientes com a promoção de iniciativas e acções do próprio Partido.

Em síntese, mais força e mais influência do nosso Partido significam mais capacidade de direcção, mais trabalho colectivo, mais organização, intervenção e enraizamento, mais camaradas com responsabilidades e tarefas regulares, mais estruturação, mais organismos, mais organização nas empresas e locais de trabalho, mais dinamismo e maior número de organizações de base, mais militância, mais difusão da imprensa partidária e mais meios financeiros, aspectos que são essenciais para que o Partido possa cumprir o seu papel.

É possível outro caminho, são possíveis outras soluções com uma nova política democrática e de esquerda que tenha por objectivo central a elevação da qualidade de vida dos portugueses e o desenvolvimento sustentado e equilibrado do país.
Novo caminho que tem que contar com o indispensável e insubstituível contributo do PCP e da sua política de inquebrantável compromisso com o desenvolvimento do país e com os interesses dos trabalhadores e do povo.

Para essa construção precisamos de um Partido mais forte. Mas não nos iludamos! Os que, precipitada e repetidamente, nos auguravam o definhamento ou até a morte, os poderosos, os senhores da fortuna e do privilégio não suportam a ideia de que este Partido resista, denuncie, lute e dê combate ao fatalismo e à descrença.
O anticomunismo mais rançoso e agressivo sobe de tom. Enquanto nós mantivermos a nossa natureza e identidade comunista, firmes nos nossos ideais e projecto, ligados à vida, aos trabalhadores e ao povo, hão-de enganar-se outra vez.

Um Partido que dê combate ao fatalismo e à descrença. Um Partido confiante que dê confiança aos trabalhadores e ao povo lembrando-lhes que se quiserem, e quando quiserem, podem mudar isto para melhor e assumir serem protagonistas do seu devir colectivo.