Exmo. Senhor
Dr. Emídio Rangel
Director de Antena da RTP
Av. 5 de Outubro
Lisboa
Lisboa, 11 de Março de 2002
Exmo. Senhor
É verdade que, face a experiências precedentes, não
tenho nenhuma razão para supor que dará a esta missiva
maior atenção que a anteriores.
Mas nem que seja para ficar escrito e para se saber quem protestou
e quem se calou, não posso deixar de lhe fazer, antes que
a campanha termine, uma observação sobre certo tipo
de comentários que normalmente acompanham as reportagens
da RTP ( e também de outras estações, mas isso
não muda nada quanto às responsabilidades da RTP)
sobre acções de campanha da CDU.
Por todos, vale o exemplo de afirmações da responsabilidade
da jornalista ontem inseridas na peça sobre o dia de campanha
da CDU em Évora e onde se ouviu uma coisa tão isenta
e inocente como que "há apenas três meses, o comunismo
que durante mais de 25 anos liderou os destinos de Évora
foi ferido de morte pelos espinhos da rosa".
Trata-se de um entre muitos exemplos de reportagens que, seja a
abrir seja a fechar, têm quase sempre de procurar obter um
efeito negativo sobre a CDU e condicionante do juízo que
aos telespectadores soberanamente caberia fazer sobre a iniciativa
em causa.
Sei como podem ser vastas e intermináveis as polémicas
sobre qual deve ser o papel dos jornalistas na cobertura de uma
campanha eleitoral. Mas, por mim, uma coisa sei : que é na
televisão que é ainda mais perversa a mistura entre
notícia e comentário e ainda mais quando este está
patentemente marcado pelo preconceito.
E também há outra coisa que sei porque tenho visto:
é que nas reportagens da RTP sobre o PS e o PSD, quando as
suas iniciativas decorrem em concelhos onde ou um ou outro perdeu
a respectiva Câmara nas últimas autárquicas,
nunca aparecem referências a esse facto.
É que se o critério fosse geral, então a peça
da RTP sobre o comício do PS no Porto, no sábado passado,
teria de dizer que "há apenas três meses, o "socialismo"
que liderou os destinos do Porto durante uma data de anos foi ferido
de morte pelo ácido da laranja".
Receba as cordiais saudações do
Vítor Dias
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