Declaração de Carlos Carvalhas
Secretário-geral do PCP,
Sobre os resultados eleitorais
Lisboa, 17 Março, 2002
Numa primeira apreciação aos resultados, salientamos
como um facto extremamente negativo a obtenção em
conjunto pelo PSD e pelo CDS-PP de uma maioria absoluta de deputados,
uma vez que representa uma evolução muito desfavorável
do quadro político nacional contra a qual a CDU se bateu
firmemente durante a campanha eleitoral.
Sublinhamos que tanto o resultado obtido pelo PSD como a maioria
parlamentar de direita que, pela soma dos deputados do PSD e do
CDS-PP, provavelmente se registará são inseparáveis
do fracasso da governação do PS que, traduzindo-se
numa frustação de esperanças que tinham sido
criadas em 1995, permitiu ao PSD, que tinha sido cúmplice
de eixos essenciais da política do PS, capitalizar o descontentamento
e a aspiração de mudança, que alíás
soube explorar a seu favor, na sequência da dinâmica
induzida pelos resultados das autárquicas.
Embora o primeiro plano das nossas preocupações se
situe na perspectiva de um perigoso agravamento da política
de direita que ameaçará um importante conjunto de
direitos sociais e interesses dos trabalhadores e do povo, é
entretanto de registar que o eleitorado recusou ao PSD e ao PS a
maioria absoluta que ambos pediram.
Com total clareza, assumimos o resultado obtido pela CDU como negativo
e distante dos objectivos porque lutámos e das reais necessidades
que, a nosso ver, se colocavam para favorecer uma mudança
para melhor na situação política nacional.
Entretanto, é necessário ter em conta as circunstâncias
claramente desfavoráveis em que enfrentámos estas
eleições, convocadas na sequência de eleições
locais que não tinham sido positivas para a CDU, e em que
avultam como elementos de grande peso uma permanente e intensa acção
de desvalorização da CDU e a pressão exercida
pelas mais diversas formas sobre os eleitores no sentido da "bipolarização"
e concentração de votos no PS e PSD, com uma amplitude
e características como raramente se terá verificado
desde o 25 de Abril.
Tudo indica que um segmento do eleitorado da CDU terá sido
permeável aos apelos para votar PS para impedir o regresso
da direita ao poder, apesar do esforço de esclarecimento
em que nos empenhámos no sentido de advertir que tais deslocações
de votos não alteravam em nada o resultado da direita (como
os resultados finais confirmam) e que os votos na CDU contribuíam
sempre para a derrota do PSD e do CDS-PP.
Saudamos o esforço e abnegação dos activistas
e candidatos da CDU ao longo desta campanha e a forma determinada
e corajosa como procuraram fazer frente às dificuldades que
se nos colocavam.
Num quadro em que sai seriamente comprometida a possibilidade de
se abrirem perspectivas de uma nova política para o país,
a CDU sublinha a sua disposição e empenhamento em
prosseguir a sua intervenção na Assembleia e fora
dela na defesa dos direitos e interesses populares e de constituir
a mais sólida e coerente voz capaz de dar combate á
política de direita e á sua nova ofensiva contra os
salários, direitos e conquistas sociais.
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