A confiança ganha-se lutando!

 


Membro do Executivo
da Comissão Concelhia de Vila Franca de Xira

A perda da Câmara de Vila Franca de Xira para o PS nas elei ções autárquicas de 1997 provocou na organização do Partido um sentimento de frustração e, em muitos casos, acentuada desmobilização.
É natural que assim aconteça quando perdemos uma autarquia; mas, neste caso concreto, alguns factores específicos contribuíram para esta situação. Referimo-nos ao facto do concelho de Vila Franca de Xira ter sido um grande baluarte do Partido antes e depois do 25 de Abril, onde se forjaram muitos quadros que viriam a ter grandes responsabilidades no Partido e também ao facto de termos dirigido os destinos do concelho durante mais de 20 anos, tendo nele realizado uma obra notável.

Discussão colectiva envolvendo todo o Partido

Coube naturalmente à Comissão Concelhia e ao núcleo activo do Partido avançar para a discussão colectiva envolvendo todo o Partido na abordagem da nova situação criada e delinear as orientações a seguir e a concretizar que levassem à mobilização colectiva para as tarefas que a nova situação exigia.
Entre outras decisões, foi muito importante a de levar à prática uma orientação geral e permanente dos organismos centrais: colocar os organismos do Partido a discutir e a lutar pela solução dos problemas concretos dos trabalhadores e das populações.
Esta orientação e alicerce da actividade e da identidade do nosso Partido é, no plano teórico, facilmente entendida como determinante para a transformação social e política da sociedade mas, na sua concretização prática, deparou com alguns obstáculos, dos quais salientamos dois.
A ideia de que não ficava bem ao Partido reivindicar a solução dos problemas das populações porque também durante 20 anos não os tínhamos resolvido. O que traduzia a dificuldade em assumir a grandeza da obra de transformação positiva do concelho, pelos comunistas e seus aliados em mais de duas décadas, e assumir também os erros cometidos como uma inevitabilidade própria de quem decide agir e transformar.
Mas a maior e mais preocupante dificuldade do Partido foi colocar os organismos a fazer aquilo, sem o qual, mais tarde ou mais cedo, estão condenados ao imobilismo, à rotina e ao atrofiamento. Isto é: discutir os problemas dos trabalhadores e das populações e, a partir de cada situação concreta, dirigir a luta pela sua resolução. Preocupante foi a constatação de que o exercício do poder tinha levado os organismos do Partido a não sentir necessidade de lutar pela resolução dos problemas das populações. E assim a sua falta de experiência e preparação para a nova situação criada com a perda da Câmara.
Esta sobrevalorização de trabalho nas instituições levou a que, após o levantamento dos problemas numa Comissão de Freguesia, a solução fosse inevitavelmente encaminhá-los via eleitos da CDU para os orgão autárquicos, estivessem ou não na sua área de competências directas. Levou também à subestimação da luta de massas, do envolvimento das populações na luta pela resolução dos seus problemas e do papel dos organismos do Partido na dinamização dessa linha de trabalho tão importante para o reforço, renovação, rejuvenescimento e dinamização do Partido.
Mas como o PCP é um grande Partido e Vila Franca de Xira é um grande concelho onde os comunistas continuam a não vergar perante as dificuldades, avançou-se para uma nova fase do nosso trabalho, com dúvidas e hesitações mas também com a certeza de que a luta nos indicaria em cada momento os melhores caminhos.
A Comissão Concelhia deu o exemplo e avançou para a luta, dando expressão de massas a reivindicações importantes das populações, como por exemplo, a luta pelos acessos da EN10 à auto-estrada do Norte, prometidos pelo Governo e pela presidente de Câmara, quando era apenas candidata, mas que meteu na gaveta logo a seguir à eleição. A profunda discussão colectiva realizada e a necessidade de ligar o Partido à vida e ao meio gerou a necessidade de uma atitude diferente em relação à luta pela resolução dos problemas dos trabalhadores e das populações e a intervenção política do Partido passou a fazer parte da ordem de trabalhos das reuniões de organismos do Partido.

As reivindicações começam a surgir

Naturalmente as reivindicações começaram a surgir e a luta pela sua concretização foi sendo assumida pelo Partido como tal, em formas de luta variadas de acordo com cada situação concreta e as decisões de cada organismo do Partido. Abaixos-assinados, encontros e plenários com a população, buzinões, protestos nas reuniões públicas dos órgãos autárquicos especialmente da Câmara e Assembleia Municipal. Papel importante têm tido os eleitos da CDU na participação e acompanhamento dos processos de luta assim como na apresentação de propostas concretas nas reuniões dos respectivos órgãos.
A vida dos organismos do Partido alterou-se profundamente. A necessidade de coordenar, acompanhar e tornar regular a intervenção política do Partido gerou a necessidade de a maioria das Comissões de Freguesia do Partido reunirem semanalmente, passando a dar informação regular à população e em alguns casos a elaborar mesmo o seu boletim mensal.
O número de camaradas com tarefas distribuídas aumentou e o núcleo activo do Partido alargou-se. Criaram-se melhores condições para recrutar para o Partido novos membros e, neste ano, temos já recrutados mais de 60, quando durante todo o ano de 1999 recrutámos 70.

Vencendo as dificuldades

O combate político com o PS tem sido permanente e a denúncia da sua gestão ruinosa uma constante. A ini-ciativa política pertence-nos e em muitas freguesias somos a única força com actividade política. O estado de espírito da organização alterou-se para melhor e, no geral, a motivação é grande e a confiança na possibilidade de voltarmos a ganhar a Câmara cresce em cada dia que passa, mesmo sabendo como é difícil.
Dificuldades!? Claro que são muitas. Falta de quadros intermédios para dirigir os organismos, as Comissões e á-reas de trabalho, falta de sedes do Partido em algumas freguesias, desmobilização e tantas outras, algumas que a própria situação política nacional impõe a todo o Partido.
Mas o objectivo deste escrito é transmitir uma experiência de trabalho do Partido. Como se passou de uma situação de frustração e desânimo para uma outra de motivação e muita confiança no futuro. É sobre este processo que queríamos, para terminar, deixar algumas conclusões e experiências que consideramos importantes.
· A intervenção política própria do Partido e a dinamização dos movimen tos sociais de lu-ta não dependem de estarmos ou não no poder. É um princípio cuja concretização pode variar na forma, mas que se mantém na essên cia, estejamos ou não a gerir a autarquia.
· Quando um organismo do Partido está ligado à vida e ao meio onde exerce a sua actividade tende a reforçar-se, a prestigiar-se e fica em muito melhores condições para alargar a sua influência e a credibilidade do Par-tido.
· A confiança ganha-se lutando e é no decorrer da luta que encontramos as melhores formas de lhe dar continuidade, aparecendo luz onde, à partida, tudo parecia escuro.
· No concelho de Vila Franca de Xira a experiência está feita. E a opção é clara. Dirigir a luta dos trabalhadores e das populações sempre.

«O Militante» - N.º 247 - Julho/Agosto 2000