ATAQUE AOS TRABALHADORES
DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Para o actual Governo, a receita que pôs em prática
para tratar dos males da Administração Pública
consiste em despedir milhares de trabalhadores com vínculo
precário que satisfazem necessidades permanentes dos
Serviços, criar quadros de supranumerários/disponíveis,
onde pode colocar todo e qualquer funcionário do quadro
numa situação de inactividade com redução
de vencimentos, congelar de forma cega admissões e
promoções e fazer proliferar os contratos individuais
de trabalho, colocando os trabalhadores sob a ameaça
do cutelo do Código Laboral de Bagão Félix.
Ou seja, a criação da instabilidade generalizada
no emprego é a receita milagrosa do Governo para os
problemas dos Serviços públicos.
As consequências nefastas dessa opção
saltam já á vista.
Na área da Inspecção Económica
o número de efectivos é já tão
escasso que o controle do vinho a martelo ou do azeite falsificado
não é efectuado.
Na área do Ensino há escolas com 230 alunos
e apenas dois funcionários e cerca de 30 mil professores
estão no desemprego.
Na área da Saúde escasseiam os médicos
de clínica geral, os enfermeiros, o pessoal administrativo
e auxiliar, diminuindo-se a capacidade de resposta em termos
de quantidade e qualidade dos serviços prestados à
população.
Ainda recentemente, no início do Verão, a Câmara
Municipal de Sintra teve de destacar trabalhadores seus para
a repartição de finanças, com o objectivo
de apoiar a cobrança de impostos há muito atrasados.
Na Administração Fiscal, por escassez de meios
humanos e insuficiência e desadequação
de meios técnicos, aumenta o número de processos
que prescrevem com as consequentes repercussões na
quebra da receita fiscal e campeia a impunidade, por falta
de fiscalização, relativamente à fuga
ao fisco.
Na Segurança Social entregou-se o registo de contribuições
a empresas privadas, o que conduziu a atrasos que chegaram
a um ano na atribuição de reformas e à
inexistência de registos de descontos para o atempado
pagamento de subsídios de doença e de desemprego.
No Ambiente não existem efectivos para a recolha de
amostras que assegurem o controle da qualidade da água
em conformidade com os padrões exigidos pelas convenções
internacionais.
No Instituto de Medicina Legal, os efectivos são menos
de metade dos necessários para que houvesse uma resposta
eficaz e atempada em termos de serviço.
Os guardas florestais são menos de metade dos previstos
para a protecção da floresta, a fiscalização
da caça e a vigilância aos incêndios. Mais
de metade das torres de vigilância passaram a época
de fogos sem funcionar por falta de pessoal.
A certificação e aferição dos
mais diversos instrumentos de medida não é efectuada
pelo Instituto Português de Qualidade na sequência
do despedimento de técnicos contratados.
No Instituto de Reinserção Social, responsável
pelo acompanhamento de jovens em situação de
risco, o director apresentou a demissão por verificar
que o despedimento dos trabalhadores inviabilizou as condições
de funcionamento mínimo dos serviços.
Estes são alguns dos muitos exemplos da situação
existente por toda a Administração Pública
e cujas consequências gravosas para toda a população
se afiguram mais do que evidentes.
As consequências do ataque ao emprego na Administração
Pública e a política privatizadora em áreas
fundamentais como a saúde, o ensino, a segurança
social, o ambiente, a recolha e tratamento de resíduos,
o abastecimento de água, entre outras, colocam nas
mãos dos grandes grupos económicos, nacionais
e estrangeiros, núcleos fundamentais do aparelho de
Estado, conduzem ao desvirtuamento do seu modelo constitucional,
sendo que a lógica do lucro se sobrepõe à
função social, acarretando a degradação
da qualidade dos serviços e o seu encarecimento para
os utentes (quer por via indirecta, através da afectação
de receitas do O.E., quer directa, através do aumento
de preços e taxas).
A dramatização governamental do crescimento
da despesa utilizada para atacar os trabalhadores da Administração
Pública e os serviços públicos escamoteia
os crescentes gastos com outsourcings, parcerias e concessões
pagas aos grupos económicos privados que se vão
substituindo aos serviços públicos.
E, entretanto, das medidas tomadas para resolver a pretensa
crise, pouco ou nada se vislumbra que venha no sentido de
serem retiradas mordomias e chorudos salários a administradores
e gestores públicos, ou de os responsabilizar por erros
de gestão, antes se assistindo a uma autêntica
troca de cadeiras.
Um dos argumentos pretensamente utilizados pelo Governo PSD/PP
para atacar um dos pilares do Estado Democrático, o
Poder Local, é o de ser responsável pelo desmesurado
aumento da dívida pública, em virtude de um
alegado excessivo endividamento.
Omite-se, porém, sem que se identifiquem eventuais
abusos, que a Administração Local é responsável
apenas por 2% da dívida pública, recebendo 10%
das receitas do O.E. mas assegurando 41.2% do investimento
público que, em grande parte, garante necessidades
essenciais das populações em termos de qualidade
de vida, como seja a higiene urbana ou o abastecimento de
água às populações.
Também o congelamento pura e simples da capacidade
de endividamento das autarquias acaba por se revelar como
uma medida que simplesmente colocará em causa milhares
de postos de trabalho e criará condições
para futuros processos privatizadores.
O estrangulamento da capacidade de investimento do Poder
Local, fomenta a privatização e é acompanhada
na Administração Central pela alteração
orgânica do Instituto dos Mercados de Obras Públicas
e Particulares e do Imobiliário onde os grupos de construtores
e empreiteiros passarão a ter assento directo na definição
da política de empreitadas, no licenciamento e na fiscalização
da sua própria actividade.
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