Mais de 400 pessoas estiveram no Auditório Eunice Muñoz num comício em que o Secretário-Geral do PCP reclamou para a cultura o lugar que merece na vida nacional, e apelou à redobrar de esforços até dia 4 de Outubro porque «esta CDU exige Mais votos».
A iniciativa realizada pelas estruturas concelhias de Oeiras e Cascais começou justamente com dois apontamentos culturais. No primeiro, os actores Fernando Tavares Marques e Carmen Santos declamaram poesia que despertou consciências. No segundo, David Gordillo recuperou canções de intervenção.
Um e outro momento conjugaram com o tema destacado por Jerónimo de Sousa na intervenção de encerramento do comício: a cultura. Ambos, introduziram razões e estimularam a intervenção política actual, na qual um dos objectivos é garantir a derrota da coligação «Portugal à Fome», como lhe chamou o militar de Abril Mário Simões Teles, a quem coube chamar ao palco os membros de mesa e dar a palavra aos oradores.
O primeiro a subir à tribuna foi Duarte Alves, candidato pelo círculo eleitoral de Lisboa, que em nome da Juventude CDU lembrou que os jovens têm, no domingo, dia 4, a oportunidade de derrotar a política de direita e os partidos seus executantes, responsáveis pela degradação da escola pública e a elitização da educação, bem como pela generalização dos baixos salários e da precariedade. A primeira constituiu «uma injustiça e e um desperdício para o País», as segundas obrigaram, nos últimos anos, milhares a abandonarem Portugal impossibilitados de constituírem «uma vida feliz e emancipada».
«A situação do País tem responsáveis, insistiu, por seu lado, Joana Silva, candidata e membro do Partido Ecologista «os Verdes», que denunciando quem pretende iludir os portugueses «com um receita que já deu provas de não ser capaz de elevar as condições de vida do povo», enfatizou a necessidade de «contrariar o silenciamento e a bipolarização» que a comunicação social dominante impõe e de «continuar a levar a nossa voz a todos aqueles que não se resignam ao estado do País e aspiram a outro modelo de desenvolvimento».
Do povo nos vem a força
Sobre a intensa campanha de contacto e esclarecimento que o PCP-PEV tem levado a cabo, falou, também, Rita Rato, candidata pelo distrito de Lisboa que antecedeu Jerónimo de Sousa . No quadro dessa intervenção político-eleitoral, contam-se já mais de 600 acções só no distrito de Lisboa, afirmou a deputada, para quem «é deste pulsar da vida que nos vem a força».
Em todos esses momentos, mesmo quando nos abordam expressando «raiva e desespero [pela situação em que se encontram], a essas pessoas respondemos que no dia 4 têm no voto da CDU soluções para Portugal e para as suas vidas».
«Outros dizem-nos que estão cansados de serem enganados e responsabilizam por igual PSD, PS e CDS. Falta-lhes dar o passo em frente, dar força à CDU. Muitos nos dizem lutem lá por nós. Lutamos, mas também dizemos lutem lá connosco», acrescentou ainda Rita Rato.
Uma luta que se faz em defesa da democracia de Abril, em todas as suas vertentes, salientou, a encerrar o comício, o Secretário-geral do PCP, para quem a amputação de uma das suas vertentes – a cultura –, significa um retrocesso e um empobrecimento.
Nesse sentido, defendeu algumas das propostas eleitorais o PCP-PEV para assegurar a democratização e fruição cultural, de entre as quais se destacam a assumpção pelo Estado do papel de promotor travando o domínio dos privados no sector; a dotação de um por cento do próximo Orçamento do Estado para a cultura e de um por cento do PIB no final da legislatura, o combate à precariedade que obriga muitos profissionais a trabalharem como amadores e uma política fiscal que proteja e dinamize a cultura.
Num discurso galvanizador, ao qual não é alheio o facto de o Auditório Eunice Muñoz estar completamente repleto, Jerónimo de Sousa foi incisivo sobre questões estruturantes da campanha eleitoral.
«O país está mais endividado, mas pobre, mais injusto e desigual», esta é a realidade, mesmo que a coligação PSD/CDS, «que aplicou o Pacto de Agressão com gosto» pretenda apresentar-se «de cara lavada e mãos limpas».
Culpas no cartório tem também o PS, que o Secretário-Geral do PCP acusou de se ter «ausentado a curar as feridas» enquanto comunistas, ecologistas, milhares de independentes e o movimento sindical unitário, democrático e de classe combatia o Governo. Daí, e considerando igualmente a identificação programática e de objectivos entre PSD/CDS e PS, prosseguiu Jerónimo de Sousa, não ser assertiva a crítica de «muitos socialistas que nos dizem que colocamos o PS no mesmo patamar do PSD/CDS».
A verdade, lembrou, é que no programa do PS não se vislumbra «uma vontade de mudança», acusou, exemplificando com a questão da renegociação da dívida, a fidelidade ao Tratado Orçamental a propósito do qual invocam a dita «leitura inteligente», a chamada governação económica ou os ataques aos direitos dos trabalhadores promovidos por sucessivos governos PS.
«Às vezes a comunicação social pergunta, com curiosidade legítima: mas então, o que é que podiam ceder para um acordo com o PS?». Dada a resposta, dizem, «ah!, mas então não é possível. O que queriam, que a CDU aceitasse o ataque aos direitos laborais e sociais, à segurança social, a manutenção da dívida e do serviço da dívida?», explicou o dirigente comunista e cabeça-de-lista da CDU por Lisboa.
«Não, só temos uma cara», reiterou, concluindo com um forte apelo a que os activistas e apoiantes do PCP-PEV, na semana que ainda falta, «conquistem voto a voto num quadro de profunda desconfiança com a política e os políticos».
«Não há lugar a descanso» mesmo perante a real confiança e bom ambiente que se vê em torno da CDU. «Temos vindo a crescer mas esta não é uma questão arrumada» e «depende de nós mais um contacto, mais uma conversa, mais uma iniciativa» porque «esta CDU exige muito mais votos», concluiu.