Intervenção de Carlos Carvalhas
no jantar do Dia Internacional da Mulher
Almada, 8 de Março, 2002
Estamos aqui reunidos neste jantar do 8 de Março - dia internacional
da Mulher - data maior de uma longa caminhada das mulheres pela
conquista, defesa e afirmação dos seus direitos, data
maior de um dos grandes combates civilizacionais que atravessou
todo o século XX e que hoje continua e se projecta para novos
avanços contra preconceitos e discriminações,
contra constrangimentos e condicionantes sociais, económicos,
políticos e culturais que ainda agora tanto prejudicam o
pleno reconhecimento e concretização na vida das justíssimas
aspirações de igualdade e emancipação.
Estamos aqui reunidos - mulheres e homens - neste momento de confraternização
e comemoração das grandes e pequenas batalhas travadas,
das grandes e pequenas vitórias alcançadas, das grandes
e pequenas conquistas adquiridas pelas mulheres na cidadania, nos
direitos sociais e económicos, na participação
e na cultura, na lei e na vida.
Estamos aqui neste momento, que é de homenagem às
mulheres e à sua luta pela intervenção em igualdade,
mas que é também de apoio à CDU - Coligação
Democrática Unitária. E daqui afirmamos que, como
nenhuma outra força política em Portugal, podemos
reivindicar-nos dum património de intervenção
e proposta, no passado e no presente, em defesa dos direitos das
mulheres.
E reafirmamos que, como nenhuma outra força política,
podemos dizer de cara descoberta, que o que fizemos no passado,
o que empenhadamente cumprimos honrando sempre os nossos compromissos
é a mais segura garantia de que no futuro cumpriremos escrupulosamente,
com firmeza e determinação os nossos compromissos
de hoje.
O 8 de Março não é para nós uma data
do calendário eleitoral 2002 porque as eleições
decorrem por estes dias. Nem tão pouco é uma data
para ostentar um sorriso descartável de caça ao voto,
ou para passear na lapela uma festa de circunstância e fazer
das mulheres um ornamento da campanha.
O 8 de Março é para o PCP e a CDU uma data importante
dum quotidiano de intervenção que celebramos todos
os anos nas mais diversas esferas da vida partidária, um
momento significativo neste percurso de luta e de construção,
nesta longa caminhada pela igualdade e emancipação
das mulheres, ela própria fundamental e essencial para a
emancipação da humanidade e construção
de um mundo melhor.
Nestas eleições as nossas listas reflectem também
o esforço feito para uma maior e crescente participação
das mulheres. Na realidade são listas que reflectem uma participação
de mulheres superior a 32%, ou seja cerca de 1/3 do total dos candidatos,
que traduz a assumida decisão de por iniciativa própria
e imperativo consciente atribuir o papel que às mulheres
cabe por direito próprio em todas as áreas da vida
e da intervenção na sociedade. Facto tão mais
valorizável quanto o número de mulheres em posição
de serem eleitas para a Assembleia, acompanha esta percentagem.
Ainda que com motivos de insatisfação quanto ao resultado
final, estamos seguros que esta participação de mulheres
será em si uma garantia adicional de que na CDU continuará
a encontrar-se o espaço mais sólido e coerente em
defesa dos direitos das mulheres, pela afirmação de
valores e de igualdade, de combate contra as discriminações.
Camaradas, amigas e amigos,
Em Portugal a igualdade de direitos para as mulheres está
consagrada na lei, mas, multiplicam-se as situações
de falta de realização de muitos desses direitos,
nomeadamente nas empresas em resultado directo das políticas
laborais e sociais que têm sido levadas à prática.
Em Portugal continuamos a ter também uma das legislações
mais restritivas da Europa em matéria de despenalização
da Interrupção Voluntária da Gravidez.
As posições assumidas nesta matéria pelo PP
e também por Durão Barroso são de grande hipocrisia
perante um problema grave de saúde pública, que afecta
milhares de portuguesas, sobretudo as que têm de recorrer
ao aborto clandestino muitas vezes em condições sanitárias
muito deficientes.
E o PS nestas eleições também não assumiu
qualquer compromisso que vise a despenalização da
Interrupção Voluntária da Gravidez em Portugal.
Pelo contrário mantém todas as ambiguidades.
Esta é uma questão que tem que ser olhada de frente.
A CDU não virará as costas a rste combate,
Caras amigas,
Nestes últimos anos foram criadas falsas expectativas quanto
à igualdade de direitos para as mulheres e sobre o verdadeiro
alcance das medidas e planos para a igualdade.
Mas a instabilidade das soluções institucionais e
governativas, a indefinição de muitas das medidas
propostas, inviabilizaram a concretização de avanços
significativos.
Mesmo as medidas de combate à violência doméstica,
tiveram junto das mulheres a que se destinavam, resultados limitados,
pela ausência de recursos adequados e foram muitas as contradições
e vacilações em matéria de generalização
do planeamento e da educação sexual nas escolas.
Por outro lado continuam a defender-se soluções no
domínio da conciliação da vida familiar e profissional
que resultam num retrocesso nos direitos laborais, permitindo a
tradicional divisão sexual de papeis no trabalho e a utilização
das novas gerações de trabalhadoras à mercê
das "necessidades do mercado".
Portugal é o país da União Europeia com a
maior taxa de actividade feminina, mas é também aquele
onde mais cresceu a discriminação salarial entre mulheres
e homens. Em Portugal as mulheres são 63% dos trabalhadores
que recebem o salário mínimo nacional, 60% dos trabalhadores
não qualificados e 52,25% dos trabalhadores com contrato
precário e são ainda discriminadas no salário,
27 contos inferior à média masculina.
São as mulheres as mais profundamente atingidas pelo encerramento
de empresas, a precariedade, os baixos salários e as dificuldades
de progressão na profissão e por novas formas de exploração
como o teletrabalho, o trabalho ao domicílio e à peça.
As empresas de aluguer de mão-de-obra atingem especialmente
as mulheres e são as mulheres as mais empurradas para a "economia
informal" e paralela sem direito à segurança
social, ou qualquer outra forma de protecção no trabalho,
na saúde e na reforma.
Mas esta situação bem como o emprego sem direitos,
o trabalho clandestino, à peça ou o incumprimento
geral da legislação não é uma fatalidade.
Como não é também uma fatalidade, a baixa
participação da mulher na vida política.
Há a questão das mentalidades, mas há também
a atitude dos partidos e sua pedagogia, persistência ou hipocrisia
e também a questão das políticas e nível
governamental que contribuem para a sua alteração.
Também a função social da maternidade-paternidade
tem vindo a ser crescentemente desvalorizada pelos constrangimentos
e penalizações que são exercidas sobre as trabalhadoras
no local de trabalho e pela insuficiência de respostas a desresponsabilização
do Estado na promoção de creches, infantários
e apoios a crianças com deficiência ou dificuldades
escolares.
As mulheres são as maiores vítimas das desigualdades
sociais potenciando discriminações a que tradicionalmente
estão sujeitas e colocando-as numa maior vulnerabilidade
às situações de pobreza e exclusão social.
É por isso mais que tempo de garantir às mulheres
portuguesas o exercício da igualdade em todos os domínios
da vida, o que exige, uma orientação política,
económica e cultural que vá nesse sentido, num projecto
dinâmico virado para a justiça social e o desenvolvimento
numa outra política alternativa, como a CDU defende e propõe.
E vale a pena aqui recordar algumas das leis da República
que nestes últimos anos foram importantes contributos para
a defesa dos direitos e de emancipação das mulheres
e que tiveram a luta, a proposta, a intervenção e
o voto dos partidos que integram a CDU.: a proibição
da discriminação salarial das jovens e dos jovens
no salário mínimo nacional; a garantia de direito
à igualdade de tratamento no trabalho e no emprego; a alteração
do regime jurídico dos contratos a prazo, combatendo a precariedade;
a protecção da maternidade-paternidade como função
social; o direito do pai assistir ao parto hospitalar; o direito
de acompanhar os filhos hospitalizados; o acesso ao planeamento
familiar e à educação sexual; as medidas de
apoio às mães e pais adolescentes; as medidas de protecção
da união de facto; a criação da rede pública
de casas de apoio às mulheres vítimas de violência;
os direitos das associações de mulheres; o acompanhamento
familiar de deficientes.
E vale também a pena recordar aqui outros importantes projectos
de lei do PCP que foram rejeitados pelos votos contra do PS, do
PSD e do CDS-PP sobre a interrupção voluntária
da gravidez, sobre o direito do acesso das mulheres à reforma
aos 62 anos, com liberdade de opção, sobre a alteração
do regime dos despedimentos colectivos, sobre a actualização
das pensões mais degradadas da função pública.
Na próxima legislatura bater-nos-emos por uma política
de emprego e formação profissional, contra a precariedade
e pela estabilidade de emprego, a elevação dos salários
e o combate às discriminações salariais e profissionais.
Defenderemos a implementação das leis sobre educação
sexual nas escolas, fornecendo aos jovens uma informação
adequada e responsável sobre sexualidade, o alargamento das
consultas de planeamento familiar com garantia do acesso em tempo
útil à contracepção de emergência
e gratuidade dos meios de planeamento familiar.
Defenderemos a despenalização da interrupção
voluntária da gravidez e uma maternidade livre e consciente.
Trabalharemos para que seja concretizada a cobertura eficaz de
assistência materno-infantil e de acompanhamento da grávida,
antes e depois do parto.
Defenderemos a aplicação da resolução
do Comité Olímpico Internacional para inclusão
de mulheres nas estruturas directivas do desporto, o apoio à
investigação científica na área do desporto
feminino e a generalização da actividade física
e desportiva das mulheres.
Continuaremos a lutar por medidas de protecção às
mulheres vítimas de violência e nomeadamente pela criação
de serviços de apoio e casas de abrigo, por programas de
acção contra o tráfico de mulheres, a prostituição
e a pornografia e por medidas de apoio às mulheres vítimas
de prostituição.
Caras amigas,
Como já alguém disse "as mulheres não
têm que exigir direitos porque são metade da humanidade,
mas sim porque são seres humanos de parte inteira" e
o voto na CDU é a mais sólida garantia de que se está
a dar força a quem na Assembleia da República dará
um firme combate às discriminações no trabalho,
na família, e na participação social e política
e se baterá por uma nova política que permita o exercício
dos direitos das mulheres consagrados na lei. (...)
Viva o 8 de Março!
Viva a CDU!
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