IV
O PCP em defesa do sistema público
1. Tendo o PCP sempre feito tantas críticas
aos sucessivos governos, em matéria de Segurança Social,
mantém a defesa do sistema público?
As críticas que o PCP tem feito decorrem das distorções
que têm sido desenvolvidas pelos sucessivos governos, que
não têm dado cumprimento integral aos direitos e garantias
consagrados no Sistema Público de Segurança Social.
É verdade que a utilização dos recursos da
Segurança Social por sucessivos governos ao serviço
de interesses estranhos à protecção social
dos seus beneficiários/as, debilitou a capacidade de resposta
do sistema às necessidades sociais e enfraqueceu, objectivamente,
as suas garantias.
Por exemplo, a redução dos benefícios da Segurança
Social, levada a cabo pelo Governo do PSD, em 1993, nomeadamente
através:
- da alteração de 2,2% para 2% do coeficiente anual
de formação da pensão;
- da elevação de 36 para 40 anos de vida contributiva
para se receber o máximo de reforma;
- da elevação de 62 para 65 anos de idade de reforma
para as mulheres.
Tudo isto concretizou um flagrante desrespeito pelo princípio
dos direitos adquiridos e em formação.
É certo que os valores de muitas das prestações
pagas actualmente pela Segurança Social ainda são
muito baixos e insuficientes para garantir, aos que delas necessitam,
uma vida com o mínimo de dignidade. A gravosidade dessa situação
não está desligada da permissividade dos sucessivos
governos (do PSD e do PS) quanto à acumulação
de dívidas à Segurança Social pelas empresas,
nem à utilização das receitas do sistema contributivo
para pagar despesas do sistema não contributivo, o que leva
a uma dívida do Estado à Segurança Social em
mais de 2 milhões de contos.
Muitos outros exemplos poderiam ser dados. Contudo, é na
defesa e consolidação do sistema público que
se asseguram direitos e garantias de protecção social
de todos os cidadãos.
2. Quais são as principais propostas do
PCP relativamente à Segurança Social?
O PCP sempre assumiu uma intervenção política
e institucional pela defesa, reforço e aperfeiçoamento
do Sistema Público de Segurança Social como um direito
social fundamental.
O PCP defende e luta por um forte Sistema Público de Segurança
Social, assente:
- num adequado financiamento e na boa gestão dos seus recursos,
com a recusa do plafonamento dos descontos e contribuições
e defendendo uma gestão pública cuidadosa e criteriosa
do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança
Social;
- na garantia de uma segurança social para todos;
- na melhoria significativa das prestações sociais.
O Programa eleitoral do PCP à Assembleia da República
2002 contém um conjunto vasto de compromissos nestes domínios
e que consubstancia as nossas posições em matéria
de Segurança Social.
3. Que medidas defende o PCP para a consolidação
da sustentabilidade financeira do sistema?
O PCP desde há muito tempo que defende, neste âmbito,
três medidas essenciais:
- a necessidade de se diversificarem as fontes de financiamento
- que a Lei de Bases consagrou;
- a garantia de que o Estado cumprirá as transferências
que lhe competem no financiamento do sistema;
- a liquidação das dívidas existentes.
Tais medidas são determinantes para assegurarem o reforço
da sustentabilidade do sistema e garantir o seu usufruto pelos actuais
e futuros beneficiários.
No Programa eleitoral do PCP constam outras importantes medidas,
de que se salientam:
- desagregar as receitas e despesas por regimes e subregimes
com aplicação a partir do Orçamento para
2003;
- assegurar o financiamento pelo Orçamento de Estado dos
regimes não ou pouco contributivos e da acção
social;
- estabelecer, na lei, a regulação e diversificação
das fontes financeiras e a sua adequação à
natureza das despesas;
- estabelecimento de um Plano pluri-anual de pagamento da dívida
do Estado e do patronato ao regime geral dos trabalhadores por
conta de outrem;
- consagrar o princípio de que todas as medidas das quais
resultam novos encargos ou redução de receita devem,
expressamente, prever o seu modo de financiamento ou de compensação;
- reforçar e diversificar a estrutura de financiamento,
afectando ao sistema público uma percentagem de uma taxa
a incidir sobre as transacções financeiras realizadas
na Bolsa de Valores;
- criar um sistema misto de cálculo das contribuições
das empresas para a Segurança Social, com base não
apenas na massa salarial, mas também determinada com base
no seu valor acrescentado bruto.
4. Que medidas podem contribuir para assegurar
uma segurança social para todos?
O PCP defende e luta pela melhoria da qualidade de emprego e pela
aproximação dos salários aos valores praticados
noutros países da União Europeia, como factores determinantes
para uma melhor protecção social para todos/as os
portugueses/as, na convicção de que salários
mais elevados determinam reformas e benefícios também
mais elevados.
O PCP defende, igualmente, um conjunto de outras medidas, em que
se destaca:
- a garantia de inscrição, o mais cedo possível,
dos jovens trabalhadores e dos trabalhadores em geral na Segurança
Social;
- a reposição da idade de reforma das mulheres
aos 62 anos;
- uma adequada política social para os portadores de deficiência
e outros grupos mais vulneráveis, no âmbito de benefícios
integrados de prestações pecuniárias e de
serviços disponíveis do Sistema de Solidariedade
e Segurança Social, em articulação com outros
sistemas (saúde, ensino, emprego e outros);
- a melhoria do complemento de dependência;
- o aumento do subsídio familiar com discriminação
positiva para as famílias de mais baixos rendimentos.
5. Quais são as medidas que podem contribuir
para melhorar significativamente as prestações sociais,
designadamente as pensões e reformas?
Em primeiro lugar, é essencial e determinante que seja assegurada
uma evolução anual dos rendimentos mínimos
(salários e pensões), num valor que corresponda à
taxa de inflação acrescida de três pontos percentuais.
No início da actual legislatura, o PCP apresentou uma proposta
de aumento do salário mínimo nacional, de modo a atingir,
pelo menos, 91.450$00 até final da legislatura.
O PCP propõe o seguinte para as pensões mínimas
do regime geral:
- para beneficiários até 15 anos de contribuições,
a fixação em 64% do salário mínimo
nacional que permita, no final da legislatura, atingir um valor
superior a 52.100$00;
- para beneficiários com mais de 15 anos de contribuições
propõe-se um aumento anual que permita atingir, no final
da legislatura, valores situados entre os 52.900$$ para carreiras
contributivas de 15 anos e os 81.400$00 para carreiras contributivas
de 40 ou mais anos.
O PCP propõe também:
- a fixação da pensão social em 47% do salário
mínimo nacional, que permita atingir um valor superior
a 38.200$00 no final da legislatura;
- a fixação em 56% do salário mínimo
nacional, atingindo, até ao final da legislatura, um valor
superior a 45.500$00 para a pensão social dos trabalhadores
agrícolas.
6. Que novas propostas legislativas foram apresentadas
pelo PCP na Assembleia da República?
O PCP, coerente com as suas propostas no decurso da última
campanha eleitoral, apresentou, recentemente, na Assembleia da República,
um conjunto de projectos de lei que passamos a enumerar:
1. Combate à evasão e fraude de contribuições
ao regime da segurança social – com esta
medida pretende-se evitar a perda de receitas avaliadas em mais
de dois mil e quinhentos milhões de euros por ano, devido
ao incumprimento da lei, por parte do patronato.
2. Financiamento da segurança social
- com esta medida pretende-se, de uma forma faseada e sustentada
e apenas aplicável às empresas com proveitos superiores
a 30 mil contos ano (cerca de 150 mil euros), que as contribuições
do patronato passem a ser pagas em função do valor
acrescentado bruto e não sobre os salários evitando,
assim, penalizar a criação de emprego.
3. Correcção do subfinanciamento da segurança
social - com esta medida pretende-se que o Estado cumpra
a lei e que garanta o pagamento da sua dívida à
Segurança Social, avaliada em cerca de mil e novecentos
milhões de contos (nove mil e quinhentos milhões
de euros). Tal pagamento, a ser efectuado em 30 anos, iniciar-se-á
a partir do primeiro Orçamento do Estado em que se registar
excedentes.
4. Actualização do subsídio familiar
a crianças e jovens (abono de família)
– com esta medida pretende-se minimizar os baixos valores
das prestações sociais existentes no nosso País,
beneficiando as famílias e abarcando cerca de um milhão
e setecentas mil crianças e jovens. A estrutura deste subsídio
está feita de forma a beneficiar as famílias com
menores rendimentos e as famílias com maior número
de filhos.
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