No repetido exercício de afirmar um direito para depois o condicionar à decisão última e ao poder do patronato, o pacote laboral começa por afirmar que o período normal de trabalho não pode exceder 8 horas por dia nem 40 horas por semana (art.º 155).

Mas de imediato, no artigo seguinte (156), sugere que por instrumento de regulamentação colectiva possa ser definido, em termos médios, até ao limite se 12 horas diárias e 60 semanais. Mas conclui-se que quando não exista acordo entre os representantes dos trabalhadores e as entidades patronais, ao fim de 6 meses, pode o patrão definir unilateralmente a organização e a gestão do horário de trabalho, que definido, pode ir até 10 horas por dia e 50 horas por semana.

Segundo a proposta, o horário médio (art.º 158), em vez de ser 8 horas diárias e 40 semanais passará a ser definido pelo período de 4 meses, podendo ser alargado a 6 meses, nas seguintes situações e actividades: quadros dirigentes ou trabalhadores com poder de decisão autónoma, havendo um afastamento entre o local de trabalho e o local de residência, nas actividades de guarda e vigilância, na saúde, portos, aeroportos, imprensa, rádio, televisão, correios, telecomunicações, gás, água, electricidade, eixos industriais em que a produção não pode ser interrompida, transportes rodoviários e ferroviários, serviços postais, em caso fortuito e de força maior (o patrão é que define), ou por acidente ou risco de acidente eminente. Para precisar melhor: um trabalhador hoje sabe que trabalha 8 horas por dia e 40 horas por semana, com respeito do descanso ao Sábado e Domingo. Assim, com o horário médio definido pelo patrão, em 4 ou 6 meses este organiza e gere arbitrariamente quantas horas e em que dias o trabalhador tem de trabalhar.

O poder arbitrário da entidade patronal e a subjectividade de algumas definições conduziria ao objectivo de, nalguns casos, nem sequer pagar a singelo o que teria que ser pago como trabalho extraordinário, de desarranjar a vida profissional, pessoal, familiar e social do trabalhador, que deixaria de saber a que horas iriam largar o trabalho, se teriam ou não descanso semanal nos dias até aqui fixados. Para aumentar a produtividade? Não! Para aumentar a exploração e o lucro!