PACOTE LABORAL.
UMA AMEAÇA QUE PODE SER VENCIDA PELA LUTA.
O PCP, ancorado no seu indeclinável objectivo
da defesa dos interesses e direitos dos trabalhadores e das
conquistas sociais, participará na batalha do esclarecimento,
da mobilização e da luta com a convicção
e a confiança de que esse será o caminho mais
sólido e seguro para barrar e derrotar este pacote
laboral do Governo do PSD-CDS/PP.
Partindo da ideia de necessidade de “sistematização
e codificação” da legislação
do trabalho, numa floresta de 687 normas alteradas, o que
se pretende de facto é um processo de alterações
de fundo que conduziriam à descaracterização
e esvaziamento do Direito do Trabalho, Direito que andou sempre
a par do progresso e dos avanços civilizacionais da
sociedade humana, a exemplo do que aconteceu no nosso País
com a vitória da Democracia em 25 de Abril e com a
aprovação da Constituição da República.
O Governo quer:
- Facilitar os despedimentos, alargando as causas para
despedimento e abrindo a possibilidade de não integração
do trabalhador despedido sem justa causa.
- Desregulamentar o horário de trabalho, admitindo
horários que podem ir até às 10 horas
por dia e às 50 horas por semana, permitindo que
as horas extraordinárias deixem de ser pagas como
tal.
- Diminuir o tempo de trabalho nocturno pago, passando
a sua classificação como tal apenas a partir
das 23 horas, quando hoje é a partir das 20 horas.
- Alterar o conceito de retribuição para
cálculo das prestações complementares
e acessórias, afectando negativamente o cálculo
de vários subsídios e prestações.
- Transformar a precariedade em regra pela via dos contratos
a prazo.
- Alargar a mobilidade funcional e geográfica para
que o trabalhador seja pau para toda a obra.
- Atacar os contratos e convenções colectivas
de trabalho, procurando eliminar tudo o que de positivo
foi conquistado em matéria de direitos nas ultimas
décadas.
- Punir as Comissões de Trabalhadores, reduzindo-lhes
direitos (crédito de horas) e procurando confundir
o seu papel com o do Movimento Sindical.
- Introduzir a arbitragem obrigatória na contratação
colectiva, repondo mecanismos que existiam antes do 25 de
Abril.
- Atacar o direito à greve e penalizar os trabalhadores
e os sindicatos.
- Mudar o dia dos feriados obrigatórios.
- Manipular o direito às férias.
- Agravar as sanções pecuniárias e
enganar os trabalhadores sobre o pagamento do trabalho extraordinário.
- Ingerir-se no direito à privacidade dos trabalhadores
Numa concepção retrógrada e reaccionária,
o pacote laboral procura ressuscitar o princípio vigente
no século XIX de que se está perante duas partes,
trabalhador-patrão, em igualdade de circunstâncias
e tenta tratar os trabalhadores e os direitos do trabalho
como meros instrumentos económicos sempre, e em última
análise, sujeitos aos sacrossantos interesses dos detentores
das empresas e dos seus lucros.
Quando na discussão e aprovação da Lei
Fundamental do país os constituintes foram confrontados
com o dilema de quem apenas vive da sua força de trabalho
e os que detêm o poder económico, ficou consagrado
no capítulo mais elevado da Constituição
(Direitos, Liberdades e Garantias) que os direitos dos trabalhadores
não só têm prevalência sobre os
direitos económicos como são elemento estruturante
do desenvolvimento do país. A direita e a extrema-direita
parlamentar perderam essa batalha.
Hoje no Governo, o PSD e CDS/PP querem fazer um ajuste de
contas com a história mas, acima de tudo, com os direitos
conquistados pelos trabalhadores, dando voz e proveito ao
dono.
Ciclicamente, à medida que o grande patronato foi
recuperando o poder perdido com a Revolução
de Abril, os trabalhadores portugueses foram sendo confrontados
com tentativas de destruição ou desregulamentação
dos direitos que conquistaram devido à acção
concertada entre os governos e o capital, uns por via legislativa,
outros nas empresas, pela via da violação e
não efectivação dos direitos.
Os pacotes laborais, geralmente antecedidos pelo ataque aos
direitos e aos salários dos trabalhadores da Administração
Pública, constituíram sempre um elemento intrínseco
às políticas de direita, tendo como base material
e inspiração doutrinária e ideológica
as exigências do capital nacional e multinacional.
Foram muitas as lutas travadas pelos trabalhadores para barrar
e por vezes derrotar os sucessivos pacotes laborais da “AD”,
PSD e PS. Mas porque o capital, pela sua natureza exploradora
e desejo insaciável de lucro, nunca se conformou nem
conforma com as conquistas históricas e consagração
do Direito do Trabalho, arrancadas a pulso por várias
gerações de trabalhadores, voltaram à
carga.
Com a formação e entrada em actividade do Governo
PSD-CDS/PP, as suas grandes prioridades foram o ataque ao
sistema público de Segurança Social e à
legislação laboral.
O grande patronato e as suas associações já
não precisaram de se constituir em grupo de pressão
junto do Governo. Estão lá!
De imediato, Bagão Félix, com a benção
do Governo, aliou a sua concepção retrógrada
de transformar o direito à Segurança Social
no princípio da esmola do Estado, com a entrega às
seguradoras das verbas que decorrem dos descontos dos trabalhadores
e das empresas.
Simultaneamente, o Governo avançou com um denominado
“Projecto de Código de Trabalho” em que
de uma ponta à outra visa rever, alterar e desfigurar
todo o ordenamento jurídico-laboral com uma doutrina
e conteúdo de enorme gravidade. Retrógrado pela
filosofia que o enforma. Inaceitável pelos objectivos
que se propõe.
Após a vitória eleitoral da direita, algumas
associações patronais e “testas de ferro”
do grande capital nacional e multinacional vieram a público
dizer o que queriam. O presidente da CIP, no quadro das exigências
de alteração radical às leis do trabalho,
defendeu de forma lapidar: “a competitividade das empresas
está antes do bem estar das pessoas”. Um “testa
de ferro” da associação das multinacionais
alemãs a operarem no país veio a público
fazer chantagem, exigindo a alteração da legislação
laboral como condição para não deslocalizarem
as empresas. Sectores do patronato tentam no terreno, mesmo
antes da sua aprovação, “experimentar”
algumas medidas projectadas no pacote laboral.
Os mais espertos vêm agora proclamar que isto é
pouco para conseguir muito.
O Governo, pela voz do Secretário de Estado do Trabalho,
informa que a celeridade e feitura da sua proposta foram possíveis
pelo trabalho de advogados (dos grandes patrões, nos
processos de negociação da contratação
colectiva) e empresários.
A obra aí está!
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