Intervenção de Vítor
Dias
na concentração de protesto junto a SIC
Acreditamos sincera e firmemente que a nossa presença aqui
nesta iniciativa de justo protesto contra a discriminação
e o atentado ao pluralismo que a esta hora já começou
a ser perpetrado na SIC com o debate apenas entre Durão Barroso
-Ferro Rodrigues é não só um tempo bem gasto
mas também um acto simbólico com um grande valor democrático
que honra as nossas consciências e enobrece as nossas convicções.
Estamos aqui para dizer a quem quiser ouvir que há quem
não se habitue nem se resigne ao que é inaceitavelmente
desfigurador das regras da democracia que, mais do que muitos outros,
ajudámos a conquistar e a consolidar.
Estamos aqui para dizer, alto e bom som, que podem a força
do dinheiro, os meios de alguns e a falta de princípios de
outros consumar factos injustos que lesam o real direito dos cidadãos
a uma informação isenta e não discriminatória
e a debates pluralistas mas que nenhum facto consumado pode dar
razão a quem a não tem, tornar decente o que é
indecente, tornar legitimo o que é ilegítimo, tornar
democrático o que é antidemocrático.
A esta hora, já está a passar na SIC aquilo que nas
presentes condições só pode ser classificado
de uma encenação política e televisiva premeditadamente
organizada para dar ainda maior impacto à furiosa espiral
de procedimentos e atitudes quem visam manifestamente pressionar
os eleitores para uma concentração de votos só
no PSD e no PS.
A esta hora, já começou a passar na SIC um debate
que com toda a probabilidade corresponderá plenamente ao
superiores interesses dos seus intervenientes e que é precisamente
o de poderem exibir um grande antagonismo e grandes diferenças
com a impunidade e a tranquilidade de não estar lá
mais ninguém que lhes possa lembrar as proximidades, acordos
e convergências de ontem e de hoje.,
O protesto que aqui hoje viemos exprimir tem como motivo principal
este simulacro de debate da SIC que está a ir para o ar.
Mas indirectamente abrange também muitos outros procedimentos
que todos conhecemos e que vão desde outros debates temáticos
à divulgação de propostas programáticas,
da cobertura das pré-campanhas ao comentário político
e que, em conjunto, representam uma descarada pressão para
confundir os eleitores quanto à real natureza destas eleições
e para reduzir o leque das suas opções eleitorais
e aprisionar a sua vontade no pobre e estreito quadro da chamada
"bipolarização" entre PS e PSD.
Hoje, amanhã e depois, nas rádios, nos jornais e
nas televisões, vão-se gastar rios de palavras e himalaias
de reflexões e opiniões para sentenciar quem ganhou
o debate entre Ferro Rodrigues e Durão Barroso.
Mas nós todos, antes de ele acabar, estamos absolutamente
certos sobre quem ganhou e quem perdeu com este debate.
Ganharam com este debate todos aqueles que adoram a "bipolarização"
entre PS e PSD precisamente porque sabem que esse é o melhor
seguro de vida para adiar a mudança para uma nova política
e para adiar a alternativa de esquerda que fazem falta ao país.
Ganharam com este debate todos os que, falando muito do "jogo
democrático", do que mais gostam é de o viciar,
manipular, abastardar e degradar.
E ganharam ainda com este debate os que, não confiando no
fundo na soberana capacidade de juízo e avaliação
dos cidadãos, entendem sempre que, a propósito de
tudo e de nada, é preciso "fazer a cabeça aos
eleitores" e aperfeiçoar a moderna "engenharia
das almas".
E perderam com este debate o pluralismo de opinião e de
proposta, o respeito pela verdadeira realidade política nacional,
as regras democráticas e a democraticidade do processo eleitoral
e o direito dos portugueses a uma informação e a debates
que não sejam cozinhados segundo as conveniências egoístas
e ilegítimas de alguns em prejuízo de outros.
A poucos dias do início do período oficial de campanha
eleitoral, há uma exigência maior que precisa especialmente
de ser escutada e atendida pelas instituições democráticas
e órgãos de soberania: e essa exigência é
tão só que, sem perdão para as entorses que
já foram criadas, se aja com firmeza para que a campanha
eleitoral não seja a continuação destas intoleráveis
práticas discriminatórias.
E a poucos dias do período oficial de campanha eleitoral,
há ainda uma outra reclamação que seguramente
aqui todos partilhamos.
É uma reclamação que se dirige a todos quantos
- dominando a opinião escrita e falada pela segregação
de outras opiniões, hegemonizando o debate político
pela discriminação de outras correntes de pensamento
e acção, criando falsas realidades pela rasura deliberada
de parte essencial da realidade, falando mais alto pelo amordaçar
de outras vozes - estão montando a cruzada da "bipolarização"
PSD-PS.
Deixem de se comportar como donos e tutores da democracia, polícias
sinaleiros das consciências, rígidos fiscais da formação
da vontade popular!
Deixem de se comportar como "grandes eleitores" e aceitem
contar tanto - pelos vossos votos individuais - como os vossos concidadãos!
E, sobretudo, deixem os portugueses pensar pela sua própria
cabeça e escolher segundo a sua própria consciência
para que, em rigor, possam vir a votar segundo a sua própria
vontade!
Que os destinatários desta reclamação não
se iludam vendo nela um apelo desesperado ou um pungente grito de
alma.
Melhor será que a vejam antes como uma firme recusa de rendição
e como a afirmação de uma decidida vontade de resistência,
de combate e de luta a que daremos corpo na campanha da CDU.
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