Resolução Política
I
- O novo quadro político-perigos, desafios, linhas de acção
II
- A
influência eleitoral do PCP - uma séria preocupação
III
- Orientação e acção políticas
do PCP desde o XVI Congresso
IV
- Dinamizar
e reforçar a iniciativa e a intervenção partidária
V
- PCP - Uma força com causas e convicções,
uma força com futuro
I
O novo quadro político-
perigos, desafios, linhas de acção
1. Os resultados das eleições
legislativas de 17 de Março criaram um novo quadro político
determinado fundamentalmente pelo termo de seis anos de governação
do PS e pela formação de um governo de coligação
PSD-CDS/PP dispondo de uma maioria absoluta de deputados na AR.
Embora a vitória eleitoral do PSD não tenha tido
uma expressão tão ampla como em 1987 e 1991, a nova
situação criada ao nível de Governo e da AR
representou uma vez mais, apesar dos múltiplos esforços
persistentemente desenvolvidos ao longo de anos pelo PCP contra
tal possibilidade ou perspectiva, uma rotação no exercício
do poder entre o PS e o PSD. Este, tendo apoiado aspectos essenciais
da política do PS, capitalizou ao mesmo tempo o descontentamento
com essa política e uma certa aspiração difusa
de «mudança», muito favorecida também
pela «dinâmica de vitória» que o PSD chamou
a si explorando os seus resultados nas autárquicas de Dezembro
de 2001.
É um facto evidente que o êxito eleitoral dos partidos
de direita está indissociavelmente ligado, sem prejuízo
de outros factores de desgaste, à política de direita
levada a cabo pelos governos do PS. Com efeito, mais do que um genuíno
processo de adesão popular às propostas da direita,
o resultado alcançado pelo PSD e pelo CDS/PP traduz, essencialmente,
a capitalização por parte desses partidos de um amplo
descontentamento de uma muito generalizada desilusão por
parte de significativos sectores da população. As
promessas feitas em 1995 e depois não cumpridas pelo PS,
a perspectiva de uma viragem política então apresentada
ao eleitorado, e posteriormente rejeitada e abandonada pela prática
governativa e parlamentar do PS, empurraram esses sectores do eleitorado
para a armadilha demagógica e populista dos partidos de direita
e foram as grandes responsáveis pela vitória da direita
nas eleições de 17 de Março.
2. A formação e entrada
em actividade do Governo PSD-CDS/PP representa uma evolução
muito negativa na vida política nacional, contra a qual o
PCP claramente se bateu na campanha das legislativas, e que se traduzirá
seguramente no anunciado propósito constante do Programa
do Governo de agravar e acentuar a política de direita, levar
mais longe as políticas neoliberais, dar maiores passos no
sentido de privatizações nos sistemas públicos
de segurança social, saúde e ensino e de outros serviços
públicos, pôr em causa importantes componentes do regime
democrático-constitucional, aplicar concepções
conservadoras em muitas questões sociais e culturais, restringir
os direitos dos trabalhadores e aumentar a sua exploração,
no quadro global de uma ainda maior subordinação da
acção do governo aos interesses e ditames do poder
económico.
3. O novo quadro político resultante
das eleições legislativas de 17 de Março e
as condições em que o Partido vai ser chamado a intervir
e a desenvolver a sua actividade têm que ser considerados
no contexto do inquietante agravamento da situação
internacional, de preocupantes evoluções das políticas
registadas na União Europeia, de graves avanços eleitorais
da extrema-direita em alguns países europeus e de uma situação
do país marcada pela dificuldades económicas, debilidades
estruturais e agravamento das desigualdades sociais.
Uma situação internacional, instável e perigosa,
profundamente marcada pela ofensiva desencadeada na sequência
e a pretexto do atentado terrorista de 11 de Setembro, visando impor
ao mundo uma nova ordem mundial totalitária, hegemonizada
pelos EUA. Esta situação é indissociável
da própria natureza do imperialismo e da nova correlação
de forças resultante do desaparecimento do socialismo enquanto
sistema mundial e está intimamente associada à natureza
da economia capitalista contemporânea. Apesar da correlação
de forças desfavorável às forças revolucionárias
e progressistas, a ofensiva imperialista encontra na luta dos trabalhadores
e dos povos uma combativa resistência. É nessa resistência
e no acumular de forças a que pode conduzir, que reside a
chave para inverter a actual situação e abrir caminho
a transformações que sirvam os interesses dos trabalhadores
e dos povos e que assegurem a paz mundial.
Uma evolução negativa na União Europeia, onde
têm vindo a acentuar-se o prosseguimento das políticas
capitalistas neoliberais, as tendências federalistas e as
pulsões e decisões militaristas e securitárias
que têm encontrado em Portugal o acordo e comprometimento
das políticas de sucessivos governos.
Ganham particular relevo na expressão destes traços
negativos os processos de liberalização e privatização
de serviços e competências públicos, a insistência
na «flexibilização» e desregulamentação
das leis laborais e a ofensiva contra os sistemas públicos
de segurança social; o arranque dos trabalhos da «Convenção»,
apropriando-se de direitos soberanos dos Estados membros em matéria
de alteração dos Tratados, e cujos objectivos federalistas
são evidentes; a completa submissão perante os EUA
e Israel face aos dramáticos acontecimentos na Palestina,
enquanto se promovem os projectos de reforço do complexo
militar industrial, o desenvolvimento de gravosas medidas securitárias
pondo em causa direitos, liberdades e garantias, de que são
exemplo as tentativas de restrição de direitos de
asilo e a criação do mandato de busca europeu.
Pelas suas particulares consequências para Portugal, é
necessário sublinhar a insistência no fundamentalismo
monetário do Banco Central Europeu, e num Pacto de Estabilidade
manifestamente factor de agudização de problemas económicos
e sociais dos países membros, ao promover a contenção
salarial e a redução da despesa pública.
4. Este novo quadro político
coloca ao PCP, a todas as forças e sectores democráticos
e de esquerda, ao movimento sindical e a outras forças e
movimentos sociais, o imperativo desafio e a indeclinável
responsabilidade de contribuírem no plano político,
social e institucional para um amplo, forte e diversificado processo
de resistência e combate aos eixos fundamentais da ofensiva
do novo Governo, em defesa de direitos adquiridos e conquistas alcançadas,
travando e derrotando políticas, decisões e medidas
que, além de agredirem os interesses de vastas camadas da
população, engrossariam uma torrente de factos consumados,
cuja rectificação, no futuro, poderia ser mais difícil
sobretudo no caso de se manterem as orientações até
agora prevalecentes no PS.
5. Seria tão perigoso e erróneo
dar como certa e duradoura a estabilidade e a solidez da coligação
PSD-CDS/PP como criar a expectativa de um rápido aparecimento
de conflitos e contradições internas que levem à
sua próxima desagregação.
Por um lado, o exercício do poder e a oportunidade de promover
o avanço de um conjunto de contra-reformas ambicionadas pelo
grande capital não deixarão de funcionar como um factor
de agregação no campo da direita.
Mas, por outro lado, a desilusão e o descontentamento que
a sua política certamente causarão e provocarão
e a dimensão do processo social e político de luta
e de resistência à política do Governo poderão
criar dificuldades à coligação governante e
favorecer a manifestação de conflitos e contradições
entre o PSD e o CDS/PP.
6. Contrariando posições
de compromisso mais ou menos veladas com a política da direita,
tacticismos de vistas curtas e as concepções dos que,
intimidados pela vitória eleitoral da direita, parecem esquecer
os 47% de eleitores que votaram nos partidos que agora são
oposição e ignoram as suas aspirações,
o PCP salienta a plena legitimidade da resistência e do combate,
no exercício dos direitos democráticos consagrados
na Constituição, à política do Governo
PSD-CDS/PP.
A política concreta que o Governo de coligação
PSD-CDS/PP se propõe realizar, nalguns casos atestando já
um imediato rasgar de promessas e compromissos eleitorais, torna
clara uma orientação política com uma profunda
marca de classe subordinada aos interesses e aos objectivos dos
grandes grupos económicos e financeiros nacionais e estrangeiros,
que já está a ferir os interesses e as aspirações
de largas camadas sociais e das populações.
7. Neste quadro, a par da acção
política geral e de uma combativa intervenção
nas instituições, assume uma importância decisiva
e um papel fundamental a dinamização, intensificação
e desenvolvimento das lutas de massas e a intervenção
das organizações e movimentos sociais – com
especial destaque para o movimento sindical unitário –,
a sua capacidade de mobilização e agregação
em torno da defesa de direitos e interesses ameaçados e da
satisfação de justas reivindicações,
e a sua convergência na reclamação de uma nova
política.
8. Muito embora seja de admitir que
o PS, na oposição, venha a diminuir o grau e a intensidade
dos compromissos estabelecidos com os partidos de direita quando
era Governo, é entretanto muito provável que o PSD
e o CDS/PP procurem manter o PS prisioneiro das suas anteriores
posições em diversas matérias, o que representaria
um perigoso e indesejável alargamento da base de apoio político
e parlamentar a gravosas decisões e orientações
como, por exemplo, a da «contenção salarial»,
da introdução dos «tectos contributivos»
(«plafonamento») na segurança social, a privatização
de componentes do Serviço Nacional de Saúde, a alteração
das leis eleitorais e outros aspectos da chamada «reforma
do sistema político», e ainda opções
fundamentais em matéria de evolução da integração
europeia e política externa.
Neste âmbito, o PCP não pode deixar de considerar
um péssimo prenúncio, até pelas inevitáveis
dificuldades que provocaria no seu relacionamento com o PS, a já
anunciada convergência entre PS e PSD em torno de aspectos
fundamentais da chamada «reforma do sistema político»
e, em particular, da alteração da lei eleitoral para
a AR que visa a criação de círculos uninominais
que pressionariam no sentido de uma ainda maior concentração
de votos no PSD e no PS.
9. O PCP considera necessário
e indispensável que, para fazer face aos sérios desafios
e graves ameaças criados pelo regresso da direita ao Governo,
se desenvolvam nos mais diversos planos os processos de diálogo,
cooperação, acção comum ou convergência
entre forças e sectores democráticos de oposição,
seja para resistir à ofensiva da política governamental
seja para afirmar, sempre que possível, políticas
alternativas comuns.
Ao mesmo tempo, e tal como é direito inalienável
de todas as outras forças democráticas, o PCP não
abdicará nem prescindirá da sua autonomia de análise,
juízo e acção, da afirmação diferenciada
das suas propostas, valores e projecto, do seu propósito
de, pelo seu papel e intervenção, se constituir em
destacado protagonista da aspiração e da exigência
de uma política de esquerda, cujos progressos e avanços
em termos de consciência social e de opinião dos trabalhadores
e demais cidadãos são um factor essencial e determinante
para a futura construção de uma alternativa de esquerda.
10. O novo quadro político emergente
das últimas eleições legislativas exige do
PCP um ainda mais atento e rigoroso acompanhamento, exame e crítica
das políticas governamentais e do seu desenvolvimento, uma
ainda mais aguda e desperta sensibilidade para os problemas dos
trabalhadores, do povo e do País, uma ainda mais pronta capacidade
de iniciativa política e da sua coordenação,
uma ainda mais forte intervenção como Partido de luta
e de proposta, uma ainda melhor articulação e cooperação
entre a sua actividade e intervenção parlamentar e
os outros planos de intervenção e frentes de trabalho.
11. Considerando os grandes eixos já
anunciados, e em concretização, da política
governamental, e no quadro das propostas para uma política
de esquerda constantes do Programa Eleitoral que apresentou ao eleitorado,
o PCP assume como preocupações centrais da sua intervenção
no novo quadro político, nomeadamente:
- o combate decidido e prioritário ao empolamento e à
dramatização propositadamente praticados pelo Governo
PSD-CDS/PP em torno da situação financeira e orçamental
deixada pelo Governo do PS e que têm como objectivo essencial
fomentar um clima de fatalismo, crise, medo e resignação
que facilite, quer a liquidação de postos de trabalho
efectivos ou de prestadores de serviços, quer o ataque aos
salários dos trabalhadores e a imposição de
injustos sacrifícios à maioria da população,
enquanto se reforçam as benesses e privilégios concedidos
ao grande capital;
- a luta consequente pela valorização do trabalho,
por aumentos dignos de salários e de pensões, pelo
emprego de qualidade, pela garantia dos direitos dos trabalhadores
e das trabalhadoras, contra a precariedade e pela recusa de gravosos
retrocessos na legislação laboral;
- uma intervenção contra as tentativas de fazer retroceder
importantes direitos das mulheres, designadamente no trabalho, na
família e no domínio dos direitos sexuais e reprodutivos;
- a activa defesa de conquistas e direitos sociais, designadamente
dos sistemas públicos de segurança social, saúde
e ensino, contra uma ofensiva privatizadora que não resolveria,
antes agravaria, os sérios problemas existentes em áreas
cruciais para a satisfação de necessidades essenciais
da população;
- a luta contra alterações de sentido antidemocrático
na legislação eleitoral (nomeadamente as referentes
às eleições para a AR e para as autarquias),
com uma frontal oposição à imposição
de executivos municipais partidariamente homogéneos e à
criação de círculos uninominais nas eleições
legislativas (e à redução do número
de deputados) que favoreceriam uma ainda maior concentração
de votos no PS e no PSD, bem como a projectos de ingerência
estatal na vida dos partidos;
- o enérgico prosseguimento da luta pela justiça
fiscal, contra o aumento do IVA (que atinge indiferenciadamente
todos os cidadãos mas pesando mais sobre os que têm
menos rendimentos), por novos desagravamentos da carga fiscal sobre
o trabalho, e contra a anulação da tributação
das mais-valias da especulação financeira;
- a firme oposição à destruição
da capacidade produtiva na indústria, nas pescas e na agricultura,
aos processos de privatização de empresas e serviços
públicos, com especial destaque para os transportes, energia
água e saneamento e para os graves golpes projectados pelo
Governo contra o serviço público de televisão
e de rádio;
- uma reforçada atenção e uma constante exigência
da adopção de políticas e medidas de efectivo
combate à pobreza, à marginalização
e exclusão sociais, de prevenção e tratamento
da toxicodependência, como é essencial tanto para a
defesa de inalienáveis direitos humanos como para a prevenção
e atenuação de fenómenos de exasperação,
tensões, violência e insegurança na vida colectiva;
- a promoção de uma política que favoreça
uma efectiva inclusão social das comunidades imigrantes,
no respeito pela interculturalidade, e que seja capaz de assegurar
a protecção dos seus direitos e das suas condições
de trabalho;
- a defesa de uma política de preservação
do ambiente, que inclua aspectos indissociáveis de ordenamento
do território, dos transportes, de utilização
racional de energia, visando o desenvolvimento e o bem estar das
populações;
- a luta pela paz, contra os planos de guerra do imperialismo,
a solidariedade com os povos que são vitimas das agressões
imperialistas e que lutam pelos seus direitos nacionais e sociais.
II
A influência eleitoral do PCP
-
uma séria preocupação
1. Os resultados obtidos pela CDU,
designadamente nas eleições autárquicas de
Dezembro de 2001 e nas legislativas de Março de 2002, puseram
em evidência um súbito agravamento da perda da influência
eleitoral do PCP que, tendo tido o seu início nas eleições
de 1985, suscita compreensíveis preocupações
e reclama uma exigente reflexão.
2. Considerando nomeadamente a década
de 90, o que os resultados eleitorais do PCP espelham é uma
relativa estabilização da sua influência em
eleições legislativas (preocupantemente interrompida
nas eleições de 17 de Março deste ano) e uma
continuada perda de influência (cerca de 1 ponto em cada eleição)
nas eleições para o Parlamento Europeu e para as autarquias
locais em que a CDU tradicionalmente obtém votações
mais altas que nas legislativas. No caso das autarquias locais,
há ainda que ter em conta o efeito negativo de extensas perdas
de posições, designadamente de Presidências
de Câmara, com uma expressão desproporcionada em relação
às perdas globais de influência eleitoral.
3. No quadro de um esforço,
que necessita de ser prosseguido e desenvolvido, de aproximação
às causas ou razões da perda de influência eleitoral
do PCP ou das suas patentes dificuldades de progressão eleitoral,
é de admitir que nelas pesem, de forma variável mas
interligada e complexa, factores como:
- os múltiplos efeitos ainda não superados em termos
de opinião pública, das derrotas do socialismo no
Leste da Europa e a sua projecção negativa sobre a
capacidade de atracção dos ideais e do projecto político
próprio do PCP consagrado no seu programa «Portugal
– Uma Democracia Avançada no Limiar do Século
XXI»;
- os efeitos de uma persistente ofensiva de silenciamento, deturpação
e falsificação das posições, propostas
e orientações do PCP, favorecendo a manutenção
de preconceitos e desconfianças;
- um conjunto de profundas mudanças na vida política,
nas estruturas económicas e no tecido social, na relação
dos cidadãos com a política e no plano dos valores
e das atitudes sociais e políticas para as quais o Partido
ainda não encontrou resposta eficaz e que têm dificultado
poderosamente ou a apreensão da mensagem e propostas do PCP
ou a sua tradução em opções eleitorais;
- as múltiplas debilidades, atrasos e deficiências
na organização do Partido e na sua intervenção
a variados níveis que dificultam um maior enraizamento social
do Partido, uma maior agregação política e
ideológica do seu eleitorado, e a conversão em apoio
eleitoral da larga adesão que muitas das suas propostas,
iniciativas e acções suscitam, nomeadamente no plano
social;
- a crescente e diversificada influência dos «media»
sobre a formação da opinião dos cidadãos
e sobre a vida política, induzindo designadamente negativas
generalizações sobre «os partidos», a
desagregação de valores e referências, uma fragmentação
da informação e uma grande volatilidade dos movimentos
de opinião que criam especiais dificuldades à intervenção
e mensagem do PCP;
- as patentes dificuldades do Partido em superar ou atenuar os
efeitos sobre as opções de voto da prolongada propaganda
e favorecimento da «bipolarização» entre
PS e PSD e da relativa transformação das eleições
legislativas em eleições para primeiro-ministro, induzindo
critérios de opção de voto que, secundarizando
a apreciação do real trabalho realizado e das reais
propostas apresentadas pelo PCP, inclusive na Assembleia da República,
manifestamente prejudicam a sua afirmação eleitoral;
- a perda de perspectivas e o desânimo causados em sectores
do eleitorado do PCP pela prolongada imposição da
política de direita e a sua correspondente falta de confiança
na próxima concretização de uma real alternativa
de esquerda.
4. Sendo expressão de muitas
destas causas e factores gerais, os resultados das eleições
de 16 de Dezembro para as Autarquias Locais reflectem ainda –
para além do peso crescente de factores nacionais sobre a
natureza local destas eleições – um quadro muito
contraditório, complexo e não uniforme de razões,
entre as quais são de destacar: deficiências no trabalho
autárquico e no desenvolvimento de campanhas eleitorais;
esbatimento dos traços mais distintivos do nosso projecto
autárquico no exercício do poder em algumas autarquias;
insuficiências na acção de organizações
locais e da sua influência; aspirações difusas
e erróneas de «mudança» entre sectores
do eleitorado; a arrumação e concentração
de votos entre partidos nossos adversários; o uso de meios
do aparelho de Estado em favor das candidaturas do partido do Governo.
5. Sem prejuízo do quadro geral
referido no ponto 3. e em seu acréscimo, e sem esquecer negativas
indicações e sinais resultantes das presidenciais
de Janeiro de 2001, das autárquicas de Dezembro de 2001,
é entretanto de admitir que, no resultado obtido pela PCP
e pela CDU nas últimas eleições legislativas,
tenham pesado de forma considerável elementos conjunturais
particularmente desfavoráveis (não verificados nas
eleições de 1999), com a agravante do seu encadeamento
num curto de espaço de tempo, designadamente:
- a súbita convocação de eleições
legislativas antecipadas (provocada pela demissão de António
Guterres) numa conjuntura política e de opinião muito
marcada, quanto à CDU, pelos variados impactos do seu mau
resultado nas autárquicas;
- os danos causados à imagem do PCP, a partir das autárquicas
e durante todo o período de pré-campanha das legislativas,
por processos de contestação pública e de deturpação
das suas orientações por parte de alguns membros do
Partido e tendo como principais eixos acusações ao
PCP de intolerância e uma predominante responsabilização
do PCP pela falta de uma alternativa de esquerda;
- a manifesta animosidade, preconceito e parcialidade que marcaram
a cobertura da pré-campanha e da campanha da CDU por grande
parte dos «media», provocando visões distorcidas
da mensagem, imagem, discurso e propostas eleitorais do PCP;
- a «dinâmica de vitória» protagonizada
pelo PSD a partir das autárquicas com o correspondente avolumar
do perigo do regresso da direita ao Governo (situação
inexistente nas eleições de 1999) e os seus reflexos
junto de segmentos do eleitorado da CDU no sentido de uma opção
de voto no PS «para derrotar direita» (enquanto o eleitorado
do CDS não terá sofrido uma equivalente pressão
para votar PSD porque este era dado como «força ganhadora»).
6. De acordo com a sua identidade,
os seus objectivos e o seu projecto político, o papel do
PCP na vida nacional não se resume à concorrência
a eleições e à correspondente representação
e intervenção nas instituições que são
porém, no quadro do regime democrático que o PCP ajudou
decisivamente a fundar, um dos elementos essenciais para a prossecução
do seu projecto político e para a intervenção
transformadora que lhe é inerente.
Neste sentido, seria negativo que a legítima inquietação
e o necessário inconformismo com os maus resultados eleitorais
do PCP conduzissem a transformá-los no exclusivo critério
de avaliação da acção, papel e intervenção
do Partido na sociedade portuguesa.
Entretanto, é indiscutível que a grave quebra de
influência eleitoral sofrida pelo PCP tem consequências
muito negativas sobre o conjunto da sua actividade, luta, intervenção
e capacidade de atracção, pelo que, a par das suas
outras importantes responsabilidades nacionais, a recuperação
e o reforço da sua influência eleitoral tem de ser
inscrito como uma séria preocupação e como
um dos objectivos de enorme importância para o presente e
o futuro do PCP.
III
Orientação e acção
políticas
do PCP desde o XVI Congresso
1. Importando examinar atentamente
a orientação e acção políticas
do PCP desde o XVI Congresso (Dezembro de 2000) considera-se que,
globalmente e sem prejuízo de limitações e
insuficiências, corresponderam às grandes orientações
aprovadas no XVI Congresso. A este propósito, deve recordar-se
que, quanto a caracterizações essenciais sobre a política
do Governo do PS, quanto à política de alianças
e atitude do PCP face ao PS e quanto a linhas de acção
no quadro da luta por uma alternativa de esquerda, o XVI Congresso
não modificou, em nenhum aspecto relevante, as análises
estabelecidas no XV Congresso (Dezembro de 1996).
2. É também de recordar
que a atitude e orientação do PCP face aos Governos
do PS, e designadamente o seu posicionamento como oposição
de esquerda (articulado com um sério empenho construtivo
na aprovação de todas as propostas e medidas positivas),
foi definida pelo Comité Central do PCP, na sequência
da apresentação dos respectivos programas de governo,
nas suas reuniões de 8.12.95 e 20 e 21.11.1999, constando
de comunicados então aprovados por unanimidade. De referir
ainda, de forma crítica, que nem nos momentos cruciais da
formação dos seus Governos nem em qualquer outro momento
ao longo dos seus seis anos de governação, jamais
o PS manifestou qualquer abertura ou disponibilidade para um diálogo
e exame globais com o PCP sobre a política e as soluções
governativas necessárias ao país.
3. No respeito pelas orientações
do XVI Congresso, o PCP prosseguiu em 2001 uma acção
política geral caracterizada pela crítica a eixos
essenciais da política do PS e à sua continuada convergência
ou coincidência com a direita em questões estruturantes;
pelo combate às propostas e pressões do PSD e do CDS-PP;
pelo esforço para alargar o apoio popular a propostas, reivindicações
e medidas inseridas numa política de esquerda; e pela abertura
para, como veio a acontecer em vários casos, embora por vezes
de alcance limitado, convergir com o PS na aprovação
do rendimento mínimo garantido ou viabilização
de propostas positivas, como aconteceu, designadamente, na aprovação
da reforma fiscal e da Lei de Bases da Segurança Social.
4. Ao mesmo tempo, considera-se indispensável
ter em conta, como elemento nuclear e factor condicionante de toda
a evolução da situação política
em 2001, que o PS, rendendo-se a chantagens do PSD e a pressões
do grande capital, assumiu então uma mais acentuada viragem
à direita que ficou indiscutivelmente expressa na orientação
e características da remodelação governamental
de Junho. Esta viragem expressou-se também claramente na
solene apresentação do programa dito de «contenção
da despesa pública» (de facto apostado na drástica
contenção dos salários) explicitamente destinado
a configurar o Orçamento do Estado para 2002; no anúncio
de graves recuos na reforma fiscal, cedendo designadamente à
campanha contra a tributação das mais-valias bolsistas.
5. É ainda de sublinhar que
criticando e combatendo vivamente esta acentuada viragem à
direita, o PCP muitas vezes advertiu para que as cedências
do PS à direita não retirariam a esta espaço
político de capitalização de descontentamento
e que a sujeição do PS às pressões do
poder económico não impediriam este de vir a fazer
outras apostas políticas e eleitorais, quando e se o considerassem
mais conveniente para os seus interesses.
6. Embora com as condicionantes da
necessariamente prolongada e exigente preparação das
eleições autárquicas de Dezembro e num quadro
geral que inclui lacunas, desacertos e insuficiências, o PCP
desenvolveu em 2001, no plano nacional, regional e local, assim
como na emigração, uma intensa e diversificada actividade
sustentada na generosa intervenção de milhares de
membros do Partido.
No plano nacional, são de destacar designadamente a manutenção
de uma elevada contribuição dos comunistas para a
intervenção e luta das organizações
e movimentos sociais; a qualificada e combativa intervenção
do seu Grupo Parlamentar, traduzida nomeadamente na apresentação
e aprovação de importantes projectos de lei e em outras
relevantes iniciativas como a interpelação sobre serviços
públicos e o debate sobre a reestruturação
fundiária na zona do Alqueva; a destacada intervenção
dos deputados do PCP no Parlamento Europeu em defesa dos interesses
nacionais; o renovado êxito da 25ª edição
da Festa do «Avante!»; as numerosas acções
de esclarecimento e iniciativas de reflexão sobre candentes
problemas nacionais; os elementos positivos registados no quadro
da preparação das autárquicas, nomeadamente
quanto ao número de órgãos a que a CDU conseguiu
concorrer e quanto ao rejuvenescimento e alargamento unitário
das listas da CDU (do total de candidatos às Câmaras
Municipais e Assembleias Municipais 35% tinham menos de 40 anos
e 40% eram independentes); a campanha nacional das «100 mil
assinaturas por melhores salários», que propiciou um
amplo contacto directo com os trabalhadores e outras camadas da
população, que permitiu recolher 200 mil assinaturas
em torno dessa reivindicação.
7. Nestes termos, considera-se que
as tentativas de responsabilização do PCP pela não
concretização de uma alternativa de esquerda, que
significasse a adopção de uma política de esquerda
e não a rendição do PCP a políticas
inaceitáveis, correspondem de facto a ignorar e absolver
as responsabilidades determinantes do PS pelo desperdício
da oportunidade criada após 10 anos de governos de direita,
pela existência desde 1995 de uma folgada maioria numérica
de deputados comunistas e socialistas na Assembleia da República.
IV
Dinamizar e reforçar
a iniciativa e a intervenção partidária
Tendo em conta as questões que a actual situação
nacional e internacional, em particular o novo quadro político,
colocam ao Partido, a Conferência Nacional aponta linhas prioritárias
para o reforço da intervenção e influência
do Partido, no plano da luta de massas, na intervenção
e iniciativa políticas, na acção institucional
e no reforço da organização e da coesão
do Partido.
1. A luta de massas é a forma essencial
e mais eficaz de fazer frente à política de direita
e de contribuir para a formação da consciência
de classe e política. A luta de massas, no quadro do exercício
dos direitos democráticos e como expressão da vontade
popular, é um legítimo direito constitucional, como
o é a acção nos e junto dos órgãos
do poder.
A luta de massas, da classe operária, dos trabalhadores,
dos agricultores, da juventude, das mulheres, dos intelectuais,
dos micro, pequenos e médios empresários, dos reformados
e pensionistas, de todas as classes e camadas sociais feridas nos
seus interesses e aspirações pela política
de direita, será determinante não só para a
defesa dos seus interesses vitais, mas também para acelerar
a compreensão da verdadeira política do governo PSD/CDS-PP
e para atrair a essa luta sectores e partidos democráticos.
A dinamização dos movimentos de massas e das iniciativas
e acções populares é de importância fundamental.
Na situação actual e tendo em consideração
as linhas de ataque do Governo PSD/CDS-PP, destacam-se como objectivos
da acção de massas a exigir uma intervenção
convergente: a defesa e aprofundamento dos direitos dos trabalhadores;
a defesa do aparelho produtivo e dos postos de trabalho; a melhoria
dos salários e do poder de compra; a defesa e desenvolvimento
das funções sociais do Estado e dos serviços
públicos – sistema público da segurança
social, serviço nacional de saúde, ensino público,
serviço público de comunicação social,
propriedade pública e papel do Estado nos sectores dos transportes,
das águas e saneamento, da energia e comunicações
– e a defesa do regime democrático contra as novas
operações que visam pô-lo em causa. A luta pela
paz e as acções de solidariedade internacionalista
são outras importantes linhas de intervenção
a fortalecer e desenvolver.
2. A acção e a intervenção
do PCP nas diferentes áreas da vida nacional são
determinantes para a defesa consequente dos interesses das massas
populares.
Privilegiando o desenvolvimento da acção de massas,
intervindo para assegurar o carácter unitário e uma
justa orientação dessas acções, dinamizando
o trabalho e iniciativas unitárias, o Partido não
pode, nem deve limitar-se a contribuir para essas acções.
Sempre que possível, o PCP deverá assumir de forma
explicita o seu papel dinamizador nas acções de justa
reivindicação e na organização e apoio
ao desenvolvimento dos movimentos de massas. No desenvolvimento
da acção de massas, o PCP não só deverá
ser determinante, como não pode, nem deve diluir-se, nem
apagar-se nessas acções.
É pela intervenção política própria
do Partido – com as suas propostas, os seus projectos, as
suas contribuições para a solução dos
problemas nacionais, afirmando-se como Partido da classe operária
e de todos os trabalhadores, mas assumindo-se igualmente como defensor
de todas as camadas vítimas da política de direita
– que o Partido poderá alargar a sua influência
orgânica, política e eleitoral.
Urge dar continuidade e reforçar a acção e
iniciativa própria do Partido demonstrando o valor do seu
projecto, divulgando e afirmando as suas propostas, reforçando
a ligação às realidades concretas, aos trabalhadores
e à população em geral.
Assim, no quadro da sua iniciativa política própria,
articulada com a acção institucional, a Conferência
Nacional decide lançar e concretizar até ao final
do próximo ano a acção «Em movimento,
por um Portugal com futuro», integrando diversificadas
iniciativas de esclarecimento, debate e mobilização
sobre diferentes problemas e questões da realidade nacional,
com o sentido geral de resistir à política de direita
e afirmar que os problemas com que o povo português e Portugal
se confrontam podem ter solução, que é possível
um país mais desenvolvido e mais justo, com a participação
popular e uma política alternativa. Inseridas nesta acção,
apontam-se desde já as seguintes iniciativas:
- uma grande acção nacional de esclarecimento, mobilização
e luta dos trabalhadores, jovens, reformados e pensionistas em torno
da defesa do sistema público da segurança social sob
o lema «segurança social pública e solidária
é de todos, privada é só de alguns»;
- a iniciativa «Investigação e desenvolvimento
para o futuro do país» centrada na avaliação
da situação, na denúncia da actual política
de fragilização das estruturas de investigação
e na aposta fundamental que é preciso fazer nas capacidades
dos cientistas e investigadores nacionais, dando-lhes condições
e estímulos, mobilizando o seu contributo para a definição
e concretização de um verdadeiro projecto de desenvolvimento
nacional;
- uma iniciativa sobre a Administração Pública,
visando recolher e divulgar contribuições para uma
Administração de qualidade ao serviço da população
e do país, e para fazer frente à actual ofensiva governamental;
- uma iniciativa sobre a defesa do ensino público, os seus
problemas, desafios e responsabilidades;
- uma campanha destinada a alertar para as situações
de carência existentes em muitas localidades sobretudo nas
zonas do interior, mas também em outras zonas do país,
tantas vezes esquecidas e reclamando linhas de apoio ao desenvolvimento,
campanha assente numa acção geral do Partido que pretende
abranger mil localidades.
Ao mesmo tempo salienta-se a acção junto das populações,
a luta e a participação popular, o trabalho no associativismo
popular no sentido da sua dinamização estruturação
e desenvolvimento, integrados com o desenvolvimento da acção
autárquica como elementos de grande importância
para a preparação da Conferência Nacional
sobre o PCP e o Poder Local, já decidida pelo Comité
Central para início do próximo ano, e cujo êxito
depende da concretização de um alargado e aprofundado
debate prévio em todo o Partido.
3. O papel do Partido, como a grande
força política que está em condições
de combater sem hesitações a política de direita
e de ser o dinamizador da acção de massas contra tal
política, torna-se ainda mais importante face à nova
ofensiva que se desenvolve contra conquistas democráticas
e as condições de vida das massas populares.
A organização do Partido é
o instrumento fundamental de ligação aos trabalhadores
e às populações. É nessa ligação
às massas, fortalecida pelo conhecimento dos problemas, que
reside a nossa capacidade de influência política e
social. Uma organização forte, actuante e com iniciativa
é indispensável para consolidar e ampliar a influência
social, política e eleitoral. É a organização
que dá força material às nossas ideias, propostas
e objectivos. A organização é inseparável
da natureza e dos objectivos de luta e transformação
social e do projecto revolucionário do PCP.
A importância da organização partidária
que temos é inegável, sendo necessário valorizar,
entre outros aspectos, o esforço de milhares de membros do
Partido que, com a sua militância e inserção
na vida partidária, asseguram uma permanente intervenção
do Partido, a capacidade de atrair ao Partido novos membros e a
realização de um importante número de iniciativas.
É, no entanto, necessário assinalar a continuação
e em alguns casos a acentuação de debilidades e deficiências
que se torna necessário ultrapassar, nomeadamente no plano
da estruturação orgânica, de direcção
e quadros, da integração dos militantes, da iniciativa
política e do estudo e formação política
e ideológica que impedem o aproveitamento de potencialidades
para alargar a influência do Partido. A todos os problemas
políticos e de organização já anteriormente
apurados, acrescentou-se nos últimos tempos a acção
fraccionária de alguns membros do Partido, que à margem
e em confronto com os princípios de funcionamento do Partido,
contribuem para a deformação da sua imagem pública
e tentam desagregar o seu funcionamento.
4. Os princípios de
funcionamento do Partido, a coesão e a democracia interna
são questões essenciais para o Partido. A coesão
do Partido é um elemento fundamental sem o qual
toda a intervenção e força do Partido é
afectada. O PCP tem princípios de funcionamento decididos
democraticamente pelo colectivo partidário. Cada pessoa,
quando decide aderir ao Partido, acto livre e voluntário,
assume um conjunto de direitos e deveres que, com os objectivos
de luta, são um compromisso fundamental inerente à
condição de membro do Partido. A organização
do Partido, baseada no funcionamento decidido colectivamente, faz
a diferença entre um conjunto de indivíduos isolados
e dispersos e uma força organizada composta por militantes
com as suas opiniões próprias, mas unidos na aplicação
das orientações resultantes do apuramento colectivo
e actuando segundo as regras democraticamente decididas pelo colectivo
partidário.
A organização e os princípios de funcionamento
alicerçados no reforço da democracia interna são
pilares essenciais da força do Partido, como elementos base
para a intervenção, para a ligação às
massas e para o alargamento da influência do Partido, mas
também, e em primeiro lugar, como elemento agregador e mobilizador
dos militantes do Partido.
A democracia interna, como característica essencial
do funcionamento do PCP, não se define apenas pelas
suas normas estatutárias, mas fundamentalmente como prática
concreta da actividade partidária livremente assumida e tendo
como pressuposto basilar a rejeição da sobreposição
de posições individuais ou de grupo contrapostas ao
pensamento, às decisões e à acção
colectivas. A dinamização das assembleias das organizações,
os debates temáticos, a realização regular
de plenários de cada organização, a melhoria
da informação interna e os espaços de participação
no «Avante!» são elementos a valorizar com vista
ao aprofundamento da democracia interna.
Só no quadro da coesão do Partido, do cumprimento
das suas normas e princípios de funcionamento baseados no
desenvolvimento criativo do centralismo democrático e consagrados
nos Estatutos, alicerçados na vontade e no querer dos militantes,
será possível encontrar soluções para
ultrapassar os muitos problemas que se colocam à organização
partidária.
5. É preciso ter consciência
de que não há resultados fáceis no trabalho
de organização. A primeira questão que se coloca
hoje aos comunistas é a necessidade de manterem o ânimo
revolucionário e compreenderem as condições
simultaneamente exigentes e difíceis em que lutam, para não
soçobrarem perante as dificuldades e resistirem às
campanhas sistemáticas para pôr em causa a imagem e
as perspectivas do Partido e os próprios ideais do socialismo,
com o fim de abalar o ânimo e a confiança dos quadros
e militantes do Partido. E é igualmente indispensável
haver em cada militante e organização a consciência
do papel decisivo da organização enquanto instrumento
de acção política e do trabalho persistente
necessário para a manter e reforçar.
Passado pouco mais de um ano e meio sobre o XVI Congresso, cujas
conclusões para o reforço do Partido, dado o calendário
político a que estivemos submetidos com eleições
sucessivas, em grande medida não foi possível levar
à prática, impõe-se na hora actual uma forte
dinâmica para a sua concretização. Tendo em
conta o papel insubstituível do PCP, coloca-se a necessidade
de promover um movimento geral de reforço do Partido
concretizando as conclusões aprovadas pelo XVI Congresso
a desenvolver sob o lema «Sim, é possível! Um
PCP mais forte». Este movimento é concebido
como um esforço global aos vários níveis e
áreas de intervenção a concretizar até
ao final de 2003.
Considerando as orientações definidas, o debate já
realizado e o papel central da organização do Partido,
são apontadas as seguintes medidas:
- o estimulo à iniciativa própria da organização
e dos militantes. O Partido é em cada local –
de trabalho ou de residência – aquilo que o conjunto
dos seus militantes consigam que seja, inserido no funcionamento
do colectivo partidário. É da acção
e iniciativa concreta de cada organização que depende
a afirmação do Partido e a sua capacidade de intervenção
sobre os problemas. Neste contexto, o contacto directo com as populações
e os trabalhadores, as acções de informação,
de propaganda e de esclarecimento são elementos essenciais
na natural presença e afirmação do Partido
e na sua acção nos locais de trabalho e de residência,
para cuja concretização é necessário
considerar os meios adequados;
- a realização de assembleias das organizações,
dando prioridade às organizações de base,
visando a dinamização da acção partidária,
a avaliação e definição do trabalho,
a intervenção sobre os problemas concretos, o debate
colectivo e a eleição dos respectivos organismos.
Define-se como objectivo a realização de assembleias
de todas as organizações de base, que as não
tenham realizado no último ano, até ao fim do primeiro
semestre de 2003. De modo a valorizar as assembleias e a divulgar
experiências será criado no «Avante!» durante
esta acção um espaço noticioso específico;
- o lançamento de uma acção em toda
a organização partidária para a aceleração
do esclarecimento da situação dos membros do Partido,
visando integrar aqueles que querem continuar ou restabelecer a
sua ligação com o Partido e aproximar os efectivos
contabilizados da realidade partidária, destacando quadros,
quando necessário, para este trabalho e promovendo a avaliação
de resultados. Tal acção visa contribuir para a integração
de cada militante numa organização e num organismo
e comporta também o objectivo de actualizar os dados de cada
membro do Partido de modo a permitir melhorar a informação
e o contacto. Para isso, é necessário encontrar formas
diversificadas, baseadas em primeiro lugar na participação
em reuniões, mas também na via postal e na utilização
da Internet, designadamente do correio electrónico (beneficiando
das suas vantagens sem contudo cair em soluções que
discriminem os membros do Partido em função do acesso);
- a realização, a par do esforço para
a integração de cada militante num organismo do Partido,
de um plenário regular de cada organização
(de preferência mensal), no plano das organizações
de base, como espaço de participação e debate
político de todos os membros do Partido da respectiva organização,
promovendo assim a participação dos militantes e aprofundando
a democracia interna;
- o reforço da militância, o alargamento do
núcleo activo, o rejuvenescimento de organismos, o aumento
do número de camaradas com tarefas e responsabilidades regulares,
uma maior ligação e integração dos membros
do Partido e uma mais larga responsabilização de quadros.
A elevação da militância é condição
para o reforço da capacidade e afirmação do
Partido e de resposta pronta aos problemas que a situação
política internacional e nacional e as questões locais
nos colocam e é inseparável da estruturação
do Partido, do esforço para promover um maior aproveitamento
das energias e capacidades do colectivo partidário e das
características e disponibilidades de cada militante. O desenvolvimento
do trabalho colectivo e da política de quadros nele sustentado
deve constituir uma permanente preocupação. Simultaneamente
é necessário dar novos passos para reforçar
e rejuvenescer o núcleo de funcionários do Partido;
- o lançamento de uma campanha de recrutamento de
2000 novos militantes até à Festa do «Avante!»
de 2003, dando continuidade à campanha anteriormente
realizada, devendo ser dada particular atenção ao
recrutamento nos locais de trabalho e em zonas onde a organização
é mais débil e à integração de
cada militante. O recrutamento e responsabilização
de jovens, sobretudo em organizações onde se verifica
a sua menor presença, é uma tarefa prioritária;
- o prosseguimento e a intensificação da
acção de reforço da organização
e intervenção do Partido junto da classe operária
e dos trabalhadores em geral, levando à prática
o plano de trabalho definido com o objectivo nacional de assegurar
a existência de trabalho organizado do Partido nas empresas
e locais de trabalho com mais de mil trabalhadores e/ou de importância
estratégica, entre outros objectivos regionais e sectoriais
de enraizamento partidário e de criação e dinamização
de células, inserindo nesta acção a preparação
do Encontro Nacional do Partido com este objectivo marcado para
19 e 20 de Outubro deste ano;
- o desenvolvimento do trabalho com diversas camadas e
sectores sociais, designadamente a juventude, os intelectuais e
quadros técnicos, os micro, pequenos e médios empresários
e os reformados e pensionistas. Uma maior atenção
e aprofundamento das questões da juventude e o apoio das
organizações partidárias à JCP e à
realização do seu VII Congresso; a definição
de medidas e iniciativas voltadas para o reforço da acção
junto dos quadros técnicos e intelectuais, tendo em conta,
designadamente, o seu papel e crescente assalariamento; e dos micro,
pequenos e médios empresários e a concretização
das linhas definidas pelo Comité Central para o trabalho
na área dos reformados e pensionistas – são
algumas das questões que se colocam. É necessário
considerar igualmente medidas para o reforço da acção
visando a participação das mulheres em plena igualdade
e o desenvolvimento do trabalho junto dos pequenos e médios
agricultores, dos pescadores, dos deficientes e dos imigrantes;
- a consideração da formação
política e ideológica como um imperativo permanente.
A afirmação do Partido e do projecto comunista na
actualidade passa por uma maior exigência na preparação
política e ideológica dos seus quadros e militantes,
designadamente no conhecimento da base teórica do Partido
– o marxismo-leninismo –, dos seus Estatutos e Programa,
o que torna mais necessária a formação de base
e a actualização permanente para todos os quadros
do Partido e da JCP, através do estudo individual, do debate
e da implementação de cursos e outras iniciativas
para o efeito. A dinamização da actividade editorial
e de «O Militante» como revista dirigida aos militantes
do Partido sobre questões ideológicas e de organização,
designadamente com o desenvolvimento de mesas-redondas e outras
iniciativas, é também uma componente importante da
preparação e formação política
e ideológica;
- a intensificação da informação
do Partido, da sua actividade de propaganda e o reforço dos
meios com esse objectivo. O desenvolvimento de uma persistente
e continuada acção de informação e propaganda
a nível central, regional e local, recriando estruturas e
dinamizando as existentes, assegurando uma melhoria da mensagem
do Partido, nomeadamente ao nível dos materiais e iniciativas,
e promovendo uma reflexão mais sistemáticas sobre
as questões relativas à imagem do Partido. A promoção
da difusão da imprensa do Partido, o alargamento das redes
de distribuição e venda, as acções de
venda na rua e o lançamento de uma campanha nacional de difusão
do «Avante!» com início na Festa do «Avante!»
de 2002 até ao 1.º de Maio de 2003 com o objectivo de
aumentar a venda em 2 000 exemplares. Estas são algumas das
medidas a tomar a que se deve associar o desenvolvimento do sítio
Internet do PCP, a dinamização da edição
electrónica do «Avante!» e a maior regularidade
de espaços do «Avante!» destinados à participação
dos membros do Partido;
- o aumento das receitas próprias do Partido dando
particular relevância à valorização do
pagamento da quotização de cada militante,
enquanto contributo para a actividade partidária e garantia
da independência da orientação e posicionamento
do Partido, apontando para o aumento do valor das quotas e adoptando
os sistemas necessários para o seu pagamento.
No plano da análise e medidas sobre aspectos da organização
partidária, é necessário também prosseguir
o exame de questões como as das áreas de menor
influência, da afectação de quadros
e meios financeiros e das soluções de estrutura e
ligação regional, bem como outros aspectos
do trabalho de direcção.
Sem iludir nem subestimar as condições difíceis
em que o Partido desenvolve hoje a sua actividade, com uma acção
baseada na militância, no esforço e na criatividade
de muitos milhares de comunistas, o Partido está em condições
para empreender com audácia e confiança a melhoria
da sua organização e intervenção, condição
para o reforço da sua influência. O movimento geral
de reforço do Partido exige uma grande tensão de esforços
na prossecução dos objectivos, a mobilização
de energias do colectivo partidário e a participação
e responsabilização de cada membro do Partido na acção
partidária, como organizador e mobilizador de uma mais forte
e audaciosa intervenção do Partido na sociedade portuguesa.
6. A par das medidas de reforço
orgânico, torna-se necessário aprofundar a
reflexão e análise sobre importantes questões
da realidade actual, que são muito relevantes para
a intervenção do Partido. Não esgotando as
matérias a submeter a exame, reflexão e análise,
considera-se que merecem particular atenção nos próximos
tempos as seguintes: a realidade económica do capitalismo
e suas tendências e perspectivas de evolução,
a globalização capitalista e o imperialismo actual;
a União Europeia, sua evolução, a Europa pela
qual lutamos e os interesses de Portugal; a estrutura socioeconómica
do país; o regime democrático português, evolução,
empobrecimento, realidade actual, novas ameaças, defesa e
aprofundamento da democracia; a comunicação social,
os condicionamentos culturais e políticos e a luta ideológica;
os mecanismos de dominação de classe na época
actual e o papel dos média; a estrutura de classes e a realidade
social portuguesa; os movimentos de massas, as lutas de massas e
novos aspectos no seu desenvolvimento; a ruptura com a política
de direita, o projecto de desenvolvimento nacional de que Portugal
precisa.
Estas são algumas das matérias que exigem exame,
reflexão e análise e cujo avanço operativo,
de acordo com as prioridades, e beneficiando da contribuição
dos membros do Partido, é necessário organizar.
V
PCP
Uma força com causas e convicções,
Uma força com futuro
1. A conjuntura política nacional
e internacional e o tempo histórico que vivemos exigem um
PCP empenhado em revivificar e renovar, no estudo, na teoria e na
acção, a afirmação da sua real identidade
e verdadeiro projecto político, capaz de escutar, compreender
e oferecer respostas e opções para o movimento, ainda
que contraditório e complexo, de ideias, interrogações
e aspirações que se manifestam na sociedade portuguesa.
Exigem um PCP mais forte e capaz de melhor influenciar e fazer avançar
a luta por grandes causas de justiça social, de progresso
e desenvolvimento nacionais, de valorização do trabalho
e dos trabalhadores, de fortalecimento da democracia e da intervenção
dos cidadãos, de solidariedade e generosidade colectivas.
Exigem um PCP protagonista activo, sensível e firme na resistência
a tudo quanto ofende a dignidade humana e sacrifica os interesses
do povo e do país em benefício dos privilégios
dos poderosos e na construção colectiva de caminhos
e horizontes à altura das necessidades e desafios que Portugal
enfrenta nesta entrada do terceiro milénio.
2. Os problemas e dificuldades que
o Partido enfrenta seguramente dispensam e desaconselham atitudes
de auto-satisfação, de rotina, de acomodação
ou resignação que, além do mais, seriam alheias
e contrárias ao melhor património de intervenção
e a elementos essenciais da cultura política dos comunistas
portugueses. Mas dispensam e desaconselham igualmente a tentação
de reclamar respostas simples e milagrosas para problemas complexos,
como, por exemplo, a presença de acções e mensagens
do Partido na comunicação social ou os seus resultados
eleitorais; uma visão do Partido como se fosse, ou pudesse
ser, uma entidade omnisciente e omnipotente; o esquematismo de decretar
que onde há fracassos e derrotas é porque, automaticamente
e sem excepção, houve erros de orientação;
o esquecimento ou minimização, nos momentos mais difíceis,
do imenso trabalho e valiosa intervenção, seguramente
insuficientes e não isentos de defeitos e erros, realmente
desenvolvidos pelo PCP.
3. O caminho para a superação
das dificuldades e desafios que o Partido enfrenta reclama serenidade,
maturidade e sentido da responsabilidade, espirito crítico
e autocrítico, audácia, inovação, determinação
e firmeza política e ideológica, uma vasta mobilização
de energias, vontades e capacidades existentes no colectivo partidário,
uma vivência do Partido não como uma entidade abstracta
ou sacralizada mas como uma construção colectiva e
um inevitavelmente imperfeito empreendimento humano, uma reflexão
criadora alimentada pela acção e o confronto directo
com a realidade, uma valorização e potenciação
do papel insubstituível que o PCP desempenha – e está
em condições de continuar a desempenhar - na vida
nacional.
4. A Conferência Nacional sublinha
com clareza a indispensabilidade, reforçada no actual contexto
da vida partidária, do restabelecimento, de preferência
por atitude voluntária de membros do Partido, dos laços
de fraternidade, de solidariedade, de lealdade e a inserção
das legítimas opiniões individuais na reflexão
e trabalho colectivo que, constituindo um imperativo ético
e político decorrente dos Estatutos que todos os membros
do Partido, podendo manter discordâncias, se comprometeram
a aceitar. O respeito por estes princípios é ainda
uma condição essencial para a coesão e unidade
do Partido, para a sua afirmação na vida nacional
e para a intervenção solidária dos comunistas
na sociedade portuguesa.
5. Sem a pretensão de que as
suas conclusões possam corresponder a todos os anseios, preocupações,
opiniões e posições que, de forma muito diversificada,
se expressaram no debate preparatório e sem prejuízo
de uma reflexão colectiva que importa prosseguir e aprofundar
no curso normal da vida democrática interna do Partido, a
Conferência Nacional lança um vivo, sentido e forte
apelo a todos os membros do Partido para que, pela sua opinião,
trabalho e acção, se empenhem na concretização
das linhas de orientação e de trabalho que, resultando
do debate democrático realizado e da vontade democraticamente
manifestada pelo colectivo partidário, se afiguram no momento
actual como as mais adequadas, correctas e urgentes.
6. Uma maior e mais activa intervenção
e responsabilização de todos os militantes pela vida
do Partido e pela afirmação dos seus projectos e valores
é indispensável para que o PCP possa ultrapassar dificuldades,
reforçar a sua intervenção e influência
e estar à altura das suas responsabilidades como o Partido
da classe operária e de todos os trabalhadores, como força
essencial e fundadora da democracia portuguesa, como força
impulsionadora da luta contra a política de direita e pela
futura construção de uma alternativa de esquerda,
como força coerentemente vinculada à luta por uma
democracia avançada e pelo socialismo consagrados no seu
Programa, como uma força revolucionária com causas
e convicções, uma força com futuro.
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