Intervenção de Carlos Carvalhas
no Comício no Pavilhão Carlos Lopes,
em Lisboa, em 14/03/02
Estamos a aproximarmo-nos do termo desta campanha, e de uma campanha
da CDU que, contra a corrente dominante, tem sido dirigida à
inteligência e reflexão dos portugueses e de uma campanha
da CDU que se orgulha de ser sustentada na acção e
intervenção de milhares de activistas, cuja generosidade,
determinação e esforço daqui saudamos calorosamente.
Travámos em todo o país um grande combate de esclarecimento
- e assim continuaremos até ao último minuto - contra
todos aqueles que estão muito interessados em transformar
as eleições num mero e enganador concurso de promessas
ou num campeonato de marketing para que se esqueça quantas
vezes fizeram o contrário do que agora prometem, quantas
vezes votaram contra e inviabilizaram propostas do PCP que agora,
sem vergonha nem escrúpulos, também dizem defender.
Desenvolvemos um grande combate de esclarecimento - e assim continuaremos
até à meia-noite de amanhã - para que estéreis
e mesquinhas polémicas destinadas a avivar reacções
emocionais não matassem a discussão séria da
situação do país e dos graves problemas que
preocupam os portugueses, os direitos por cumprir, as injustiças
gritantes, as aspirações e reclamações
de quem vive do seu trabalho.
Animámos um grande combate de esclarecimento - e nesse caminho
estaremos até ao fim - para enfrentar os truques daqueles,
como o PSD, que esteve 10 anos seguidos sozinho no Governo e teve
nas mãos durante 14 ou 16 anos consecutivos (de 79 a 95)
pastas tão importantes como a saúde, a educação,
a justiça, o comércio ou a agricultura e, apesar disso,
quer convencer o país que agora é que vai ser o que
nunca foi; ou como o PS que governou da forma que se sabe, nos últimos
seis anos e que, só porque mudou de líder, nos quer
convencer que vai tudo começar do zero e que também
"agora é que é".
Erguemos em todo o país uma grande e essencial acção
de esclarecimento - que continuará viva ainda amanhã
- para que o empolado e fabricado antagonismo eleitoral entre o
PS e o PSD não faça esquecer quantas importantes convergências
e acordos tiveram nos últimos seis anos, quantas vezes se
exibiu perante o país esse "bloco central" de interesses,
conveniências e opções fundamentais que tanto
tem prejudicado o país e sacrificado os valores, propostas
e objectivos de esquerda.
E, finalmente, travámos um grande e difícil combate
de esclarecimento para que os eleitores nos possam julgar, não
na base de caricaturas maldosas e mentirosas e não na base
do preconceito e da desinformação, mas antes com base
numa detalhada prestação do trabalho que desenvolvemos
na Assembleia da República e fora dela e que aliás
PS e PSD não apresentaram, do nosso vasto património
de acção e intervenção que plenamente
honra os nossos compromissos eleitorais de 1999 e que é a
melhor garantia da incomparável utilidade do voto na CDU
no próximo domingo.
E é exactamente porque entendemos que as campanhas eleitorais
são, ou deveriam ser, momentos de esclarecimento indispensáveis
à construção consciente da opinião dos
eleitores, que trouxemos como nos competia para o debate eleitoral
os principais problemas com que Portugal e os portugueses se confrontam.
Apresentámos e divulgámos as propostas e orientações
indispensáveis para dar corpo a uma política de esquerda,
capaz de assegurar o desenvolvimento do país, defender e
valorizar a sua economia, garantir serviços públicos
de qualidade e essenciais, elevar as condições de
vida, dignificar o trabalho e combater as desigualdades.
Se alguma coisa esta campanha revela e evidencia é que perante
os portugueses se coloca a oportunidade de escolherem no próximo
Domingo bem mais do que entre duas variantes de políticas
em muito idênticas, que à força se lhes quis
vender como únicas, apoiando e confiando em quem de forma
distinta apresenta soluções e uma política
capaz de romper com 16 anos de governos do PS e do PSD.
Atarefados que andam em tentar em encontrar assuntos que disfarcem
a larga zona de coincidências que partilham em importantes
orientações e opções programáticas,
atarefados que andam em encontrar temas e polémicas para
entreter os eleitores - dos estádios de futebol ao alegado
perigo de uma nova guerra mundial - PS e PSD não têm
tido tempo para se ocupar de assuntos miúdos tais como os
salários, a recuperação do poder de compra,
o direito ao trabalho e os direitos no trabalho.
E talvez atarefados pelo ruído ostentado pela disputa entre
si sobre o papel de melhor cumpridor das imposições
monetaristas da União Europeia, da redução
do défice e da despesa pública, se remetam ao mais
comprometedor silêncio sobre novas e graves decisões
que a União Europeia prepara com consequências para
a vida dos trabalhadores e dos povos.
E embora o país o desconheça, a verdade é
que começa amanhã o Conselho Europeu de Barcelona
no maior dos silêncios sobre as implicações
que as suas decisões podem ter para o país.
Num país onde a opinião pública continua arredada
do processo da "construção europeia", é
particularmente significativo que este assunto tenha estado praticamente
ausente do discurso eleitoral do PS e do PSD, certamente para evitar
a exposição das flagrantes coincidências de
fundo que nesta matéria se verificam. E para esconder que
é a CDU que protagoniza uma alternativa de soberania e progresso
económico e social.
Em Barcelona vão estar em cima da mesa propostas visando
acelerar os processos de privatização e liberalização
de serviços públicos, nomeadamente nos sectores de
energia, dos transportes e das telecomunicações, assim
como medidas visando a contenção salarial, a flexibilização
e a mobilidade da força de trabalho, o aprofundamento da
criação de fundos de pensões privados.
Todas estas são questões da maior importância.
Traduzem o aprofundamento das orientações neoliberais
gravemente lesivas dos interesses populares e imposições
do grande capital e das grandes potências que se manifestam
em muitos outros domínios como o das reformas institucionais
de sentido abertamente federalista ou no processo de militarização
da União Europeia. Receosos de dar o passo em tempo de eleições
de tornar público o seu apoio a estas orientações,
PS e PSD preferem refugiar-se discretamente por detrás de
um silêncio cúmplice.
Pela nossa parte, queremos reafirmar a nossa oposição
a este caminho que prejudica gravemente os interesses e a soberania
de Portugal e nova opção e a nossa luta por uma outra
Europa, dos trabalhadores e dos povos, de paz e cooperação
entre países soberanos e iguais em direitos.
Insistimos na exigência de uma política de verdadeira
coesão económica e social, nomeadamente no quadro
de um futuro alargamento da União Europeia., na eliminação
dos constrangimentos do Pacto de Estabilidade, na defesa do tecido
produtivo nacional.
É indispensável que o país seja informado
das posições que o governo venha a tomar na Cimeira
de Barcelona, nomeadamente quanto à dramática questão
da Palestina. É inquietante que, perante o dramático
agravamento da situação e a brutalidade da ofensiva
do governo de Ariel Sharon, a declaração da União
Europeia do passado dia 8 se tenha limitado a aplaudir a visita
do vice-presidente dos EUA ao Médio Oriente e o que chama
de "maior empenho dos EUA na procura de uma solução
para o conflito" quando é manifesto que uma tal visita
se inscreve nos preparativos para uma agressão militar dos
EUA ao Iraque e outras países da região.
É nossa convicta opinião que Portugal se deve bater
para que a União Europeia. rompa definitivamente com o seu
seguidismo em relação aos EUA, condene frontalmente
a política desumana e terrorista de Israel, promova o urgente
envio de observadores para a Palestina, assim como apoios imediatos
que visem minorar a dramática situação da população
palestiniana.
E deste comício queremos manifestar a nossa activa solidariedade
à luta heróica do Povo Palestiniano contra a agressão
e ocupação por Israel. E num momento em dentro de
Israel cresce a força e se eleva a voz dos que se opõe
à orientação terrorista do governo de Ariel
Sharon daqui queremos reafirmar o nosso apoio ao reconhecimento
dos direitos nacionais do povo palestiniano incluindo o direito
ao seu próprio Estado independente e soberano com capital
em Jerusalém.
Como todos estamos a ver, agora na recta final da campanha, crescem
os apelos seja do PSD seja do PS a uma maioria absoluta, cada um
procurando impingir a ideia de que seria nisso que estaria a chave
para o progresso do país e a estabilidade política.
O líder do PSD, que deve julgar que os portugueses não
têm nenhuma memória, acaba mesmo de inventar essa delícia
que é proclamar que a maioria absoluta é que permitiria
a um hipotético Governo do PSD resistir melhor às
pressões dos lóbis ou grupos de interesses.
Mas, a respeito deste sofisma, só queremos dizer uma coisa
muito simples: é que, atendendo à longa e comovente
história de "independência" e "firmeza"
do PSD e dos seus governos face aos lóbis e que o país
conhece de ginjeira, uma maioria absoluta do PSD o que significaria
era tirar os lóbis dos corredores do poder, dos telefones,
dos jantares e almoços em hotéis e restaurantes de
cinco estrelas e levá-los directamente para o governo de
Portugal e para a mesa das reuniões do Conselho de Ministros.
Por sua vez, o líder do PS pede a maioria absoluta sempre
insinuando ou afirmando que as maiores dificuldades do PS nos últimos
anos residiram sobretudo no facto de a não ter tido.
A este respeito, só queremos dizer uma coisa também
muito simples : é que o líder do PS deve ter vivido
nos últimos anos num país diferente daquele em que
todos nós vivemos. Porque neste país em que todos
nós vivemos, estamos agora a ter eleições antecipadas
não porque o Governo do PS tenha sido derrubado na Assembleia
da República mas porque o seu Primeiro Ministro atirou a
esponja para o ringue, depois de uma derrota nas autárquicas
e sobretudo depois do desgaste sofrido em consequência de
uma política errada assente em múltiplas cedências
à direita, depois de anos e anos em que o PS andou a alimentar
a direita com bifes do lombo para depois se vir queixar que a direita
engordou.
Além disso, é de facto preciso muita imaginação,
para não dizer outra coisa, para querer convencer os portugueses
que teria sido a falta de uma maioria absoluta que teria feito o
PS e o seu Governo nos dois últimos anos envolverem-se em
toda uma interminável série de escândalos, demissões
de ministros e remodelações, crises e mini-crises
dentro da sua própria casa.
Não, amigos e camaradas, a maioria absoluta de um só
partido não faz nenhuma falta ao país e à solução
dos problemas nacionais.
Sim, amigos e camaradas, a maioria absoluta de um só partido
só faz falta ao clientelismo do partido do governo, à
arrogância, ao autismo perante as realidades, ao desprezo
pelas críticas e opiniões diferentes, à sobranceria
e impunidade da política de direita, seja quais forem as
suas modalidades.
À beira do fim da campanha, muitas indicações
nos levam a dizer aqui, com toda a clareza, que o que pode decidir
de um bom resultado da CDU no domingo é a atitude que for
assumida por algumas dezenas de milhar de cidadãos que estão
desiludidos com a política até aqui seguida e muitos
dos quais até é na CDU que mais se reconhecem, até
sabem perfeitamente que a CDU é a força mais coerente
e consistente na defesa dos trabalhadores e das aspirações
populares, até sabem e dizem que é a CDU que apresenta
propostas sérias para responder a tantas e tão prementes
inquietações dos portugueses. Mas que, ao mesmo tempo,
ou estão sujeitos a toda uma impressionante mas indigna campanha
de fomento da "bipolarização", ou estão
a ser bombardeados pela ideia falsíssima de que seria preciso
votar PS para derrotar a direita, ou muito simplesmente estão
dominados pelo desencanto com a marcha da vida política portuguesa,
desgosto, perderam a esperança ou acham que não valeria
a pena ou que o seu voto nada poderia mudar.
A todos esses cidadãos, gostaríamos de lhes pedir,
e se possível fosse, de olhos nos olhos, que no seu próprio
interesse escutem este nosso apelo final que é um apelo sustentado
na verdade, na razão e na esperança.
Um apelo para que não deixem que as sua convicções
profundas passem para segundo plano e para que o seu voto não
passe dos que sempre estiveram com eles para os que querem os seus
votos mas não tencionam respeitá-los e antes tencionam
fazer a mesma política que tanto descontentamento semeou
e tanta revolta lhes causou no passado recente.
Um apelo para que, com o seu voto na CDU em 17 de Março,
continuem a honrar o seu passado de coerência e firmeza na
afirmação de valores de esquerda e honrar as suas
vidas marcadas por uma grande generosidade na defesa da causa da
liberdade, da democracia e da justiça social.
Um apelo para que não deixem que sejam outros a decidir
por eles e até a decidir contra os seus interesses e aspirações,
um apelo para que, depois de fechadas as urnas, possam dizer que,
não ficando em casa e votando CDU sem falta, fizeram tudo
o que estava ao seu alcance para que não triunfasse a demagogia
barata, o cinismo eleitoralista, uma política agressora dos
seus interesses e antes se exprimisse nas urnas um sobressalto de
inconformismo e uma forte exigência de mudança para
melhor.
Daqui alertamos para que hoje e amanhã, com a ajuda de sondagens
a querer encher as cabeças unicamente com o filme sobre quem
vai cortar a linha em primeiro lugar, vamos assistir a apelos ainda
mais dramatizados e pungentes à concentração
de votos de esquerda no PS supostamente para derrotar o PSD.
Mas a todos pedimos que reparem também no seguinte; nesta
campanha eleitoral, já se escreveram e disseram milhares
de palavras sobre os pretensos "candidatos a Primeiro Ministro,
mas ninguém até hoje foi capaz de dar o passo de dizer
que a CDU não fala verdade quando repetidamente lembra que
no domingo não vamos eleger nenhum Primeiro Ministro e que
só vamos eleger 230 deputados pelo método proporcional,
o quer dizer que há mais que duas opções em
jogo e que todos os portugueses podem tranquilamente eleger deputados
unicamente de acordo com as suas convicções e os ditames
da sua consciência.
Nesta campanha eleitoral o PS já soltou milhares de palavras,
mas a verdade é que não conseguiu soltar nenhumas
palavras que rebatessem ou demonstrassem a falta de fundamento da
nossa repetida afirmação de que os votos que a CDU
receber e os deputados que a CDU eleger serão sempre votos
e deputados que a direita não terá e portanto são
sempre votos e deputados que contribuem para que o PSD e o CDS-PP
continuem em minoria na AR, são sempre votos e deputados
disponíveis e certos para uma política de esquerda
e soluções políticas de esquerda.
O PS também não conseguiu até hoje soltar
nenhumas palavras que desmentissem a nossa repetida afirmação
de que deslocações de eleitores da CDU para o PS não
alterariam nem um milímetro, nem um grama, nem um cisco ao
resultado da direita que seria sempre o mesmo, mas em contrapartida
enfraqueceriam a CDU, dariam mais margem de manobra para a continuação
de uma política comprovadamente errada e injusta, deixaria
sem protecção os mais desfavorecidos e explorados,
tornaria ainda mais pantanosa e corrupta a vida política
portuguesa e mais dominada e subordinada ao poder e às ordens
dos senhores do dinheiro.
E finalmente, entre tantos milhares de palavras, o PS não
conseguiu até hoje desmentir a nossa repetida afirmação
de que o elemento decisivo e determinante da evolução
política depois de domingo não é saber quem
é o partido mais votado mas saber que tipo de maioria haverá
na AR, estando a esperança de uma viragem à esquerda
dependente não apenas da indispensável continuação
da direita em minoria mas também do reforço da CDU
face ao PS pois só isso pode dar a indicação
clara de que outro tem de ser o caminho, e outra - e diferente para
melhor -tem de ser a política do futuro governo.
A todos os que, tendo muitas e boas razões para votar CDU,
ainda não decidiram votar e votar CDU queremos dizer que
não esperem pela noite de domingo para descobrirem com tristeza
e amargura que o seu voto na CDU fez muita falta para impedir que,
no futuro, tenham de repetir as suas justas queixas e desgostos
com uma política que não responde às suas preocupações
e anseios; que o seu voto na CDU fez muita falta para impedir que,
logo no domingo à noite e nos dias seguintes, se comece a
ver o avanço brutal para a "política de aperto
de cinto" que PSD, PS e CDS-PP claramente anunciam e preparam;
que o seu voto na CDU fez muita falta para impedir essa injustiça
maior que seria premiar os que reconhecidamente não cumprem
em vez de premiar os que cumprem e trabalham.
A todos os que ainda não decidiram votar CDU queremos dizer
: no domingo, seja de manhã ou de tarde: não faltem
com o seu voto na CDU, o voto na esquerda que tem causas e valores,
na esquerda do trabalho no terreno e do esforço abnegado
sempre presente nas pequenas e grandes lutas, na esquerda que, pela
sua influência social e representação institucional,
pode projectar na cena política e nas grandes decisões
a força dos movimentos sociais, na esquerda que foi a principal
protagonista da luta por melhores salários e pelos direitos
dos trabalhadores, da luta pela reforma fiscal e por uma segurança
social de todos e para todos, da luta pelos direitos das mulheres
e da luta que completa agora 20 anos contra essa ignomínia
maior que é a injusta e degradante penalização
legal do aborto clandestino, da luta por uma política que
assegure aos jovens uma vida com futuro, da luta pela melhoria da
trágica situação de carência, pobreza
e abandono de muitos reformados, da luta pelo direita à saúde
e ao ensino e do combate ao desumano negocismo nas áreas
sociais, da luta por um novo rumo para a integração
europeia, da luta contra a guerra e a globalização
a favor dos poderosos, contra a injustiça e a miséria
no mundo e por um mundo de paz, justiça e desenvolvimento.
De hoje até ao próximo Domingo cumpre-nos prosseguir
o trabalho de esclarecimento de que o voto na CDU é o voto
que pode garantir, aos que ao fim de 16 anos de governos do PSD
e do PS se sentem justamente desencantados, que não se mude
para pior, que não fique tudo na mesma, e que se abre uma
janela de esperança de uma mudança de política
para melhor, pela esquerda, que respeite os seus interesses e aspirações;
Que o voto na CDU é um voto contra a resignação
e a desilusão, um voto para castigar os que pelas suas políticas
de direita têm levado muitos portugueses e portuguesas ao
desencanto;
Que o voto na CDU é o voto dos que querem romper com as
falsas opções que conduzirão a políticas
em muitos aspectos semelhantes, o voto dos que acreditam que não
são todos iguais, dos que não se conformam com as
injustiças e desigualdades.
E que, por tudo isto e muito mais, vale a pena votar CDU.
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