Declaração de Paula Santos, Presidente do Grupo Parlamentar e Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP, Conferência de Imprensa

Apresentação das primeiras propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2024

Apresentação das primeiras propostas de alteração ao Orçamento do Estado para 2024

Afirmámos que o PCP iria dar combate à proposta de Orçamento do Estado para 2024 e que iríamos ter uma intervenção própria com soluções concretas para os problemas que afetam a vida dos trabalhadores, dos reformados, dos jovens, do povo.

A proposta do Orçamento do Estado para 2024 para além de não dar resposta aos problemas candentes do País, contribui para o seu agravamento. É uma proposta que limita a valorização dos salários e das pensões, não promove o investimento público e prossegue a degradação dos serviços públicos, não garante o direito à habitação e vai ainda mais longe na garantia de novos privilégios ao grande capital, que se somam aos que já existem. 

A realidade do País é marcada pelos baixos salários e pensões, pelo aumento do custo de vida, em particular dos bens e serviços essenciais e da habitação, pela deterioração dos serviços públicos, por crescentes injustiças e desigualdades, que exigem respostas que, apesar de toda a propaganda em torno do Orçamento, o Governo não dá.

Os trabalhadores e o povo sentem hoje grandes dificuldades no seu dia a dia. São precisas soluções para os problemas das pessoas e o País tem recursos para tal. Incluindo recursos, públicos e orçamentais, que estão a ser entregues ao grande capital, diretamente ou por via das imposições da União Europeia e do Euro. 

O PCP avança com um primeiro conjunto de 12 propostas que dão resposta a problemas centrais sentidos pelo povo. Propostas que enfrentam o aumento do custo de vida, que reforçam os direitos sociais e por mais justiça fiscal, para melhores serviços públicos. Propostas que, inserindo-se no debate do Orçamento do Estado para 2024, reclamam, para lá dele, outras opções e decisões políticas que devem ser tomadas. 

Para combater o aumento do custo de vida, nomeadamente de quem trabalha e de quem trabalhou uma vida inteira o PCP propõe:

- No âmbito do aumento geral dos salários e da valorização das carreiras e profissões de todos os trabalhadores do sector privado e do sector público, o aumento geral dos salários e a valorização do poder de compra dos trabalhadores da Administração Pública que, por via da negociação coletiva entre o Governo e os sindicatos, sejam alcançados aumentos salariais que tenham em consideração a valorização e reposição do poder de compra em 2024, face às perdas acumuladas há mais de uma década. Uma valorização que tenha como referência a necessidade do aumento dos salários em 15%, em pelo menos 150 euros.

O aumento do salário mínimo nacional para 910 euros em janeiro de 2024, de modo a alcançar mil euros durante o ano de 2024.

A revogação da caducidade da contratação coletiva e a reposição do princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador, elementos centrais para a valorização dos salários e o reforço dos direitos dos trabalhadores do sector privado.

Vamos propor também:

- O aumento das pensões em 7,5%, no valor mínimo de 70 euros, por pensionista, possibilitando assim a recuperação do poder de compra perdido pelos reformados e pensionistas, favorecendo em especial as mais baixas reformas e pensões.

- O aumento do subsídio de refeição na Administração Pública de 6 para 10,5 euros, com os reflexos mais gerais que envolve.

- A fixação e redução dos preços dos combustíveis e dos alimentos, através da remoção das componentes especulativas do mecanismo de formação de preços e da fixação de margens de lucro das petrolíferas e da grande distribuição. 

Com o objetivo de reforçar os direitos sociais, nomeadamente na saúde, na educação, na proteção social, mas também o reforço das condições de trabalho das forças de segurança, o PCP propõe:

- A criação do regime de dedicação exclusiva no Serviço Nacional de Saúde, de natureza opcional, dirigido aos médicos e enfermeiros, com possibilidade de alargar aos profissionais de saúde. Designadamente com a majoração em 50% da remuneração base mensal. Esta é uma medida que contribui para a fixação de profissionais de saúde, para garantir a realização de consultas, cirurgias, tratamentos e exames, para ter médico e enfermeiro de família.

- A contabilização de todo o tempo de serviço das carreiras e corpos especiais da administração pública para efeitos de progressão. Foi tempo trabalhado e não contado. Queremos corrigir esta injustiça. E o País precisa que se valorizem as profissões e as carreiras, como na educação, num momento em que milhares de alunos não têm professores a todas as disciplinas, devido à falta de professores. 

- O aumento do valor do subsídio de risco para os profissionais das forças de segurança, designadamente da PSP e da GNR, para 420 euros em janeiro de 2024, prevendo a sua evolução para 450 euros durante o ano de 2024.

- A eliminação das propinas, bem como das taxas e emolumentos de licenciaturas, mestrados, doutoramentos e cursos técnicos superiores profissionais. Os custos com o ensino superior, sobretudo num contexto de degradação das condições de vida das famílias constituem um obstáculo. Para se garantir o direito de todos à educação é fundamental avançar na gratuitidade de todos os níveis de ensino, incluindo no ensino superior.

- A reposição da universalidade do abono de família e o alargamento dos limites de rendimentos dos escalões. O abono de família é um direito das crianças e deve ser garantido a todas as crianças.

Por último, o PCP avança com propostas que promovem justiça fiscal, que aliviam a tributação sobre os trabalhadores e as micro, pequenas e médias empresas e tributam de forma efetiva os lucros dos grupos económicos e as grandes fortunas. Propostas que permitem uma mais justa distribuição riqueza e aos mesmo tempo os recursos necessários para assegurar serviços públicos e os direitos constitucionais, a saber:

- A reposição do IVA na eletricidade, gás natural e gás de botija em 6% e a redução do IVA das telecomunicações para 13%. Os impostos indiretos são os mais injustos, porque todos, independentemente dos seus rendimentos pagam o mesmo valor de IVA. Esta proposta ganha ainda mais atualidade, perante o agravamento dos custos de bens e serviços essenciais.

- A redução do IRS para os trabalhadores e os pensionistas, através do aumento da dedução específica em 1035 euros (valor que está congelado desde 2010), do aumento da progressividade do imposto alargando para 10 escalões e do desagravamento em 3 p.p. nos três primeiros escalões.

- A tributação das grandes fortunas e lucros, por via do englobamento obrigatório nos rendimentos do último escalão do IRS em vigor (pondo fim à situação em que rendimentos de capital mais elevados podem ser tributados a taxas inferiores a rendimentos de trabalho); a revogação de benefícios fiscais ao capital e a eliminação de isenções em sede de IRC; a criação de uma taxa especial sobre transações financeiras para paraísos fiscais e a criação de uma contribuição adicional sobre os lucros do setor financeiro, setor energético e a grande distribuição.

O PCP intervirá ainda com propostas de eliminação do agravamento do IUC para viaturas anteriores a 2007 e da taxação dos sacos de plástico leves e ultraleves.

São propostas necessárias e possíveis de concretizar, haja vontade política para isso. 

São propostas que rompem com as opções do Governo de maioria absoluta do PS, e confrontam a demagogia e opções reacionárias de PSD, CDS, CH e IL.

Apresentamos estas primeiras 12 propostas no debate orçamental que está a decorrer, e que fazem parte de um conjunto mais diversificado e amplo de propostas que estamos a preparar no âmbito do Orçamento do Estado para 2024.

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