Notas e Comentários |
Media, on-line e mercantilismo
No fim de Março a administração da Sojornal.com,
ligada ao semanário Expresso, anunciou o fim do serviço
de actualização de notícias on-line, iniciado em
Outubro do ano passado, e a sua reconversão noutro tipo de jornal
digital. A decisão foi acompanhada, nomeadamente, pelo afastamento
de metade da equipa implicada no projecto. Facto este só comunicado
aos trabalhadores no próprio dia em que as transformações
foram anunciadas! |
- nos grandes patrões da nossa comunicação
social. Avança-se em iniciativas, contratam-se pessoas, estabelecem-se
compromissos sem estudos consistentes sobre a sua viabilidade, a ver
se dá, e se não der, paciência: fecha-se
a porta ou fazem-se umas reconversões tão atamancadas
e levianas como a decisão que, inicialmente, era anunciada como genial.
São incontáveis os jornais e revistas, ao longo dos últimos
anos, que passaram por tal processo. Em meio ano, os iluminados das novas tecnologias aplicadas aos media descobriram que, afinal, a vocação do Expresso on-line - que levara meses a preparar - não era dar e actualizar notícias, mas sim uma coisa completamente diferente: o debate, a critica e a opinião. É claro que para o grupo Balsemão e seus congéneres, umas centenas de milhares ou uns milhões de contos não são grande coisa. São o preço de um risco que se corre. Mas há outros aspectos, bem mais graves, que não estão no centro das suas preocupações. Por um lado, são os custos sociais - os tais efeitos colaterais, como agora está na |
moda dizer - que estas aventuras
sempre acarretam, com os trabalhadores, jornalistas e outros, transformados
em principais vítimas. Por outro lado, é a irresponsabilidade
e o total desrespeito com que esta dimensão social é geralmente
encarada pelo grande patronato dos media, e não só dos media. O reajustamento editorial anunciado pelos administradores do site implicou, para já, a dispensa de 17 trabalhadores. O futuro dirá: se o reajustamento der lucro, continua, se não der, fecha-se a porta. Tal como tem acontecido com dezenas de outras publicações, incluindo revistas do próprio gupo Balsemão, proprietário do Expresso. Assim vai a nossa comunicação social, em que aquilo que constitui o seu mais nobre objectivo - informação, formação e entretenimento do público - é cada vez mais substituido pelo mercantilismo puro e duro. Ao serviço dos interesses económicos, e logo políticos e ideológicos, de quem produz e distribui a mercadoria. |
O desapego Armando Vara, que há tempo se demitiu de Ministro Adjunto e
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responde: Em princípio
não estou de acordo. (...) não percebo porque é que
na política se deve inverter o ónus. Diz-se que isso é
desapego dos cargos... Eu não acho. (...). E afirma mesmo:
Mas eu possivelmente não faria o mesmo que ele (Jorge
Coelho). E sobre a sua própria demissão disse: Senti-me pressionado. Pedi a demissão a partir do momento em que o Presidente da República falou publicamente do assunto. (...) Eu não estava agarrado ao lugar!. Aqui chegado, o leitor interroga-se sobre o que pensa o entrevistado: um pedido de demissão é ou não é desapego aos cargos? ou antes pelo contrário? ou é conforme os casos, os demissionários, os dias da semana?... (Os itálicos são nossos) |
A "lata" A enorme lata de Vara só é comparável com a sua ingenuidade e inocência, a acreditar noutra passagem damesma entrevista. Sobre o tal caso da Fundação para a Prevenção e Segurança Rodoviária, diz o actual coordenador socialista para as autárquicas: (...) Eu continuo a assumir todas as responsabilidades em relação e esse dossier, mas as coisas aconteceram daquela maneira... Eu, quando mais tarde comecei a ver certo tipo de coisas, disse para mim: Se isto fosse para criar chatices, não teria sido mais bem feito! Mas tudo aquilo resultou de boa-fé e de generosidade. Para mim, aquilo representa uma espécie de perda da inocência, disso não tenho a menor dúvida. Nunca mais agirei na minha vida com a inocência e com a ingenuidade com que agi. (...). Com esta sentença, Armando Vara - que ainda é novo - diz que nunca mais tropeçará noutra chatice. Se nos é permitido o conselho, nunca diga nunca. E, sobretudo, não pense que os portugueses são assim tão ingénuos como o senhor... |
"Condenar" ou não... Se por vezes pode ser útil para os negócios imperiais dar
a conhecer ao mundo grandes dramas humanos
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quinta-feira, o Sr. Clinton apelava
ao Sr. Hastert para retirar a moção, afirmando que poderia
inflamar as tensões no Médio Oriente, dar alento ao Presidente
Saddam Hussein do Iraque e interferir com os esforços americanos
para estabilizar os Balcãs. (Já agora, acrescentamos nós que poderia também trazer de volta o El Niño, provocar nova erupção do vulcão na Ilha do Fogo, e fazer ruir os pilares centrais da Ponte Vasco da Gama). A notícia prossegue falando do que realmente interessa: Além disso, a Turquia ameaçou impedir os aviões norte-americanos que patrulham o Norte do Iraque de descolarem das bases aéreas turcas, e de cancelar um negócio de $4,5 mil milhões de dólares para comprar 145 helicópteros de ataque fabricado no Texas. No último dia de Março soubemos que o actual governo jugoslavo parece custar 50 milhões de dólares, tal foi a recompensa prometida pela prisão de Milosevic. Parece que a política externa dos EUA custa um pouco mais. |
A ditadura de Hissene Habré Com um atraso de 15 anos, vêm agora a lume algumas confissões sobre a sanguinária ditadura de Hissene Habré no Tchade.Escreve o International Herald Tribune (29.11.00): Com a ajuda dos Estados Unidos e da França, o Sr. Habré governou este país essencialmente desértico de 7 milhões de habitantes, entre 1982 (...) e 1990 (...). Durante esses anos, afirmam investigadores dos Direitos Humanos tchadianos e internacionais, os Serviços de Documentação e Segurança controlados directamente pelo Sr. Habré mataram pelo menos 40 000 civis e prenderam e torturaram centenas de milhar de outros. (...) Funcionários norte-americanos afirmaram que Washington deu centenas de milhões de dólares ao Sr. Habré e ajudou a treinar os seus serviços secretos, cujos membros são agora acusados de tortura. (...) O Sr. Habré subiu ao poder porque os Estados Unidos e a França procuraram a sua ajuda no combate ao seu vizinho do Norte, o Coronel Moammar Kadhafi, da Líbia. Porque o Sr. Habré estava disposto a lutar contra a Líbia, os Estados Unidos apoiaram o seu movimento rebelde com milhões de dólares em armas, apesar de provas generalizadas de que o Sr. Habré cometia massacres em larga escala. Ainda haverá quem realmente acredite em intervenções humanitárias por parte da NATO? |
«O Militante» - N.º 252 - Maio/Junho 2001