Um Livro Branco-Negro para os jovens

 


Membro da Comissão Política
da Direcção Nacional da JCP

A Comissão Europeia tem intenção de apresentar um Livro Branco sobre Política de Juventude no decorrer do primeiro semestre de 2001, em que afirma pretender envolver os jovens dos Estados-membros em toda a discussão preparatória, através de consultas nacionais a realizar até lá.
No nosso País essa discussão tem lugar em Santa Maria da Feira, a 17 e 18 de Junho (este artigo foi escrito antes), e assenta em seis temas a saber: Sociedade Civil, Estrutura Económica e de Emprego, Bem-estar, Autonomia dos Jovens, Europa e Solidariedade e Desenvolvimento.
Mas a dúvida fica no ar.

Que Livro Branco?

Será aquele Livro Branco um instrumento que representa uma verdadeira mudança nas políticas de juventude, ou será mais um conjunto de folhas que, parecendo até bem intencionadas, pouco ou nada trará e continue a camuflar os verdadeiros problemas existentes?
A Europa que temos não valoriza a participação dos jovens, procurando criar-lhes um conformismo ou um desacreditar em relação a uma mudança política. Mas combatendo isto, temos a participação nas associações e sindicatos de forma bastante activa, consubstanciada muitas vezes nas lutas dos estudantes e dos trabalhadores. É de realçar também o aparecimento de grande número de grupos informais de jovens, muitas vezes a única forma de contornar as dificuldades que ainda existem para a criação de uma associação, que também assim marcam posição em relação a imensos problemas da nossa sociedade. Esta acção prova que, ao contrário do que diversos estudos apresentados pela União Europeia querem fazer crer, os jovens não estão afastados da política, as políticas governamentais é que não vão ao encontro dos seus anseios e vontades.

A primeira etapa não é nada fácil

A luta pela felicidade é sem dúvida o objectivo de todos nós, jovens, passando por concluirmos os nossos estudos, termos um emprego que nos realize profissionalmente e que nos dê a possibilidade de termos acesso à nossa

independência financeira, autonomia e podermos ter nas nossas mãos o traçar das nossas vidas.
Mas a primeira etapa activa da nossa vida não é nada fácil. Os números de abandono escolar são assustadores, os índices de aproveitamento não são melhores e todos sabemos que Portugal está no “pelotão” de trás no número de licenciados.
Um dos grandes problemas que afecta os jovens é o acesso ao sistema de saúde, nomeamente no que toca às questões da sexualidade, devido não só a uma enorme falta de informação, mas também ao facto dos Centros de Saúde não estarem preparados para receber jovens, apenas prestando algumas indicações ou simplesmente fornecendo-lhes métodos contraceptivos.
Na preparação da consulta nacional do Livro Branco, foca-se a Autonomia e o Bem-estar dos jovens como algo essencial para a sua vida, mas, por outro lado, já se afirma nalgumas instâncias europeias que o desemprego é uma “experiência social normal” e que grande número dos empregos disponíveis são instáveis, de curta duração e mal remunerados.
Somos jovens e queremos ser reconhecidos como agentes esclarecidos e activos de uma Europa construída com base na democracia e no desenvolvimento e progresso de todos os países, e temos a certeza que não queremos mais umas “resmas de folhas” para enfeitar a nossa prateleira e que servirão para os governantes se propagandearem como sendo os nossos grandes defensores.

É esta sociedade justa?

Quando, para umas eleições como são as eleições para o Parlamento Europeu, existe um número tão elevado de abstenções, podemos afirmar que o povo sente, intervém, participa e fiscaliza o trabalho dos seus representantes? As políticas governamentais vão ou não ao encontro das necessidades reais dos trabalhadores e das populações?
Quando o fosso entre as classes aumenta, concentrando grandes capitais nas mãos de tão poucos e quando o poder político se confunde com os interesses económicos dos grandes senhores europeus e mundiais, podemos afirmar esta sociedade como justa?
Quando o sistema de educação e de saúde, que devia ser universal, convive com sucessivos cortes nos orçamentos de Estado, quando o emprego sem direitos e mal remunerado faz parte do nosso quotidiano, podem os nossos governantes afirmar que estamos no bom caminho?
Quando a Comissão Europeia nos impõe regras que temos que cumprir, como podemos afirmar que somos um país soberano e independente?

A luta por uma Europa de paz torna-se uma prioridade, pois caminha-se para a construção de um exército europeu que, ao lado da NATO e dos seus interesses, possa intervir. Não queremos a guerra, necessitamos sim de políticas de paz, solidariedade e cooperação entre os povos da Europa e do Mundo.
Por isso não aceitamos esta Europa que discrimina os imigrantes, fazendo que muitos sejam atirados para situações clandestinas que facilitam a sua exploração por empresas de mão-de-obra barata que todos os dias proliferam ante os olhos dos nossos governantes.
Temos muito que fazer!

«O Militante» - N.º 247 - Julho/Agosto 2000