Uma multidão de gente voltou a sair à rua, sexta-feira, desta vez em Évora, para denunciar as injustiças e o desastre económico e social, contra a exploração capitalista e as desigualdades, contra o roubo dos salários e o aumento do custo de vida, pelo emprego, em defesa da produção, da justiça social e da soberania nacional, por uma política patriótica e de esquerda.
Esta acção, que se iniciou junto à Sé de Évora, e que percorreu algumas das principais artérias da cidade, contou com a presença de Jerónimo de Sousa, que endereçou uma mensagem de pesar mas também de homenagem pela perda do camarada José Saramago.
«É uma boa região para prestar esta homenagem a José Saramago, figura mundial da literatura e da cultura. Da sua obra destaca-se o livro “Levantados do Chão”, que refere um povo, o povo alentejano, que lutou contra o fascismo, que lutou pela reforma agrária, que construiu essa reforma agrária que a política de direita acabou por destruir. Mas essa foi uma das contribuições, uma das grandes identificações deste grande vulto que esteve neste Partido, conforme afirmou e demonstrou, até ao último dia da sua vida», salientou, despoletando uma imensa salva palmas, de mais de um minutos, dos milhares de pessoas que ali se encontravam.
«Morreu um combatente, um homem de Abril, mas, tal como a vida, a nossa luta continua na situação difícil que estamos a viver no plano económico e social», referiu, alertando para a política de direita que tem vindo a ser realizada pelo Governo do PS, com o apoio do PSD, que quer «impor o roubo nos salários e nas pensões, aumentar os preços [do leite, do pão, dos medicamentos e dos transportes], cortar nos subsídios de desemprego, nas prestações sociais, no investimento público, uma política de privatizações».
O Secretário-geral do PCP deu ainda a conhecer, para grande descontentamento das pessoas que se encontravam na antiga Praça da Liberdade, que certos dirigentes do PS estão a propor que as datas do 25 de Abril e do 1.º de Maio possam ser comemoradas em outros dias. «Eles sabem que estas datas têm uma carga simbólica, uma carga política. O 1.º de Maio era no tempo do fascismo proibido, o 25 de Abril foi uma derrota do fascismo e das forças reaccionárias. Este é um ajuste de contas com essas datas. Da parte do PCP, o 25 de Abril há-de sempre ser comemorado no 25 de Abril e o 1.º de Maio no Dia do Trabalhador», acentuou.
Quase a terminar, Jerónimo de Sousa salientou que, para a crise e para a política de direita, «há saídas». No entanto, «não existe uma alternativa sem uma ruptura e uma mudança em relação a esta política, não há alteração da situação de estagnação, do nosso atraso, da liquidação do nossa aparelho produtivo, do aumento do desemprego, das injustiças, sem uma política diferente, uma política que assente fundamentalmente no crescimento económico, na valorização do aparelho produtivo, da produção nacional, da agricultura, das pescas, da indústria», disse, frisando que tal «é possível. Mas o elemento fundamental e primeiro é a luta dos trabalhadores e do povo como melhor resposta.» «Quando o povo, trabalhadores, reformados, intelectuais, pequenos e médios comerciantes, industriais e agricultores, a juventude, quando perceberem a força da sua força este Governo e esta política não duram nem mais um dia e há-de ser o povo a encontrar as soluções para o desenvolvimento do País», destacou.
No palco, sob um mar de gente que empunhava as bandeiras seu Partido, estiveram ainda João Oliveira, deputado na Assembleia da República, Raimundo Cabral e João Pauzinho, membros da Direcção de Organização Regional de Évora, Abílio Fernandes, membro da Comissão Central de Controlo, João Dias Coelho, da Comissão Política, e Luísa Araújo, do Secretariado e do CC.
Alertar a população e os trabalhadores
João Pauzinho enumerou algumas das razões que levaram os comunistas de Évora a participar naquele protesto, que visou esclarecer, informar, denunciar, mobilizar para a luta, afirmar as propostas do PCP para uma política alternativa, patriótica e de esquerda.
«Saímos à rua para alertar para o facto de o distrito de Évora viver uma situação preocupante do ponto de vista económico e social. Este é o resultado flagrante das políticas desenvolvidas que levado à desertificação do território, ao definhamento do tecido económico e ao agravamento das condições de vida das populações», afirmou, criticando a falta de investimentos públicos para o distrito, afastando Évora «do mapa dos investimentos públicos, promovendo o encerramento e a degradação desses mesmos serviços, recusando o apoio efectivo à dinamização da actividade económica e aos sectores produtivos e abandonando à sua sorte os segmentos mais vulneráveis da população».
O dirigente comunista denunciou ainda que o Alentejo ficou, durante um ano, sem comboios Inter-Cidades (entre Lisboa e Beja e Lisboa e Évora), uma medida que a REFER e a CP conduziram «em segredo e sem a consulta às populações e às autarquias da região, o que merece da nossa parte um enorme repúdio».«Consideramos altamente questionável que esta intervenção tenha de ser feita com o encerramento da linha.
Rejeitamos cabalmente a falta de planeamento ou opções políticas, leia-se neste caso perspectivas privatizadoras, e exigimos a necessidade de se clarificar a situação dos trabalhadores permanentes da CP e da REFER nos serviços e estações das zonas a “suspender”, salvaguardando sempre os seus direitos», frisou, condenando, de igual forma, o encerramento de escolas, que no distrito poderá chegar à meia centena de instituições de ensino, de centros de saúde, de postos dos CTT, da GNR e da EDP.
João Pauzinho lembrou ainda que o PCP apresentou, recentemente, na Assembleia da República, um plano de emergência para o distrito de Évora que continha um conjunto de propostas, que o PS chumbou, e que «poderiam ter contribuído para minorar os efeitos desta crise e desta politica».