Atribuir maior importância
à formação política e ideológica



Membro do Comité Central e da Comissão Central de Controlo

O papel dos comunistas no curso dos acontecimentos da vida política nacional e, em geral, na sociedade portuguesa, exige de si um elevado nível de conhecimentos.

É um dado por nós adquirido, e comprovado na prática, fruto de uma longa experiência, que o nível, as proporções e o volume do trabalho iedológico são determinados pelos objectivos, pela profundidade das transformações sociais que pretendemos alcançar. Quanto mais profundas forem as transformações que desejamos levar a cabo na sociedade tanto mais elevado terá de ser o nível dos nossos conhecimentos.

De igual modo, o aumento do nível político e ideológico das massas coloca crescentes exigências aos militantes do Partido.

Para isso, e como alertava Lénine, “...devemos aprender a fazer nossa toda a soma de conhecimentos humanos, e a fazê-lo de forma que o comunismo não seja, em nós, algo aprendido de cor, mas sim pensado por nós próprios...”

O estudo dos processos de desenvolvimento político, económico, social e cultural caracteriza-se pelo facto de, neste caso, como assinalava Marx, não se pode usar o microscópio nem reagentes químicos. Uns e outros têm de ser substituídos pela força da abstracção e só com a ajuda de conceitos, categorias científicas se pode penetrar na essência dos processos e fenómenos sociais.

O estudo e o trabalho individual de cada membro do Partido é fundamental e imprescindível para a elevação do seu nível cultural, político e ideológico, mas só o estudo organizado, orientado, sistematizado permite atingir esse objectivo. É esse precisamente o papel dos cursos.

O estudo político no Partido permite aos militantes conhecer melhor os laços estreitos que existem entre a teoria e a prática revolucionárias; ligar as tarefas diárias às questões centrais da política do Partido; contribuir para uma maior compreensão dos seus deveres para com o Partido, os trabalhadores e o povo; orientar-se com segurança nas situações mais complexas; levar às massas de forma correcta a linha política do Partido e estar em condições, em qualquer situação, de a defender de quaisquer ataques venham eles de onde vierem e assumam a forma que assumirem.

É necessário, portanto, da nossa parte, travarmos dentro do Partido uma luta constante e tenaz contra a subestimação do estudo político em nome do trabalho prático. É preciso assumirmos, de uma vez por todas, que o estudo, a preparação teórica e a actividade política prática não são incompatíveis entre si, antes constituem um todo, são inseparáveis. Cabe-nos, também, impedir que a actividade prática leve à subestimação do trabalho teórico e empurre o Partido pelo caminho do pragmatismo sem princípios.

A nossa experiência tem mostrado que muitos camaradas, dotados de grande capacidade, grande militância, têm por vezes noções vagas, inexactas ou fragmentadas sobre questões fundamentais da política do Partido e até do seu funcionamento e princípios orgânicos.

É necessário ultrapassar esta situação e isso é possível se travarmos uma discussão ampla, séria e profunda em todos os organismos do Partido, aos vários níveis de responsabilidade, para vencer as incompreensões reais que existem relativamente à importância dos cursos.

A maior parte dos organismos de direcção não tem responsáveis por este trabalho, camaradas com a tarefa de planificar, organizar e traçar uma política de formação de quadros. Tão pouco tem o hábito de discutir regularmente esta questão e de acompanhar com a atenção devida a evolução dos quadros.

“Atribuir maior importância à formação política e ideológica dos quadros e dos membros do Partido no quadro do reforço do trabalho ideológico nas suas várias vertentes valorizando a Escola do Partido, fazendo um sério esforço para aumentar o número de camaradas a frequentar os seus cursos, alargando a sua divulgação junto dos membros do Partido, aprofundando o seu conteúdo e continuando a dar apoio central à realização de cursos e outras iniciativas de formação a nível das organizações” - é uma das principais linhas de orientação para a política de quadros aprovada no XVI Congresso e contida na sua Resolução Política.

Fazendo o balanço aos cursos realizados entre o XV e o XVI Congresso, assinalando o aumento significativo do número de cursos realizados nesse período, a Resolução Política do XVI Congresso destaca:

“Se levarmos em consideração os condicionalismos que se têm vindo a colocar à realização e frequência dos cursos, podemos considerar que se verificaram passos positivos. Mas é forçoso concluir que ficámos muito aquém das necessidades e possibilidades do Partido, para o que constribuiram, a par de factores objectivos, incompreensões quanto à preparação político-ideológica dos quadros e real subestimação da importância do estudo individual e dos cursos de formação.”

Ao estimularmos e fomentarmos a elevação do nível político-ideológico e de conhecimentos dos nossos militantes estamos também, ao mesmo tempo, a contribuir para o reforço da legalidade estatutária na vida interna do Partido relativamente ao cumprimento de artigos importantes dos Estatutos respeitantes a direitos e deveres dos militantes.

Assim, por um lado, fomentar a elevação do nível político-cultural e de conhecimentos dos membros do Partido e promover o estudo do marxismo-leninismo e dos materiais mais importantes do Partido “é uma das competências e dos deveres gerais dos organismos dirigentes a todos os níveis” (Artº 25º, alínea m) dos Estatutos).

Por outro lado, “procurar elevar o seu nível cultural, político e ideológico” é um dos deveres do membro do Partido contido no Artº 14º alínea i), dos Estatutos.

Neste ano em que estamos a comemorar o 80º aniversário do Partido e temos trazido à luz do dia os aspectos mais relevantes da sua história, cabe também destacar que a preocupação com a formação de quadros tem sido uma constante ao longo dos anos e desde os seus tempos mais recuados.

Tenho na minha frente um exemplar do Nº 13 do “Bandeira Vermelha” (assim se chamava no ano de 1926 o órgão da Federação Regional Comunista do Norte) com data de 7.11.1926. Na sua página 9, na rubrica “A vida do Partido”, podemos ler:

“Em 28 novamente reuniu o Comité Regional tendo, além de outros assuntos, resolvido fundar uma escola de militantes comunistas, afim de os inúmeros operários que teem aderido ao PC, principalmente os jovens, poderem adquirir os conhecimentos doutrinários das teorias marxistas, preparando-se assim os futuros militantes do Partido.”

«O Militante» - N.º 252 - Maio/Junho 200