Objectivo da CDU nas Autárquicas
Avançar e crescer

Entrevista com o camarada Jorge Cordeiro

O objectivo do PCP, no quadro da CDU, para as eleições autárquicas que se realizam em finais deste ano, está traçado: avançar e crescer. Mais maiorias, mais mandatos, mais votos que consagrem o trabalho unitário já feito e validem as propostas que os candidatos da CDU vão apresentar ao eleitorado. O trabalho de preparação desta importantíssima consulta está em marcha, e disso nos dá conta, nesta entrevista, o camarada Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política e do Secretariado e responsável pelo trabalho autárquico do nosso Partido.

 

Que balanço é possível fazer do trabalho de preparação das eleições para as autarquias?

As próximas eleições para as autarquias estão a ser encaradas por todo o Partido com a importância política que elas assumem. Desde logo pelo significado que em si representam no plano local e pelas possibilidades que abrem de, pelo reforço das posições da CDU, se criarem melhores condições para a concretização de políticas locais, empenhadas na defesa dos interesses das populações. Mas também pela influência que os seus resultados e a leitura que deles se fazem, pode ter na vida política nacional e nas possibilidades da sua evolução.

O trabalho decorre num ambiente de confiança e de assumida responsabilidade perante a consciência da exigência desta batalha eleitoral. Um pouco por todo o país estão em curso múltiplas iniciativas centradas na prestação de contas, na divulgação e na valorização da obra e actividade realizada, na dinamização das estruturas locais da CDU e no seu alargamento unitário. A par da grande atenção que está a ser dedicada à preparação do trabalho nesta parte final do mandato, desde logo porque é reconhecido que o valor do nosso trabalho constitui um factor decisivo na confiança das populações e na construção do resultado eleitoral da CDU.

Quais os objectivos com que a CDU se apresenta às próximas eleições?

Vamos para estas eleições com a disposição de avançar e crescer. O objectivo é o de confirmar a CDU como uma grande força autárquica nacional. O que significa naturalmente em primeiro lugar garantir uma larga presença e participação eleitoral da CDU. O objectivo que temos definido é o de procurar concorrer a todos os órgãos municipais e de nos apresentarmos ao maior número possível de freguesias, consolidando o progresso que já em 1997 permitiu concorrer a mais 160 freguesia do que em 1993. Há muitos sinais animadores de que este objectivo venha a ser atingido.

E em segundo lugar o de alcançar um resultado que permita não só confirmar as posições que hoje temos como o de progredir e ampliar o número de autarquias e de eleitos. O que significa não apenas manter e reforçar as maiorias da CDU nos 41 municípios e nas 279 freguesias - a par das importantes posições que assumimos no quadro da Coligação Mais Lisboa -, como o de procurar obter novas maiorias e obter mais mandatos no conjunto das autarquias. A vida está aí para o provar: a presença da CDU é não apenas um contributo indispensável para garantir uma gestão mais eficaz e com mais elevados índices de obra e realização, como um factor essencial para dar voz à defesa dos interesses das populações e de garantia de uma gestão transparente e democrática. Há hoje em muitos concelhos uma consciência mais viva da importância da presença de eleitos da CDU ainda que em situação de minoria.

Que princípios essenciais presidem à elaboração das listas CDU?

Estes objectivos exigem naturalmente e de forma decisiva o envolvimento e a mobilização do conjunto das organizações do Partido. E também a constituição de listas que dêem garantias de credibilidade e expressem a CDU como um espaço amplo de participação e de unidade. É bom lembrar que, num momento em que alguns pretendem apresentar as listas de cidadãos eleitores como o único espaço para dar expressão à participação de independentes, a CDU dá hoje corpo, de forma muito significativa, à acção de centenas de homens e mulheres sem partido no trabalho autárquico, de que é testemunho o facto de cerca de 30% dos membros das listas da CDU, em 1997, serem independentes. É nesse esforço de alargamento unitário e também do reforço da presença de mulheres que vamos continuar a persistir no processo de construção das listas para o próximo mandato.

As últimas eleições revelam que estas eleições são muito exigentes e que toda a atenção não é de mais...

Sem dúvida que se trata de eleições muito exigentes. Não apenas pelo significado político que estas eleições assumem mas também porque se trata de eleições marcadas por uma dinâmica muito descentralizada, em que a par de traços gerais e comuns há conteúdos, problemas e abordagens próprias a cada um dos 308 municípios e às mais de 2000 freguesias em que a CDU concorre.

Naturalmente que estas eleições, apesar de locais, não deixam de ser influenciadas por factores mais gerais. É uma evidência que em 1997 o PS beneficiou largamente de factores conjunturais e que alguns dos seus resultados foram construídos, não em função do seu mérito autárquico (casos houve em que a sua intervenção local era pouco mais que nula), mas de uma certa onda que então se vivia. O que pode significar agora que, num quadro visivelmente mais desfavorável e em que os factores de descredibilização e erosão da sua base social são evidentes, se verifique, numa dinâmica em sentido inverso, uma certa penalização do PS nas próximas eleições.

O Partido está preparado para responder ao novo desafio?

Aquilo que colocamos a nós próprios é a necessidade de tomarmos as medidas e empreendermos as iniciativas que garantam, a partir do nosso próprio trabalho, o apoio e o reconhecimento do mérito da nossa acção em cada autarquia. E isto exige um exame cuidado, por parte de cada organização, dos elementos mais positivos e dos pontos mais vulneráveis da nossa actividade, a adopção das medidas que permitam vencer eventuais razões de descontentamento e insatisfação, a concretização de planos de divulgação e valorização da obra, a verificação e acerto da planificação do trabalho a desenvolver em cada autarquia até Dezembro próximo.

Ou seja, mais do que ficarmos à espera de benefícios que a conjuntura possa trazer, o que se afigura decisivo é trabalhar para afirmar o valor e o mérito do nosso próprio trabalho e fazê-lo valer como factor mais seguro de apoio e confiança dos eleitores

O que dizer da acção do Governo para vir em socorro do PS?

Que é intolerável e merecedora da maior condenação a utilização abusiva que o PS vem fazendo dos meios e recursos do aparelho de Estado em serviço da sua estratégia e dos seus objectivos eleitorais. Situações que não nos temos cansado de denunciar, e de reclamar o seu termo, mas que infelizmente se mantêm e se intensificam. É o corrupio de ministros e governadores civis de cheque na mão por esse país fora, a manipulação de programas de emprego e apoio social em função da cor da autarquia, o uso do investimento público de acordo com os confessados objectivos eleitorais do partido do Governo, a nomeação de socialistas para cargos públicos, como plataformas de lançamento de candidaturas autárquicas. São múltiplos os exemplos, alguns deles bem recentes, que confirmam que o PS adoptou o que antes condenava como norma de conduta e prática corrente. São portanto fundadas as preocupações que o PS, num quadro em que se sente dia a dia a perder apoio, seja tentado, por desespero, a acentuar esta forma ilegítima de se agarrar ao poder.

A realização, em 5 de Maio, do Encontro Nacional do PCP sobre o Poder Local e as Eleições Autárquicas marca um momento particularmente importante do trabalho preparatório das próximas eleições e é expressão da atenção que o Partido lhes atribui.
O Encontro, com uma participação prevista de 800 presenças, dará um particular relevo, no trabalho das suas secções, ao debate do conteúdo da intervenção eleitoral, das linhas de acção para o próximo mandato e do aprofundamento das formas de participação das populações na gestão das autarquias.

 

O que tem a CDU para apresentar em vésperas de um novo mandato?

A garantia do prosseguimento de um trabalho largamente reconhecido e com provas dadas. Com aquela capacidade de encontrar respostas novas para os novos problemas que a proximidade das pessoas e o trabalho colectivo asseguram. A CDU tem a seu favor obra realizada para apresentar e um respeito pelos compromissos assumidos que as pessoas bem conhecem. A CDU deu solução aos problemas básicos, lançou e concretizou as bases de planeamento e desenvolvimento, equipou e animou sócio-culturalmente os concelhos, assegurou uma gestão que atenuou desigualdades e assumiu, de forma pioneira, o que de melhor e mais inovador foi feito na gestão das autarquias.

É essa contribuição que a CDU se propõe confirmar e prosseguir no próximo mandato, com o mesmo esforço para combater acomodamentos e vencer rotinas. Podem-se identificar cinco grandes objectivos norteadores com presença na acção dos eleitos da CDU no próximo mandato: a assumpção da participação como um factor essencial da gestão, a concretização de uma gestão integrada e de um planeamento que assegure a construção de espaços urbanos humanizados e ambientalmente equilibrados, a promoção de uma gestão do território que garanta um desenvolvimento equilibrado sustentável, o fomento de uma política local que assegure a valorização cultural e desportiva das populações e a defesa do carácter público dos serviços básicos prestados pela autarquia, como um instrumento essencial para garantir um serviço de qualidade acessível a todos os cidadãos.

O que distingue a acção dos eleitos do PCP nas autarquias?

Essencialmente aquilo que caracteriza e dá corpo ao projecto autárquico do PCP. Uma actividade marcada por uma entrega à defesa dos interesses das populações, pela participação e a intervenção popular assumidas como condição básica para uma gestão democrática e norma de conduta, pela identificação entre os objectivos gerais da acção do Partido e a intervenção local para a melhoria das condições de vida. Acompanhadas, naturalmente, de uma forma de exercício do poder em que a isenção, o desapego ao poder e a recusa de benefícios pessoais construíram justamente a ideia de honestidade e seriedade que está associada à CDU e aos seus eleitos. Características que são indissociáveis de um estilo de trabalho colectivo e da sua inserção na actividade geral do Partido, do respeito pelo funcionamento colegial dos órgãos e na procura da unidade para a resolução dos problemas.

«O Militante» - N.º 252 - Maio/Junho 2001