1 - Introdução
2 - Traços essenciais
da evolução da União Europeia desde as eleições
para o Parlamento Europeu, em 1999
3 - As políticas e
orientações da União Europeia e as suas consequências
para Portugal
4 - PS, PSD e CDS-PP: a convergência
na política de direita e nas orientações fundamentais
da União Europeia
5 - PCP – a defesa dos
interesses dos trabalhadores e do País
Um projecto para Portugal e para outra Europa
6 - Outra Europa é
possível Outra Europa é necessária
Anexos
1 - Introdução
Ao apresentar esta Declaração Programática
para as eleições para o Parlamento Europeu de 13 de
Junho próximo, integrada por um conjunto de propostas políticas
fundamentais e de compromissos relativos á sua intervenção
no mandato 2004/2009, anima o PCP, a vontade de reafirmar a necessidade
e a possibilidade de outro caminho para Portugal e para a Europa.
A necessidade, urgente, de o País romper com as políticas
e orientações, muito semelhantes, da integração
europeia do PSD e do PS, que têm enformado as posições
de sucessivos governos e as intervenções dos seus
deputados no Parlamento Europeu. Necessidade essa que conflui com
a extrema urgência de, tão cedo quanto possível,
o Governo PSD/CDS-PP ser derrotado e criadas condições
para a sua substituição e para a concretização
de uma política e uma alternativa que corte com a política
de direita das últimas décadas e dê resposta
à exigência de um Portugal mais justo e mais desenvolvido,
e de outro caminho para a Europa.
A possibilidade de esse outro caminho ser construído na
convergência da acção dos partidos comunistas,
das forças do progresso e da esquerda com as lutas dos trabalhadores
e dos povos. E nesse sentido, o reforço da votação
e do número de deputados da CDU (PCP-PEV) nas eleições
de 13 de Junho é, não só, inquestionavelmente,
uma contribuição absolutamente útil, segura
e certa para a derrota da coligação PSD/CDS-PP, como
a opção para afirmar eleitoralmente a exigência
de um outro rumo para a política nacional e para a integração
europeia. Um contributo decisivo para a conquista de políticas
comunitárias conforme o interesse nacional, para o rasgar
de caminhos para a construção de outra e nova Europa
– uma Europa dos trabalhadores e trabalhadoras, dos jovens,
pelo desenvolvimento e a paz.
2 - Traços essenciais
da evolução da União Europeia
desde as eleições para o Parlamento Europeu, em 1999
A evolução da União Europeia nos últimos
cinco anos, é caracterizada por uma generalizada ofensiva
contra conquistas históricas dos trabalhadores, direitos
democráticos e a soberania dos povos. Entre outros importantes
aspectos, são de realçar pela sua importância:
– A realização de duas revisões dos
Tratados. Uma primeira que culminou com a adopção
do Tratado de Nice (2000), com o aprofundamento do federalismo e
o reforço do poder das grandes potências, antecipando
o alargamento da União Europeia. E uma segunda, com conclusão
prevista para Junho próximo, que procura adoptar o grave
projecto da dita «constituição europeia»
(1)
– A concretização de um processo de alargamento
a dez países do Leste da Europa e do Mediterrâneo,
consumado no passado dia 1 de Maio, num quadro financeiro e com
condições inaceitáveis tanto para estes países
como para os actuais países economicamente menos desenvolvidos
na União Europeia, nomeadamente Portugal – que, como
todos os estudos o indicam, será o país mais atingido
(1);
– A concretização da União Económica
e Monetária, com o lançamento da moeda única
– o euro – em 2002, a aplicação do Pacto
de Estabilidade e da política monetária do Banco Central
Europeu;
– A adopção da denominada «Estratégia
de Lisboa», «vendida» como uma cimeira para o
pleno emprego e a competitividade, durante a Presidência portuguesa
do Conselho, em 2000, mas constituindo de facto uma autêntica
sistematização e agenda das prioridades do capitalismo
neoliberal, «estratégia» incessantemente elogiada
e promovida pelas organizações do grande patronato
na Europa (ERT – Mesa Redonda dos Industriais e UNICE –
confederação do grande patronato na Europa) (1);
– A realização de reformas da Política
Agrícola Comum (em 2000 e 2003) com o aprofundamento da liberalização
da agricultura e das suas injustiças e desigualdades entre
produtores, produções e países, nomeadamente
Portugal, que incompreensivelmente continua a ser seu contribuinte
líquido;
– A concretização da reforma da Política
Comum de Pescas, com o avanço da liberalização
do acesso à zona entre as 12 e as 200 milhas da zona económica
exclusiva portuguesa, nomeadamente por parte da frota espanhola;
– O aprofundamento da comunitarização da justiça
e assuntos internos, subtraindo competências que estão
no fulcro da soberania dos Estados, e a adopção de
um amplo conjunto de medidas que, a pretexto da denominada «luta
contra o terrorismo», colocam em causa direitos, liberdades
e garantias dos cidadãos;
– A concretização de uma política de
imigração que ao mesmo tempo que criminaliza os imigrantes,
procura explorar os recursos humanos de países terceiros
segundo as necessidades do grande patronato na Europa;
– A prossecução de uma política nas
relações comerciais bilaterais e na Organização
Mundial do Comércio ditada pelo objectivo da liberalização
do comércio mundial, privilegiando, apesar de contradições,
uma parceria estratégia com os EUA;
– A militarização da União Europeia,
como pilar europeu da NATO, processo acelerado a partir de 1999,
sendo adoptada uma «Estratégia de segurança
da União Europeia», em 2003, que faz seu o conceito
de «segurança» da NATO (1);
– Ou ainda, o início do debate sobre o quadro financeiro
quinquenal, para o período de 2007 a 2013, com a apresentação
de uma proposta inicial, pela Comissão Europeia, que assume
os objectivos inscritos na «constituição europeia»
e na «Estratégia de Lisboa» como prioridades
para o futuro orçamento comunitário.
Em síntese, a evolução da União Europeia
nestes últimos cinco anos traduziu-se pela acentuação
dos seus eixos centrais – o federalismo sob o domínio
das grandes potências, um capitalismo cada vez mais feroz
na sua exploração, e o militarismo.
Pelo seu significado, amplitude e consequências, estes processos
assumem uma profunda gravidade para os trabalhadores e para o País,
para o futuro da Europa.
3 - As políticas e orientações
da União Europeia
e as suas consequências para Portugal
Não é possível compreender os problemas e
desafios que as perspectivas de evolução da União
Europeia colocam a Portugal, sem ter em conta as consequências
que tiveram para o País 18 anos de políticas de integração
de Portugal na CEE/UE sob a condução de governos do
PSD/Cavaco Silva (10 anos), do PS/António Guterres (6 anos)
e do PSD/CDS-PP (2 anos), bem como os principais resultados da política
de direita e das orientações e políticas da
União Europeia. Neste plano, o PCP considera indispensável
sublinhar que:
– Os fundos comunitários, apesar de envolverem montantes
importantes e de contribuírem para progressos, nomeadamente
no domínio de algumas infra-estruturas, não têm
sido aplicadas de facto, pelos sucessivos governos, ao serviço
de uma estratégia de efectivo e sustentado desenvolvimento
do País;
– O sistema produtivo nacional continua a ser destruído
em sectores de importância estratégica, nomeadamente
a indústria pesada, como se pode ver com o recente exemplo
da Bombardier, e o País tem hoje um aparelho produtivo mais
dependente e subcontratado;
– A agricultura, as pescas, os têxteis, a construção
naval, o sector mineiro, entre outros, confrontam-se com enormes
dificuldades, estando alguns, de facto, ameaçados de extinção;
– O sector público (sector empresarial público
e serviços públicos), estratégico para o desenvolvimento
do País, alvo privilegiado dos sucessivos governos do PSD,
PS e PSD/CDS-PP, foi, em larga medida, desmantelado pela política
de privatizações e, muitas vezes, entregue ao capital
estrangeiro. O actual Governo do PSD/CDS-PP avança com a
liquidação do que resta do sector empresarial do Estado,
e mesmo de áreas fundamentais dos serviços públicos;
– Portugal agravou significativamente a sua dependência
externa, nomeadamente face a alguns países da União
Europeia, continuando a degradarem-se a balança comercial
e a balança de transacções correntes;
– Com concretização da União Económica
e Monetária, entrada em circulação da moeda
única – o euro – e as imposições
do (seu) Pacto de Estabilidade, Portugal vê acentuarem-se
as desigualdades sociais, o desemprego e a precariedade laboral
e o crescimento da pobreza, e a perda de competitividade de grande
parte dos sectores e empresas;
– O ritmo de convergência da economia portuguesa com
a média comunitária diminui de década para
década face à União Europeia (a 15), tendo
nos dois últimos anos entrado em divergência;
– As assimetrias regionais (com extensas áreas de
desertificação económica e humana, e elevadas
concentrações populacionais nas áreas metropolitanas)
não param de agravar-se;
– O desemprego e o emprego precário, que as estatísticas
camuflam e subestimam, não cessam de aumentar, e os salários
e pensões médias dos trabalhadores portugueses continuam
a ser os mais baixos da União Europeia (a 15).
4 - PS, PSD e CDS-PP: a convergência
na política de direita
e nas orientações fundamentais da União Europeia
Ao longo dos últimos 18 anos, PSD, PS e PSD/CDS-PP foram
os responsáveis pela condução da integração
de Portugal na CEE/UE e pela evolução das políticas
e orientações da denominada «construção
europeia». Verificando-se que, após cada mudança
de governo, se mantinham ou aprofundavam em matéria europeia,
as políticas, orientações e práticas
fundamentais do governo anterior.
A convergência de posições entre o PS, o PSD
e o CDS-PP sobre as políticas europeias tem-se revelado uma
constante, com as inevitáveis nuances tácticas de
quem está no governo ou de quem está na «oposição»
e se procura afastar, perante os trabalhadores e o País,
das consequências mais negativas das políticas da União
Europeia.
Tal traduziu-se pela alienação de componentes essenciais
de soberania; pela falta de consulta do povo português sobre
questões fundamentais; pela submissão perante as instituições
da União Europeia e as suas grandes potências; pela
aceitação de imposições e medidas negativas
para o País; pela entrega de sectores estratégicos
da economia nacional ao capital estrangeiro; pela ideia da inexistência
de alternativas e da inevitabilidade das políticas da União
Europeia; pela apresentação dos problemas e das dificuldades
do País como sendo a moeda de troca «necessária»
aos «benefícios» dos fundos comunitários;
pela atitude de permanente desresponsabilização pelas
políticas mais gravosas para os interesses nacionais, procurando
iludir o seu apoio aos tratados e a sua participação
na definição das políticas da União
Europeia, e a não utilização a margem de manobra
de que, apesar de tudo, Portugal dispõe pela aplicação
do princípio da subsidariedade.
Estas três forças políticas aprovaram, entre
inúmeros exemplos, o Tratado de Maastricht, o Tratado de
Amesterdão, a adesão à União Económica
e Monetária e à moeda única (PS e PSD apresentaram
e votaram mesmo um projecto de Resolução Comum), as
políticas monetárias do Banco Central Europeu, o Pacto
de Estabilidade, os sucessivos orçamentos comunitários,
as sucessivas reformas da Política Agrícola Comum
e da Política Comum de Pescas.
Em particular nos últimos cinco anos, PSD, PS e CDS-PP
aprovaram em conjunto todos os temas relevantes da integração
comunitária. Destacam-se: a sua assinatura do Tratado de
Nice (em Dezembro de 2000); o seu pleno acordo com as teses federalistas,
neoliberais e militaristas do projecto de novo Tratado elaborado
pela «Convenção», a dita «Constituição
Europeia»; a sua sustentação da validade e aplicação
do Pacto de Estabilidade, quer no governo quer na oposição;
o seu apoio à reforma da Política Agrícola
Comum da «Agenda 2000» e à sua posterior revisão,
em 2003, em Salónica; a sua cumplicidade com as alterações
recentes da Política Comum de Pescas; a sua total colaboração
e aceitação da «Estratégia de Lisboa»,
concluída durante a Presidência Portuguesa da União
Europeia, no primeiro semestre de 2000; o seu apoio às liberalizações
no âmbito das negociações na Organização
Mundial do Comércio. Ou ainda, quanto à aceitação
de um alargamento da União Europeia a dez novos países
sem assegurar as condições mínimas que impeçam
fazer de Portugal o principal e quase único perdedor.
E, finalmente, nas vésperas do 30º Aniversário
do 25 de Abril, a aprovação de uma revisão
constitucional que, ainda antes de haver qualquer novo tratado aprovado
e de ter sido feito o prometido referendo em Portugal, consagrou
a prevalência de uma eventual «constituição
europeia» sobre a Constituição portuguesa.
O CDS-PP mais uma vez demonstrou que a sua pretensa diferenciação
em relação ao PSD e de alegada defesa dos interesses
nacionais era puro eleitoralismo, face à sua total solidariedade,
na Assembleia da República e no Governo, com as orientações
europeias do PSD, e que culmina na coligação eleitoral
PSD/CDS-PP para as eleições para o Parlamento Europeu,
de 13 de Junho.
O Bloco de Esquerda acompanha, no essencial, as teses federalistas
avançando com propostas que reforçam o carácter
supranacional do quadro institucional da União Europeia,
desvalorizando e menosprezando a importância central da preservação
da soberania nacional como garante da democracia e alicerce incontornável
do desenvolvimento do País e, ao mesmo tempo, avançando
com teses ilusórias de que se poderia alcançar a nível
europeu o que não se conquista, em primeiro lugar, com a
luta dos trabalhadores e do povo português a nível
nacional.
5 - PCP – a defesa dos
interesses dos trabalhadores
e do País
Um projecto para Portugal e para outra Europa
O PCP reafirma como questão nuclear a defesa da soberania
nacional como um valor fundamental e vector estratégico para
a defesa dos interesses nacionais, na construção de
uma Europa de cooperação entre Estados soberanos e
iguais em direitos, aberta ao mundo, de paz e solidariedade.
É partindo da defesa da soberania e independência
nacionais e do desenvolvimento económico e social que o PCP
combate os eixos federalistas e neoliberais do actual processo de
integração e pugna por um novo caminho para a Europa,
conforme os interesses dos trabalhadores e dos povos, conforme os
interesses nacionais.
Uma Europa de cooperação, democrática e transparente,
o que exige o total respeito pela soberania, pela igualdade, pelos
interesses, valores e especificidades de cada Estado, e impõe
o combate a imposições supranacionais, a rejeição
do federalismo e do domínio das grandes potências na
União Europeia.
Uma Europa social, solidária e de coesão com maior
emprego e mais direitos dos trabalhadores e cidadãos, com
real promoção da igualdade de direitos e de oportunidades
para as mulheres e combate efectivo à pobreza e à
exclusão social, o que pressupõe mudanças profundas
na política económica e monetária e a sua colocação
ao serviço dos respectivos povos para a convergência
real das economias, na concretização dos objectivos
de coesão económica e social explicitados nos tratados
comunitários.
Uma Europa aberta ao mundo e de paz, uma Europa solidária
e exemplar nas relações com países terceiros
de menor desenvolvimento, recusando a perspectiva de uma Europa
fortaleza, bloco político-militar, alinhado ou não
com o imperialismo dos EUA.
Um novo caminho para Portugal que assegure o seu progresso e uma
renovada e democrática participação dos portugueses
na escolha das opções políticas decisivas para
o seu futuro colectivo e das orientações para a cooperação
comunitária.
Por uma Europa de cooperação entre Estados
soberanos e iguais em direitos
condição para a salvaguarda da democracia e para a
efectiva participação dos cidadãos
Uma política externa de diversificação das
relações internacionais e de cooperação,
paz e amizade com todos os povos, a salvaguarda da soberania nacional
e a promoção dos interesses de Portugal e dos portugueses
constituem, para o PCP, orientações fundamentais da
intervenção do País na União Europeia.
O respeito pela soberania e pelos interesses, valores e especificidades
de cada Estado devem constituir vectores essenciais num projecto
de cooperação na Europa, pelo que no plano institucional
se impõe a rejeição do federalismo e do domínio
das grandes potências na União Europeia e o firme combate
ao projecto que os consagra da «constituição
europeia» ou de «tratado constitucional». Projecto
que afronta e viola a Constituição da República
Portuguesa e que atinge gravemente a soberania e a independência
nacional. A salvaguarda da Constituição da República
Portuguesa constitui, aliás, uma exigência para todos
os órgãos de soberania nacionais, que têm o
dever imperativo de a respeitar e fazer respeitar.
Por outro lado, é obrigatório realizar um referendo
nacional, antes de uma indesejável vinculação
de Portugal a qualquer projecto de «constituição
Europeia», a realizar em data e com pergunta(s) que permitam
aos portugueses pronunciar-se de forma esclarecida sobre o que efectivamente
está em causa, e obrigatoriamente sempre antes da ratificação
pela Assembleia da República.
O PCP propõe-se continuar a impulsionar um vasto movimento
de opinião, esclarecimento e luta, que impeça a subordinação
da Constituição da República à dita
«constituição europeia» e exija a realização
do referendo.
Como linhas fundamentais para a estrutura institucional da União
Europeia, o PCP propõe:
– A defesa de um modelo institucional de cooperação
entre Estados soberanos e iguais onde o Conselho Europeu mantenha
um papel determinante com um país/um voto e a salvaguarda
do direito de veto em questões de interesse vital por parte
de um país;
– A consequente travagem na transferência de mais
competências para a União Europeia e na alienação
de instrumentos fundamentais para a concretização
de uma política que contribua para dar resposta às
necessidades e anseios dos trabalhadores e às potencialidades
de desenvolvimento do País;
– A salvaguarda da democracia e a aproximação
do processo de decisão dos cidadãos, afirmando a soberania
nacional e o pleno papel das instituições nacionais,
e não a sua desvalorização ou alienação,
reforçando a capacidade de intervenção e de
decisão dos parlamentos nacionais nas políticas comunitárias
e a sua cooperação com o Parlamento Europeu;
– A garantia do envolvimento e da participação
das autarquias locais, das organizações de trabalhadores
e de outras organizações sociais, dos agentes económicos
e culturais, como garantia da defesa dos interesses e desenvolvimento
do País;
– A manutenção do actual princípio
da rotatividade na presidência do Conselho Europeu;
– A representação permanente de todos e cada
um dos Estados com plenos direitos, nomeadamente o direito de voto,
independentemente do seu número, na Comissão Europeia;
– A não redução do número de
deputados do Parlamento Europeu, nomeadamente de Portugal, assegurando
a presença e a efectiva representatividade das diferentes
forças políticas portuguesas;
– A salvaguarda intransigente da identidade cultural de
cada Estado-membro e de todas as línguas nacionais como línguas
oficiais e de trabalho e a recusa de quaisquer discriminações
neste domínio;
– A consagração institucional da possibilidade
da reversibilidade dos acordos e tratados que regem a integração
comunitária e a possibilidade de ajustamento do estatuto
de cada país à vontade do seu povo e à sua
real situação, devendo ser admitidas as necessárias
cláusulas de excepção para esses Estados;
– A alteração dos estatutos do Banco Central
Europeu para garantir a presença em igualdade dos Estados
membros na sua direcção, com vista a assegurar o seu
efectivo controlo político pelos Estados.
Por uma Europa social, solidária e de coesão.
Assegurar o progresso de Portugal, mais e melhor desenvolvimento.
Pelo emprego com direitos e a defesa e promoção da
produção nacional
Portugal necessita de uma estratégia de desenvolvimento
sustentado, que rompa com as políticas de direita e as orientações
neoliberais da União Europeia, e que promova as condições
de vida dos trabalhadores e do povo português.
Uma tal estratégia deve ter como vertentes essenciais o
crescimento económico, respeitador da natureza, a salvaguarda
e modernização do tecido produtivo nacional, a defesa
e melhoria dos serviços públicos, a concretização
de infra-estruturas fundamentais, o desenvolvimento de uma educação
pública de qualidade e de um sistema científico e
tecnológico nacional, a qualificação profissional,
e terá necessariamente de colocar em causa a acelerada centralização
e concentração do capital e da riqueza e do poder
incontestado dos grandes grupos económicos.
No plano social, e no imediato, deverá ter como objectivo
a criação de empregos, a defesa do emprego com direitos
e a redução do tempo de trabalho sem redução
de salário, por melhor formação e saídas
profissionais para a juventude. Deverá significar o aumento
dos salários e pensões de reforma (invertendo a actual
e injusta distribuição do rendimento nacional), aproximando-os
progressivamente à média europeia, e a promoção
e defesa dos sistemas públicos da saúde e da segurança
social eficientes e ao serviço das populações.
Deverá garantir a igualdade de direitos para as mulheres,
no trabalho e na sociedade. E defender os interesses dos migrantes,
nomeadamente dos portugueses, em particular dos seus direitos nos
países de residência. Tudo convergindo para a harmonização,
no progresso, do nível e qualidade de vida.
No plano cultural, deverá assegurar o respeito pela diversidade
e identidade nacionais, de modo a projectar e valorizar a cultura
portuguesa numa perspectiva de abertura, cooperação
e igualdade com todos os povos da Europa e do mundo.
No mesmo sentido, a prioridade para as políticas comunitárias
tem de ser a convergência real das economias, o nivelamento,
por cima, das condições de vida e de trabalho, a coesão
económica e social. O que exige uma firme ruptura com as
actuais políticas neoliberais da União Europeia, uma
profunda alteração das políticas comunitárias
nos aspectos que ferem as especificidades, ignoram os atrasos e
as debilidades estruturais ou sacrificam sectores de actividade
fundamentais do País, e a recusa de uma especialização
de Portugal como País de mão-de-obra barata e pouco
qualificada e economicamente subalterno e dependente, onde a dita
«competitividade» se faz à custa da destruição
dos direitos dos trabalhadores e da exploração mais
desenfreada. Deverá ainda rejeitar a degradação
ambiental como base da «competitividade externa», que
ameaça fazer de Portugal um depósito dos resíduos
dos países mais desenvolvidos, colocando ainda mais em causa
os nossos recursos naturais.
No plano da política económica, uma estratégia
de desenvolvimento sustentado exige:
– Uma aplicação dos fundos comunitários
que contribua efectivamente para um desenvolvimento equilibrado
de todo o território nacional, com prioridade para as regiões
e sectores sociais mais carenciados, para as micro e pequenas empresas,
agrícolas, industriais e de serviços. Deve ser criado
um programa comunitário específico de apoio à
economia portuguesa tendo em conta as consequências do alargamento
da União Europeia. Ao contrário do que sucede actualmente,
os fundos não devem constituir, como sucede actualmente,
meras compensações às incidências negativas
da implementação de orientações e políticas
comunitárias, e devem visar, para além da concretização
de infra-estruturas e da formação profissional, um
apoio directo ao desenvolvimento económico sustentado à
valorização e modernização do sistema
produtivo nacional e a programas eficazes de natureza social, nomeadamente
para combater a pobreza e a exclusão. Devem ser aplicados
com controlo político e administrativo democráticos,
sem privilégios e com um combate firme à corrupção;
– Um orçamento comunitário reforçado,
com base numa justa contribuição de cada país
a partir do seu Rendimento Nacional Bruto (RNB) e com outras prioridades
políticas à dimensão das necessidades do alargamento,
quer para os novos Estados-membros quer para países com debilidades
estruturais, como Portugal. Um orçamento que dê prioridade
à promoção das potencialidades de cada país,
ao desenvolvimento sustentado, ao investimento público, à
valorização e reforço dos serviços públicos,
ao emprego e aos direitos dos trabalhadores, ou seja, às
bases de uma efectiva coesão económica e social. Um
orçamento que promova uma justa política de cooperação
com os países em desenvolvimento;
– A criação de um Pacto de Progresso Social
e pelo Emprego, com o fim do Pacto de Estabilidade, de forma a permitir
a concretização de uma política de crescimento
e de emprego e os necessários investimentos públicos;
a redefinição dos objectivos e estatutos do Banco
Central Europeu, com o necessário controlo da política
monetária pelo poder político;
– O combate eficaz aos movimentos de capitais especulativos,
nomeadamente pela sua tributação e o fim dos paraísos
fiscais (offshores);
– A reversão da Estratégia de Lisboa com a
revogação da política de liberalizações
e privatizações, e o desenvolvimento de uma política
que promova e reforce o sector público e os serviços
públicos (saúde, educação, segurança
social, água, transportes, energia, telecomunicações)
garantido a sua qualidade e o acesso em iguais condições
a todos os cidadãos, qualquer que seja a sua residência
na Europa, e apoie efectivamente a investigação, ciência
e tecnologia nacionais;
– Uma política que dinamize a procura, defenda e
valorize o ambiente, e salvaguarde e desenvolva os sectores produtivos
nacionais, o que exige outra política industrial e outras
políticas comuns da agricultura (PAC), das pescas (PCP),
do comércio externo (Têxtil e vestuário, indústria
naval). Uma profunda reforma da PAC, no sentido da respectiva regionalização
e modulação, com vista a ultrapassar os actuais desequilíbrios
entre produtores, produções e países e que
permita o crescimento da produção agro-alimentar nacional
e, em geral, a modernização do sector primário
do País. Uma profunda modificação da Política
Comum de Pescas, que garanta continuidade e desenvolvimento da actividade
piscatória, consagre a extensão das zonas exclusivas
de pesca até às 24 milhas, assegure o controlo do
acesso à zona económica exclusiva, termine com a política
brutal de abates da frota, alargue e melhore os acordos com países
terceiros e assegure a manutenção e desenvolvimento
dos recursos. O apoio, de forma significativa e sem constrangimentos,
da actividade industrial no País, por exemplo, os têxteis
e o calçado, visando o seu crescimento e modernização,
do sector comercial, particularmente o comércio tradicional,
de forma a permitir a respectiva modernização, bem
como do sector cooperativo, em toda a sua diversidade;
– A implementação de medidas que impeçam
a deslocalização de empresas, nomeadamente pelo condicionamento
das ajudas comunitárias ao cumprimento de obrigações,
como a protecção do emprego e o desenvolvimento local,
procurando que as multinacionais não continuem a agir com
total impunidade;
– A salvaguarda da possibilidade da intervenção
do Estado em situações de grave situação
social e económica devido a dificuldades ou encerramento
de empresas, ou a calamidades, promovendo medidas concretas de apoio
aos trabalhadores e à recuperação económica
dos sectores e regiões atingidos, que deve ir de par com
o acompanhamento pela União Europeia das ajudas nacionais
às empresas que falseiam a concorrência, em prejuízo
dos países economicamente mais débeis, como Portugal;
– Uma correcta aplicação prática do
estatuto de região ultraperiférica dos Açores
e da Madeira, consagrado quer nos Tratados comunitários,
quer na Constituição da República Portuguesa,
o que exige meios financeiros, programas e medidas permanentes e
excepcionais que permitam um desenvolvimento adequado, com o reconhecimento
dos direitos específicos das suas economias regionais insulares
e distantes;
– A moratória sobre autorizações de
novos Organismos Geneticamente Modificados (OGM), o respeito do
princípio da precaução e o direito à
renúncia voluntária dos OGM por parte dos Estados
ou regiões ou agricultores.
Por uma Europa de paz e de cooperação no
mundo.
Não à militarização da União
Europeia
A luta contra a ofensiva do grande capital, por políticas
sociais equitativas e justas, e a luta contra a guerra e por uma
política de paz, amizade e cooperação entre
todos os povos, são inseparáveis. É urgente
que se prossiga e reforce o movimento pela paz e de solidariedade
com os povos vítimas das ameaças e agressões
do imperialismo, como no Iraque e na Palestina. O PCP reitera a
sua exigência da retirada imediata da GNR do Iraque..
Uma Europa de paz e cooperação no mundo, pela dissolução
dos blocos militares e o combate à militarização
da União Europeia exigem como eixos e direcções
fundamentais, entre outros:
– A renovação da Organização
para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE),
enquanto organização da Nações Unidas
para o continente europeu, no espírito e letra da carta de
Helsínquia, a negociação como princípio
para superar conflitos, a paz como objectivo sistemático,
na procura de uma paz duradoura;
– A luta para que a UE recuse conceitos estratégicos
do imperialismo norte-americano de intervencionismo militar para
«restabelecimento da paz» e/ou com missões de
«prevenção de conflitos» inscritos na
«Estratégia de Defesa da União Europeia»;
em particular, continuar a denúncia e combate à política
de submissão do Governo PSD/CDS-PP ao imperialismo, envolvendo
Portugal na estratégia militarista e de guerra dos EUA, da
NATO, da União Europeia. É necessário continuar
a afirmar a oposição à participação
de Forças Armadas e de polícia portuguesas em operações
de agressão e de subjugação de outros povos;
– A rejeição da União Europeia como
bloco político-militar e o combate a uma qualquer Política
Europeia de Segurança e Defesa / Política Externa
de Segurança Comum (PESD/PESC) subordinada ou não
à NATO, que deve ser dissolvida e contra a criação
de uma Agência Europeia de Armamento, de Investigação
e Capacidade Militar e a corrida aos armamentos;
– A firme oposição a políticas e medidas
securitárias que, a pretexto do combate ao terrorismo, ponham
em causa ou limitem, liberdades, direitos e garantias fundamentais
dos cidadãos;
– A garantia dos direitos democráticos e constitucionais
dos imigrantes e do direito ao asilo político, no quadro
de uma permanente busca de relações de interesse mútuo,
combatendo as causas profundas da imigração, o combate
à Europa de Schengen, de natureza xenófoba e reaccionária,
à gestão dos fluxos migratórios de acordo com
os interesses do capital, à Europa-fortaleza de cariz securitário,
e a todas as formas de racismo e xenofobia;
– Uma nova ordem política e económica internacional,
justa e democrática, recusando a globalização
comandada pelo grande capital, contra os direitos dos povos e os
equilíbrios ambientais planetários; o apoio às
lutas populares contra as políticas neoliberais e discriminatórias
das instituições financeiras e comerciais existentes
(OMC, FMI e BM), voltada para a aplicação efectiva
do Protocolo de Quioto sobre o Ambiente e outras orientações
de importantes Conferências Internacionais sob a égide
da ONU; o combate à subordinação da Organização
Mundial do Comércio aos interesses dos Estados Unidos, das
grandes potências da União Europeia e do grande capital;
– Uma política europeia de relações
exemplares com os países menos desenvolvidos, norteada pela
defesa da paz e pela cooperação entre todos os povos
e países do Mundo, empenhada na promoção do
desenvolvimento, no respeito pela Carta das Nações
Unidas; e a concretização uma política de cooperação
efectiva com os países em desenvolvimento, assegurando para
isso pelo menos 0,7% do PIB comunitário, e assumindo unilateralmente
o perdão da dívida;
– A cooperação das políticas nacionais
no combate ao crime organizado, ao narcotráfico e lavagem
de dinheiro, às redes internacionais de crime económico
e financeiro, de prostituição e tráfico de
seres humanos.
Pelo reforço da cooperação dos comunistas
e outras forças de esquerda e progressistas
Face à grande ofensiva do grande capital e do imperialismo,
mas também com a intensificação da luta libertadora
dos trabalhadores e dos povos, hoje como sempre, o PCP procura contribuir
activamente para o reforço da cooperação entre
os comunistas e todas as forças de esquerda anticapitalistas,
da sua acção comum ou convergente, da sua solidariedade
internacional e internacionalista, nomeadamente na Europa.
Para o PCP prosseguir e reforçar a cooperação
dos comunistas e outras forças de esquerda e progressistas
na Europa é uma prioridade constante, com respeito pelas
diferenças de situação, reflexão e proposta;
valorizando tudo o que possa aproximar e unir; colocando no primeiro
plano a acção comum ou convergente em torno das questões
mais sentidas pelos sectores e camadas sociais afectados pela actual
integração europeia – como as questões
sociais, a luta contra o militarismo e a guerra, a defesa da democracia
– realizando iniciativas com expressão de massas para
afirmar e projectar as nossas propostas comuns, nomeadamente reforçando
a dimensão europeia das lutas.
Com a convicção de que a necessária expressão
europeia e internacional das lutas adquirirá uma dimensão
e um significado tanto mais representativos quanto mais enraizado
e organizado for o movimento a nível de cada país,
espaço e dimensão decisivos de luta dos trabalhadores
e dos povos.
O PCP valoriza a continuidade da experiência e trabalho
realizado pelo Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda
Verde Nórdica do Parlamento Europeu – de que o PCP
é membro fundador –, em defesa e promoção
de grandes valores e objectivos de esquerda, vinculada com os interesses
dos trabalhadores e claramente demarcada da social-democracia.
O PCP sublinha a importância da «Plataforma eleitoral
comum para as eleições para o Parlamento Europeu»,
subscrita por 14 partidos e forças políticas de 13
países, que integram ou têm estreitas relações
com o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia / Esquerda
Verde Nórdica do Parlamento Europeu, plataforma para a qual
procurou contribuir activamente, através da sua participação
em inúmeras reuniões desses partidos, nomeadamente
as que promoveu em Almada, a 5 de Setembro de 2003, e em Lisboa,
a 7 de Fevereiro de 2004.
O PCP continuará profundamente empenhado no desenvolvimento
da cooperação e convergência dos partidos comunistas,
forças e partidos progressistas e de esquerda, nomeadamente:
– Na consolidação e forte intervenção
do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda
Verde Nórdica do Parlamento Europeu;
– Na luta pela concretização dos objectivos
e propostas contidos na «Plataforma eleitoral comum para as
eleições para o Parlamento Europeu», nomeadamente
pela continuação do desenvolvimento de iniciativas
comuns de expressão europeia;
– Na dinamização e apoio à luta dos
trabalhadores e outras forças sociais, pelas conquistas e
direitos sociais, contra as políticas do capitalismo neoliberal,
pela paz, contra o militarismo e a guerra, pela democracia e soberania,
contra o federalismo e o domínio das grandes potências.
6 - Outra Europa é
possível
Outra Europa é necessária
Outra Europa é possível, pela convergência
das forças do progresso e da paz, pelas lutas dos trabalhadores
e dos povos.
Outra Europa é necessária: uma Europa de direitos
sociais e igualdade; uma Europa de solidariedade e desenvolvimento
sustentado; uma Europa que respeite, dinamize e aprofunde a democracia,
logo de cooperação entre estados soberanos e iguais;
uma Europa aberta ao mundo e de paz.
Dando resposta à ofensiva do grande capital e do imperialismo
sucederam-se nos diferentes países da UE grandes mobilizações
em defesa das conquistas históricas dos trabalhadores e da
paz. Nos últimos cinco anos realizaram-se importantes lutas
e manifestações sociais a nível nacional e
no âmbito da União Europeia e da Europa, de que são
exemplo as grandes lutas sindicais e greves gerais em defesa de
direitos laborais, da segurança social e dos serviços
públicos e contra a exploração, amplas mobilizações
populares e manifestações pela paz e contra a ocupação
do Iraque, importantes Fóruns Sociais Europeus e outras acções
contra a globalização capitalista e o neoliberalismo.
Esta significativa movimentação social e política,
pondo em evidência as grandes potencialidades de luta contra
as políticas neoliberais dominantes, revelou igualmente que
é necessário aproveitar todos os espaços de
intervenção e de luta, designadamente por parte das
forças de esquerda vinculadas com os interesses dos trabalhadores,
colocando a necessidade de reforçar a sua cooperação
na luta contra a ofensiva concertada do grande capital e por uma
outra Europa. Hoje é mais do que nunca necessário
que os que lutam nos seus países por projectos sociais e
políticos opostos aos da prática e ideologia capitalista
neoliberal procurem, esforçada e insistentemente, linhas
de convergência e consenso, que na base de objectivos de transformação
social anticapitalista e democrática procurem construir um
novo caminho para a Europa.
Para o PCP o caminho para uma outra Europa não resultará
da decisão das forças de direita e da social-democracia
que desde sempre dirigem a integração neoliberal e
federalista e militarista, nem do mero funcionamento de instituições,
afastadas dos cidadãos e inteiramente determinadas pelas
oligarquias do grande capital. Será, pelo contrário,
fruto da conjugação da luta de massas e da acção
institucional, articuladas com as contradições e obstáculos
da actual integração europeia.
Perante o número e a amplitude das forças políticas
e sociais que sustentam a actual União Europeia, pelo dinamismo
que, pelo menos aparentemente, a integração comunitária
exibe, poderá parecer que é extremamente difícil
ou demasiado longínquo a concretização do objectivo
de um outro caminho para a Europa. Mas as contradições
sociais, económicas e políticas, as nefastas consequências
sociais (exclusão social e pobreza, desemprego e precariedade)
e ambientais decorrentes da actual «construção
europeia» e a força e dimensão das manifestações
realizadas contra essa construção credibilizam a possibilidade
e a necessidade de uma outra Europa, de cooperação,
paz, justiça e progresso.
Os combates de massas e de classe dos trabalhadores dos países
da Europa contra a exploração e dominação
do grande capital, as lutas dos excluídos sociais e discriminados
pelo capitalismo europeu, as lutas contra o racismo e a xenofobia,
pela paz no mundo, pela defesa do ambiente, dão-lhe consistência
e visibilidade política, abrem espaço para o activismo
cívico, democrático e de classe, rasgam caminhos para
outra Europa.
O imprescindível reforço do PCP e da CDU
nas eleições de 13 de Junho
Para a conquista de um novo caminho para Portugal e para a Europa
é decisivo o reforço da votação e do
número de deputados da CDU (PCP-PEV), nas próximas
eleições para o Parlamento Europeu.
Na actual situação, face à ofensiva do Governo
PSD/CDS-PP, a que em vários aspectos essenciais o PS ou se
opõe timidamente ou se tem associado, o PCP desempenha um
papel insubstituível, na dinamização da luta
pela resolução dos problemas dos trabalhadores e de
outras camadas da população, no alargamento da resistência
popular de modo a contribuir para que, tão cedo quanto possível,
o Governo seja derrotado e sejam criadas condições
para a sua substituição e para a concretização
de uma política e uma alternativa que rompa com a política
de direita das últimas décadas e dê resposta
à exigência de um Portugal mais justo e mais desenvolvido,
e de um outro caminho para a Europa.
O País não está condenado ao atraso e às
injustiças sociais, é possível um País
mais desenvolvido e mais justo, um Portugal com futuro, com uma
política alternativa, alicerçada na participação
popular. É possível afirmar na sociedade portuguesa
a razão e a vontade democráticas de dar ao País
um rumo de progresso, desenvolvimento, justiça social e plena
democracia.
Com o imprescindível e generoso empenhamento dos militantes
e simpatizantes do PCP, dos activistas da CDU e de milhares de democratas
independentes, em diálogo directo com os cidadãos,
o alcançar uma grande votação na CDU será
uma importante contribuição para uma efectiva viragem
à esquerda na política portuguesa e para um novo caminho
para a Europa.
Outro caminho para Portugal e para a Europa
Os objectivos, reclamações e aspirações
da luta dos portugueses e dos povos da Europa, encontram na afirmação
das propostas, valores e causas com que o PCP se apresenta às
eleições do Parlamento Europeu, e no trabalho dos
deputados do PCP e do Grupo dos partidos comunistas, progressistas
e de esquerda da Europa onde se integram, o mais sólido suporte
político e garantia segura de concretização
de um novo caminho para Portugal e para a Europa.
Uma Europa como livre união de Estados soberanos, iguais
em direitos, empenhados na convergência económica e
no progresso social, e na promoção da paz e de uma
cooperação exemplar com todos os povos do mundo.
Uma Europa que favoreça o desenvolvimento assente numa
relação sustentável entre a natureza e a sociedade,
promova a qualidade de vida dos Portugueses, defenda os interesses
dos trabalhadores, respeite a identidade cultural, a soberania e
a independência de Portugal.
ANEXOS
I - «Constituição
europeia»:
o federalismo sob o domínio das grandes potências
II - A ofensiva neoliberal
III - A acelerada
militarização da União Europeia
IV - Um alargamento
da União Europeia em condições inaceitáveis
I - «Constituição
europeia»:
o federalismo sob o domínio das grandes potências
No contexto do alargamento e da prevalência das teses neoliberais,
a dita «constituição europeia», que procura
inculcar a ideia que estaremos perante um «Estado Europeu»,
aprofunda as bases e eixos fundamentais lançados no Tratado
de Maastricht, em 1992 (posteriormente consolidados pelos Tratados
de Amesterdão (1997) e Nice (2000)): uma União Europeia
federal sob o domínio e condução pelas grandes
potências europeias. Este projecto, que dá resposta
aos interesses e ambições do grande capital na Europa,
e tem como objectivo a sua transformação num bloco
político-militar que se apresenta, para uns, como capaz de
competir e rivalizar com os EUA e, para outros, como o pilar europeu
da NATO, mas que tenderá a agir, de facto, como «parceiro»
ou braço auxiliar do imperialismo norte-americano.
Trata-se de um projecto que desenvolve as linhas mestras –
sublinhe-se, complementares entre si – que caracterizam a
União Europeia:
– O reforço da sua natureza federalista, institucionalizando-se
em simultâneo o directório das grandes potências
no comando das políticas e do futuro da União Europeia,
e o primado da «constituição europeia»
sobre as Constituições nacionais;
– A tentativa de «constitucionalização»
do neoliberalismo, através de um articulado que ocupa 3/4
do projecto de tratado e onde se acomodam as estruturas, as políticas
e as orientações económicas e sociais do capitalismo,
que hoje prevalecem na UE;
– O lançamento das bases institucionais da militarização
da UE e a sua transformação num bloco político-militar,
com uma política de defesa comum articulada com a NATO e
a criação de uma Agência Europeia de Armamento,
de Investigação e de Capacidades Militares.
O projecto de «constituição europeia»,
ainda não adoptado – e muito menos ratificado por qualquer
um dos países –, reforça claramente a natureza
federal das instituições da União Europeia
(Conselho, Parlamento Europeu e Comissão Europeia) e o domínio
do conjunto das grandes potências europeias nos processos
de tomada de decisão, nomeadamente através:
– Da valorização do critério demográfico,
dimensão da população, logo dos grandes países,
em detrimento da representatividade dos Estados soberanos enquanto
tal e do principio da igualdade entre Estados;
– Do fim das presidências semestrais rotativas do
Conselho Europeu, passando a ser eleito um presidente segundo regras
que asseguram um poder determinante aos grandes países;
– Da ampliação da adopção das
decisões por maioria qualificada no Conselho, segundo regras
que asseguram aos grandes países a defesa dos seus interesses
– através do bloqueio de decisões –, com
a consequente amputação do direito de veto por parte
de um «pequeno» país, quando esteja em causa
a salvaguarda dos seus interesses fundamentais;
– Ou através, da proposta do fim do princípio
um país/um comissário permanente com direito a voto
na Comissão Europeia.
II - A ofensiva
neoliberal
A ofensiva do capitalismo neoliberal veria sistematizadas no período
1999/2004 as suas prioridades e agenda com a adopção
da denominada «Estratégia de Lisboa», durante
a Presidência portuguesa do Conselho Europeu, em 2000, sob
a responsabilidade do Governo PS, de António Guterres (aliás,
num momento em que a social-democracia assumia a responsabilidade
ou participava em 13 dos 15 governos dos países que integravam
a União Europeia), e na insistente aplicação
de políticas monetárias, conformes com o Pacto de
Estabilidade, adoptado em 1997, sob direcção do Banco
Central Europeu, que tem como objectivo da sua política o
controlo da inflação e a moderação salarial.
A prioridade dada à aplicação dos chamados
critérios de convergência nominal do Pacto de Estabilidade,
conduziu à secundarização da convergência
real das economias entre os diferentes países da União
Europeia e da aproximação dos níveis de vida
dos seus povos.
Esta ofensiva anti-social, com variações de país
para país, é generalizada e visa a:
– Liberalização do trabalho; precarização
do emprego; desregulação do mercado de trabalho; alongamento
do horário de trabalho e do tempo de desconto para a reforma;
congelamento e redução de salários reais;
– Liberalização dos serviços; a privatização
dos serviços públicos; o progressivo desmantelamento
da Administração Pública; dos serviços
públicos de Saúde; e o ataque à Escola Pública;
– Liberalização dos sistemas públicos
de segurança social e de pensões, pretendendo-se entregar
total ou parcialmente os descontos sociais dos trabalhadores aos
fundos de pensões administrados pelo capital privado.
Sob mistificações diversas, como a da pretensa «modernidade»
ou da «competitividade», os diferentes governos dos
países da União Europeia, tanto da direita como da
social-democracia, procuram impor a todo o custo contra-reformas
sociais determinadas pelos critérios de rentabilidade capitalista,
significando sempre a desvalorização da força
de trabalho, o enfraquecimento de direitos sindicais, o empobrecimento
da democracia e vantagens para o capital explorador.
Esta ofensiva verifica-se igualmente no quadro das negociações
da Organização Mundial do Comercio (OMC), onde praticamente
nenhum domínio do comércio, da actividade produtiva,
do investimento, de actividade, incluindo a produção
cultural está livre desta vaga liberalizadora. A mercantilização
de todas as esferas da vida social está aí como uma
real ameaça.
Apesar de consagrados nos Tratados, a igualização
no progresso das condições de vida e de trabalho desde
o Tratado de Roma, a coesão económica e social desde
o Acto Único Europeu, o capítulo sobre a política
social desde o Tratado de Amesterdão, não passam de
letra morta. Tudo o que interessa ao grande capital (do mercado
único, à moeda única e à «Estratégia
de Lisboa») é uma prioridade a implementar. Aquilo
que mais interessa aos trabalhadores e aos povos é colocado
em segundo plano ou pura e simplesmente ameaçado.
As consequências para Portugal aí estão, as
deslocalizações de multinacionais para o Leste europeu,
à procura dos apoios comunitários e dos salários
mais baixos, a destruição acelerada da nossa estrutura
produtiva, da indústria, da agricultura e das pescas, o escandaloso
agravamento do desemprego e das difíceis condições
de vida das famílias, com mais de dois milhões de
pessoas a viverem abaixo do nível de rendimento considerado
pela União Europeia como limiar de pobreza.
III - A acelerada militarização
da União Europeia
A militarização da União Europeia ganha um
novo ímpeto após a realização da Cimeira
Franco-Britânica, realizada em 1998, em Saint Mayo, acelerando-se
após as Cimeiras Europeias de Berlim e de Helsínquia,
em 1999, com a implementação de sucessivas decisões,
sendo uma das mais significativas, a adopção da «Estratégia
de Segurança da União Europeia», na Cimeira
Europeia de Bruxelas, em Dezembro de 2003, que aproxima o conceito
de segurança da União Europeia ao da NATO, nomeadamente
na «justificação» do intervencionismo
militar, ou seja, da guerra.
A militarização da União Europeia, com o
desenvolvimento de uma Política Europeia Comum de Defesa
e Segurança, com o ataque ao estatuto de neutralidade de
alguns dos Estados membros, com a criação, já
em 2004, da «Agência para o Desenvolvimento das Capacidades
de Defesa, da Investigação, da Aquisição
do Armamento», com os avanços para a criação
de um exército europeu, visa dotar a União Europeia
com capacidade militar, articulada com a NATO e orientada para a
ingerência e a intervenção em qualquer parte
do mundo.
Militarização que alicerça o objectivo de
afirmar a União Europeia como bloco político-militar,
mais ou menos subordinado aos Estados Unidos e à NATO, no
papel de polícias do mundo. Objectivo que passa também
pela procura da instrumentalização, desvirtuamento
e subalternização do papel da Organização
de Segurança e Cooperação Europeia (OSCE) e
da Organização das Nações Unidas (ONU)
nas questões de segurança e da paz. Militarização
que absorverá recursos colossais em proveito dos grandes
grupos ligados à indústria de armamento.
IV - Um alargamento da União Europeia
em condições inaceitáveis
O alargamento da União Europeia a dez países do
Leste da Europa e do Mediterrâneo – Chipre, Eslováquia,
Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia,
Malta, Polónia e República Checa –, que se concretizou
no passado dia 1 de Maio, realiza-se no quadro de expansão
do capitalismo e da NATO ao Leste da Europa.
As negociações concluíram-se em condições
impostas pela União Europeia, onde abundaram decisões
discriminatórias, designadamente no acesso a meios financeiros,
à circulação de pessoas ou à imposição
de salvaguardas unilaterais de sanção, apenas aplicadas
aos países do alargamento.
Um quadro de negociações onde foram visíveis
os sinais de intromissão e chantagem relativamente a poderes
soberanos desses povos. De forma mais ou menos explícita,
impôs-se a fidelização ou filiação
na NATO e, no plano económico, autênticas políticas
de «ajustamento estrutural», à boa maneira do
FMI, com graves consequências económicas e sociais,
ou ainda, e mais recentemente, a inaceitável pressão
sob o povo cipriota quanto a decisões fundamentais sobre
o seu futuro, que só a si compete soberanamente decidir.
Cada país aderente foi empurrado para a criação
de uma «economia de mercado», com uma vaga de privatizações
e planos de austeridade orçamental e sem que, simultaneamente,
lhes fossem dadas iguais condições de tratamento.
Bem pelo contrário, como é patente nas ajudas reduzidas
à agricultura, na desigualdade na atribuição
dos fundos estruturais, nas restrições à circulação
dos seus cidadãos, tendo em conta a manutenção
dos limites do actual quadro financeiro a 15 numa União Europeia
a 25, sem que estivessem garantidos meios. Financeiros suficientes
para as compensações necessárias ao seu desenvolvimento
e convergência real.
O alargamento da União Europeia, relativamente ao qual
o PCP sempre considerou, no respeito pela irrecusável soberania
e vontade de cada povo e país aderente, não ter objecções
de princípio, não podia nem devia ter sido considerado,
sem uma rigorosa avaliação dos impactos que dele decorrerão,
seja para esses países seja para os actuais Estados membros.
E uma primeira e decisiva questão a ser considerada era a
avaliação dos seus custos financeiros e das suas incidências
económicas e sociais, em termos globais e em cada país.
Ora, nada disto foi feito.
O processo e as condições em que se realiza o actual
alargamento não asseguram as políticas e os meios
financeiros necessários à promoção da
tão propalada «coesão económica e social»
e, bem pelo contrário, subestimam os problemas e as consequências
decorrentes para os países candidatos – na sua esmagadora
maioria com um rendimento médio inferior a metade da média
dos anteriores quinze – e para os países economicamente
menos desenvolvidos da União Europeia, como é o caso
de Portugal.
Saliente-se que não são ainda conhecidos os seus
custos financeiros e as suas consequências económicas
e sociais para Portugal, que todos os estudos continuam a mostrar,
ser o país da União Europeia, senão mesmo o
único dos 15, que mais perde com o alargamento.
Como o PCP em tempo oportuno alertou, a relativa proximidade dos
níveis de desenvolvimento, das características dos
tecidos produtivos e da tipologia das produções da
generalidade dos países aderentes relativamente a Portugal;
as desigualdades significativas em termos de nível científico,
qualificação profissional da sua mão-de-obra
e custos de produção, em prejuízo do nosso
País; a acentuação da situação
«periférica» de Portugal, o que, só por
si, tem custos acrescidos, entre outros aspectos, deveriam ter sido
levados em conta na avaliação dos impactos do alargamento.
Face ao actual debate sobre o próximo quadro financeiro
comunitário, são reais as ameaças de que venham
a ser os países de menor desenvolvimento a pagar os custos
do alargamento. O que seria completamente inaceitável, perante
a certeza das vantagens económicas e políticas que
os mais poderosos dele retirarão, e que, aliás, estão
no centro da dinamização e aceleração
deste processo.
Tendo em conta que constitui um objectivo prioritário da
União Europeia, inscrito nos seus Tratados, a «coesão
económica e social» e a aproximação do
nível de vida dos seus povos, a Comunidade deveria dotar-se
das políticas e meios financeiros suficientes para que o
alargamento fosse concretizado sem prejuízo da coesão
nos futuros e actuais Estados membros economicamente menos desenvolvidos,
como Portugal. O que nem sequer seria uma novidade, já que
aquando da adesão de Portugal e Espanha, em 1986, à
então CEE, foi definido um programa de apoio para a Grécia
para fazer face às consequências da entrada destes
dois países com níveis de desenvolvimento económico
próximos do seu.
NOTA:
(1) Estes temas, «Constituição
Europeia», «Alargamento», «Ofensiva do capitalismo
neoliberal» e «Militarização da União
Europeia», pela sua importância na actual situação
e evolução da União Europeia, são desenvolvidos
em anexo a esta Declaração Programática.
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