Intervenção de Paulo Raimundo, Secretário-Geral do PCP

Almoço em Odiáxere

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Uma grande saudação a todos.

Em primeiro lugar aos que organizaram e confeccionaram este almoço.

Depois, a todos os presentes, que decidiram e bem, passar o feriado neste ambiente de grande alegria, de grande camaradagem.

Aqui estamos num momento com profundas contradições.

Contradição entre a propaganda e a vida.

Contradição entre a vida real, o duro dia-a-dia para a larga maioria e a ilusão que nos vendem dos números que não param de crescer.

Contradição entre a vida de cada um e a lenga-lenga que nos tenta convencer que isto agora é que é, agora é que vamos lá, é só esperar um bocadinho que já sentiremos os bons resultados da economia.

Só que enquanto esperamos e nada sentimos nos bolsos há quem já sinta e há muito esses resultados.

A economia está boa, mas para quem?

Para os 3 milhões de trabalhadores que recebem até 1000 euros brutos por mês?

Para os 2 milhões de pessoas que vivem na pobreza, das quais mais de 300 mil são crianças?

Para os profissionais da saúde e da educação que lutam há tanto tempo, defendendo o Serviço Nacional de Saúde e a Escola Pública, e cujas justas reivindicações não são atendidas?

Para as mais de 600 estruturas culturais que ficaram sem apoio?

Para os milhares de investigadores e bolseiros sem contrato?

Para os 400 mil idosos que vivem com rendimentos até 551 euros?

Para as centenas de milhar de jovens que não conseguem sair de casa dos pais, emancipar-se, constituir família?

E sobre isto vale a pena lembrar que nos últimos dias muitos se têm desdobrado em declarações sobre a juventude.

A juventude enfrenta de facto problemas muito complexos, problemas na Escola Pública, no acesso a todos os graus de ensino, a brutal precariedade que hoje é regra nas relações de trabalho, que enfrenta os baixos salários, dificuldades crescentes no acesso à habitação, ausência de resposta pública para garantir creches gratuitas, insuficiência de resposta do SNS aos seus problemas específicos, nomeadamente ao nível da saúde mental, entre outros.

Mas a raiz desses mesmos problemas são da responsabilidade dos que hoje enchem a boca com mais e novas promessas.

O que a juventude precisa é exactamente aquilo que a política de direita lhes roubou e que tudo fará para não repor.

Mais do que cerimónias, estudos, anúncios e mensagens de preocupação,  o que os jovens precisam é do reforço da Escola Pública, gratuita e de qualidade, é de emprego com direitos e com melhores salários,  é de verem garantidos o direito à cultura,  à saúde, ao desporto, é que se assegure o combate às discriminações.

Respondam-se aos verdadeiros problemas da juventude, criemos condições para que cá fiquem, cá vivam e cá trabalhem, e certamente que a vontade da larga maioria, tendo condições e motivação dos mesmos, é cá ficaram e tanta falta fazem.

A economia não está boa para os mais jovens, não está boa para os menos jovens, não está boa para os trabalhadores, para o povo, para os micro, pequenos e médios empresários, a economia está boa isso sim para os 5% que concentram 42% da riqueza nacional.

Está boa, isso sim, para os grupos económicos, está boa e de que maneira para a Banca e os seus 2 mil milhões de euros nos últimos 6 meses, 11 milhões de lucros por dia. 

E que boa está a economia para a grande distribuição e para os seus lucros à custa dos preços inflacionados, descontrolados e especulativos.

Está boa para os que fogem aos impostos e que extraem a riqueza do País para paraísos fiscais.

Está boa e de que maneira para o negócio com a doença que saca ao Orçamento do Estado 6 mil milhões de euros públicos.

A verdade é que se uns poucos vêem os bons resultados da economia, a grande maioria nem lhe sente o cheiro.

Esta é a realidade, uma realidade que não é um acaso do destino nem fruto de azar.

Isto é assim por opções e erradas opções políticas.

A realidade como sempre, mais cedo ou mais tarde, impõe-se sobre a propaganda.

Veja-se o que se passa aqui na região. 

No turismo e na hotelaria, não é raro encontrar trabalhadores que ganham num mês de salário menos que o preço de uma noite dos quartos que limpam ou das instalações turísticas cuja manutenção asseguram.

Mas olhemos para a dimensão do problema da Saúde na região. 

Veja-se a situação na Pediatria, Ortopedia ou Oftalmologia, nos hospitais de Faro, Portimão ou Lagos, nos centros de saúde das zonas mais interiores desta região e a contradição com a propaganda e as opções do Governo do PS.

Opções erradas do PS mas também de PSD, da IL, do Chega e do CDS.

Todos eles, sempre que são chamados a resolver os problemas reais com que o povo está confrontado, para lá do ilusionismo e manipulação à mistura, mostram sempre de que lado estão.

É essa a sua opção, é esse seu lado que os leva a votarem contra a nossa proposta de controlo de preços de bens essenciais, que não param de aumentar e registaram agora novos aumentos, na alimentação e nos combustíveis.

É essa a sua opção que fica bem demonstrada na dramática situação da habitação. 

Quando se impõe proteger a habitação própria permanente, evitar despejos e penhoras, quando se impõe pôr os chorudos lucros da banca a suportar o aumento das taxas de juro, quando aquilo que é urgente é avançar para uma moratória por dois anos semelhante à do período da pandemia, quando o que é preciso é a fixação de um spread de 0.25% pela CGD, quando aquilo que se coloca é travar os preços dos quartos para estudantes, que em Faro aumentaram 25% em relação ao ano passado, e pôr fim à especulação imobiliária e à sazonalidade da utilização de casas destinadas a outros fins que não a habitação permanente, o que fazem estes partidos?

Abstenção aqui, voto dissonante acolá, unem-se todos para rejeitar estas soluções.

Mas também assim foi quando propusemos que os grupos económicos da banca, seguros, energia e distribuição fossem taxados em 35% sobre o IRC de 2022 e 2023, para que fossem efectivamente tributados os lucros, lá estão PS, PSD, Chega e IL a votarem contra.

Propostas chumbadas, mas hoje ainda mais urgentes e necessárias, não vamos desistir delas.

Não abandonamos nenhuma batalha e foi por essa nossa persistência e determinação que conseguimos abrir caminho para a gratuitidade das creches.

Uma medida que hoje abrange quase 60 mil crianças. 

Mas é preciso ir mais longe, é preciso duplicar o número de vagas, é preciso criar uma rede pública de creches gratuitas.
Assim como não abdicaremos da defesa da produção nacional e de salvaguardar nas mãos públicas, nas mãos de todos nós, as empresas que com o nosso esforço foram construidas. 

Já sabemos que há quem não consiga aguentar a sua fúria privatizadora, mesmo num momento em que nos confrontamos com os escândalos, as negociatas, a corrupção resultantes da privatização da antiga PT, agora Altice.

É preciso que se investigue o que houver a investigar, mas este também é o momento para deixar claro e reafirmar, que o maior crime político e económico ocorrido na PT foi a sua privatização e esse crime tem responsáveis, os mesmos que agora querem dar continuidade a esses crimes.  

Esses mesmos que estão apostados na privatização da Efacec, que estão apostados num perdão de dívida de 113 milhões de euros à Mutares; que estão apostados na entrega ao desbarato duma empresa com condições únicas no sentido da elevação da produção nacional. 

Esses mesmos que há 30 anos querem entregar aos grupos económicos a maior exportadora nacional, que assegura mais de doze mil postos de trabalho directos e mais dez indirectos; uma empresa que faz entrar anualmente na Segurança Social mais de 100 milhões de euros.

Esses mesmos que sabem quanto apetecível é a TAP e é por isso que tantos lhe querem deitar a mão. 

Os interesses dos grupos económicos, os interesses dos seus partidos de serviço, os interesses e imposições da União Europeia, todos os dias se revelam contrários aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País.

Se assim é, a vontade privatizadora da TAP não serve os interesses de quem vive e trabalha no nosso País.

Ora, o que é preciso é romper com todo este rumo, um rumo onde PS, PSD e seus sucedâneos têm as mãos sujas.

Este rumo não serve o País, este rumo não serve os trabalhadores, não serve o nosso povo.

Se assim é, então é preciso que os trabalhadores e as populações assumam e sejam construtores daquela que é a sua alternativa, a alternativa que responde aos direitos, a política alternativa, patriótica e de esquerda.

É preciso romper com a política ao serviço dos interesses dos grupos económicos e de uma minoria e de uma vez por todas avançar isso sim, para um caminho, uma política ao serviço da imensa maioria, ao serviço dos que produzem a riqueza, dos que fazem o País e a economia funcionar, ao serviço dos que trabalharam uma vida inteira.

Com a força dos trabalhadores, a sua luta e a sua unidade, com o reforço do PCP e com a convergência de muitos democratas, vamos, mas vamos mesmo, avançar porque é justo, possível, necessário e cada vez mais urgente.

Porque é justo, possível, necessário e urgente, o aumento dos salários, das pensões e reformas.

Porque é justo, possível, necessário e urgente, a valorização do trabalho e os direitos dos trabalhadores.

Porque é justo, possível, necessário e urgente investir nos serviços públicos, nomeadamente no SNS e na Escola Pública, reconhecer e dignificar os seus profissionais; as suas justas reivindicações que tardam em ser atendidas por mera opção política, como nos mostra o caso dos médicos, dos enfermeiros, dos professores e dos auxiliares.

Porque é justo, possível, necessário e urgente o investimento na habitação, nos transportes públicos, no serviço postal, num verdadeiro Serviço Público de Cultura e o direito ao desporto.

Porque é justo, possível, necessário e urgente o controlo público dos sectores estratégicos que neste momento servem os interesses deste ou daquele grupo económico e não do País.

Porque é justo, possível, necessário e urgente que as muitas forças e recursos deste País sejam colocadas ao serviço do Povo, aumentar a produção nacional, dar combate aos défices estruturais que enfrentamos mas para os quais não estamos condenados, recuperemos a soberania e ponhamos os recursos ao serviço da população e o País vai mesmo avançar.

Porque é justo, possível, necessário e urgente implementar a regionalização, invertendo o despovoamento do interior e os graves problemas sentidos com a situação de seca.

Porque é justo, possível, necessário e urgente cumprir e fazer cumprir a Constituição e consagrar os valores de Abril.

Porque como todos os dias se revela, é justo, possível, necessário e urgente empenhar todos os esforços e todas as forças na construção da paz, da solidariedade e da cooperação entre todos os povos.

É justo, possível, necessário e urgente levar por diante uma política que cumpra e faça cumprir a Constituição da República Portuguesa.

Com confiança, com determinação com alegria e com a certeza que não percorremos este caminho sozinhos. Caminham connosco muitos e muitos que a cada dia que passa tomam consciência que a sua vida avança quanto maior for o avanço do PCP.

Esta é a realidade cada vez mais visível aos trabalhadores e ao povo.

Vamos para a frente, rompendo barreiras de silêncio, muitas vezes de mentira e da manipulação com que estamos confrontados e, de forma militante, confiante, paciente, ouvirmos e sermos ouvidos. 

Vamos dar a conhecer quais são as nossas posições e nossas propostas.

Vamos dar confiança à justa luta dos trabalhadores e das populações.

Vamos construir uma grande Festa do Avante! 

Uma Festa do povo, a Festa da juventude a Festa da liberdade e da paz.

Há muita gente que ainda não sabe se irá à Festa. 

O nosso papel é ajudar esses muitos milhares a, desta vez, irem à Festa. 

Pois então, mãos à obra, construindo o que falta lá no terreno, mas também e não menos importante, aqui, em cada região, em cada localidade, divulgando, dando a conhecer, demonstrando porque é que este é o maior evento político-cultural do nosso País.

Mãos à obra, construindo a política patriótica e de esquerda, reforçando a militância, reforçando o Partido.

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