Reforçar a intervenção
nos locais de trabalho

 

A importância e prioridade da organização e acção do Partido junto dos trabalhadores, nos sectores, nas empresas e nos locais de trabalho, decorre em primeiro lugar da natureza de classe que o diferencia. A organização e enraizamento nos trabalhadores é a fonte de renovação de forças que influencia o presente e decide do futuro do Partido, é uma componente relevante para o conhecimento da realidade, determina a capacidade de conhecer, esclarecer e influenciar, de mobilizar e unir para a luta imediata e para transformações sociais profundas. O grau de organização e o nível de influência do Partido é um elemento catalisador decisivo da luta dos trabalhadores, da sua organização e mobilização, da força e das características do Movimento Sindical Unitário e das organizações dos trabalhadores em geral.

Mas na fase actual, além dos aspectos referidos, o facto de se ter atingido por razões objectivas e subjectivas um ponto muito baixo no nível de organização do Partido nas empresas e locais de trabalho, dá uma ainda maior importância à prioridade do seu reforço.

Muitas das dificuldades existentes resultam da liquidação do aparelho produtivo nacional e da ofensiva contra os direitos e vínculos laborais, consequência da política de direita cujo prosseguimento introduz novos elementos de desestabilização e desorganização. No entanto a experiência mostra que mesmo nestas condições é possível avançar.

O XVI Congresso tomou a decisão de lançar uma vasta acção para reforçar a organização e intervenção do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores em geral e apontou para a concretização de um plano com o objectivo nacional de assegurar a existência de trabalho organizado do Partido nas empresas e locais de trabalho com mais de mil trabalhadores e/ou de importância estratégica, a par de outros objectivos sectoriais ou regionais de enraizamento do Partido.

O Comité Central na sua última reunião abordou esta questão e definiu caminhos para a concretização deste plano. Num ano em que sobressai a batalha política das eleições autárquicas com as suas exigências próprias, o CC colocou a necessidade de avançar decididamente com o reforço do Partido nos locais de trabalho. É uma decisão da máxima importância, que traduz a determinação de tomar medidas para alterar a situação existente e afirma que o objectivo de reforço do Partido nos locais de trabalho não pode ser uma tarefa sazonal, tanto mais que se trata, não de uma frente de trabalho, mas sim de uma componente essencial da base e da estrutura do Partido, para a sua intervenção junto dos trabalhadores e para a sua acção geral.

A elevação do grau de intervenção e organização do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores, é concebida como uma acção que associa o reforço da organização, à propaganda, à acção reivindicativa, à luta e à iniciativa e intervenção política, no plano de cada empresa e sector e no plano nacional designadamente prosseguindo as campanhas de contacto com os trabalhadores. Esse conteúdo deve orientar todo este trabalho. Seja no contacto com trabalhadores não filiados no Partido, seja nas situações em que existe apenas um membro do Partido, seja ainda no trabalho de células já com funcionamento regular é necessário ter no centro das atenções os problemas e aspirações dos trabalhadores, a resposta do Partido para a situação, a elevação da consciência de que só a organização, a unidade e a luta podem permitir defender direitos e interesses e avançar na sua concretização, a articulação desta intervenção com a luta geral do Partido e a afirmação das suas propostas, valores e projecto.

Esta é uma batalha de todo o Partido, que só pode ter êxito se for assumida pelo colectivo partidário, mobilizando e assegurando a convergência das suas forças. Das Comissões Concelhias e das Comissões de Freguesia, que devem promover o conhecimento das empresas existentes, proceder ao levantamento dos locais em que trabalham os membros do Partido, nomeadamente os novos militantes, e fazer o apuramento de outros contactos que possam ser úteis para iniciar a acção partidária numa empresa ou reforçar o trabalho de uma dada célula. Dos quadros do Partido que, independentemente do local em que estejam organizados e desenvolvam a sua actividade principal, podem dar um contributo à acção partidária na empresa ou local de trabalho. Dos dirigentes sindicais comunistas que pela sua intervenção têm um conhecimento e contactos de grande valor e possibilidades importantes de recrutamento. De membros do Partido reformados que, sem se substituírem aos militantes que trabalham nas empresas, têm disponibilidades para desempenhar tarefas de contacto e propaganda. Todos são necessários para concretizar os objectivos definidos.

Além da atenção geral do Partido, o avanço do trabalho nesta direcção coloca como questão determinante, a definição de objectivos claros, de alvos prioritários precisos, o destacamento de quadros, designadamente funcionários do Partido, que tenham esta tarefa como exclusiva e não desviáveis em função de tarefas do momento, a criação de organismos específicos para sectores e empresas, a troca de experiências, o acompanhamento específico e o controlo de execução de acções e objectivos. O alvo prioritário são as empresas e locais de trabalho com mais de mil trabalhadores e/ou de importância estratégica, as unidades regionais de grandes empresas de âmbito nacional ou pluridistrital, as mais importantes zonas industriais. É necessário completar o seu levantamento em cada distrito, destacar o responsável do trabalho do Partido para cada uma delas, definir o plano de acção adequado a cada situação e avançar com o trabalho.

O objectivo de ter trabalho organizado do Partido nas empresas com mais de mil trabalhadores e/ou de importância estratégica, integrado na ideia de que o Partido tem que ter uma rede de organizações de base nestas empresas e locais de trabalho, é uma linha de trabalho da responsabilidade de cada Direcção de Organização Regional, mas é uma direcção de trabalho nacional que exige medidas de apoio a quadros a tempo inteiro, a meios permanentes de propaganda e outras formas de intervenção no plano central, a par de um acompanhamento nacional que permita unificação de linhas de trabalho e uma efectiva aplicação dos quadros e meios nas direcções decididas.

Esta acção sendo um trabalho de organização de membros do Partido é em muitos casos um trabalho partidário com trabalhadores não membros do Partido, ou dito de forma mais precisa, com trabalhadores que ainda não são membros do Partido. De facto, em muitas empresas e locais de trabalho daqueles que consideramos prioritários não há membros do Partido conhecidos e isso implica contactar e agir com trabalhadores que se conheçam pela sua disponibilidade para participar na abordagem dos problemas da sua empresa ou sector. Por outro lado, mesmo ali onde já há uma célula do Partido a funcionar é preciso ter presente que a acção do Partido, não começa nem termina nos membros do Partido que aí existem. É uma acção dirigida aos trabalhadores, que tem nos membros do Partido existentes na empresa, na célula do Partido, os elementos, a estrutura essencial para esse trabalho. Esta perspectiva de trabalho tem que ser associada à realização de uma vasta acção de recrutamento para o Partido, assumindo importante significado a decisão do CC de promover uma campanha de recrutamento de 2000 novos militantes, até 1 de Maio de 2002, centrada nas empresas e locais de trabalho.

O CC apontou um caminho e medidas cuja avaliação geral será feita no próximo ano. É indispensável muita persistência, não é de um dia para o outro que a situação se alterará radicalmente. É preciso acompanhar as experiências e aprender com elas, continuar a aprofundar o conhecimento da realidade, mas é necessário principalmente agir, dar passos nesta direcção fundamental, integrada no reforço global do Partido, deste Partido diferente de todos os outros, com a sua identidade própria, com os seus 80 anos de luta, sempre com os trabalhadores e o povo português, a fazer história e a construir futuro.

«O Militante» - N.º 252 - Maio/Junho 2001