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O avanço da precaridade no emprego
Foi já em 12 de Abril que o deputado do PCP Lino de Carvalho
apresentou, na Assembleia da República, uma interpelação
sobre Qualidade de emprego na defesa dos salários e
na efectivação dos direitos laborais. |
Em 1995, já havia 11% de trabalhadores (cerca de 336 mil) com contratos não permanentes. Aquela percentagem aumentou para 19% (mais de 650 mil trabalhadores) e em relação aos jóvens, dos 15 aos 25 anos, a percentagem passou de 37%, em 1998, para 41%, em 1999. Tais situações existem nomeadamente nas grandes superfícies
comerciais, no Alqueva, na construção civil (em especial
no distrito de Lisboa), na Grundig (Braga), Siemens (Évora)
e outras grandes empresas. Além disso passaram a existir
empresas de trabalho temporário ou de aluguer de mão
de obra onde tudo parece ser permitido. Já há
contratos ao dia e proliferam os recibos verdes e o falso trabalho
independente; há trabalho à hora, à peça
e à tarefa. |
Segundo o DN (6.6.00) o número de trabalhadores precários no Estado não para de crescer. São contabilizados entre 30 e 40 mil trabalhadores nesta situação, em particular na saúde e educação. contratação que visam Já não se trata de «recibos verdes»
herdados pelo Partido Socialista, mas de novas e sofisticadas formas
de suprir necessidades permanentes do Estado com pessoal sem qualquer
vínculo ou segurança. |
No dia 3 de Maio, um outro deputado do PCP, Odete Santos, apresentou
o Projecto de lei n.º 146/VIII que altera o Regime Jurídico
do Contrato de Trabalho a Termo, combatendo a precariedade no emprego. |
Depois, surgiram as derrogações à aplicação de tabelas salariais constantes de contractos colectivos de trabalho, a degradação do salário, as derrogações ao próprio direito ao salário mínimo nacional, nomeadamente em relação aos jovens. Em seguida, com a cobertura do combate ao desemprego, alargaram-se
as precarizações com o emprego subvencionado, os programas
de formação, os programas ocupacionais, o trabalho
prestado em estágios, os contratos de aprendizagem, as bolsas
para o voluntariado jovem e o chamado mercado social de emprego,
o alargamento dos períodos experimentais, a eliminação
dos entraves administrativos aos despedimentos colectivos, e assim
se abriu o caminho para o trabalho temporário, as empresas
de mão de obra, os recibos verdes, trabalho à peça,
à tarefa, por sub-empreitadas, trabalho a tempo parcial,
um verdadeiro avanço não para os trabalhadores. |
trata, direito ao trabalho, em condições socialmente dignificantes, direito à vida, direito à própria liberdade. Portugal está já no cimo da precarização a nível da União Europeia. É necessário assumir, simultaneamente, o combate
ao desemprego e o combate ao trabalho precário. No projecto
de lei apresentado só por necessidades objectivas da
empresa, e não por quaisquer atributos subjectivos, se justifica
a celebração de um contrato a termo. Não
podem servir como justificações nem o facto de se
tratar de uma nova actividade, nem por se tratar de jovens à
procura de um primeiro emprego ou de desempregados de longa duração.
Também se inverte o ónus da prova àcerca dos
factos e das circunstâncias que justificam a celebração
do contrato a termo, passando-o para a entidade patronal. |
Para compreender como se chegou a tais situações
de tão grande e feroz exploração é necessário
lembrar, mais uma vez, em O Militante, o que disse o vice-presidente
da CIP, Nogueira Simões, numa entrevista a O Diabo, em 6.2.96:
Os contratos a prazo, que nos foram muito favoráveis,
também foram criados no Governo de Mário Soares, embora
tenham de ser revistos (...). |
nacionalização da banca privada que, por sua vez,
detém nas carteiras a maior parte das acções
das grandes empresas portuguesas e, ao mesmo tempo, a fuga ou a
prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam
Portugal indica de uma maneira bem clara que se está a caminho
de criar uma sociedade nova em Portugal (DN, 14.3.00). É
um estupen-do exemplo da sinceridade de certos discursos,
de certos dirigentes políticos. |
Guterres]. Quais foram as facilidades? Conta Nogueira Simões: (...) explicámos ao Governo que essa redução [dos horários de trabalho para as 40 horas] sem contrapartidas pode-ria ser muito desagradável, e foi aí que, o nosso amigo, o Governo, aceitou que a flexibilidade e a polivalência, que eram as nossas condições, fossem registadas em concertação. Compreende-se perfeitamente que o jornalista César Príncipe tenha escri-to no JN (referido no DN, 5.6.00): Soares meteu o socialismo na gaveta; Guterres meteu a gaveta num cofre-forte. É por estas e por outras que, quando comentaristas se referem ao PS como um partido de esquerda, não se percebe bem o que querem dizer... |
Já fez um ano que
terminou a guerra desencadeada pela NATO contra a Jugoslávia,
guerra comandada pelos EUA, ou melhor, pelos interesses imperialistas
dos que dominam naquele país. Kofi Annam, secretário-geral
da ONU, aonde nunca foi discutida a realização desta
guerra - a ONU só serve quando serve os interesses dos EUA
- afirmou: Não interviemos no Kosovo para fazer dele
uma coutada de vingança e do crime. Se esta frase é
sincera, e há muitas dúvidas sobre isso, então
é porque se anda a dormir na forma. Era evidente que é
essa situação que interessa aos EUA. O actual senhor
PESC e, então, secretário geral da NATO, Javier Solana,
disse que a situação é intolerável.
Não quer perceber, ou confessar, que muito mais intolerável
foi a guerra contra a Jugoslávia e que foi daí que tudo
nasceu. O primeiro ministro jugoslavo, Mobir Bulatovic, disse (DN, 8.6.00) que o Governo jugoslavo pede «o regresso urgente» à província dos efectivos do exército jugoslavo e da polícia sérvia, cujo princípio está previsto pela Resolução 1244 do Conselho de Segurança E ainda o Governo pede que o Conselho de Segurança anule todos os actos e decisões que tomou Bernard Kouchner [chefe da missão da ONU no Kosovo] em |
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contravenção com a Resolução 1244,
que condene com a maior severidade a actividade do chefe da MINUK
e lhe ponha fim e que retire do Kosovo as forças da Kfor
e da MINUK. |
A AI ainda apela aos países estrangeiros membros da
Aliança para «porem em tribunal todos os estrangeiros
suspeitos de violações graves das leis humanitárias
internacionais». |
«O Militante» - N.º 247 - Julho/Agosto 2000