Mais de 600 pessoas participaram na noite de terça-feira, 29, num jantar-comício na Voz do Operário, em Lisboa, confirmando que na CDU existe força e razão para ainda ganhar o voto de «gente que se aproximam de nós mas ainda hesita», como referiu Jerónimo de Sousa.
A quatro dias das eleições, intensificam-se os apelos ao voto. No caso da coligação PCP-PEV, adiantam-se razões, o que reflecte, também neste aspecto, uma diferença entre a CDU a coligação PSD/CDS e o PS, uma vez que se os primeiros exploram o medo e acenam com o caos, o segundo repete a utilidade do voto alimentando uma vaga ideia de mudança, sempre sem explicar a sua substância.
Intensificam-se os apelos ao voto, é um facto. Mas na CDU apresentam-se o caminho e os objectivos. Foi isso que fez Joana Manuel, para quem «este é o momento de romper com a alternância, com a resignação. E recomeçar a construir. Para encontrarmos soluções para o futuro, mas primeiro que tudo para o presente do nosso País».
A actriz e candidata pelo distrito de Lisboa foi a primeira a usar da palavra já depois de Manuel Figueiredo, presidente de «A Voz do Operário» e madatário da candidatura da CDU, ter chamado ao palco dirigentes locais e nacionais do PCP, do PEV e da ID, e candidatos do PCP-PEV pelo círculo de Lisboa, entre os quais Rita Rato, Miguel Tiago e José Luís Ferreira, deputados do PCP e do PEV à AR, e Nuno Almeida e Alma Rivera, candidatos a um primeiro mandato.
Opção política
Num discurso tão sereno quanto convicto, Joana Manuel consolidou certezas entre os mais de 600 participantes na iniciativa. Ora criticando o PS por explorar o «sebastianismo institucional» como se o regresso do Ministério da Cultura» resolvesse por si só o que quer que seja, ora lembrando que «tínhamos Ministério da Cultura quando começou a senda do cortar».
Cortes aplicados a pretexto da inevitabilidade da «austeridade». A este propósito, Joana Manuel lembrou uma frase do então secretário de estado da Cultura Francisco José Viegas, que em reunião com agentes culturais atirou, lacónico, «mas que parte de “não há dinheiro” é que não entendem?».
«Que parte de “não há dinheiro” é que não entendemos?», prosseguiu Joana Manuel. «A parte BPN, do velho Novo Banco, (…) só para o Banif foram 3 milhões de euros por dia enquanto se quadruplicava o preço das taxas moderadoras; a parte de pagarmos em juros de uma dívida obscura praticamente o mesmo que gastamos no SNS », exemplificou.
Sobre o logro da «austeridade», também falou, a encerrar a iniciativa, Jerónimo de Sousa. Respondendo aos que perguntam onde é que a CDU arranja dinheiro para o compromisso de devolver tudo o que foi roubado nos salários e pensões e valorizá-los, defender os serviços públicos, a escola pública, a saúde, a educação e a segurança social, defendeu: «acabe-se com essa marmelada de dar dinheiro aos grupos financeiros», «renegocie-se a dívida e as PPP» e aplique-se «uma política fiscal em que paga menos quem menos tem, e paga mais quem mais tem».
Ùtil é votar na CDU
O Secretário-Geral do PCP interveio no jantar-comício na Voz do Operário já depois de o candidato Nuno Almeida ter lembrado que «há muitos portugueses que já decidiram que não vão votar naqueles que lhes roubaram direitos e salários», mas «ainda não decidiram votar em quem combate os que lhes roubaram salários e direitos».
Aproveitando o mote do voto útil, Jerónimo de Sousa começou por responder ao presidente do PS, Carlos César, que recentemente afirmou que votar na CDU é votar na direita.Sem resposta não ficou, também, António Costa, que, mais meigo, considerou que só o PS combate a direita.
O dirigente comunista e primeiro candidato da CDU lembrou, nesse sentido, a deserção do PS do combate ao executivo PSD/ e salientou que as acusações de César e Costa «ofendem muitos socialistas que estiveram ao nosso lado» na luta.
«O PS começa a creditar que o PSD/CDS pode ganhar as eleições porque não fez nada para os derrotar», porque «esteve vinculado ao pacto de Agressão» e nunca sustentou «onde é que o Governo foi além da troika», acrescentou o Secretário-Geral do PCP.
Concretizando a identificação entre PSD, PS e CDS em questões fundamentais, Jerónimo de Sousa exemplificou, depois, com a concertação daqueles partidos na ofensiva contra os trabalhadores.
«A precariedade laboral e os baixos salários florescem à sombra desta ofensiva contra o mundo do trabalho que uniu PSD, PS e CDS em todos estes anos e que hoje pretendem prosseguir», sublinhou, lembrando «as sucessivas revisões para pior do Código de Trabalho para assegurar a redução dos custos do trabalho e garantir um modelo assente em baixos salários e na redução de direitos».
Jerónimo de Sousa recordou igualmente que cada trabalhador forçado a aceitar um contrato precário ou a emigrar, cada ocupado em estágio, falsa bolsa ou recibo verde; cada desempregado ou sub-ocupado, cada trabalhador que começa «a sua jornada de trabalho sabendo que o salário não lhe permite sair da pobreza», é uma «vida em suspenso».
Percebe-se, assim, porque é que o Secretário-Geral do PCP insiste que os portugueses têm a 4 de Outubro a oportunidade para romper com o rumo imposto por PSD, PS e CDS, votando na CDU.