 

Intervenção de Abertura
Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política
Camaradas
Chegamos a esta Conferência da forma que a concebemos
e desejámos : Culminando um largo debate no Partido, procurando
no envolvimento de cada um dos seus membros a contribuição
e a reflexão necessária para encontrar as respostas
que melhor permitam ao Partido responder aos múltiplos problemas
que o país enfrenta, assumir as suas responsabilidades na
luta e oposição à política de direita
do novo Governo, reforçar o Partido, a sua organização
e intervenção política.
Não com a ilusão de que ela por si só
dê resposta a muitas inquietações, interrogações
e dificuldades que os comunistas e o seu Partido têm pela
frente. Mas com a segura convicção de que o debate
e as conclusões que nesta conferência aprovarmos e
o comprometimento e responsabilização de todo o Partido
na sua posterior concretização são uma importante
contribuição para enfrentarmos com confiança
e determinação as tarefas que temos por diante.
Um debate onde todos os militantes encontraram espaço
para partilhar as suas opiniões e reflexão, expresso
na participação em centenas de reuniões e plenários
e nas muitas propostas de alteração ao documento que
dele resultaram e que encontram forma no projecto de resolução
posto hoje à consideração dos delegados. Sobre
essas propostas, o seu sentido geral e conteúdo está
apresentada uma informação mais circunstanciado pela
Comissão de Redacção.
Algumas palavras entretanto sobre esta matéria.
A primeira, para sobre a natureza do projecto de resolução
presente a debate no trabalho preparatório da Conferência,
sublinhar que se trata de um documento destinado, não a reproduzir
um conjunto mais alargado de orientações e avaliações
objecto de discussão e aprovação nos trabalhos
do XVI Congresso, mas sim a seleccionar um conjunto de temas que
correspondem a preocupações mais vivas no Partido,
a novos elementos resultantes da evolução da situação
política e a definir linhas e direcções de
trabalho que nos vinculem mais concentradamente na acção
política e nas tarefas a que o Partido deve dar resposta
no futuro mais imediato.
Uma segunda para sublinhar que, sem prejuízo
do acordo que em geral o documento recolheu no debate nas organização,
as muitas propostas e sugestões que sobre ele foram produzidas
se traduzem numa valiosa contribuição, que para além
do esforço feito para ter tradução no novo
texto sujeito à consideração dos delegados,
se procurará incorporar na reflexão e acção
geral do Partido e em outros momentos já calendarizados de
debate sobre áreas e matérias especificas.
Uma última observação para salientar
que a conferência e o debate preparatório confirmaram
pela viva participação nos seus trabalhos a vontade
e empenhamento do colectivo partidário em responder ás
muitas questões que se colocam ao Partido, à sua intervenção
e à sua luta.
Um debate que, com toda a naturalidade, a par de uma
manifesta coincidência de pontos de vista em muitas matérias
e preocupações centrais, expressou também compreensíveis
interrogações face a novos problemas e realidades,
ângulos de observação e abordagem diversos sobre
diferentes questões e diversas propostas e soluções
para melhor lhes responder.
Está patente no debate a preocupação
sobre os problemas de organização, a necessidade de
uma maior ligação das organizações aos
problemas, a nossa acção e influência junto
dos trabalhadores e de outras camadas, as questões da comunicação
e informação do Partido, os problemas decorrentes
do papel da comunicação social, a preocupação
com a perda de influência eleitoral, as alterações
sócio-económicas e a necessidade de aprofundar a sua
avaliação e repercussões, o peso de factores
da situação internacional e o seu agravamento em desfavor
da luta dos trabalhadores e dos povos, a evolução
política nacional, a acentuação da ofensiva
da direita e o papel da luta de massas para lhe resistir.
Questões e problemas que, pela apresentação
de propostas, textos de reflexão ou meras referências
em reuniões constituem uma importante contribuição
sobre as principais questões que a Conferência e o
seu principal objectivo colocou em debate.
Não é possível entretanto iludir
que o debate foi atravessado por uma manifesta inquietação
sobre questões da vida e da situação partidária,
designadamente a preocupação presente em muitas reuniões
e camaradas sobre a reiterada violação por alguns
membros do Partido pelas normas de funcionamento consagradas estatutariamente
e, ainda que com menor relevância, a tentativa de desvalorização
da Conferência.
Matérias sobre as quais a Direcção
do Partido na assunção plena das suas responsabilidades,
tornou patente a sua posição quer pelas clarificações
e várias chamadas de atenção, quer pela reiterada
afirmação expressa na proposta de resolução
sobre a indispensabilidade de serem repostos na vida do partido
o respeito pelas regras e funcionamento que a todos voluntariamente
une e obriga.
Camaradas
Pode-se afirmar que o desenvolvimento da situação
política nacional, a formação do novo Governo
e as primeiras semanas da sua acção vieram confirmar
o significado e a importância da nossa Conferência.
Uma situação que confirma, no novo quadro
político criado com a obtenção de uma maioria
parlamentar dos partidos de direita e a formação de
um governo de coligação PSD/PP, desenvolvimentos preocupantes,
para os quais o PCP prevenira e alertara, da política do
novo governo e de acentuação dos traços mais
negativos da política de direita herdados de anteriores políticas
e governos. A ofensiva do Governo contra a segurança social,
o ataque aos direitos dos trabalhadores e ao seu poder de compra,
o ataque ao serviço público de televisão a
par do favorecimento dos grandes grupos económicos, a protecção
à especulação bolsista, as privatizações
estão aí para provar a natureza de classe da política
em curso, as graves consequências para o nível de vida
e direitos de largas camadas da população e a imperiosa
necessidade de lhe fazer frente.
Uma situação e quadro político
que confirmam a importância e significado de inscrever nos
objectivos da nossa Conferência as tarefas para o reforço
da intervenção e influência do partido.
Na verdade, a nova situação política
torna mais aguda a consciência do papel a que o PCP será
chamado para fazer frente a uma política que não disfarça
o objectivo de fazer pagar aos mesmos o preço das suas políticas
restritivas e de ameaçar e destruir importantes direitos
e conquistas sociais;
Uma situação que torna mais aguda a
consciência de que o actual quadro político exige e
reclama ainda mais a acção combativa do PCP quer pelo
desenvolvimento da luta de massas, na defesa dos direitos dos trabalhadores
e de todas as camadas atingidas pela política do actual governo,
quer pela sua intervenção parlamentar;
Uma nova situação que torna mais aguda
a consciência de que é no PCP que se encontrará
a força que com coerência e determinação
está em condições de se opor a esta política,
de lhe resistir e fazer frente, conhecidas que são as hesitações,
comprometimentos e convergências do Partido Socialista com
opções e medidas políticas que o novo governo
assumirá ( e dos quais a sua posição sobre
a tributação das mais valias e os aumentos e actualização
das reformas e salário mínimo nacional são
primeiro testemunho);
Um novo quadro político que torna ainda mais
viva a consciência de que é no reforço da influência
política do PCP que reside a condição maior
e indispensável para criar as condições para
vir a impor a derrota da política de direita e assegurar
a construção de uma alternativa política para
Portugal.
A resposta e acção política do
Partido face à ofensiva política do Governo, num quadro
em que em simultâneo decorria o debate preparatório
da Conferência, testemunha a importância e o papel insubstituível
que desempenha na resistência e oposição a esta
política e na luta por melhores condições de
vida. Foi pela iniciativa do PCP e das acções de esclarecimento
lançadas nas últimas semanas que ganhou expressão
a denúncia e o protesto sobre o aumento dos impostos e o
corte do crédito bonificado para aquisição
de habitação própria; Foi pela mão do
Grupo Parlamentar do PCP que foram levadas à Assembleia da
República as propostas sobre o aumento intercalar das reformas
e a actualização do salário mínimo dando
concretização a compromissos assumidos; e é
também com a presença e empenhamento de milhares de
comunistas que a luta cresce e se desenvolve de Norte a Sul do país,
lutas que ganharam particular expressão na acção
da Administração Pública realizada no passado
dia 7 e no Dia Nacional de Luta da passada quinta-feira convocada
pela CGTP-IN e que daqui vivamente queremos saudar.
Camaradas
No projecto de resolução estão
inscritos como objectivos um conjunto de medidas e tarefas com vista
ao reforço da organização do Partido, da sua
intervenção e influência. São objectivos
indissociáveis. Não só o reforço da
organização é condição primeira
para uma maior acção e intervenção política
do Partido e para uma mais sólida ligação aos
problemas e ao meio onde as organizações intervêm,
como é no reforço da intervenção política
e acção própria das organizações
que reside a condição essencial para o reforço
da influência social e política do Partido e as melhores
condições para se traduzir em influência eleitoral.
A organização do Partido é o
instrumento fundamental de ligação às massas,
aos trabalhadores e às populações. E é
nessa ligação às massas que reside a nossa
capacidade de influencia política e social. Sem uma organização
forte, actuante e com iniciativa não há influência
política e social que se amplie e consolide. É a organização
que dá força material às nossas ideias, propostas
e objectivos. Para nós comunistas a organização
é inseparável da natureza e dos objectivos de luta
e transformação social e do projecto político
do PCP.
Reforçar a organização e a participação
dos militantes, alargar e fortalecer a iniciativa e intervenção
das organizações do Partido, definir as linhas prioritárias
de acção política das organizações
é, não só importante, como decisivo. Decisivo
para o desenvolvimento da luta de massas, para o fortalecimento
da acção de resistência à política
de direita, para enfrentar com êxito as batalhas políticas
do presente e do futuro.
Assumem por isso uma particular importância
o conjunto de propostas inscritas no projecto de resolução
com vista ao reforço da organização entendidas
e concebidas não como um elenco disperso de linhas de trabalho
mas como um movimento geral do trabalho de organização
que revele pelos seus resultados ser possível um PCP mais
forte. Um conjunto de medidas que contribua para uma melhor ligação
aos membros do Partido, para a elevação do nível
de militância, para uma mais regular vida e funcionamento
de cada uma das organizações, para a indispensável
necessidade de responsabilizar novos quadros, para aproveitar todas
as possibilidades de trazer novos militantes ao Partido.
Um reforço da organização que
se deve traduzir em mais iniciativa e acção política
do partido e de cada uma das suas organizações. A
proposta de lançamento de uma linha diversificada de iniciativas
e acções sob a ideia «Em movimento um Portugal
com futuro», desenvolvida em algumas campanhas e iniciativas
especificas adiantadas na proposta de resolução posta
à consideração da Conferência, mas possíveis
de abrir campo a outras acções no âmbito de
cada organização, tem em vista assegurar uma intervenção
do conjunto do Partido e a sua afirmação na sociedade
portuguesa, responder a problemas concretos que a situação
política reclama e afirmar que os problemas com que o povo
e o país se confrontam podem ter solução, que
é possível um país mais desenvolvido e justo.
A Conferência constituiu até agora em
toda a sua fase preparatória um momento de mobilização
do Partido e de apelo à inserção no debate
no Partido da contribuição de cada um dos seus membros
para procurar encontrar e definir as orientações que
melhor nos permitam enfrentar as muitas e exigentes tarefas e batalhas
políticas que temos por diante.
Aqui estamos nesta Conferência com a firme
determinação de procurar vencer dificuldades e ultrapassar
insuficiências. Sem a ilusão de vir a obter resultados
fáceis para problemas complexos e num tempo que sabemos não
cheio de dificuldades para os que trabalham e lutam por uma sociedade
mais justa.
Mas com a convicção de quem se determina
na sua acção e objectivos políticos não
por critérios de facilidade ou possibilidade mas sim de justeza
e necessidade.
A Conferência e os delegados que a constituem
vão ser chamados a culminar o debate e a adoptar as decisões
que respondam às muitas e exigentes tarefas e batalhas políticas
que nos esperam.
Um debate que, a exemplo do que no essencial caracterizou
toda a fase preparatória, desejamos que decorra com a elevação,
com a serenidade e com o natural respeito pela opinião de
todos e de cada um que fazem parte do património comum de
que os comunistas e o seu partido se orgulham e de que esta nossa
Conferência certamente dará renovado testemunho perante
o país.
Os trabalhos desta Conferência e as conclusões
que dela viermos a retirar são a melhor e mais significativa
expressão de um Partido que quer continuar a decidir sobre
o que fazer e o que ser, não em função de conselhos
ou pressões do exterior, mas sim pela reflectida opinião
do colectivo partidário e da vontade dos seus militantes,
no quadro de uma afirmada soberania e independência de outros
interesses que não sejam os que fundamentam a vida e o projecto
deste Partido.
|